domingo, 29 de julho de 2012

Neurónios de molho

Caros amigos, tenho a tola toda frita.

A minha vontade em falar de Vieiras, Jesuses, bandidagem e lagartagem é exactamente igual a 0.

Com todo o gosto, cá estarei no dia 12 de Agosto, quando o blog fizer um ano, para atacar a nova época.

Até lá, levem com calma, aproveitem os Jogos Olímpicos, vão à praia e paguem as quotas. Eu cá vou para o Algarve molhar os neurónios e comer sardinhas.

Inté.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O meu defesa-esquerdo

A propósito do tal Rojo:
 

- duvido que alguém em Portugal, para além dos profissionais do futebol, tenha visto jogar este Rojo. Ver, até pode ter visto, durante um jogo do Spartak. O que eu duvido é que tenha visto com mais atenção do que vai ver, daqui por 15 dias, qualquer outro jogador de qualquer outra equipa russa nas competições europeias. Ponto de argumentação: ninguém em Portugal sabe se este Rojo é ou não é um grande, um bom ou um medíocre jogador. A única coisa que se sabe é que o Benfica esteve disposto a dar 3,5 milhões de euros por ele e que não quis ir mais além, e a partir daí passou a ser conhecido, através dos jornais.

A ficha pessoal parece conferir com uma aposta credível: 24 anos, internacional argentino (mesmo que, actualmente, a Argentina tenha cerca de 5 mil internacionais), com experiência no estrangeiro, ainda que sem nunca ter jogado num grande clube europeu. À partida, deve justificar os 3 ou 4 milhões de euros, mas veremos se está aqui mais um Maldini ou mais um Evaldo.



- Só gosto de jogadores polivalentes no banco. Quando apontei, aqui há uns meses, os meus desejos para a constituição do plantel do Benfica esta época, lá estava, é verdade, um «defesa central polivalente», mas far-me-ão a justiça de reconhecer que esse jogador seria suplente, Faz sentido, de um ponto de vista quer de economia quer de gestão do plantel, ter um defesa que possa entrar na equipa para fazer mais de um lugar. Torna a equipa mais coesa na altura das lesões ou do desgaste ter um jogador de nível médio-alto a entrar regularmente – como era o Rúben Amorim, por exemplo – com ritmo de jogo e conhecimento dos automatismos. Mas não são estes jogadores polivalentes que decidem campeonatos (sim, sim, já sei, vai já haver quem diga que «uma equipa são todos», as tretas do costume, ao que eu respondo que sim, são todos, mas que não são todos igualmente importantes, como é óbvio – há jogadores úteis, jogadores importantes e jogadores decisivos. Sem os jogadores decisivos na altura crucial da época uma equipa não ganha.)

Não acredito, pessoalmente, que Rojo viesse para ser titular do Benfica, quanto muito seria a primeira opção defensiva a sair do banco, e, se assim for (vamos ver se não é no Sporting…), 4 milhões de euros é uma estupidez de dinheiro. Além disso, sem vender Jardel, seria mais uma contratação idiota. Por menos que eu goste do Jardel, comprar outro jogador para o seu lugar não seria mais que desvalorizar dois jogadores.

Espero que o defesa-esquerdo do Benfica seja um bom defesa-esquerdo, não um bom central adaptado a defesa-esquerdo. Isto porque não acredito nas tretas tácticas que o Jesus meteu na cabeça que são a chave do futebol moderno e que, quando começa a inventar, dão sempre merda. Acredito que o futebol moderno é composto por especialistas, por jogadores que se distinguem em aspectos específicos do jogo, e cuja inteligência táctica permite, ou não, jogar bem em equipa. Daqui a acreditar que a qualidade do jogador e da equipa se mede apenas pelo posicionamento táctico e pela corrida que faz dentro dos corredores fixos que o treinador desenha na sua cabeça, como se os jogadores fossem aquelas peças magnéticas nas placas metálicas, vai uma grande distância.



- Não foi por causa do Emerson que o Benfica não foi campeão em 2012. O Benfica teria sido campeão, mesmo com Emerson, se tivesse funcionado melhor como equipa, e já houve equipas campeãs em Portugal com defesas-esquerdos muitos piores do que o Emerson. Isto para dizer duas coisas:

- Uma equipa em que o defesa-esquerdo não seja o jogador menos importante é uma equipa desconjuntada. Isto é verdade nos iniciados do Atlético, em que o defesa-esquerdo é o tipo que tapa o buraco, e é verdade no Real Madrid. Isto não significa que o defesa-esquerdo tenha de ser um mau jogador, pelo contrário – o que significa é que se, há um tipo que não tem de ser um grande jogador e que não pode ser uma das primeiras opções ofensivas de uma equipa, esse jogador é o defesa-esquerdo. Sim, um Roberto Carlos, um Coentrão, podem ser uma mais-valia, mas se uma equipa é montada a pensar-se nas soluções que o defesa-esquerdo vai trazer para os problemas que aparecem num jogo, essa equipa está lixada com F grande (como se viu na segunda época de Jesus, aliás, em que Coentrão foi o melhor jogador do Benfica e acabámos a época a ver esse mesmo Benfica a tentar resolver jogos dificílimos com o seu defesa-esquerdo a fazer raides de 60 metros por entre os defesas e, evidentemente, a chegar ao fim extenuado, frustrado, e a equipa a perder);

- A grande jogada de um Benfica campeão seria aproveitar como deve de ser o potencial de uma equipa pela qual pagou largas dezenas de milhões de euros e que, como conjunto, continua a render apenas 65 por cento daquilo que vale. Não quero ser o «mija-na-sopa» (por enquanto…) mas admito que continuo muito pessimista quanto à capacidade do Jesus mudar o que em três anos ainda não conseguiu mudar: dar ao Benfica um jogo colectivo que potencie a qualidade super de alguns dos seus jogadores, e não continuar naquele estilo de jogo aos repelões, sem fio, sem chama, que vai dando vitórias em jogos mas que dificilmente dar vitórias em campeonatos.



