domingo, 16 de dezembro de 2012

O melhor Benfica


A 16 de Dezembro de 2012, e com o Benfica no primeiro lugar do campeonato, é uma boa altura para lembrar a quem, eventualmente, não leu, na altura, ou já não se lembra, que, no final da última época, vaticinei que o Jesus já não passava o Natal como treinador do Benfica.

O que eu disse, na altura, numa carta aberta a Jesus, foi mais ou menos isto:

«Caro Jesus, eu sei que pensas que, para o ano, vai ser diferente. Estás a pensar que, com mais um ano em cima, a tua equipa vai subir de qualidade, mantendo o mesmo estilo de jogo, e que, se este ano já estiveste apenas a um jogo de ser campeão, na próxima época, com mais experiência, e com o Porto a perder o Hulk (pelo menos), dificilmente não serás campeão. Mas não é o que vai acontecer. O que vai acontecer é que as coisas vão começar a correr mal na pré-época, vais perceber que já perdeste os jogadores, que já nem confiam em ti nem têm paciência para te aturar. E, a partir daí, as coisas vão degradar-se e vais ter desejado sair neste Verão, para o bem de toda a gente.»

É o momento ideal para recordar esta minha previsão não só porque estamos a uma semana do Natal mas também porque ontem, com o Marítimo, vi o Benfica de Jesus fazer, que me lembre, o seu melhor jogo.

Com o Marítimo, o Benfica atacou como devia, e atacou bem. Defendeu como devia, e defendeu bem – a recuperar bolas no meio-campo adversário umas atrás das outras, como faz o Barcelona, por pura capacidade de antecipação.

Não o fez contra uma equipa banal mas contra uma equipa que sabe jogar futebol, que está desenhada para jogar em contra-ataque e que tem bons jogadores.

Não teve a sorte do jogo, pelo contrário: teve de lutar contra ela e contra um claro erro de arbitragem no primeiro golo, que resulta do primeiro remate do Marítimo, depois de um massacre de meia-hora sem marcar, a que se seguiu outro massacre de uma hora, a marcar quatro golos.

Não apanhou o Marítimo nem ninguém de surpresa, ao contrário do que acontecia durante os primeiros três meses da época do campeonato (em que, simplesmente, as equipas não estavam preparadas para lidar com aquela atitude de ataque desenfreado).

Nunca perdeu o controlo do jogo nem da cabeça. Nunca se desconcentrou. Fez o primeiro jogo a velocidade alta e constante durante os noventa minutos desde que me lembro.

E isto, para mim, é um bom jogo de uma equipa. Podia ser fora, para ser melhor? Podia. Podia ser contra o Real Madrid? Podia. Podia ser na final da Liga dos Campeões. Podia. Mas também podia ser em casa, com o Marítimo, para o campeonato, e ser uma merda de jogo, como tem sido quase sempre até aqui.

É claro que há explicações conjunturais para esta exibição.

Fisicamente, o Benfica está na melhor fase da época, como tem sido sempre nos últimos quatro anos. Muito mais difícil será encontrar uma equipa assim tão fresca a partir de Janeiro, quando as equipas do Jesus costumam quebrar (esta época, contudo, está a dar-se uma situação curiosa, como referi há uns tempos: a de que muitos jogadores essenciais vão chegar ao Inverno praticamente sem carga acumulada, devido a lesões, castigos e má forma actual. Ter elementos como Aimar, Gaitán, Luisão ou Carlos Martins frescos em Fevereiro/Março pode vir a ser perfeitamente decisivo).

Animicamente, a equipa está no máximo, depois de dar a volta ao dérbi. Ontem, a cada bola dividida, a decisão já estava feita no momento em que os jogadores do Benfica partiam para o duelo, tal a confiança com que estão. Neste momento os jogadores estão com aquele estado de espírito em que nem sequer pensam que podem falhar, e por isso ganham praticamente todos os 1x1.

A coincidência de quatro jogadores iminentemente colectivos e muito homogéneos na sua forma de jogar deu à equipa uma atitude colectiva – de jogar em equipa a atacar e a defender, de optar pelo passe antes da fina, de se mover em bloco – que raramente ou nunca tem. Falo de Matic, André Gomes, Ola John e Lima. São quatro jogadores de «Categoria E» - de equipa.

Matic dá ao meio-campo uma dimensão atacante que jamais teria com um Javi Garcia a jogar a «6». É um jogador de dimensão extra, muito mais próximo de um Witsel do que de Javi. Mesmo tirando o facto de estar num grande momento de forma, tem um kit de ferramentas – envergadura e força física, visão atacante e ampla do jogo, capacidade de passe perto e à distância, ausência de tiques tecnicistas e finteiros, capacidade de concentração – que fazem com que venha a ser a próxima grande venda do Benfica, no próximo Verão. A evoluir como está actualmente, Matic vai, facilmente, integrar uma das oito melhores equipas da Europa na próxima época. Já é o melhor «6» do campeonato, pois tem essa dimensão atacante que Fernando, por exemplo, não tem, e é um jogador feito para equipas grandes. Em termos de capacidades e estilo, é uma espécie de Yaya Touré – mas não tão bom, por enquanto. Uma equipa grande não precisa por aí além de um varredor especialista defensivo. Raramente tem de defender assim tanto. Precisa, sim, de jogadores que, em todas as posições do campo, construam jogo. Matic vai ter muito mais dificuldades contra o Porto, por exemplo, porque vai ter de defender mais, mas, nos outros 28 jogos do campeonato, é jogador para encher o meio-campo.

Devo dizer que, neste caso, sinto que tinha razão quando dizia que o meio-campo do Benfica, no ano passado, devia ter sido Javi-Matic-Witsel. Não percebo como é que o Jesus não viu isso.

André Gomes está na fase de apanhar com o Jesus em cima, como se viu ontem, mas não engana. A sua primeira ideia é sempre a equipa, a bola vai para onde tem de ir, as faltas aparecem quando têm de aparecer, falta-lhe ainda o estofo físico e melhorar o posicionamento defensivo, obviamente, mas é um daqueles jogadores que, por serem de equipa, fazem os outros melhores.

Vejo Ola John fazer coisas que já não julgava possível ver num extremo moderno. Ontem, vimos John fazer três, quatro, cinco centros em corrida, com o pé esquerdo, e meter a bola onde queria. Tal como o Pacheco dizia na televisão, depois do jogo com o Sporting, o defesa não tem opções, porque não pode dar-lhe um lado. Isso faz com que a mudança de velocidade e o pique nã sejam fundamentais no seu jogo. Tal como eu pensava, John é um pivô na linha, faz lembrar o Ronaldinho Gaúcho no Barcelona, em termos de abordagem ao jogo – sem se poder comparar em termos de classe, obviamente. Ontem, todo o ataque do Benfica estava centrado na linha do flanco esquerdo. Dai partiam os desequilíbrios. O melhor, para mim, em Ola John, é que a primeira opção é sempre o passe. Não acha que a boa jogadaseja passar por cinco adversários e entregar a bola de bandeja. Tem a mesma visão de jogo de Gaitán, mas muito mais desapego à bola e muito mais cuidado com a equipa. O jogo, em John, não trava: acelera, porque os outros jogadores, em vez de pararem, mexem-se. Veremos se não se estraga com a usual idolatria benfiquista.

Lima é o verdadeiro avançado titular desta equipa, precisamente porque faz o trabalho colectivo que permite ao ataque funcionar. E tem um poder físico que, juntamente com o de Matic e André Gomes (atenção, que o «menino» tem cabedal e não é tão lento como parece), dá ao miolo do Benfica uma pujança física que massacra. Algo que Aimar e Martins não conseguem dar.

Ou seja, em conclusão: tirando Jardel (bom jogador colectivo, também) e metendo Luisão, a melhor equipa do Benfica, em termos colectivos – ou seja, naquilo que conta – a melhor equipa do Benfica é que jogou ontem. Sem Aimar, Gaitán e Enzo Pérez.

É uma equipa que não dá garantias, no entanto. Não devemos esperar que Ola John, André Gomes e, mesmo, Cardozo, mantenham o nível actual. Os dois primeiros têm 19 anos (alguma vez isto aconteceu nos 30 anos de carreira de Jorge Jesus???!!!) e o segundo  nunca fez uma equipa inteira ao mesmo nível. O Benfica não vai ser sempre assim tão colectivo, e só será campeão com individualidades.

Por outras palavras, quando o colectivo falhar (e vai falhar, porque não foi suficientemente trabalhado nos últimos anos) o Benfica irá precisar de alguns momentos de Aimar, de alguns bons jogos de Gaitán, de alguns golos de Martins, de marcar golos de canto e de livre.

E aí, dando a mão à palmatória, com toda a alegria benfiquista, em relação à capacidade do Jesus em adaptar-se ao plantel – na verdade, é nesses momentos, em que tem de trabalhar limitado pelos condicionalismos dos plantéis feitos por outros ou por situações extraordinárias, que o Jesus melhor trabalha, como já devem ter reparado, e não quando começa a escolher brasileiros de segunda e a querer fazer equipas à sua imagem – continuo a não ver, ainda, no Benfica, uma dimensão estrutural, e colectiva, de campeão. Um filosofia e uma estabilidade de jogo que lhe permita manter um nível como o de ontem durante (não digo toda) a maior parte da época, e que lhe permita, por exemplo, ser melhor que o Porto na Luz e ir às Antas bater-se de igual para igual.

