Está a decorrer neste momento o que eu diria que é o melhor clinic que já se realizou sobre os temas Idade vs. Juventude e Talento Individual vs. Trabalho Colectivo.
É um clinic aberto ao público e eu aconselhava toda a gente a ver, porque há ali muita coisa a aprender sobre o que é mais importante para ganhar, experiência ou vigor físico.
Dá todas as noites por volta da 1.30 da madrugada e o seu nome oficial é «Finais de Conferência da NBA».
Os intervenientes são os seguintes:
Oklahoma City Thunder – equipa muito jovem
Miami Heat – equipa jovem
San Antonio – equipa velha
Boston Celtics – equipa muito velha.
Oklahoma está a jogar com San Antonio e Miami com Boston.
Guia técnico para o clinic, para os interessados:
Oklahoma – O seu franchise player é Kevin Durant, de 21 anos, melhor marcador de pontos da liga, um prodígio que, se não tiver lesões graves que lhe cortem a carreira, a vai acabar, provavelmente, entre os três melhores marcadores na história da NBA. Marca pontos de todas as maneiras e feitios.
O outro jogador-chave no one-two-punch, como chamam os americanos, é o base Russell Westbrook, também de 21 anos, um dos jogadores mais rápidos da liga.
Os Thunder têm outros jogadores importantes, obviamente, mas este é o seu núcleo de sucesso ou insucesso. É o que estes dois rendem, em conjunto, que determina 80 por cento das hipóteses de sucesso da equipa.
Oklahoma eliminou Dallas, o campeão em título, por 4-0, e é considerada uma das equipas dominadoras da NBA nos próximos dez anos, por razões óbvias.
Neste momento, Oklahoma perde por 2-0 com San Antonio na final do Oeste. O terceiro jogo é hoje de madrugada.
Miami – Tem aquele que eu considero, tecnicamente, o melhor jogador na história do basquetebol, LeBron James, de 27 anos, que, apesar, de estar há 9 anos na Liga, ainda não conseguiu ganhar nenhum campeonato.
Porque é que o considero o melhor jogador de sempre em termos técnicos?
Porque, no conjunto capacidade técnica-capacidade física é uma aberração da natureza. LeBron James consegue jogar a base, a extremo ou a poste, devagar, depressa, consegue marcar de 3 pontos, marcar debaixo do cesto, defender um jogador de 2.10 ou outro de 1.80 (como aconteceu ontem com Rajon Rondo).
Vamos traduzir isto em termos futebolísticos – imaginem um jogador com a capacidade física do Ronaldo, a habilidade técnica de Messi, a inteligência do Pirlo, o sentido colectivo do Scholes e, se for preciso, a versatilidade defensiva do Sérgio Ramos. Se tivesse ficado pelos dois primeiros já era uma impossibilidade da natureza, não era? Exactamente.
Só há uma razão para este jogador ainda não ter sido considerado um dos dez melhores na história da NBA, para não ter ganho um título e para nem sequer ser colocado, por exemplo, ao nível de Michael Jordan, que lhe era tecnicamente inferior em todos os aspectos: porque, ao contrário de Jordan, lhe falta o instinto assassino. Para LeBron James é uma luta ter de matar um adversário, e por vezes até dá a ideia de que é uma luta não passar a bola aos companheiros de equipa em momentos importante do jogo, apesar de ser tão incomparavelmente melhor que eles. Ao contrário de Jordan, que exigia a bola para poder matar, James parece evitá-la para não ter de o fazer. É um tipo bonzinho. Tão bonzinho que, há dois anos, deixou a sua equipa para ir para os Heat, a equipa de Dwyane Wade, onde, durante uma época, ainda ouve a ilusão de que aquilo pudesse ser uma coisa bicéfala, quando, na verdade, teria de ser sempre James e mais quatro. James é tão bonzinho que ainda hoje diz que a equipa é a equipa do Wade. O Jordan nem nos seus piores pesadelos diria uma coisa destas.
Aos 30 anos, Wade, atenção, é um dos cinco melhores jogadores da Liga. Já ganhou um campeonato praticamente sozinho, há uns anos.
O one-two-punch dos Heat é o mais forte da NBA, e encontra-se no período de maturação ideal, a mistura perfeita entre experiência e saúde física. Os Heat são os crónicos favoritos ao título desde que James se transferiu para lá, e no ano passado perderam a final para Dallas.