- Dito isto tudo (nomeadamente que não foi por causa de não ter um bom defesa-esquerdo que o Benfica não foi campeão na última época), o caso do defesa-esquerdo é um caso de pura incompetência, em que o Benfica é típico. A falta de consistência da estrutura do clube vê-se, ainda, nestas coisas. Tão depressa desencantam um Witsel como metem uma argolada numa coisa que deve ser rotineira, como a porcaria de um defesa-esquerdo. Quando digo incompetência não estou a lavrar um atestado de irreparabilidade. São ocasionalmente  incompetentes, e pelo que se tem visto têm vindo a aprender – não muito depressa, é certo, sem demonstrar grande inteligência, mas, ainda assim, estão a melhorar.

A incompetência na história do defesa-esquerdo é fácil de contar. Começa com Fábio Coentrão. No fim da primeira época de Jesus, Fábio só não saiu porque havia outros com prioridade, mas era evidente, logo desde Janeiro (como Gaitán, este ano) que seria o próximo a sair no Verão. O Benfica, obviamente, sabia-o. Teve, portanto, e pelo menos, oito meses para encontrar um substituto. Condições privilegiadas. A contratação de Emerson, como é evidente, destinava-se a fortalecer o banco. Emerson não veio para ser titular. Não tinha preço, nem currículo, nem qualidade para isso. Veio porque era barato e estava à mão.

Entretanto, o Benfica falhou na contratação do seu verdadeiro alvo, que provavelmente nunca iremos saber quem era. À última hora, contratou Capdevilla, contra a vontade de Jesus, que se sentiu, decerto, defraudado, por lhe terem prometido um defesa-esquerdo a sério e acabar com duas metades. O erro estava feito, e a época veio pô-lo a nu, como geralmente acontece quando se mete água no Verão. Que nem Emerson nem Capdevilla eram jogadores para o Benfica ficou claro logo em Setembro. O Benfica teve, portanto, outros 10 meses para encontrar o sucessor de Coentrão. Tem mais 40 dias. Se o resultado for um novo Emerson, o fracasso é evidente. Qualquer coisa que não seja o futuro melhor lateral-esquerdo do futebol português, aliás, é um falhanço, dados estes antecedentes.

Não é por causa disto que a época vai abaixo ou não, mas que é um teste à estrutura do Benfica (por incrível que pareça) lá isso é.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Já acabou?

Depois de um fim-de-semana no Portugal profundo, apanhei a pré-época do Benfica aos 24 minutos do jogo com o Lille, que eu nem sabia que ia haver - e parece que o estágio, entretanto, acabou...

Tenho a tendência para pensar que os jogos de pre-época não servem para absolutamente nada, em termos de perspectiva do que será a equipa ou o comportamento dos jogadores, mas é um preconceito: não seve quase para nada. Os jogadores não correm, o que torna estes jogos, então, quase inúteis, mas dá para ver o que eles tentam fazer, ou seja, o seu estilo.

Fiquei com algumas notas.

O Enzo Pérez tem azar comigo. É, com certeza, um jogador excelente, sensacional, mas no único jogo inteiro que vi dele em competição, no Estudiantes, só vi uma vedeta sem estofo. Hoje, dois minutos depois de eu ligar a televisão, vi a mesma vedeta a sair de campo, eventualmente lesionado. O Enzo Pérez encaminha-se para o desfecho anunciado a partir do momento em que ele, o empresário (o do Rojo, parece…) e o Vieira encontraram a treta da mãe para justificar a devolução à procedência de um jogador que custou a módica quantia de 5 milhões de euros: não voltar a fazer um jogo oficial com a camisola do Benfica.

O que eu fazia dele, neste momento? Emprestadava-o a uma equipa alemã. Quais Argentinas, quais quê. Alemães com ele, frio, tanques e porrada no focinho para aprender o que é o futebol profissional. E a mãezinha, se fosse preciso, ia atrás, que há lá bons médicos.

O Ola John é exactamente o que eu esperava – não um sprinter, não um driblador em velocidade, mas um extremo-pivô, de postura vertical, um jogador equilibrado e de equilíbrios. O melhor de Ola John vão ser os passes, não as fintas. Tem o estilo do Ruud Gullit, sem o cabedal do outro, nem a personalidade exuberante. Ao fim de seis anos, provavelmente, o Maxi Pereira (este ano fresquinho, espera-se) encontrou o melhor companheiro de corredor, para jogar e fazer jogar. Com Ola John, a tendência é para a bola ir e vir, não para ir e ficar, como com Gaitán, por exemplo. Mas se alguém estiver à espera de o ver pegar na bola e fintar dois ou três de seguida em velocidade, tipo Sálvio, esqueçam. Não é o jogo dele.

Quanto ao Melgarejo, não digo nada, a não ser uma coisa que me parece natural: um avançado passa 90 minutos à procura da bola, e geralmente a vê-la à distância; passar a jogar numa posição em que a bola vai ter com eles deve ser óptimo.

Não sei se o Saviola ainda é jogador do Benfica (não é brincadeira, não sei mesmo, ainda não fui aos jornais desde 6.ª feira), mas saio deste jogo com a confirmação de uma ideia que é mais um palpite que outra coisa, mas que é recorrente: continuo a ter a sensação de que o Rodrigo Mora é o segredo mais bem guardado deste plantel de 500 jogadores do Benfica. Gostava muito de ver o Mora fazer 5 jogos seguidos a titular do Benfica. Não vai acontecer. Mas se acontecesse tenho a impressão de que o Benfica achava aqui o principal reforço da época.