O que não quer dizer que o Benfica não tenha boas hipóteses de ser campeão. Aliás, imaginar esta equipa do Porto como tricampeã nacional, mais do que uma improbabilidade estatística, parece um claro optimismo exagerado. A bicefalia acentuada actual permite todos os cenários, e vai sempre criar uma situação anormal – uma equipa de terceira dimensão europeia (Benfica) a ganhar a outra de classe média-alta (Porto) ou uma equipa medíocre, em termos históricos, em comparação com outras (porto) a ganhar três campeonatos seguidos. Neste ponto, a sensação que tenho é que o Benfica-Porto vai decidir o campeonato, sendo que o Benfica tem uma hipótese em três de o vencer, precisando, para isso, de bater o Porto em casa.

Também não vejo este Porto, sem Hulk, a ganhar dois jogos seguidos para o campeonato na Luz, mas…

De qualquer forma, fica o reconhecimento: o Jesus, apesar de já não conseguir fazer a equipa crescer (e isto mantenho, porque é a própria equipa que, com a estabilidade do plantel, tem vindo a desenvolver a sua química), ainda não é desrespeitado pelos jogadores. A condição essencial para a implosão que previ não se cumpriu. Ainda bem. Sem cinismo. Não sou dos que preferem que a equipa perca para poderem dizer: «Vêem como eu tinha razão?»

Resta, agora, saber duas coisas:

- se a não-entrada de alguns jogadores, durante o Verão, para a equipa titular (defesa-esquerdo, médio-centro), acompanhada da saída de dois titulares, vai ser decisiva na fase em que o campeonato se decide, ou se os que estão chegam;

- se a pré-época foi suficientemente boa para permitir ao plantel (curto) enfrentar um  inverno que se prevê rigoroso e, provavelmente, «prolongado» pela presença em quatro competições.

Direi apenas que este era um ano excelente para acontecerem duas coisas: o Benfica voltar a ganhar a Taça de Portugal (admito que já tenho saudades, porra…); e o Porto, além de se mostrar «uma grande equipa europeia» na Liga dos Campeões, ser «obrigado a ganhar a Taça da Liga.

Nem que fosse para ver se, na final, jogavam com os suplentes, e se, ganhando, já não se queriam ver «livres desta»…

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Benfica definiu a história do Sporting


Ponto 1 – Lembrem-me de dizer mal do Cardozo antes de cada jogo decisivo. Resulta. A bola vai batendo nos outros e entrando.

Ponto 2 – o Benfica pode ter achado o próximo grande jogador do futebol português. Há uns tempos disse que André Gomes me lembrava Zidane, neste momento lembra-me mais o Paulo Sousa com 19 anos. Um portento. Daqui a dois anos estaremos a falar da grande tragédia dos clubes portugueses: a de não conseguirem segurar os jogadores nacionais que podem fazer deles grandes, permanentemente, na Europa.

Ponto 3 – O Benfica pode ter começado aqui a ganhar o campeonato, se isso lhe permitir chegar ao jogo com o Porto em vantagem pontual. Se isso acontecer, o desenrolar desse jogo, pelas expectativas e ansiedade que deixará de gerar, será completamente diferente. Uma das razões para o Benfica perder campeonatos para o Porto é chegar ao jogo com o Porto, em casa, a precisar de ganhar sob risco de não ser campeão. Um jogo em que um empate permita manter a liderança muda completamente as coisas. É um facto histórico.

Ponto 4 - Se o Benfica tivesse jogado, esta noite, com 11.º classificado da Liga e o 11.º classificado fosse o Estoril-Praia, o jogo teria sido, provavelmente, exactamente o mesmo que foi em Alvalade.
Para ganhar um jogo fora, contra uma equipa inferior, depois de um jogo europeu de grande exigência mental, o que é preciso, mais que técnica, táctica ou frescura física, é classe. Fazer o jogo necessário. Nestes casos, a classe traduz-se por eficácia. Não é apenas passar a bola entre os defesas – é atacar bem nas poucas vezes em que se ataca, e meter a batata na baliza primeiro que o adversário, nem que demore 89 minutos (e se, aos 89 minutos, a bola é rematada, bate numa canela, na parte de baixo da barra, e cai um palmo dentro da baliza, nesse caso é muito bom sinal, porque é a estrelinha de campeão a brilhar).
Quando se permite à equipa da casa jogar em contra-ataque, seja o Moreirense ou o Sporting, o espaço e a vontade são tantas que quaisquer problemas psicológicos desaparecem. Poder fazer figura de equipa pequena foi óptimo para o Sporting, sobretudo porque, de facto, não há memória de uma equipa do Sporting tão pequena como esta. Mas isso já toda a gente sabia, desde os benfiquistas, acostumados a verem a lagartagem agigantar-se para ganhar a Taça Segunda Circular todos os anos, aos dirigentes do Sporting, que, «à Braga», aproveitaram todas as oportunidades para alimentar guerras artificiais.
Classe não é coisa que abunde nesta equipa do Benfica, evidentemente. Mas a rotina a alto nível vai faendo a diferença e é assim que a classe vai aparecendo. E, hoje, chegou. A segunda parte do Benfica, em desvantagem, a jogar em Alvalade, e com mais um jogo europeu nas pernas na semana passada, teve lampejos de classe e a sorte suficiente, sem a qual o benfica não consegue ganhar em Alvalade.
Sim, mais um jogo europeu, leram bem. Porque…

Ponto 5: Só um idiota é que se permitia, sequer, embarcar no folclore do «adiamento» e do cansaço. Aliás, quando ouvi os comentadores da Sport TV a dizerem que a meio da segunda parte «se notou o cansaço» fiquei a falar sozinho, e a perguntar: «Mas o cansaço de quê? De estarem sentados?»
É evidente que o Vercauteren estava preparado (e até agradecia) para jogar até no dia seguinte ao jogo do Videoton, porque assim teria tido o Benfica ainda menos refeito do decisivo jogo com o Barcelona, em Barcelona,onde jogou com 9 ou 10 dos titulares de hoje, enquanto o Sporting jogou com o Videoton com apenas três titulares de hoje. Qualquer nabo conseguiria perceber que, quanto mais cedo fosse o jogo, melhor seria para o Sporting. A última vez que os titulares do Sporting jogaram, entre Taça e Liga Europa, foi para aí há um mês. Se a equipa do Sporting rebentou na segunda parte é porque a sua preparação física é uma merda.
Se alguma equipa deveria ter rebentado na segunda parte essa equipa deveria ter sido o Benfica. Aliás, o cansaço entre alguns jogadores do Benfica foram óbvios (Garay, Ola John e Salvio incapazes de mudar de velocidade, Maxi Pereira, até o Lima) até ao momento do golo, em que a perspectiva de vitória os revigorou.

Ponto 6 – Só hoje é que a época do Sporting ficou dramática. Perder com o Benfica, em casa, é a única coisa que pode realmente estragar a época aos adeptos do Sporting, e o Godinho já vai a caminho.
O Sporting fechou hoje a sua época – e, como não vai poder voltar a jogar em contra-ataque até ao fim da época, à excepção do jogo como Porto em casa, continuará a ter as dificuldades das equipas pequenas para ganhar jogos de forma continuada. Acabará a temporada em quarto ou quinto lugar mas, acima de tudo, perdeu com o Benfica

Ponto 7 – A única coisa que fica, de realmente relevante, deste Sporting-Benfica, é a certeza de que o Benfica terá de continuar a lutar sozinho contra o Porto, com o Sporting a prestar-se ao papel de Sancho Pança, à espera que lhe caia qualquer coisa no prato.
Para o Benfica, penso eu, acabará por ser bom, porque o Sporting, historicamente, não mostra dimensão para ser mais que um outsider, que conseguirá, quanto muito, reclamar algumas vitórias. Num cenário de luta Benfica-Sporting, sem Porto, o Sporting não consegue superar o Benfica. Só tornará as coisas um pouco mais difíceis para o Benfica, na luta contra o Porto, mas isso não é um problema incontornável. É uma questão de tempo, e até pode ser melhor a emenda que o soneto.
Para o Porto, é óptimo. Uma aliança real Benfica-Sporting, a longo prazo, destruiria a hegemonia portista. Com Benfica e Sporting separados, o Porto terá, durante muito tempo, boas hipóteses de ganhar.
Para o Sporting, é trágico, porque se auto-sentencia a uma eterna secundarização. Os Cristóvãos que ficaram a rodear o Godinho (e os que vêm a seguir ainda vão ser piores) são muito mais broncos que os Duques que foram saindo.
Os Duques tinham um plano. Iam fazer um tango, uma dança de amor-ódio com o Benfica, para bater o Porto e, depois do rei decapitado, iam tentar superiorizar-se ao Benfica. Era um bom plano, porque o Sporting ainda tem qualidade estrutural para poder ser melhor que o Benfica. Difícil de concretizar, impopular entre os adeptos, mas bom.
Agora, a única coisa que é, um arrojo aos pés do Porto para bater o Benfica, que não tem nenhuma perspectiva além de aceitar ser um eterno segundo, com grandes probabilidades de continuar a ser segundo mesmo que o Porto venha a definhar, porque isso significaria que o Benfica teria ganho a luta de superpotências actualmente em curso.
Hoje, o Benfica cumpriu, também, o seu destino natural: definiu o que vai ser a história do Sporting nos próximos anos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Uma equipa de pachachinhas


