quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Salada búlgara

Acabou o Janeiro louco. Se o Janeiro fosse um livro e tivesse um título seria algo como isto: «Janeiro – O Mês Em Que Tudo Acontece. E Em Que Também Há Um Bocadinho De Futebol». Se repararem bem, se fossemos fazer um resumo das coisas interessantes que aconteceram este mês estávamos aqui todo o dia.

Foi uma barrigada, como é sempre, e hoje, último dia do mês, quando toda a gente se começa a preparar para o início da segunda metade da época (incluindo os suplentes, que neste fim-de-semana vão já entrar em força na Taça da Liga), precisamos de uma coisinha leve. Uma saladinha.

*

Substituídos que estão os erros do Verão pelos futuros erros do Inverno, as centrais de propaganda clubísticas começam a fazer o seu trabalho e a transformar todos os negócios, incluindo os flops, em golpadas geniais.

«Bojinov pode render 2,3 milhões de euros», escrevem uns. Pois pode. Se os italianos o quiserem comprar. Ao contrário do Sporting, que o comprou mesmo, por 2,5 milhões, e não recebeu nada pelo empréstimo. Portanto, o Bojinov pode render 200 mil euros negativos. Por agora está só a render 2,5 milhões negativos.

«Leões poupam 400 mil euros com a saída de Bojinov», dizem outros. São novamente os salários a entrar nas contas quando dá jeito. Parece que o Bojinov ganha 80 mil euros por mês. Coisa pouca. Mas, lá está, se vamos meter os salários ao barulho, temos de considerar que, tendo ainda mais quatro épocas de contrato, para não fazer do Bojinov um buraco búlgaro de aproximadamente 4 milhões de euros o Sporting vai ter de encontrar mais cinco ou seis Lecces até 2016. Mas como o Sporting não tem problemas financeiros essa questão torna-se irrelevante. Se houvesse falcatruas lá dentro, como diz o Baltazar, é que era mau sinal…

Acho mesmo que o caso Bojinov justifica que se comece a usar a expressão «buraco búlgaro» como definição de «negócio de sonho que mete toda a gente a louvar a competência de um dirigente e que seis meses depois se transforma numa sportinguite», sendo que «sportinguite» poderia começar a ser usada como «processo de auto-mortificação em que todas as partes, numa sequência lógica, encadeiam precipitações até criarem um problema administrativamente insolúvel». O sinónimo de sportinguite, em inglês, seria clusterfuck.

É claro que, se juntarmos ao caso os salários do Ribas, que veio precisamente para o lugar do Bojinov, as contas têm de ser diferentes, mas pronto, não vamos já por aí. Vamos esperar primeiro que o Ribas se torne num erro de Inverno antes de o cortarmos para tirar a madeira para fazer a cruz onde possamos crucificar o Duque, o Freitas e o Domingos, lá mais para o Verão.

Em relação a isto, só mais duas coisas.

1 - Vamos partir do princípio que o Ribas é o jogador que treinava amarrado a uma corda, apenas por uma questão de lógica: num campo aberto onde é que se ata uma corda? Obviamente, à volta da árvore.

2 – Bastou o Domingos apanhar-se perto dos ares acolhedores de Leça da Palmeira, na reunião da ANTF, para começar a vazar que nem uma gasosa. De jogadores atados a jogadores a conta-gotas, incluindo a explicação para o fracasso da época do Sporting («não pude trabalhar como queria...chuiff»), aquilo foi uma autêntica sessão psicanalítica. «Afirmações de Domingos agitam Alvalade», titula o Record. A sério? Que estranho. Só porque o treinador sacudiu completamente a água do capote? Haveremos de voltar a este tema daqui a uns dias, de certeza, porque, até pelas palavras de Eduardo Barroso sobre a contratação do Yannick pelo Benfica («não digo mais nada porque não sou carpinteiro nem fadista»), não tenho a mínima dúvida de que estamos perante mais uma típica sportinguite – rever o significado, escrito atrás, por favor.