Carlos Martins. O que distingue um bom jogador de um grande jogador é a consistência. Não é conseguir fazer as coisas difíceis: é conseguir fazer as coisas difíceis regularmente, de forma rotineira, de maneira que até parecem fáceis. Lembro-me quando  Pacheco e o Paulo Sousa trocaram o Benfica pelo Sporting. O nível do Paulo Sousa no Sporting não foi surpresa, mas lembro-me de ver o Pacheco e a jogar e pensar: «Mas este tipo joga assim tanto?» Foi só aí que percebi a diferença entre o Benfica e o Sporting naquela altura. O Pacheco tornara rotineiras, no seu jogo, as coisas básicas, e difíceis, e ao entrar numa equipa inferior passou de ser um jogador igual aos outros a ser um dos dois ou três melhores.

O grande desafio do Carlos Martins não é o talento, é a consistência. E, aí, ainda está longe de jogadores que, no Benfica, foram bons, mas nem sequer os melhores. Jogadores de segunda linha como Pacheco, Vítor Paneira, Isaías e outros que, como Martins, sem terem classe pura, a adquiriram com o tempo, com o trabalho e com a estabilidade anímica e colectiva.

Quanto ao resto, o Benfica não jogou nada, o que é muito bom. Quando uma equipa joga bem na pré-época é porque não está a trabalhar como deve de ser. É como aqueles jogadores que brilham na pré-época. Só os há de um tipo: os que chegam com ritmo competitivo de campeonatos a decorrer. Não servem para nada. Ao fim de 4 jornadas do campeonato, quando todos os outros estiverem fisicamente bem, desaparecem e banalizam-se.

Na pré-epoca o que se quer é equipas a jogar mal e porcamente e jogadores a arrastarem-se em campo.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Teste americano

1 – A venda de Cardozo por 11 milhões de euros seria:

a)      Um bom negócio

b)      Um mau negócio

c)       Uma excelente oportunidade de acrescentar um jogador de futebol ao onze titular do Benfica



2 – O almoço de Luís Filipe Vieira com os 60 deputados do Benfica:

a)      Pelo menos não foi na Assembleia da República

b)      Foi um abraço ao regime

c)       Foi uma excelente oportunidade para estar quieto



3 – A contratação de Marcos Rojo falhou porque:

a)      O Benfica foi inapto

b)      Era bluff, à espera que o verdadeiro alvo para lateral-esquerdo desse à coata

c)       Era dinheiro a mais a dar para um futuro suplente



4 – A extinção do basquetebol no Porto é:

a)      Um sinal de fraqueza do clube

b)      Uma boa notícia

c)       O prelúdio de outras, nomeadamente no hóquei em patins e, quando também vier perder para o Benfica, no andebol?



5 – Rolando no AC Milan por 15 milhões de euros é:

a)      Só rir

b)      Tão possível como o Moutinho no Tottenham por 30 milhões

c)       Completamente possível, depois do Cissokho (pelo menos até o Berlusconi decidir que ele tem um problema nos dentes)



6 – Se todos os plantéis ficarem como estão actualmente, o principal candidato ao título é:

a)      O Porto

b)      O Benfica

c)       O Estoril



7 – A contratação de jogadores asiáticos para encher chouriços é:

a)      Uma genialidade, como diz o sócio Futre

b)      Uma chico-espertice que se vai virar contra os aprendizes de feiticeiro

c)       Uma daquelas caninhas através das quais os tipos dos filmes respiram quando já estão completamente submersos para conseguirem sobreviver



8 – Se o Porto não conseguir vender o Hulk por pelo menos 40 milhões de euros depois dos Jogos Olímpicos, o Pinto da Costa:

a)      Faz uma promoção Pingo Doce e oferece o Fernando grátis a quem comprar o James e o Moutinho?

b)      Vende metade dos passes do Moutinho, do James, do Fernando e do Jackson Martínez a um fundo de jogadores patrocinado pelo Jorge Mendes para conseguir pagar os salários desta época?

c)       Extingue a secção de futebol profissional e fica só com as camadas de formação, integradas no projecto Dragon Force?



Só vale responder a uma opção em cada pergunta

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O lado B

As equipas B são um espectáculo. São «o elo perdido» na evolução do futebol português. Agora sim, os três grandes portugueses vão fazer fortunas e serão imparáveis. Vão ser fornadas e fornadas, umas atrás das outras, de jovens talentos a alimentar as respectivas equipas principais.

E porque é que isto vai acontecer?

Fácil: porque ainda não deram um único pontapé na bola.

Ainda não chegaram à parte da realidade.



Só preciso de uma questão para argumentar a favor da futilidade a que as equipas B estão, na minha opinião, condenadas: alguma vez faltou aos três grandes clubes portugueses espaço para colocarem qualquer jogador que quisessem em qualquer equipa da I ou II Divisão nacionais?

Claro que não.

«Ah, mas agora os jogadores vão poder aprender o que é o Benfica, e a cultura do Benfica, como disse o Norton de Matos, e vão ter boas condições de treino, e bons médicos, e o Jesus vai poder vê-los a treinar, e vão ser todos uma grande família, e vão ter a mesma forma de jogar, e tal…»

Então façam isto: peguem num jovem jogador de 20 ou 21 anos que esteja habituado a jogar todos os domingos, na I divisão paraguaia, ou mexicana, ou sueca, ou até no Barcelona B, ponham-no a suplente do Benfica B na II Divisão portuguesa durante um mesinho, e vão ver onde ele vos manda enfiar a cultura do Benfica antes de se começar a fazer birra para se meter no avião de volta para casa.