Quando ouvi o Carlos Carvalhal, na RTP, há quinze dias, dizer que, contra uma equipa de segundas figuras do Barcelona, «mal seria» se o o Benfica não fosse favorito, admito que pensei cá com os meus botões: «Deve ser, deve… Se não forem os russos a ganhar na Escócia bem fodidos estamos.»
Devo avisar que hoje, como já devem ter reparado, vou ser bastante ordinário. Porque me apetece.
Afinal, o Carvalhal tinha razão. Admito. A «ideia» de futebol do Barcelona – que é mais que uma ideia, é uma cultura –, quando não é interpretada por meia-dúzia de freaks da bola e quando não tem nada a ganhar, não é mais que uma vaga ideia, que poderia perfeitamente ter sido batida com uma única e simples qualidade por parte do Benfica: instinto assassino.
Azar.
É aquilo que este Benfica tem menos. Como eu já disse quinze milhões de vezes, esta equipa do Benfica não é agressiva. Falta-lhe a qualidade fundamental numa equipa de futebol. Chamem-lhe carácter, ambição, audácia, chamem-lhe o que quiserem, mas o que falta a esta equipa do Benfica é colhões. E enquanto lhe faltar colhões vai continuar a ser uma equipa de segunda, tenha os jogadores que tiver. Sem colhões, o máximo que pode acontecer a uma equipa é ir a uma ou outra final, de vez em quando, com muita sorte pelo meio, e inevitavelmente perdê-la. Nada que o Benfica não tenha feito, por exemplo, em 1989 e 1991, e que, historicamente, acabou por significar exactamente nada, como hoje facilmente se percebe.
Alguma classe, o Benfica até tem. Não é uma equipa totalmente sem classe. Faz as coisas mais ou menos certinhas. Mas não as consegue levar até ao fim porque lhe falta carácter.
Vi três momentos à campeão, hoje à noite, ao Benfica:
- quando entrou a defender em cima da baliza do Barcelona (algo só possível porque o Barcelona jogou sem nenhum dos seus quatro cérebros – Iniesta, Xavi, Busquets e Messi – que teriam facilmente transposto, em três passes, a primeira linha defensiva do Benfica);
- quando o Luisão virou o Messi ao contrário na primeira vez que o encontrou, de maneira a que ele entendesse que aquilo não era um jogo-treino nem um jogo para os recordes;
- e quando o Maxi Pereira deu duas ripadas seguidas no extremo do Barcelona a meio da segunda parte, quando se percebeu que o pessoal do meio-campo tinha entrado em modo zombie.
Tudo o resto – e o resto é o que fica, porque é o que define o resultado – foi, basicamente, uma cambada de pachachinhas encolhidas, todas molhadinhas por estarem a jogar com o Barcelona, algumas – André Gomes, Ola John, Nolito – com um bocadinho mais de classe que outras, alguma gente que vai poder ganhar alguma coisa quando tiver quatro ou cinco jogadores com colhões a jogar a seu lado, mas, no fundo, apenas uma cambada de pachachinhas, que foi fazer um jogo de futebol a Barcelona e não conquistar um apuramento na Liga dos Campeões a Barcelona, incapaz de cravar o punhal no momento em que o adversário estava à mercê, incapaz de ter a audácia suficiente para entrar na história, gente de fraca dimensão, que não tem, realmente, massa de campeã.

Como todos sabem, é-me um bocado igual ao litro se o Benfica passa ou não passa aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Continuo a achar que é um desperdício de recursos humanos quando se quer ser campeão nacional e nem sequer se tem a melhor equipa nacional. O que me chateou nesta noite foi voltar a perceber que o que tirou este apuramento ao Benfica foi a mesma fraqueza que lhe tirou o título no ano passado, e que tirará este ano, a menos que haja algum bambúrrio ou que o Porto chegue às meias-finais da Champions e cague no campeonato. A mesma fraqueza mental que levará a que, mesmo ganhando este campeonato, seja praticamente impossível ganhar o próximo, como levou a que fosse uma miragem a repetição do título em 2011. É a mesma debilidade.
É a mesma debilidade que acompanha o Benfica há cerca de 30 anos, e que a classe ocasional de alguns jogadores e treinadores e as contingências próprias do futebol têm disfarçado: ao Benfica, à sua equipa de futebol, falta carácter, espírito de conquista, agressividade, instinto assassino. Não falta, nunca faltou, jogadores: falta, e sempre faltou, competidores. Massa de campeão. Mais do que verniz de campeão, estofo.
Os benfiquistas podem continuar a falar de jogadores, de ilusões, durante mais 30 anos, mas só voltarão a ter uma equipa de futebol de topo europeu quando começarem a distinguir competidores de jogadores.

O que é que diferencia os grandes clubes europeus dos de segunda linha? Os grandes clubes europeus gastam algum dinheiro em talento, claro que sim, sem talento não há diferença, mas, quando querem, enfim, passar da qualidade às vitórias, ganhar, o que os clubes vitoriosos compram é carácter.
O carácter é mais raro que o talento.

Não queria acabar sem falar do Cardozo. O Benfica não foi eliminado por causa do Cardozo, nem o Cardozo é hoje pior ou melhor jogador que era há duas semanas. Foi mais importante, na eliminação do Benfica, o árbitro paneleiro do Celtic-Spartak (vi o jogo aos bochechos mas nesses bocados não vi nenhuma decisão do tipo que não mostrasse uma vontade enorme de fazer um favor ao fair-play e ao politicamente correcto e que não favorecesse o Celtic, culminando naquele penálti absurdo), a derrota em Moscovo (por falta de agressividade) ou o jogo em que o Celtic toca duas vezes na bola e ganha ao Barcelona por 2-1.
Mas, na última jogada do desafio, com o apuramento nos pés, isolado em frente ao guarda-redes, em corrida, o Cardozo – jogador de 28 anos, com toda a experiência possível e num momento de plenitude profissional, a jogar um dos desafios mais importantes da sua carreira – porque a bola lhe vai para o pé direito e porque tem de se virar para a baliza em corrida, o Cardozo, atentem bem… tropeça na bola. O Cardozo tropeça na bola.
E isso, meus caros amigos benfiquistas, mesmo que se consiga marcar 500 golos ao Santa Clara, ao Penafiel, ao Setúbal, ao Nacional da Madeira, isso define um jogador.
Não quero dizer aos meus caros amigos que metam o Cardozo no cú. Não quero. Mas só porque já o disse há muito tempo, aqui neste blog, e numa altura em que, salvo erro, ele até era o melhor marcador do campeonato.
Enquanto o seu jogador-chave for um Cardozo (este ou outro), as hipóteses do Benfica ter uma boa equipa europeia durante uma década, por exemplo, são exactamente iguais a zero. Seja lá qual for a «ideia de jogo» que o treinador do Benfica, por mais inteligente que se considere, tenha.

Quanto ao resto, é saber o que se quer, para se escolher o que se tem.

Sirva ao menos para isso mais esta derrota.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A derrota do trabalho


Não sou, como todos bem sabem, propriamente um jesuíta, mas há algo de profundamente imoral quando um arrivista como o TOC – que antes de receber de bandeja o cargo mais fácil do futebol mundial (e de o fazer parecer, não o esqueçamos, um bicho de sete cabeças), não tinha feito nada de nada – se arroga, de sobrancelha franzida e nariz empinado, a dar lições de trabalho a um tipo como o Jorge Jesus, que, no futebol português, já passou por tudo e mais alguma coisa, que subiu a pulso (com ou sem vitaminas) e que, até ver, é dez vezes mais treinador do que ele.

«A sorte dá trabalho», diz o TOC, antes e depois de, num jogo perfeitamente equilibrado, marcar um golo no último minuto, com dois ressaltos num remate falhado a fazerem a bola passar por cima do guarda-redes.

Tenho uma aversão extrema aos tipos que acham que só eles é que trabalham, e que ninguém trabalha mais do que eles. Não vejo neles grande diferença para os troikistas do Norte (neste caso da Europa) que, privilegiados pelo sistema em que vivem – e cuja construção não é mérito deles mas dos que os antecederam – acham que podem decidir que os outros não trabalham, ou porque não querem ou porque não sabem, e que por isso não merecem nada.

É suposto o Jorge Jesus, que anda nisto há 30 anos, ou o Peseiro, que já fez cinquenta vezes mais piscinas que o Vítor Pereira, serem desrespeitados por um idiotazinho encartado que teve a sorte (a sorte!) de arranjar um bom emprego?

Porque o que o TOC disse, mesmo, foi isto: «Ah, ele diz que temos sorte em Braga? O que ele está a dizer é que quando lá vamos somos favorecidos.» Vai daí, ataca, pelo único ponto em que pode pegar: o dos resultados.

Se o Vítor Pereira ganhou com um golo às três tabelas aos 89 minutos, o José Peseiro, que pôs uma equipa inferior a jogar de igual para igual e, muitas vezes, melhor que o Porto, perdeu porque trabalhou menos ou pior?