Para terem o privilégio de ter estes dois jogadores, contudo, os Heat tiveram de enfraquecer o resto do plantel (as leis da NBA estão feitas nesse sentido), e o seu jogo colectivo ressente-se disso. O que James e Wade fazem determina 100 por cento do sucesso da equipa.
San Antonio – No caso de San Antonio é necessário falar de três jogadores-chave: Tim Duncan, um extremo-poste de 36 anos, que, de todos os jogadores em actividade, é o que tem maior sucesso individual e colectivo; o argentino Emanuel Ginobili, de 34 anos, extremo; e o base francês Tony Parker, de 30 anos, que foi casado com a Eva Langoria.
San Antonio é uma equipa na verdadeira acepção da palavra.O seu estilo de jogo é colectivo e sem invenções. É uma equipa que tem tudo no lugar, até a distribuição de qualidade nas posições base-extremo-poste (sendo o melhor o poste, o que, historicamente, é de grande importância na NBA), e que ganhou três ou quatro campeonatos nos últimos dez anos. Talvez a melhor forma de definir o que é San Antonio, como equipa seja a seguinte: Tim Duncan, o seu jogador-chave, tem a alcunha de Big Fundamental, o Grande Fundamento. Executa exemplarmente tudo o que é fundamental e elementar e poupa-se em tudo o que é supérfluo. A sua imagem de marca é o lançamento à tabela (que, quem jogou basquete, sabe que é o mais básico e eficaz de todos) e já não me lembro da última vez que o vi fazer um afundanço, apesar de quase lhe bastar levantar os braços para afundar.
Outra coisa importante, que gostava que recordassem: Manu Ginobili é o maior competidor que eu já vi sobre um campo de basquetebol. Até maior que Jordan. Manu Ginobili é a máquina perfeita de competir. Sabe sempre o que é preciso fazer para ganhar, fá-lo e, quando não ganha, é porque falhou a execução. Não tem um talento como o de Jordan. Se o tivesse teria sido o melhor basquetebolista de todos os tempos.
E é canhoto e argentino, o que, só por si, já é meio caminho andado para a divindade.
Os Spurs eram dados como uma equipa acabada, sem pernas para ganhar mais campeonatos,. Mas este ano aconteceu uma coisa extraordinária: metade da época não se disputou, por causa do lock-out. Ou seja, os quatro meses de competição que a equipa tem no depósito de combustível, este ano, representam quase a totalidade da época. Resultado: os Spurs vão em 19 vitórias consecutivas nesta altura da época, incluindo 9 no play-off, e chegam à fase decisiva em grande forma, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, em que, por esta altura, já andavam todos pendurados.
Boston – São a equipa mais aguerrida e lutadora na NBA. Pura e simplesmente não entregam os pontos, lutam sempre e, como conseguem juntar a esse espírito competitivo insuperável uma grande qualidade técnica, chegam a esta fase com hipóteses de ganhar. Ganharam o campeonato há três anos, derrotando uma equipa dos Lakers favorita, contra todas as expectativas. Mas fisicamente estão por um fio.
Os seus jogadores-chave são Kevin Garnett (36 anos), Ray Allen (36 anos), Paul Pierce (34 anos) e o miúdo Rajon Rondo (26 anos) a base, que é quem faz aquilo tudo mexer – a custo.
É preciso ver jogar Boston para perceber como uma equipa tão velha consegue competir tanto. Grande defesa, jogo a meio-campo esmerado, grande classe dos seus jogadores, conhecimento de como jogar em todos os momentos do jogo.
O próximo jogo Boston-Miami é, depois de amanhã, em Boston, o que é excelente, porque em casa esta equipa torna-se assassina.
A expectativa inicial era que Miami e San Antonio se encontrassem na final, e está a correr nesse sentido. Ambos ganham 2-0, neste momento, à melhor de sete.
A grande questão é a seguinte: vai LeBron James finalmente cumprir a sua promessa de destino glorioso e ganhar o primeiro título?
Na minha opinião, não. É a equipa que vai ganhar, e a equipa, neste playoff, é San Antonio. E é uma equipa que sabe, como equipa, como ser campeã. Penso que vai ganhar por pormenores, provavelmente a sete jogos na final, e provavelmente com Ginobili a tomar as decisões que anulam a vantagem técnica e física dos Heat.
Mas façam assim, se quiserem pensar nesta questão entre juventude e experiência fora do contexto do futebol, esta é uma oportunidade imperdível. Sair da caixa é uma maneira de colocar as coisas em perspectiva e de aprender.
O cenário está apresentado e os jogos dão de madrugada e repetem à tarde.
Vejam, e no fim falamos.