Isto porque, incrivelmente (e contra todos os prognósticos que de poderia fazer ao ver os plantéis de vinte e tal jogadores das equipas B), nessas equipas B, e na II Divisão portuguesa, também só jogam onze de cada vez.

Um objectivo realista para as equipas B seria fornecer um jogador titular para a equipa principal de três em três anos, quer através da subida directa quer através da venda de jogadores que permitam, depois, juntar o dinheiro e comprar um. Se qualquer equipa B conseguisse criar um valor futebolístico de 12/15 milhões de euros num jogador de 3 em 3 anos seria um projecto de sucesso. Mas, nos clubes grandes portugueses, duvido que mesmo isso seja suficiente para que as equipas B possam sobreviver. E até serem rentáveis.

Vamos fazer um exercício de «boas intenções vs. vida real» para as equipas B.



Boa intenção nº 1: «As equipas B vão servir para os juniores fazerem a transição para seniores, para se adaptarem e terem tempo para que a sua qualidade como profissional seja semelhante à que tinham em júnior.»

Vida real:

a)      Qualquer jogador que queira ser um um bom jogador de uma equipa como a do Benfica, por exemplo, tem de ter qualidade suficiente para ser titular de uma equipa que não o Benfica aos 19/20 anos. Senão é, é porque não a tem, e provavelmente nunca a terá. Não estamos a falar aqui de jogadores medianos, mas de futebolistas de excelência. Se a equipa B do Benfica não conseguir formar melhor que um Rúben Amorim ou um César Peixoto de 3 em 3 anos não haverá ninguém a querer mantê-las. De 3 em 3 anos, o Benfica B tem de criar um Javi Garcia.

b)      Nenhum jogador faz transição absolutamente nenhuma se não jogar com regularidade. Até pode treinar 5 vezes por dia. Se não jogar, não evolui, e acaba a jogar no Penafiel. Se todos os anos subirem 4 ou 5 «juniores promissores» à equipa B, ao fim de quatro anos esta terá entre 12 e 17 ex-juniores que «precisam de jogar para crescer. Para 11 lugares. E já não estamos a falar dos jogadores contratados, que, pela amostra, deverão ser a maioria. Não é mesmo nada difícil imaginar uma realidade em que os dirigentes do Benfica passam metade do Verão a tentar encontrar um tapete para debaixo do qual possam varrer os excedentários da equipa B, além dos da equipa A, pois não? E, e a propósito disto…

c)       Quanto tempo é que vai demorar até a equipa B se tornar o aterro sanitário da equipa A? O sítio onde despejar os excedentários e os indisciplinados, tenham 20 ou 30 anos? Provavelmente menos de um mês, digo eu… Isso vai fazer maravilhas pela saúde anímica da equipa.

d)      Ainda está por provar que a selva não seja o melhor sítio para os mais aptos conseguirem crescer. É verdade que há excepções (Figo, Paulo Sousa …) de jogadores que pegam de estaca nos clubes de origem, mas a esmagadora dos grandes talentos do futebol português, desde Rui Costa, por exemplo, resultam de uma mistura de talento, querer e profissionalismo que apenas a exposição aos ambientes competitivos ferozes e a condições adversas nos pardieiros deste país conseguem criar. Praticamente todos os melhores jogadores portugueses tiveram de ver o seu talento colocado à prova e triunfar, por eles mesmos. O que eu quero dizer é que, na prática, ainda está por provar que as equipas B não venham aburguesar jogadores já de si habituados a terem muito mais, nas camadas jovens dos três grandes, do que os outros futebolistas.



Boa intenção nº 2: «As equipa B são o local ideal para os jogadores estrageiros fazerem a adaptação a um novo país e a perceberem a grandeza [do Benfica].»

Vida real: aqui, em boa parte é verdade, mas tudo o que se disse em relação às dificuldades em jogarem farão com que, provavelmente, a meio da época, esses tais jovens estrangeiros estejam ou a regressarem ao seu país para poderem jogar ou a serem emprestados ao Atlético ou ao Portimonense pela mesma razão.

Isto torna-se ainda mais problemático quando se tratar de jogadores que venham de ser titulares nas suas equipas de origem. Serão jogadores que estão entre os melhores do seu país e que, de repente, se vêem afastados de casa e provavelmente no banco.

Ainda assim, parece-me que, de todas as boas intenções que rodeiam as equipas B, esta seja a que tem mais hipóteses de vingar, pois junta à possibilidade de adaptação esse factor de desafio pessoal/resposta a que uma aventura no estrangeiro expõe um jovem jogador uruguaio, ou espanhol, por exemplo.

No entanto, a questão de fundo mantém-se: que qualidade real esperar de um jogador destes? Que tipo de jogador será este que sairá daqui? Se for um jogador com qualidade para ser titular indiscutível na equipa B, mesmo com 19 anos, podemos estar a falar de um Rodrigo. Se for apenas mais um entre onze, será o quê? Um Schaffer? Um Felipe Bastos?



Boa intenção nº3 (e ficamo-nos por estas): «Os jogadores da equipa B podem reforçar a equipa A quando houver problemas específicos de lesões ou castigos»

Vida real: A sério? Podem mesmo? Eis o número de vezes que isso vai acontecer durante esta época, por exemplo, no Benfica: zero.

Uma equipa como a do Benfica tem sempre 25/26 jogadores, apesar de todos os anos se ouvir a conversa de que «Jesus não quer mais que 21 jogadores no plantel». Desses 25/26 jogadores, 14 jogam muito, 5 jogam pouco e os outros não jogam nunca. O plantel é feito para que cada posição tenha duas alternativas, uma mais forte, a outra para safar. É, portanto, suposto que um miúdo da equipa B, a jogar na II Divisão, se equipa e vá jogar por um candidato ao título no domingo?