Gostava de ter visto o inginhêiro Salbador a defender o seu treinador como teria defendido, certamente, se tivesse sido o Jesus a gabar-se de ser melhor que o Peseiro (como aconteceu com o Domingos), da mesma forma que gostaria de ter visto a reacção do inginhêiro Salbador se, em vez do Alex Sandro, tivesse sido o Melgarejo a fazer aquele penálti nítido e o Braga perdesse no último minuto, como gostaria de saber se também passaram fotografias do penálti do Fernando sobre o Hugo Viana por baixo da porta do Benquerença no final do jogo de hoje.

Ficamos, também, sem saber se, nos últimos cinco dias, o Porto deixou de trabalhar bem ou se, simplesmente, teve o azar de, em vez de marcar um golo às três tabelas no último minuto, sofrer um auto-golo inaceitável até para um iniciado a dez minutos do fim.

O Pereira anda inchado, e eu gosto disso. Gosto de o ver a cagar de alto para o Jesus, a dizer que se ri quando olha para o que ele ganha, a dizer que quem não ensina a sua equipa a controlar um jogo é incompetente, da mesma maneira que gosto de ver o Peseiro a dizer que este é o melhor Porto desde o Mourinho. Gosto de ver isso tudo porque tudo isso é manifestamente exagerado e arrogante. Gosto de ver que se toma esta equipa do Porto, e este treinador, como algo muito melhor do que aquilo que são.

Também gosto bastante de ver toda a gente, a começar pelo próprio treinador, a dizer que o Porto está mais forte sem o Hulk, porque agora «é mais equipa e depende menos das individualidades». Gosto bastante porque me lembro perfeitamente de ouvir o Pinto da Costa dizer na sequência da vitória do Benfica no campeonato de 2010, que «só um atrasado mental (sic) é que acha que qualquer equipa do Mundo fica mais forte sem um jogador como o Hulk.»

É toda uma mistificação do tão tentado «campeonato dos túneis» que cai por terra – o tal campeonato em que o tal Porto prejudicado perdeu tantos pontos a jogar com o Hulk como sem o Hulk, e em que já estava a 8 pontos do Benfica antes do Hulk começar aos pontapés aos gorilas. Afinal, do que o Porto precisava para ser uma equipa sério era de vender o terceiro melhor jogador do mundo, que foi jogar para o Zenit de São Petersburgo.

Em relação ao jogo de hoje, fico com algumas ideias:

- que o Braga, a jogar contra os suplentes do Porto, e numa competição que pode ganhar, não conseguiu jogar tão motivado como se esperaria. Vai ser preciso o Benfica ir lá, em Fevereiro, para podermos voltar a ver o Braga a encontrar a sua razão de existir, o Mossoró a comer a relva, o Alan a ter outra vez 20 anos, o Hugo Viana a reaprender a marcar livres. É tudo uma questão de motivação;

- que o Pinto da Costa não vai dizer «desta já nos livrámos», porque, se dissesse, algué poderia pensar que foram lá jogar com os suplentes por favor;

- e que, no fim deste miniciclo fratricida (que, estupidamente, os cérebros da Santa Aliança ainda não encontraram maneira de evitar), aconteceu, por pura coincidência, aquilo que já tinha acontecido nos últimos dez jogos entre Braga e Porto: cada um teve o resultado que precisava, sem prejudicar em demasia o outro. O Porto ganha na prova que quer ganhar e é eliminado (ia a dizer retribui com uma derrota, mas não quero ser mal interpretado…) na prova em que dificilmente teria disponibilidade para ganhar; o Braga perde na prova em que já tem o lugar praticamente definido (o terceiro, entenda-se) e ganha na prova que, realmente, quer ganhar.

Foi uma questão de sorte, certamente, porque em Braga se defrontaram as duas únicas equipas e os dois únicos clubes que trabalham em Portugal.

Pode ser que tenham azar…

domingo, 11 de novembro de 2012

Um problema de cada vez


Tenho de confessar que já não via o Benfica jogar com atenção há uns tempos. Foi hoje. Porque não gosto de fazer figura de velho dos Marretas e dizer mal só por dizer. Fiquei genuinamente atento a ver o que estava diferente, o que estava igual, e o que pensar dos novos jogadores.

Em relação ao resultado, nenhuma dúvida: depois de um jogo da Champions, e antes de um Braga-Porto, é  o tipo de resultado que, no final da época, faz a diferença entre uma equipa campeã e as outras. É muito possível que, daqui a uma jornada, o Benfica seja líder isolado.
Tal como na época anterior, o Benfica está a fazer um melhor campeonato, em termos de resultados, do que o Porto. Empatou um jogo em casa com o Braga e um fora, com a Académica. Dois resultados completamente aceitáveis num percurso à campeão - tal como o seria se empatasse em Vila do Conde.
Este é, tradicionalmente, o momento mais forte da época para o Jesus (entre a 3.ª/4ª e a 10ª/11ª jornadas). Tal como no ano passado, o jogo com o Sporting vai ser fundamental, e o do Porto, em casa, decisivo, mesmo sendo à 14.ª jornada.
 
Esta é a conjuntura.

Quanto à «estrutura», acho que a forma do Jesus pensar o futebol é relativamente simples de entender. É um treinador de esquemas. Divide o jogo em bocados e tenta encontrar um esquema. Tem os lançamentos laterais, os cantos ofensivos, os cantos defensivos, o ataque do lado esquerdo, o ataque do lado direito, a defesa por aqui, a defesa por ali, tem a defesa, o meio-campo e o ataque, e depois vai montando o jogo, retalho a retalho. Foi o que o futebol português lhe ensinou.

Porque é que o Cardozo, para o Jesus, não tem preço? Porque há um bocado do jogo (para aí cinco ou seis vezes em noventa minutos) em que a bola vai dar à grande área, e um tipo que consiga meter o pé e, de primeira, enfiá-la na baliza nem que seja um terço das vezes, resolve esse bocado. Não serve para nada noutros bocados? Arranja-se um esquema.

O Jesus nunca vai perder um campeonato por não ter jogadores pesados, porque aprendeu, ao longo dos anos, em todas as divisões, que o futebol português tem campeonatos que se decidem no Inverno e em maus relvados.

O Jesus nunca vai perder um campeonato nos pontapés de canto ou por ter centrais baixos, porque sabe que noventa e cinco por cento das jogadas de ataque de todos os jogos do campeonato acabam num cruzamento para a área.

Nunca vai perder um campeonato por jogar sem um trinco que varra a intermediária, porque sabe, por experiência, que, num campeonato de pontapé para a frente e pouca capacidade técnica, praticamente todas as jogadas de perigo das equipas pequenas, em casa, resultam das segundas bolas.

É assim, ao fragmentar o jogo e tentando resolver cada fragmento um a um, tentando retirar aos jogadores o máximo de importância em cada acção (porque sabe que o jogador é um animal pouco fiável, basicamente calão e geralmente com pouca vontade de triunfar, ao contrário dele), que o Jesus vai ganhando campeonatos, apuramentos para a Europa, subidas de divisão.

Foi assim que chegou à Luz e, sendo campeão na primeira época, se convenceu, para todo o sempre, que essa maneira de trabalhar chegava. Encarou essa vitória como a prova concludente de que era o melhor condutor do mundo.

É esse o limite do Jesus, e é esse o limite da equipa do Benfica, que nunca vai deixar de ser campeão por não ter centrais altos, trincos, matadores e jogadores especialistas em alguns momentos do jogo, mas que nunca conseguirá ser uma equipa capaz de ligar as diferentes fases do jogo. Porque não jogadores nem treinadores com espírito colectivo suficiente para isso.

Pode vir a ser campeã, mas apenas se o Porto se deixar convencer de que não há hipótese de não cilindrar qualquer equipa do campeonato em dez minutos. Se isso acontecer, há uma hipótese de que, num dos jogos entre-Champions, esses «dez minutos à campeão» não resultem e que o Benfica, se se mantiver por perto, aproveite, no momento certo, para os enganar. Fora desse cenário, é irrealismo. O Porto é uma equipa que se situa num patamar competitivo entre o lugar 12 e 16 da hierarquia europeia, o Benfica estará sensivelmente entre as posições 25 e 30. Em cada dez jogos disputados em terreno neutro, em condições de igualdade de motivação e necessidade de ganhar, o Benfica ganha dois, empata dois e perde seis. E, da maneira como o campeonato está desequilibrado a favor destas duas equipas, para o Benfica ser campeão empatar não chega.

 

Em relação aos jogadores, confirmo o que pensei na altura da contratação do Ola John. Tem escola, faz-me lembrar o Ruud Gullit, mas muito menos potente, e é, claramente, um extremo-pivot, parecido com o Gaitán, que faz jogar, menos veloz, menos técnico, mas claramente mais inteligente e muito mais colectivo.

O Matic é um excelente jogador, claramente diferente do Javi Garcia, muito menos especialista na primeira fase defensiva mas muito mais completo, e eu diria mesmo que mais próprio de uma grande equipa europeia do que o Javi Garcia em termos de características, por ter visão de jogo, capacidade técnica e comprimento e largura de jogo. Não é um jogador unidimensional, como Javi. Mas também não tem o seu carácter – e o que as grandes equipas compram é carácter. Talvez se revele, com a rodagem.