No Porto, a racional é a mesma: Belluschi foi vendido por 5 milhões no próximo Verão e Guarín foi vendido por 15 milhões na mesma altura. Claro que, quando chegar o Verão, vai-se perceber que o Verão não é em Janeiro (a não ser no hemisfério Sul, e, apesar de irmos bem encaminhados, ainda não chegámos lá) e que FMI não significa Fundo Monetário Italiano.

Uma pergunta: porque é que um clube não compra um jogador em Janeiro e prefere esperar por Junho, mesmo sabendo que o jogador é dinheiro empatado no clube teso em que está?

A resposta: porque quer gastar o mínimo de dinheiro possível, não tem a certeza sobre o jogador e só se a coisa correr muito bem é que o compra, até porque na altura hão-de aparecer outras alternativas e possivelmente mais baratas. Já para não falar na conjuntura económica.

É bom que se entenda uma coisa, seja Benfica, Porto ou Sporting: um jogador emprestado é um jogador desvalorizado, e a tendência em 90 por cento dos casos é que o jogador não se revalorize. Passa pela cabeça de alguém que um Manchester United sugira um negócio nestes moldes, por exemplo, por um Hulk, um Witsel, um Javi Garcia ou um… (ia a dizer o nome de um jogador do Sporting mas não me ocorre nenhum, peço desculpa)? Claro que não. A não ser em circunstâncias absolutamente anormais, de cinco ou seis lesões num sector, e é só para seis meses, não é a contar com compra nenhuma.

O empréstimo de um jogador é sempre a conclusão de um mau negócio, que começa, geralmente, ou na compra do jogador ou quando se deixa passar o momento da venda, como é o caso exemplar de Guarín. Para já, a conjugação de palavras que tem sido, historicamente, o augúrio do desastre: «Lesão mal curada atrasa Guarín». A Gazzetta dello Sport diz que leva um mês a ficar bom. Depois é só começar a treinar, ganhar ritmo de jogo na Serie A (o que não é difícil, porque é uma liga suave, onde se joga devagarinho...), ganhar um lugar no onze do Inter de Milão no momento mais crítico da época depois de passar três meses parado, esperar pelo fim da época e meter o cheque dos 13,5 milhões no correio. A coisa promete...

Para cúmulo, um jornal generalista afirma que «Belluschi e Guarín pagam Janko». Um grande negócio em qualquer parte do mundo: 0 milhões de Beluschi + 1,5 milhões de Guarín = 3 milhões de Manko.

Já em relação a Lucho, só uma ideia, bem proverbial: quando a esmola é muita o pobre desconfia.

Desvalorização de um jogador em 18 milhões de euros no espaço de um ano e meio, passagem de um salário de 380 mil euros por mês para… bom, não sabemos, mas devem ser para aí uns 10 mil, porque é por amor à camisola (agora já são três, contando com o Hulk e o Moutinho, que não ligam ao dinheiro), e um jogador prontinho a jogar?

Se for verdade, é o negócio do ano – mais do que o do Yannick no caso da coisa correr bem. Se o joelho der de si, se o TOC decidir que o Lucho tem de trabalhar muito nos treinos para ganhar o lugar ao Defour (e vá lá que já cá não está o Dois Dedos Micael...), se por acaso o Lucho estiver na curva descendente e for por causa disso que ninguém lhe pegou a pagar os tais 300 mil, se o regresso ao Porto for um sinal de acomodação mais que de paixão, então poderemos estar a assistir a mais uma sportinguite. É esperar para ver.

*

Ao fim de seis meses, o Jesus inscreve o Capdevilla para a Champions. Daqui a seis meses já deve ter emagrecido o suficiente para jogar. Sportinguite, do início ao fim, que vai ser, pelos vistos, lá para o Inverno do hemisfério Sul.

Já o Enzo não foi inscrito. Aqui, gosto de como vai acabar: o Enzo a jogar só para o campeonato, que é o que interessa, se o Benfica passar com o Zenit, e o Gaitán a jogar na Europa, que é o que lhe interessa mais e é onde ele mais rende.