Alguém está a ver o Jesus-que-joga-com-o-Witsel-a-defesa-direito ou com-o-Jardel-a-defesa-esquerdo ou que-nunca-põe-o-Luis-Martins-a-jogar, de repente, a transformar-se no Pai Natal e a confiar um lugar no onze a um miúdo «que ainda não percebe bem a forma de jogar com a equipa porque não treina com a gente» à frente dos outros 9 jogadores que fazem parte do plantel, incluindo dos 6 ou 7 que nunca jogam?

Continuem a sonhar com o Footbal Manager…



As equipas B podem ter futuro em clubes da dimensão de um Marítimo, de um Braga, de um Guimarães. Porquê? Porque:

a)      São clubes com boas equipas na formação

b)      São clubes em que o nível de exigência é menor, logo, o fosso entre o que se espera de um jogador B e o que se espera de um jogador A é também muito menor, tornando mais viável a passagem dos B para os A.

c)       São clubes com pouco dinheiro para gastar em hipóteses malucas ou em caprichos. Jamais um Braga gastará 500 ou 600 mil euros numa jovem promessa para rodar na equipa B, como o Porto ou o Benfica. Com isso, as futuras perdas financeiras serão muito menores, o que tornará a equipa B muito mais leve e fácil de suportar.

d)      São clubes que cada vez mais dependerão completamente da capacidade de prospecção e potenciação de jovens talentos. Para um Benfica ou um Porto, encontrar um miúdo com 19 anos e fazê-lo crescer é um extra, e não é sequer prioritário desde que se seja campeão  – para o Marítimo, ou para o Guimarães, é vital para a sobrevivência do próprio clube.



O único objectivo real das equipas B de Benfica, Porto e Sporting, pelo contrário, é o de, através de um subterfúgio estrutural, tentar resolver um problema iminentemente técnico – tentar, através da quantidade, resolver um problema qualitativo. Basicamente, as equipas B servem para que os clubes, ao alargarem o seu campo de recrutamento para o dobro ou o triplo, consigam esconder o facto de não conseguirem ser competentes na escolha de reforços para a equipa principal.

Benfica, Porto e Sporting são pouco eficazes a comprar reforços, e, como tal, fazem o que toda a gente faz quando não é capaz de comprar em qualidade: compram em quantidade e jogam com a lei das probabilidades – entre tantas contratações é inevitável que apareça um ou outro David Luiz (mesmo que metade do que se ganhou com a venda do David Luiz seja para pagar os barretes que se eniaram com todos os David Luiz que nunca o chegaram a ser).

Deixo aqui a minha previsão para as equipas B, no espaço de quatro a cinco anos (no máximo): por essa altura, as equipas B ter-se-ão tornado numa duplicação da estrutura original, com os mesmos problemas desta, entre os quais será o excesso de jogadores.

O que equivale a dizer que daqui a cinco anos os clubs terão o dobro dos problemas que têm hoje para remendar todos os buracos em que se metem quando começam a comprar jogadores às carradas para encontrarem um que valha a pena.

As equipas B serão mais um buraco onde enterrar dinheiro, e acontecer-lhes-á o mesmo que todos os buracos: a certo ponto, o único problema, e a única coisa em que os clubes vão pensar, é em como tapá-lo de maneira a que nunca mais volte a abrir.

Benfica, Porto e Sporting contratam seis jogadores para encontrarem um à altura do clube, e pagam, hoje, o custo desse sistema. Grande parte dos seus passivos está enterrado em más escolhas de jogadores inúteis. É metade vício, metade inaptidão. As equipas B só vão duplicar esse problema de raiz.

Daqui a uns anos, as equipas B serão como o lado B dos antigos LP de vinil: têm as músicas especulativas, alternativas, aquelas que podem dar ou não dar mas que, já que estão gravadas, se põem lá e fazem parte do disco, mas ninguém quer saber delas.



Como é que a equipa B poderia ser realmente uma mais-valia, poupar despesas e tornar-se útil? Se o plantel principal, por exemplo, fosse formado por apenas 17 jogadores e os restantes pertencessem à equipa B, por exemplo.

Mas por hoje fico-me por aqui sobre as equipas B, com a certeza de que vão aparecer alguns comentários que me permitirão, na resposta, completar as razões para o meu total cepticismo em relação às equipas B tal como estão (novamente) a ser construídas.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A última tentação de Jesus

Primeira constatação: clara diferença de dificuldade da primeira para a segunda volta, quer para o Benfica quer para o Porto.

Na primeira volta, o Benfica recebe Porto, Braga, Nacional, Marítimo, Guimarães, enquanto o Porto recebe Sporting, Guimarães, Marítimo, Nacional e Académica.

Quer Benfica quer Porto irão perder pontos em jogos normais e em jogos anormais, como em todos os anos – a questão não é essa. A questão é que será, claramente, mais acessível quer a Benfica quer a Porto acumular pontos na primeira volta do que na segunda. O que torna ainda mais relevante aquele que é, como se vem percebendo ano após ano, um factor decisivo para o campeonato: a Liga dos Campeões.

Sabemos, à partida, que Benfica e Porto jogarão pelo menos seis jogos na LC. O último desses seis joga-se a 4/5 de Dezembro, 4 dias antes da 11.ª jornada do campeonato, em que há um Sporting-Benfica. Ou seja, há seis jogos de Champions entre 11 jogos de Liga.

Isto leva-me a crer que quem chegar ao fim da primeira volta à frente do campeonato será, muito provavelmente, o campeão, porque o segundo classificado terá sido aquele que perdeu mais pontos em jogos em que não os podia perder, de grau de dificuldade menor, além dos que são normais em qualquer campeonato.