O Melgarejo esta melhor, obrigado, mas quando apanhar com o James vai ficar despido da cintura para baixo.
 
O Enzo Pérez, técnica e tacticamente, é bom jogador. Tem fibra. Vamos ver o que vale para a equipa a longo prazo. Penso que, pelo menos, não será difícil vendê-lo acima do preço de custo.

O Lima tem tantos golos nos pés como o Cardozo, e mais jogo. Ao vê-lo jogar, cada vez mais me convenço que tinha razão ao pensar que, nesta equipa do Benfica, qualquer avançado com o mínimo de espírito assassino marca 40 golos por ano, sem ter de ser uma nulidade em todas as outras fases do jogo, como é o Cardozo. O Cardozo está numa fase boa, está maduro, deixou de perder muito tempo a tentar fazer o que não sabe e, por isso, está muito mais confiante em si próprio e parece melhor jogador. É o normal num jogador que chega aos 30 anos. Tem mais 30/40 golos até acabar a sua carreira no Benfica. Há um, dois anos, teria sido bem vendido, indo buscar um Lima qualquer. Actualmente, já não faz muito sentido pensar nele como jogador para vender, mas antes como um investimento consumado, para jogar mais dois ou três anos, fazer de conta que se dá muito valor aos jogadores-património e ir aproveitando os seus bons momentos, que, contra os Setúbais deste campeonato, valem alguns pontos.

Quanto aos outros, uma palavra só para o Rodrigo e para o Sálvio. O Freitas Lobo perguntava na televisão, há uns dias, o que se passava com a evolução do Rodrigo. Passa-se exactamente aquilo que eu previ, há um ano, que se passaria: a falta de cultura colectiva do treinador e da equipa leva a que o Rodrigo, como o Sálvio, como o Gaitán, antes dele, como o Nolito, como o Bruno César, como outros, confundam «jogar bem» com «jogar sozinho».
Por isso, sendo um jogador muito melhor que os outros, insiste no individualismo, agarra-se à bola e tenta resolver os jogos isoladamente, levando a que tente fazer o que sabe e o que não sabe e a tomar constantes opções erradas. Como é muito forte, vai aparecendo para marcar os seus golos. A imprensa alimenta os egos para vender capas, toda a gente gosta muito, convence-se de que assim é que é, e uma deficiência pontual e perfeitamente corrigível no processo de crescimento de um jogador excepcional transforma-se num defeito.
Ainda hoje, ao assistirmos a um jogo do Chelsea, podemos ver, perfeitamente, a quantidade de erros fundamentais que David Luiz, um dos melhores centrais do Mundo em potência, comete ao longo do jogo, colocando-o à mercê do azar. Porquê? Porque o menino era tão lindo que não havia nada a ensinar-lhe. A não ser as «tácticas», claro…
 
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A teoria do resgate


Olho para esta equipa do Sporting e penso em várias coisas.

1 – Lembro-me das piores épocas do Benfica, em que acabávamos em quarto, quinto, sexto, em que levávamos sete do Celta. Mesmo assim, no Benfica foi pior. Mas vejo um clube desmontado, à beira do resgate.

2 – Tenho vontade de ser presidente do Benfica, ligar ao Fodinho Lopes, e dizer-lhe. «estou disposto a ficar-te com o Elias até ao final da época, pagando-lhe o salário, com opção de compra por 5 milhões a qualquer momento do empréstimo. E ofereço-te mais dois milhões por 70 por cento do André Martins.»

3 – «Mete a tua televisão a funcionar, e não faças mais contratos com o Oliveira. Quando o teu acabar juntamos os nossos dois pacotes em casa, vendemo-los em conjunto ou exploramo-los em conjunto e tiramos o tapete àqueles cabrões. Mas não te vais sentar ao lado do papa, senão esquece.»

4 – Quanto é que vale o Rojo em relação ao Jardel? Ou ao Melgarejo?

5 – Quanto é que vale o Labyad em relação ao Nolito?

6 – Quem é que o Sporting vai conseguir vender acima de 60 por cento do seu valor real? Se não conseguir vender mais ninguém, o Sporting pode recusar uma oferta de 7 milhões por Rui Patrício? Ou de 6 pelo Volkswagen? Ou de 4 por Insúa? Ou por Capel (só porque é espanhol)? Ou de 3 por Adrien?

7 – E para o ano, se não for, outra vez, à Liga dos Campeões?

8 – O Sporting vai, forçosamente, melhorar, pela qualidade dos jogadores que tem, porque mudou de treinador e porque a segunda metade do campeonato é muito mais fácil. Não dou como líquido que o Sporting não consiga recuperar os 10 pontos que tem para o Braga, sobretudo se for ajudado pelas arbitragens e se o Braga continuar a competir na Europa para lá de Fevereiro.

9 – A mudança de treinador não teria sido impeditiva de o Sporting fazer uma boa época. Pelo contrário. Se tivesse ocorrido mais cedo, possivelmente o Sporting estaria ainda perfeitamente dentro da corrida pelo título. A bravata do Sá Pinto («Não sou homem para desistir») foi o pior serviço que fez ao Sporting. Deveria ter tido a lucidez para sair pelo seu próprio pé. Tudo o que estava certo, no Sporting, continuaria bem, e o que estava mal teria sido mudado.

10 – Só esta valente merda deste clube é que seria capaz de me fazer falhar tão calorosamente uma previsão de campeão por duas vezes – a época em que o Jesus chegou ao Benfica, e em que o Sporting ficou a cerca de 500 pontos do primeiro lugar, e agora esta.

No entanto, quero aproveitar a minha série de sucesso e os meus augúrios para deixar aqui mais uma previsão, esperando que os resultados sejam os correspondentes: o campeão nacional vai ser o Porto, à vontadinha…

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Há unicórnios à chuva


Quem é familiar da minha lógica sabe que não estou a ser irónico quando digo que o resultado ideal para o Benfica, hoje, teria sido uma derrota com o Spartak de Moscovo. E até sabem logo porque é que digo isto.

Em termos de resultados a época estava a correr muito bem para o Benfica.

No campeonato ainda não tem nenhum ponto de atraso para o Porto. Uma das condições para ser campeão é chegar ao jogo com o Porto, em casa, pelo menos em igualdade pontual. Teve dois resultados que considero (ao contrário das exibições, como é evidente) muito bons: os 3-0 em Barcelos e na Luz, ao Vitória, condicionados pelas eliminatórias das Champions e quando o Porto teve jogos fáceis, para somar. O próximo, com o Rio Ave, é realmente importante, pois provavelmente daria a liderança do campeonato em caso de vitória. Teve dois resultados relativamente maus, mas aceitáveis num cenário de vitória no campeonato.

Na Europa, sim, as coisas estavam a correr verdadeiramente bem.

Primeiro, desde logo, porque, como disse o Jesus, calhou no grupo do Barcelona, o que inviabilizou imediatamente a possibilidade de primeiro lugar, que lhe daria a possibilidade forte de voltar a acontecer o que aconteceu no ano passado, em que teve de jogar duas eliminatórias da Champions na segunda metade da época.

A única coisa pior do que isso seria aquilo que provavelmente vai acontecer, que é acabar em terceiro, que só dá trabalho – a menos que aconteça como aconteceu ao Porto, apanhando um Manchester City para arrumar o assunto logo em Janeiro. Caso contrário, o Benfica arrisca-se a apanhar com os devaneios europeus do JJ e do Orelhas e de passar três meses a jogar às quartas-feiras para depois cair nas meias-finais da Taça do Courato – ou Liga Europa, como também é chamada pela UEFA e pelo jornal O Jogo.

Não. Importaria acabar em segundo para jogar com o Real Madrid ou, se possível, ficar mesmo em quarto.

Qualquer benfiquista que partilhe das ilusões do animal híbrido Jesurelhas – de que é possível competir em mais do que uma competição a sério com este plantel, sem inevitavelmente as perder todas – precisa de ir à rua tirar o unicórnio da chuva.

Pela mesma lógica, muito bom é o primeiro lugar do Porto. Espero que sim. Espero que fiquem em primeiro, e que joguem com o Spartak de Moscovo ou com o Shaktar Donetsk nos oitavos-de-final, que passem outra vez e que possam encontrar, depois, um Dortmund qualquer.

O presumível apuramento do Braga para a Liga Europa é um bónus.

A eliminação do Sporting um brinde.

Se ficar fora da Europa em Janeiro, e se ganhar ao Porto em casa – obrigatório – o Benfica, mesmo sem jogar nada, pode ser campeão, por uma mera razão de recursos humanos. Nem o Jesus conseguiria lixar isto. Bom, quer dizer…

A questão do pessoal é a outra parte que está a correr muito bem ao Benfica. A sorte está a fazer o trabalho do Jesus pelo Jesus. Também aqui, o homem não está a ter hipótese para lixar isto. Perdeu o Javi e o Witsel na véspera do fecho do mercado, o Luisão perdeu 10 jogos por castigo, semana sim, semana não perde o Aimar, o Martins, o Matic, o Gaitán, o Sálvio, o Melgarejo…

O resultado disto é que a gestão do plantel está a ser a ideal. Basta tirar ao Jesus a gestão dos jogadores para as coisas começarem a correr bem. Os supostos problemas com o plantel vão resultar, simplesmente, nisto: em Janeiro, à entrada para a parte decisiva da época (quando a perdeu há um ano), o Benfica vai ter as soluções de que, na última época, o Jesus prescindiu (Amorim, Martins, Nélson Oliveira, Saviola) e que este ano foi forçado a inventar (Luisinho, Jardel, André Gomes, André Almeida, Ola John, Enzo Pérez no meio, mais Luisão fresco, mais Gaitán fresco, mais Nolito fresco, mais o reforço no meio-campo que vai chegar em Janeiro). É, potencialmente, a melhor situação em que o Benfica chega a Janeiro desde que o Jesus tomou conta da equipa, e, por si só, será mais do que suficiente para garantir pelo menos o segundo lugar do campeonato.