O Benfica, entretanto, contrata um miúdo sueco de 19 anos para emprestar ao Leiria. A sportinguite não é só o Barkroth – a sportinguite vai ser toda a equipa B para o ano que vem. E a ver vamos se não se transforma num buraco búlgaro, quando se tiver de começar a emprestar os jogadores que já não tiverem lugar no plantel da equipa B...

O Nélson Oliveira não foi emprestado a ninguém, para poder continuar a treinar na Luz. Se as pessoas tivessem bem consciência de quantos Nélson Oliveiras – leia-se projectos falhados – é que o Benfica já teve nos últimos 30 anos vendiam-no já. E não culpo absolutamente nada o Jesus por não aproveitar o jogador. É o jogador que tem de demonstrar que é um profissional, e não um cavalinho de cortesia a quem basta apresentar o Cartão de Cidadão e comprovar a nacionalidade portuguesa, a altura e a idade para ter direito seja ao que for. Pelo contrário, o que o Nélson Oliveira mostra, de cada vez que entra em campo, é uma tendência irresistível para cair, em vez de lutar pelo seu lugar. Até os pinheiros morrem de pé, caraças!

Cada vez me convenço que a única forma do Oliveira algum dia vir a ser jogador de futebol é ir jogar dois ou três anos para Inglaterra, onde ouça as pessos a rir-se dele quando se atirar para a piscina e onde se estejam a borrifar para o que ele era enquanto júnior.

Para mim? Para mim era… emprestá-lo a um clube inglês qualquer com uma cláusula de compra de 10 milhões.

5 comentários:

  1. Ora nem mais. Aborrece-me profundamente as ânsias que os benfiquistas têm em ver o Nelson Oliveira como titular. O rapaz cada vez que joga não mostra nada de jeito e querem trocá-lo pelo Cardozo ou pelo Rodrigo no onze inicial? Será que ninguém aprendeu que meter os meninos da Academia à pressa no plantel principal é umas das razões pela qual o Sporting não ganha o campeonato há 10 anos? Isto da formação é muito bonito, mas nem toda a canalha pode dar em jogador. Nem aqui, nem no Barcelona.

    O negócio do Lucho é de facto muito estranho. Já li algures que o argentino vai pagar do próprio bolso 2 milhões de euros ao Marselha pela desvinculação. 2 MILHÕES DE EUROS! Isto até para um jogador de futebol é muita guita. Não será mais provável que seja o Porto a pagar esses 2 milhoes e que o dito "negócio a custo zero" não seja uma coisa mais do tipo "ah e tal, se o Lucho não jogar o que estávamos à espera, ninguém nos vai chatear porque veio a custo zero"? E um jogador que foi para a França apenas porque lhe prometeram um salário de quase 400 mil por mês, vem para cá ganhar quanto? Só se ele ama tanto o Porto que assinou um contrato com o vencimento em branco, como o Rui Costa.

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  2. Estamos a oferecer um pires de camarãozinho do rio a quem encontrar as imagens do tipo a treinar amarrado a uma corda.

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  3. Totalmente de acordo em relação ao Nelson Oliveira. Em Inglaterra fazia-se homem e jogador. Cá...

    Assim como concordo em relação ao Lucho. Nem vou discutir mais os "pormenores" do negócio que foi feito apenas para calar (mantê-los na ilusão) os adeptos. Penso que vai ser grande a desilusão. E eu a ralar-me...
    É o que dá fazer um orçamento gigantesco, para se gabar que tem um orçamento maior do que o Benfica, sendo metade proveitos extraordinários... como se fossem proveitos correntes. Chama-se a isso, em bom português, "contar com o ovo no cú da galinha". Confundir o futuro imperfeito com o pretérito perfeito poderá ser fatal.

    Vou é estar atento quando eles se decidem pagar os ordenados em atraso. Se conseguirem.

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  4. João Gonçalves01/02/2012, 19:52:00

    Onde terá Rodrigo dado o "salto" de júnior para sénior, de promessa a (quase) certeza? Chegou ao Benfica, não ficou, e jogou um ano em... Inglaterra, claro! Bolton, certo? Não resulta com todos, mas em alguns casos dá bons resultados.

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  5. Cada vez gosto mais das análises corrosivas do Hugo.

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