Nesse sentido, acho que será também muito provável que cheguemos ao Benfica-Porto de 13 de Janeiro a defender que quem sair do campo, nesse jogo, à frente, será campeão nacional.

Parece-me que se está a partir demasiado cedo do princípio que o Porto-Benfica da penúltima jornada será o jogo decisivo. Se eu tivesse de escolher, já, aquele que me parece que será o mais importante na decisão do título, escolhia o Benfica-Porto. Não me admirará absolutamente nada que o Porto-Benfica venha a ser um daqueles clássicos de encher chouriços para «salvar a honra» (para qualquer um dos dois, é indiferente), já com o campeão matematicamente encontrado. E acho perigoso, para o Porto, saber que tem um jogo «para recuperar três pontos» a duas jornadas do fim. Já vi muitos campeonatos em que o Benfica chegava ao jogo com o Porto, em casa, a contar com esses três pontos havia semanas, confiante de que tinha vantagem por ter esse confronto directo, e em que, no fim do jogo, dava empate ou derrota, precisamente porque a equipa em vantagem pontual ganhava ascendente táctico e anímico em capo, saindo do jogo com a liderança reforçada. Contar com o ovo no cú da galinha, em futebol, é um expediente frequentemente traiçoeiro.



Repito, portanto: a Champions, este ano, será ainda mais decisiva do que é costume. E arrisco uma previsão, apenas aparentemente contrassensual: a equipa que fizer menos pontos na fase de grupos da Champions vai ganhar o campeonato. O ano passado foi assim, nos outros não sei (nem agora me apetece ir ver…), mas neste vai ser assim outra vez.

Veremos se, para Jesus, a tentação não será demasiado forte.

Senão vejamos:

- Descanso na Liga / LC1 / Académica-Benfica

- Paços-Benfica / LC2 / Benfica-Beira-Mar

- Descanso na Liga / LC3 / Gil-Benfica

- Benfica-Guimarães / LC4 / Rio Ave-Benfica

- Descanso na Liga / LC 5 / Benfica-Olhanense

- Descanso na Liga / LC 6 / Sporting-Benfica

Agora digam-me lá se não imaginam o Jesus, atrevido como é, a pensar assim: «Porra, isto dá para arriscar. Se eu apostar forte nos primeiros cinco jogos da Champions chego ao sexto já com o apuramento no bolso e posso fazer descansar a equipa para o Sporting. Caraças, em seis jogos tenho quatro sem nenhum jogo para o campeonato antes, e não há nenhum nesta lista que a minha equipa não consiga ganhar mesmo sem dois ou três titulares. Depois tenho o jogo em Braga e com o Porto, sem Champions à volta, para decidir o campeonato, e daí para a frente tudo pode acontecer, ainda por cima se ficar em primeiro no grupo. Man, se eu não arriscar agora nunca mais arrisco.» (chiclet, chiclet, chiclet…)

Vá, digam lá: imaginam ou não o Jesus (e 90 por cento da população benfiquista) a fazer estas contas de cabeça?

Já agora, para ser justo, vale a pena fazer o mesmo exercício para o TOC (o Verão passa, mas a alcunha fica):

- Descanso na Liga / LC1 / Porto-Beira-Mar

- Rio Ave-Porto/ LC2 / Porto-Sporting

- Descanso na Liga / LC3 / Estoril-Porto

- Porto-Marítimo / LC4 / Porto-Académica

- Descanso na Liga / LC 5 / Braga-Porto

- Descanso na Liga / LC 6 / Porto-Moreirense

Está ou não está a pedir uma valente aposta na Champions, sobretudo em ano de «recuperação do prestígio europeu»?

(Aliás, se eu não soubesse que o futebol português é transparente como a água diria que tantas jornadas de descanso antes dos jogos do dinheiro na Europa foram feitas à medida dos clubes que jogam na Europa…)



Para acabar esta análise preliminar sobre o sorteio, algumas constatações:

- Não se vê nenhum daqueles ciclos potencialmente assassinos de três jogos, em momentos decisivos da época, em que uma equipa joga tudo (um Zenit fora-Académica fora-Zenit em casa-Guimarães fora-Porto, já no Inverno, por exemplo…). Ainda que seja preciso esperar pelo desfecho da fase de grupos da Champions para saber ao certo se ele aparecerá nos oitavos-de final, que podem ser jogados, à partida, em várias datas, conforme a posição no grupo;

- Receber o Braga, na primeira jornada, é altamente vantajoso para o Benfica. Ao contrário de outros anos, o clube que disputa o acesso à Champions começa essa competição já depois do início do campeonato, ou seja, não usufrui da vantagem de ritmo competitivo que permitiu, por exemplo, ao Benfica do ano passado, começar à frente e fazer um excelente início de campeonato. O Braga começa a jogar a Champions já no play-off imediatamente antes da fase de grupos. E o primeiro desses jogos do play-off é precisamente três dias depois de ir jogar à Luz.

Ou seja, o Benfica começa o campeonato em casa, num jogo que requer concentração imediata e que não admitirá dúvidas nem adormecimentos, cheio de energia, perante um Braga que, ciclicamente, vê metade da sua equipa alterada a poucas semanas do início da prova, e que terá o seu jogo mais importante do ano apenas três dias depois. Penso que o Benfica tem aqui uma grade oportunidade de matar dois borregos só com um penálti: o do Jesus não ganhar o primeiro jogo do campeonato e o de ganhar imediata vantagem no confronto directo sobre o Braga e ir a Braga a poder jogar sem handicaps, algo que nos últimos três anos não pôde acontecer porque o Braga-Benfica foi sempre na primeira volta



-o Sporting, que também anda na luta, tem uma primeira volta para não perder o campeonato (dificílima, com jogos fora com Guimarães, Marítimo, Porto e Nacional), e com a fase de grupos da Liga Europa sempre a jeito para fazer descansar a equipa, dado o previsível baixo valor dos adversários, e uma segunda volta para o tentar ganhar.