 

Em relação à Champions propriamente dita, surpreende-me que o Celtic tenha ganho, mas não que o Barcelona não tenha ganho. Achei peregrina, desde o início, a lógica do Jesus de que o Barcelona não entrava nas contas, só porque ganhou na Luz por 2-0. Em vinte anos de Champions só deve ter havido duas ou três equipas a ganhar os jogos todos, e não tem a ver com a qualidade das equipas. Tem a ver com a motivação, com a gestão do plantel, com a necessidade de fazer o resultado, com o simples azar. A derrota do Barcelona hoje, por exemplo, foi-lhe perfeitamente indiferente. De qualquer maneira, com mais uma vitória (frente ao Benfica, por exemplo), faz 12 pontos e é primeiro. Para o Celtic, pelo contrário, era um dos jogos do ano. O Celtic é o caso típico daquela equipa medíocre que aparece todos os anos, a quem as coisas correm bem, e que são apuradas apesar de serem uma das equipas mais fracas da competição (como o APOEL no ano passado). Aquele jogo em Moscovo seria suficiente para perceber isso, e o jogo de ontem confirmou-o.

Sempre tomei como líquido que o Barcelona empataria, pelo menos, um jogo fora. Não percebo como é que um homem tão atento a todas as estatísticas não percebeu isso. Ou, se calhar, até percebo, mas pronto, ele também não é parvo e já sabe o que os tolos papam… E como sabe o que os tolos comem vai dizer que perdeu o apuramento porque o Celtic fez o resultado o Barça. Tretas. O Benfica perdeu o apuramento em Moscovo. Empatando, seria segundo no grupo

 

Neste momento, o que eu, como maquiavélico que sou, desejaria que o Benfica perdesse os próximos dois jogos ou que, fazendo um ponto, o Spartak fizesse três. O terceiro lugar é o pior lugar do grupo.

Há apenas uma hipótese, ténue, de apuramento, que implica ganhar por vários golos ao Celtic (o que é o mais fácil, apesar de tudo, porque o Celtic não joga mesmo nada, desde que a sorte os abandone), e depois esperar que os russos marquem primeiro, na última jornada, na Escócia, uma vez que o problema dos russos é psicológico. Quando marcam primeiro, é quase impossível ganhar-lhes. Quando sofrem um golo antes de marcar vão-se imediatamente abaixo.

É possível que o Spartak ganhe na Escócia, assim como é possível ao Benfica ir empatar a Camp Nou se o Barcelona estiver apurado.

Sim, é possível o Benfica não acabar em terceiro lugar do grupo. As possibilidades são de aproximadamente… 2 por cento.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Grande futuro


Equipa gira, a do Benfica.

Uma equipa que sabe jogar conforme o jogo e o adversário;

 que tanto é capaz de controlar a bola como de arriscar mais com segurança defensiva;

que sabe o valor de marcar um golo na Rússia, na Liga dos Campeões, contra uma equipa encostada à parede, quando não se jogou (espectacularmente) muito bem até essa altura;

que percebe o valor de não sofrer golos, nessa mesma situação, nem nos primeiros dez minutos nem nos últimos cinco minutos de cada parte;

que joga tão bem na relva natural como sintética;

que aprende depressa;

que põe os jogadores a fazerem aquilo que sabem, e não aquilo que não sabem;

eficaz em frente às duas balizas;

com fio de jogo a atacar e jogo colectivo a defender.

Vê-se ali muito futuro.

Percebe-se que é um treinador novo, que ainda não teve tempo para trabalhar os fundamentos do jogo e de pôr a equipa a funcionar tão bem, em termos colectivos, como a vocação natural dos jogadores para o trabalho de equipa tornará possível.

Vê-se que há jogadores que ainda não tiveram tempo para apreender a filosofia e os métodos do técnico, que ainda parecem cansados, mentalmente, dos métodos do treinador anterior, mas a tendência, como em todas as equipas construídas de raíz, é para melhorar com o passar dos meses.

Também se vê que o treinador é um treinador com ideias frescas e muito avançadas. Há ali jogadas, como os lançamentos laterais para a área, que se tornarão altamente produtivas daqui a umas semanas, porque as outras equipas não estão preparadas para elas.

De qualquer forma, naquilo que se consegue trabalhar mais nos treinos – a capacidade de concentração e de trabalho colectivo – vê-se que, durante a pré-época e a semana, se trabalhou a sério e com grande profissionalismo.

E, além de tudo isto, o grande bónus: não é apenas uma equipa que impõe respeito – é uma equipa barata.

Deposito grandes esperanças nesta equipa.

Só vejo uma coisa má: o plantel tem excesso de qualidade, em quantidade, para as competições que está a disputar.

sábado, 20 de outubro de 2012

A cave


Tenho de pedir desculpas aos habitués, se é que algum ainda resiste, mas, definitivamente, ando a lutar para subir de divisão e a bola ficou de lado. Ainda por cima sem campeonato, menos bola tenho visto. Não posso prometer nada a não ser que, quando tiver mais vida para isso, voltarei a aparecer mais vezes.

Do pouco que tenho ligado aos futebóis, ficou-me na retina a apresentação de contas da SAD do Porto, feita numa cave das Antas perante uma plateia que, além da camarilha toda e de três ou quatro cameramen no fundo da sala, não tinha mais ninguém – para não haver o risco de qualquer incauto associado, apanhado de surpresa, exclamar em voz alta: «35 milhões?! Foda-se, carago, que merda é esta!?»

O défice de 35 milhões de euros no ano desportivo que passou é perfeitamente colossal, não só pelo montante como pelo que significa em termos de deve-e-haver regular do Porto.

Recapitulando: o Porto, já com a época a decorrer, faz a melhor venda na história do clube (o Falcão – e não esqueçamos o Guarín... ou serão milhões da treta, como os do Micael?), vai à Liga dos Campeões (porque foi, se bem se lembram, e se tivesse passado à fase seguinte não teria feito mais do que 3 ou 4 milhões além daquilo que fez) e ganha (é mais não perde, mas enfim…) o campeonato.

Resultado: 35 milhões de euros de prejuízo.

O que nos dizem (com dificuldade…) os media? Que os juros subiram e que o dinheiro do Hulk não entrou nas contas.

É pior a emenda que o soneto, desde que quem ouve tenha dois dedos de tola. O que isso quer dizer é que, praticamente no limite de exploração de recursos próprios, já com receitas extraordinárias incluídas (a venda de jogadores), o Porto perde 25/30 milhões de euros por ano para conseguir competir pelo campeonato nacional com o Benfica.

E porque é que se pode falar nestes termos? Por duas razões fundamentais:

1 - Porque, tal o fiasco na criação de receitas regulares, as receitas extraordinárias tiveram de passar a ser ordinárias. Ou seja, o Porto, sem vender pelo menos quatro-quintos-de-Falcão por ano, dá 20 milhões de prejuízo;

2 – Porque, no próprio dia da apresentação de contas, se ficou a saber que o Porto vai pedir novo empréstimo obrigacionista, para pagar 18 milhões de outra dívida obrigacionista que vence em Dezembro – sendo que a dívida vai ser passada para o longo prazo. Ou seja, o Porto já entrou, definitivamente, na espiral financeira que não lhe vai permitir parar o endividamento sem perder grande parte da sua capacidade competitiva.

O que se está a passar no Porto, é preciso dizê-lo, é um cataclismo.

Neste espaço já referi muitas vezes (mais do que as que devia, é verdade) que estamos a assistir à queda de um mito. Poucos me terão levado a sério, nessas alturas, pensando que é o clubismo a falar, e apenas mais alguns me levarão a sério agora, porque ainda não viram, como São Tomé, o que está para a acontecer – mas afirmo: o que se está a preparar no Porto é uma tempestade de tal forma perfeita que, quem viver daqui a vinte anos, dificilmente acreditará que o futebol português alguma vez tenha sido o que é hoje.

A recuperação qualitativa e o redimensionamento do Benfica; o fim do regime de Pinto da Costa, que abrirá um problema político de longo prazo no interior do Porto assim que surgir a primeira derrota; o empobrecimento generalizado do país durante os próximos 10/15 anos, levando a uma perda de competitividade na Liga dos Campeões, que é fundamental para as finanças do clube. Isto vai conjugar-se.