À partida, parece-me claro que o que o Sporting vai valer no campeonato ficará decidido no final do Porto-Sporting, da sexta jornada: ou o Sporting não perde nas Antas, sobrevive a um início complicadíssimo, e depois tem cinco jogos para confirmar uma candidatura; ou acaba esse jogo na mesma situação que terminou o jogo da Luz, no ano passado, com uma derrota acumulada a outros pontos provavelmente perdidos, e apenas virtualmente candidato.

terça-feira, 3 de julho de 2012

A verdade anda por aí

Esta é a época do ano em que todas as ilusões são possíveis – e atenção que digo ilusões no seu sentido real, de algo que pensamos que é possível mas não é, não no sentido espanhol de «desejo» que os energúmenos dos nossos jornalistas desportivos introduziram no vocabulário português às três pancadas, tal como «cantera» ou «remontada» (se querem utilizar os termos espanhóis, sejam rigorosos: cantera é «canteiro», ou «viveiro» onde se plantam as sementes; remontada é… bom, deve ser alguma moça que foi montada duas vezes…).

Nesta altura, como ainda não vimos ninguém a jogar realmente à bola, as coisas são todas como gostaríamos que fossem. Geralmente, este estado de graça imaculada dura até ao primeiro jogo com os amadores do Brandesnshwicken, da 4.ª Divisão suiça. Nessa altura, e depois de andarmos duas semanas a apanhar com as «estrelas do dia» nos jornais diários, e de ficarmos a saber que eles nasceram em determinado dia, que já jogam futebol há uns anos e que têm pé direito e pé esquerdo, a realidade começa a atingir-nos como uma rajada de metralhadora. Descobrimos, com um espanto desiludido, que o Emerson, de grande jogador só tem o nome, que o Ola John não é (incrivelmente) um Ruud Gullit, que o Melgarejo, afinal, ainda não estava bem, bem pronto para competir com jogadores de nível europeu, apesar de marcar uns golos no Paços de Ferreira, que continuamos a não saber marcar cantos, que continuamos a não fazer pressão sobre a bola como deve de ser, que os avançados continuam a falar linguagens diferentes uns dos outros, e todas essas pequenas coisas que teimam em lembrar-nos que uma equipa de futebol é um acto contínuo, e não um projecto anual que abre em Julho e fecha em Maio.

Rapidamente (no espaço de duas/três semanas) nos damos conta que, pensando bem, 95 por cento daquilo que temos e somos é aquilo que já tínhamos e éramos em Julho do ano passado. Compreendemos que a construção de uma equipa de futebol é um processo moroso e complexo, em que se trabalha muito para se conseguir avançar muito pouco todos os anos.

Nesta altura fala-se de tudo, diz-se tudo e vende-se toda a banha da cobra que há em stock. Mas o que se diz é o menos importante que existe no futebol. O futebol é o que se faz. O Luisão pode dizer 20 vezes que «vamos ser humildes»: se não forem humildes, isso vê-se, e paga-se, na prática.

Esta é a época da cassete, e o Benfica, acima de todos, tem pago por não saber distinguir o que é a cassete – aquilo que se aprende a dizer para os adeptos nos deixarem em paz e a imprensa não poder implicar connosco e estragar-nos o arranjinho (algo muito útil aos jogadores num clube onde há muita pressão e onde se ganha muito dinheiro) – e o que é o trabalho, que é o que dá resultados desportivos. Julho é a época dos jornais ganharem dinheiro, Maio é a época das equipas ganharem títulos. Os jornais estão em vantagem, porque em Julho quase ninguém se lembra (ou sabe) do que vai ou pode acontecer em Maio. Mas os campeões são os que sabem que é em Julho e Agosto que se decide muito do que vai acontecer em Maio.

Quem anda mais ou menos metido no meio do desporto sabe que a fase mais importante da época é a pré-epoca. Até nos juvenis do basquetebol isso é verdade. Se não se corre no Verão, a meio da época as pernas vão-se embora. Queremos puxar por elas mas os outros parece que têm uma velocidade a mais. No futebol actual isso é ainda mais válido, porque, depois de cinco semanas em que se pode trabalhar como se quer (e como se sabe), entra-se num ritmo de dois jogos por semana em que o treino consiste, basicamente, em descansar dos jogos e das viagens e ir preparando alguns esquemas de bola parada. Quando o calendário volta a abrir, lá para Fevereiro (algumas semanas antes no caso do Porto, o ano passado…), já os jogadores estão cansados demais para aprenderem coisas novas, já nada se faz de raiz, os vícios próprios que resultam da competição e no interior da equipa já estão instalados.

É nessa altura, em Janeiro/Fevereiro, com o Inverno, que o Julho vem ao de cima. As equipas bem preparadas fisicamente recuperam energia. As equipa com um espírito de grupo sólido unem-se perante o desafio iminente, que nessa altura se coloca, dos jogos que decidem tudo. Nessa altura surgem as soluções que só um bom Julho torna possíveis. As pequenas diferenças que fazem o sucesso nessa altura resultam de grandes sacrifícios físicos feitos meses antes. São questões de pormenor, que, quando submetidas à alta pressão da competição, acabam por irrelevar tudo o resto, agigantar-se e tornar-se nas únicas visíveis.

Num dos últimos posts da última época escrevi que os quinze dias mais importantes da época do Benfica, este ano, seriam os primeiros. Reafirmo.

Começam, não na segunda-feira passada, em que apenas se pode ver que os carros estão bem servidos de automóveis (que me dizes a isto, Manuel José?), mas na próxima quinta, quando for sorteado o calendário de jogos do campeonato.

O calendário é, actualmente, no contexto bicéfalo (mais apêndice verde) do futebol português, um factor, senão determinante, muitíssimo importante. Nas últimas três épocas o calendário teve uma influência clara no desfecho do campeonato – em 2009/10, o facto de o Benfica receber o Porto na Luz, numa altura em que as dinâmicas das equipas eram de tal forma diferentes que eliminaram a distância qualitativa entre ambas, possibilitou a um Benfica inferior vencer o jogo (do título, acrescente-se); em 2010/11, exactamente o inverso, resultando no 5-0 das Antas; em 2011/12, com o Benfica a ter cinco dos oito jogos mais importantes da sua época concentrados no espaço de três semanas, em Janeiro, ampliando o efeito do desgaste, dando ao Porto a vantagem suficiente, em termos de gestão física e anímica, para ser campeão, num ano em que o normal seria não o ter sido.

Depois do sorteio vêm os estágios, nos quais as três equipas de topo se depararão, acima de tudo, com os três seguintes cenários:

- em termos de gestão do plantel, os problemas do Porto pouco ou nada diminuíram em relação ao último defeso. A única coisa que mudou foi que, ao contrário de 2011, a equipa que regressa ao trabalho está muito longe da ilusão de ser perfeita. As expectativas são mais baixas, mas, parece-me a abordagem será, também, enviesada. Não me parece que os jogadores do Porto percebam realmente como estiveram perto do fracasso na última época, e de como foi o Benfica a perder o campeonato, e não eles, realmente, a ganhá-lo. Numa equipa que pensa que ganha «porque sim», pode ser uma ilusão fatal. Eu diria que, como aqueles avisos na beira da estrada a dizer «perigo de derrocada», o Olival deveria ter um letreiro ao lado do relvado a dizer «cuidado, perigo de relaxamento» - e mesmo assim não sei se seria suficiente.

Por outro lado, os jogadores que queriam ou podiam sair no ano passado continuam quase todos lá, a começar pelo Hulk, que representa um risco efectivo de duplicação do factor-Falcão, quer porque é mais importante para a equipa quer porque pode dar mais dinheiro numa altura em que há ainda menos dinheiro para gastar. Sem o dinheiro das vendas, o tal de Jackson não vem. Há Hulk, James, Moutinho, Rolando, Álvaro Pereira, Fernando, todos, à excepção de James, em idade e situação desportiva de fazerem «o contrato».

- no Benfica, tudo na mesma, como a lesma, e o perigo real é esse. No papel, está tudo bem: uma equipa a crescer e que já tem um ano junta, jogadores jovens, poucos reforços «de facto», supostamente ambição, supostamente qualidade suficiente para, com um pouco mais de sorte no calendário e nas derrotas (sim, ter sorte nas derrotas é muito importante – se não tivesse tido sorte nas derrotas o Porto não ganharia nada no ano passado), chegar lá. Mas o problema do Benfica, actualmente, é de metodologia. Jesus. Um bom treinador, mas possivelmente um treinador desgastado, quer na imagem perante os adeptos e jogadores quer, e sobretudo, nos métodos. O estímulo é um factor preponderante numa boa pré-época. Vejo muito difícil o Jesus conseguir, ao quarto ano como treinador perante jogadores que são praticamente os mesmos, fugir da rotina, do rame-rame, da preguiça mental que é característica de todos os seres humanos (o hábito faz o monge…), arrancar deles algo que ainda não se conheça. E, se não o fizer, o Benfica começará a época sem dinâmica.

Já aqui disse o ano passado, e volto a dizê-lo, para mal dos meus pecados (sinceramente, porque estou a sofrer por antecipação): não tomo como adquirido, nem nada que se pareça, que o Jesus chegue ao Natal como treinador do Benfica. E espero bem estar enganado. Pode ser que nos calhe um grupo lixado na Champions, que não nos apuremos, e que tenhamos sorte em dois ou três jogos do campeonato… Pode ser que o Porto, desta vez, ganhe aos anartósis…

- a primeira época real do Sá Pinto começa agora. Pegar numa bicicleta caída à beira da estrada, meter-lhe a corrente no carreto e pedalar em terreno plano, desculpem lá, mas não custa nada. Quando as expectativas são baixas, tudo o que se ganha é lucro. Mas a única expectativa do Sporting a partir de Novembro do ano passado era ganhar a Taça de Portugal. O próprio Sá Pinto inchou-se todo nas vésperas do jogo. E deu no que deu.

Ter o discurso do «grande humildade, grandes campeões» quando não se tem nada a perder e não se pode ser campeão é porreiro, mas desta vez os «grandes campeões» têm, de facto, de demonstrar se estão ao nível de um clube que só pode existir para ser campeão ou se são apenas gajos porreiros, como têm mostrado ser até agora.

O Sá Pinto vai perceber rapidamente o que é ser mesmo treinador do Sporting, e os jogadores vão perceber, também rapidamente, que já não chega dizer bem do Sá Pinto para os adeptos gostarem muito deles e aturarem os seus fracassos.

Para o Sporting, esta temporada já não há almofadas. E não sei se os jogadores, à partida, estarão cientes do que é preciso para se ser campeão, e se trabalharão para isso.

Para o Sá Pinto, o desafio desta pré-época é claro: pegar num grupo de jogadores sem títulos, de nível médio europeu, muito jovens, e fazer deles uma equipa a lutar (mesmo) pelo título.