Os adeptos do Porto, que não percebem mais de coisa alguma que quaisquer outros, e que são tão facilmente sugestionáveis com vitórias como quaisquer outros, ainda estão, e continuarão a estar durante mais alguns anos, em estado de negação, alimentados pela ilusão (a mesma que durante muitos anos enganou os benfiquistas) de que a supremacia sobre o Benfica é um estado natural das coisas, que se prolongará ad eternum apenas porque sim, porque é assim o universo. Essa ilusão, que é comum a todos os grandes impérios antes de caírem, também faz parte da equação.

Quanto mais o seu clube se enterrar em dívidas para continuar a competir com a aposta financeira do Benfica, mais se tentarão convencer de que estão no mesmo campeonato.

Ninguém, do Porto, lhes explicará um factor essencial para compreender o verdadeiro cenário em que esta luta decorre: o de que, para o Benfica, ter 400 milhões de passivo é muito menos problemático do que para o Porto ter 300 milhões de passivo. É como o Governo português querer fazer crer aos portugueses que Portugal está na mesma situação de Espanha. Não está. A natureza do problema é a mesma, mas o grau do problema não o é.

Pelo meio em que está inserido (sobretudo-Lisboa contra sobretudo-Porto), pela natureza mais abrangente do clube, pela maior dimensão popular que continua e continuará a ter (porque o Benfica já parou de decrescer e a tendência agora será para voltar a crescer em teros de adeptos, à medida que vá voltando a ganhar), por tudo o que é evidente em termos de imagem (que se reflecte em dinheiro), por ter um potencial de captura de receitas igualmente em crescendo (afinal, o Benfica não ganha, desportivamente, em termos relevantes e continuados, há 20 anos!) contra um Porto que já não tem mais onde inventar dinheiro a sério, os dois clubes não estão, manifestamente, no mesmo pântano. O do Benfica dá pela cintura. O do Porto dá pelo pescoço.

Para o Benfica, regressar ao domínio do futebol português depende de conseguir manter a pressão. Continuar a não pagar 18 milhões por Danilos, para depois poder pedir 25 milhões por Javis Garcia. Continuar a obrigar o Porto a fazer crescer a sua dívida. Não facilitar na vertente desportiva – não pensar que, sem trabalho, o sucesso aparece por si próprio, nem deixar de investir na qualidade dentro de campo. Manter a pressão, de forma continuada e tão forte quanto possível. Inventar fundos, inventar televisões, apostar em tudo o que implique aproveitar a massa adepta – esse é o ponto estratégico: sempre que o Benfica conseguir aumentar as receitas no que tem a mais (os adeptos) obriga o Porto a endividar-se, porque não tem alternativa.

Se isto acontecer, o futebol português muda. E começa a mudar no dia em que o Porto não venda o Hulk, para ganhar o campeonato, em que perca 50 milhões de euros, e em que… não ganhe o campeonato.

Aí, a casa vem abaixo.

 

*

Vi um bocado do Freamunde-Benfica e a ideia com que fiquei do André Gomes é a mesma que já tinha tido antes disso, ao vê-lo na equipa B: faz-me lembrar o Zidane a jogar à bola, porque pensa antes dos outros e executa bem, mas não sei, em termos de vontade de ser um grande jogador e campeão, se será suficientemente agressivo para triunfar, quer no Benfica quer no futebol profissional.

sábado, 6 de outubro de 2012

«O futebol é resultados»


Daqui a um mês chegaremos ao ponto em que os benfiquistas discutem penáltis e frangos como factos determinantes do sucesso ou do insucesso da época desportiva.

Daqui a dois meses estaremos no ponto em que os benfiquistas discutirão o treinador como factor de sucesso ou insucesso da época desportiva. Por alturas do Natal, reeleito e com a época perdida, o Vieira, encostado à parede, vai chegar a acordo com o Jesus para a rescisão amigável do contrato, contrata o Scolari e inicia aquele que será o seu «último projecto» como presidente do Benfica.

Nessa altura, o fracasso desportivo de Vieira, então já indisfarçável, será utilizado para endeusar Pinto da Costa, e os adeptos do Benfica, indefesos, serão confrontados com a costumeira «falta de liderança» como factor de sucesso ou de insucesso da época desportiva.

E depois começa tudo outra vez.

Se não for nestes prazos, é noutros, se não for em Dezembro é em Maio, mas a lógica é a mesma.

O que é que está errado neste ciclo vicioso?

É a falta de qualidade de alguns jogadores, treinadores ou dirigentes, ocultada pela dimensão do clube? Não.

É uma deficiência estrutural do clube? Não.

É a «cultura»? Sim, mas não no sentido que se lhe quer dar. Nem se compra cultura no mercado de Inverno, nem se acorda, um dia, com cultura de vitória, nem a cultura é coisa que se tem quando se ganha e não se tem quando se perde.

O que está errado, neste ciclo vicioso, é o momento em que se pensa em termos de «sucesso ou insucesso da época desportiva».

O momento em que se divide a existência de um clube como o Benfica em «épocas desportivas» é o momento em que se inicia o fracasso, porque é pensar ao contrário. O momento em que se começa a pensar o resultado como centro da razão que tudo move é o momento da vulnerabilidade. Isto é assim no Benfica, no Sporting do Godinho ou no Porto do Pinto da Costa, que ficará igualmente vulnerável no momento em que perder (como o Godinho muito bem lembrou). Num sistema limpo, e com competição à altura, a «cultura do dragão» já faria parte do museu do clube há 20 anos. Não teria chegado, sequer, ao Mourinho.

O sucesso não se divide em épocas, e dificilmente se mede, a longo prazo, em resultados. Estranhamente, todos sabemos que, contra-intuitivamente, o sucesso se mede de forma emocional, subjectiva e, ao mesmo tempo, colectiva.

Qual é a melhor forma de explicar isto? Talvez assim: todos teríamos conseguido perceber se, hoje, os jogadores do Benfica tivessem feito o seu melhor frente ao Beira-Mar. Isto não significa jogar bem, acertar mais ou menos passes, tomar mais opções certas, correr mais. Toda a gente que sabe ver futebol percebe que há uma diferença entre cansaço e falta de entusiasmo, entre um mau passe feito por falta de técnica e um mau passe feito por falta de concentração, entre uma movimentação errada por desatenção momentânea e uma movimentação errada por falta de trabalho diário.

O Benfica ganhou, hoje? Ouso perguntar: o quê?

Admito que sou deficiente. Tenho um handicap de realismo. Mas, como atrasado mental que sou, também admito que teria saído mais satisfeito se tivesse visto o Benfica a perder ou a empatar mostrando um estado de espírito «grande» do que ao vê-lo a ganhar sem mostrar mais que mediocridade.

Não sei por quanto tempo é que o Benfica resistiria a estes «lirismos» da chamadas «vitórias morais», mas sei onde é que o outro caminho vai dar. Ao mesmo lugar de sempre. A este sítio onde, precisamente agora, nos encontramos, órfãos de uma grandeza que todas as semanas esperamos sentir ao olhar para o Benfica e nunca encontramos, defraudados, sentindo-nos traídos pela nossa própria leadade.

Vai dar a lado nenhum.

Dizem vocês: «Para te pores com estas merdas, ao fim de uma semana sem dar sinal de vida, mais valia teres ficado calado mais um mês!». Tudo bem. É legítimo.

Mas estou a ouvir o Jesus a dizer que na primeira parte o Benfica «teve muita qualidade», que «o futebol é resultados», que «estamos em primeiro», estou a ver o pessoal a acenar que sim com a tola e respondo: «Vocês são gajos porreiros, não fazem por mal, amam o clube, defendem-no, defendem-se, mas, no fundo, no fundo, até merecem chegar ao fim e não chegar a lado nenhum. Com campeonato ou sem campeonato. Porque não devíamos ter direito àquilo que não desejamos. E, como somos todos por um, o destino colectivo é ditado por esta grande parte que prefere negar a grandeza.»

Tudo bem. Sem ressentimentos. Sem esta dimensão humana, quase inconciliável, ser do Benfica significaria o mesmo que ser do Avintes. Estou disposto a esperar mais vinte anos. Ser do Benfica é acreditar.

Porque, depois, olho para o Barcelona, e penso assim: «Caramba, aquilo que ali está só existe porque, um dia, alguém acreditou que tinha direito à grandeza e ousou fazer diferente.»

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Maquiavel não explica


Ao fim de mais de uma década como presidente, Vieira está a aprender, à força, uma verdade incontornável: no Benfica não existem monarquias, e muito menos dinastias.

Não tem a haver com mérito, nem com carácter, nem com resultados. Tem a haver com cultura. Com oito campeonatos, Vieira estaria, da mesma forma, fora de prazo.

A longevidade como presidente, aliás, só encontra justificação na situação catastrófica e única em que o Benfica se encontrava à entrada da década passada. Foi uma solução excepcional numa situação excepcional.

Foi.

Como já disse neste espaço há alguns meses, acredito que o tempo útil de Vieira ainda não acabou. Não gosto do Vieira, nunca gostei, mas não confundo a estrada da Beira com a beira da estrada. Escrevi que Vieira merecia ter dois anos com as contas saneadas, o que aconteceria (em princípio) com a assinatura de um contrato televisivo com números realistas. Apanhou a pior crise económica do país nos últimos 90 anos. Continuo a achar que o tempo ideal para Vieira seria mais um mandato. Mas há «mas».

Se Vieira estiver à espera de se perpetuar no poder quer por si próprio quer por testas de ferro, estará a cometer um erro de palmatória, que consiste, precisamente, em não conseguir perceber que o Benfica não é o Sporting – em que os líderes, por tradição, são escolhidos por uma clique de nobres (nas próximas eleições já serão escolhidos por uma claque de grunhos…) – nem é o Porto – um clube sem tradição pluralista, de implantação popular e muito territorial mas sem opinião nem contraditório.

Para muitos benfiquistas, esta propensão para a democracia é uma fraqueza. Para estes – com legirimidade para pensarem assim, acrescente-se – a forma de ganhar é encontrar um Pinto da Costa vermelho. Essa angústia por um Grande Líder explica-se com facilidade. Não é uma discussão que tenha nascido com o futebol português, entenda-se.

Em política, Nicolau Maquiavel escreveu O Príncipe, no século XVI, precisamente para tentar ensinar ao futuro príncipe de Florença que a única forma realista de governar com sucesso seria concentrando totalmente o poder na sua pessoa e assumindo uma estratégia de terror, explícito e implícito. Conhecem a frase: «Os fins justificam os meios»? É de Maquiavel.

Esta corrente realista e totalitária fez escola. Nos últimos 500 anos houve inúmeros regimes em que os seus líderes tentaram aplicar a fórmula maquiavélica, e, actualmente, o realismo é uma escola tão praticada como a idealista. O Porto, por exemplo, é, claramente, um regime maquiavélico – entenda-se que esta afirmação não tem a haver com «bons e maus», com «certo ou errado»; tem a haver com a estratégia de poder interno. O que existe no Porto, hoje, é o Príncipe, aclamado e aceite, intocável e instalado, e em seu redor uma corte de funcionários especializados e tarefas mas politicamente inúteis. Vieira tentou implantar o mesmo sistema no Benfica, mas não conseguiu concretizar a concentração do poder numa única pessoa em vitórias de guerra. De qualquer forma, como já disse, essa não é a matriz do Benfica.

A matriz do Benfica é a do idealismo. Sendo a única grande colectividade legal a funcionar num sistema realmente democrático durante o Estado Novo, conseguiu, graças a isso, não só sobreviver como exceder-se, forçando o próprio regime a aceitá-lo (ao contrário do que se diz, Salazar não era esquisito: qualquer forma de propaganda que servisse para consolidar o seu poder pessoal era válido).

A democracia tem custos elevados. Não só degenera frequentemente em demagogia, perdendo o sistema as virtudes decorrentes da democracia – renovação de valores, de estratégias, legitimidade e autoridade reforçadas pelo consentimento popular, sentimento de pertença e comprometimento com a causa reforçados, e outros – como só faz sentido no longo prazo.

A grande diferença entre a democracia e a monarquia é precisamente essa: o sucesso alcançado pela via democrática é mais estável e longevo, porque não depende tanto das pessoas mas mais do sistema, que vai renovando as pessoas (é um sistema com crises, como todos, mas com uma capacidade de regeneração superior); o sucesso alcançado pelo absolutismo é episódico, depende do carisma e da capacidade de uma pessoa, ao qual o sistema não sobrevive.

Visto de outra maneira, é como comparar um país em que a sociedade civil é forte e outro em que o Estado é tudo. Ambos têm problemas para resolver, mas no primeiro há maior diversidade de soluções quando as crises aparecem, enquanto no segundo se instala o estaticismo por falta de criatividade.

Desde que a democracia se instalou no Ocidente, sobretudo a partir do século XIX, os países democráticos ganharam vantagem cultural sobre os regimes absolutistas e autoritários. O realismo maquiavélico é, frequentemente, utilizado como forma de ganhar no momento, mas revela-se, invariavelmente, ineficaz no longo prazo. O absolutismo só tem presente, não tem futuro. O pluralismo parece não ter presente, mas só ele tem futuro.

O mais difícil, quando se tem o poder, é saber abdicar dele em favor de um bem maior.

Já aqui escrevi que o melhor serviço que Vieira poderia prestar ao Benfica seria, depois de ganhar as eleições, deixar montada uma estrutura técnica que permitisse a qualquer novo presidente mandar apenas na parte estratégica, e que permitisse manter um sistema de decisão técnica e gestão que sobrevivesse às pessoas que, pontualmente, ocupassem os lugares. Depois disso, deveria alimentar duas ou três correntes alternativas, permitindo que os sócios voltassem a ter um poder real no momento em que ele libertasse o mando, e permitindo que a escolha pudesse ser feita em pessoas minimamente preparadas e não em demagogos.

Com isto, Vieira (de quem eu não gosto) ganharia, provavelmente, o lugar como um dos três maiores presidentes na história do clube.

Mas eu sou realista.

Não é isto que vai acontecer.

O que vai acontecer é que, no fim, em vez de saber sair, Vieira (que fez um trabalho espantoso, de facto) vai ser apenas um bom presidente do Benfica forçado pelos sócios a abandonar a cadeira.

O melhor que o Benfica tem é precisamente que, quer ele queira quer não, é isto que vai acontecer.

E é por isto que o Benfica continuará a ter a vantagem funcional sobre os seus adversários à medida que os níveis de competitividade destes vão oscilando.

Afinal, como todos compreenderão, aprovar um prejuízo de 12,5 milhões de euros não é mais que uma irresponsabilidade – uma irresponsabilidade que, em noventa por e oito por cento dos casos no futebol português, passa, mas que um sistema democrático tem muito mais facilidade em reconhecer e corrigir do que um Estado papal, em que toda a autoridade está no papa, e em que ir forçar a demissão do papa equivale a demolir a catedral.

domingo, 23 de setembro de 2012

Para lá do Xistra


Aos 19 minutos da primeira parte do jogo de Coimbra, por falta de futebol que ver, decidi contar quantas vezes é que o Benfica conseguia passar bem a bola. Não fui buscar papel nem caneta, porque sabia, à partida, que não ia ser preciso.

Quantas vezes é o que o Benfica conseguia progredir a passar a bola pelo menos três vezes no meio-campo do adversário – ou seja, quantas vezes é que, no momento de receber o terceiro passe, a bola estava à frente (nem que fosse um metro) do ponto em que o primeiro passe tivesse sido feito.

Não sei se a conclusão vai chocar alguém. É possível, porque a maior parte das estatísticas do futebol são contra-intuitivas. Mas o total foi um. Uma vez.

Em 25 minutos de futebol a equipa de futebol do Benfica conseguiu fazer avançar a bola, em três passes, no meio-campo de ataque, uma vez. A bola avançou cerca de cinco metros e, quando o Bruno César a recebeu, estava na faixa lateral a meio desse meio-campo. Ou seja, a cerca de 50 metros da baliza. Todas as outras vezes em que o Benfica chegou perto da área da Académica foi através de jogadas fortuitas, individuais ou de erros dos adversários.

O Benfica do Jesus não sabe jogar futebol. Com ou sem postes, com ou sem Witsels, com ou sem Xistras, com ou sem Champions, com ou sem Pintos da Costa, o Benfica não sabe jogar à bola.

Não é de agora que não o sabe. Nem é de agora que nem sequer tenta. Lembro-me que desisti de esperar que o Benfica do Jesus começasse a jogar futebol em Dezembro do ano passado. Perdi a paciência. Deixei de esperar algo mais desta equipa e deste treinador, mesmo com a possibilidade de se ganhar o campeonato. E desde então não voltei a esperar nada. Não há milagres.

É por não esperar nada deste Benfica que passei ao futebol americano e só voltei ao jogo, por acaso, no momento em que o Cardozo ia marcar o penálti – e é por não esperar nada que não alterei uma vírgula do que já tinha escrito depois da bola entrar na baliza.

 

O que é mais irónico é que a situação em que o Benfica está – a de equipa desfalcada, sem favoritismo, e aparentemente sem rei nem roque – é a que, historicamente, mais favorece. A «política do operário» que o Vieira foi obrigado a comunicar («vamos ter de vender mais…») é a que levou o Benfica a ganhar mais na sua história.

Só um louco é que poderia dar, neste momento, favoritismo a outra equipa que não a do Porto. O próprio Jesus, ao dizer que o Benfica é «um dos principais candidatos», desceu, claramente, à Terra – ou seja, ao sítio onde está o Sporting.

Com um Benfica à moda antiga, colectivo, humilde, de trabalho, eu ousaria dizer que os temos mesmo onde os queríamos. Mas este Benfica já não é à moda antiga.

Neste Benfica moderno, das vedetas, a primeira opção é correr com a bola e só depois passar. Pensa-se primeiro na solução individual, e só depois no colectivo. Aceita-se a sorte do jogo com relativa benevolência. Os salários estão em dia, afinal. Para se receber basta ir aos treinos. Talvez muitos benfiquistas não saibam mas, no tempo do Fernando Martins, os jogadores ganhavam mais em prémios de jogo que em ordenados. Esse malandro. Era um autêntico negreiro…

Uma equipa com cultura colectiva e de vitória supera com relativa facilidade a troca de um ou dois jogadores, a troca de um sistema táctico por outro, mesmo que a qualidade individual caia consideravelmente.

Uma equipa que baseia o seu valor nos valores individuais, não.

Faltam 25 minutos para o jogo de Coimbra acabar. Está 1-1.

E não mudo uma vírgula.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

«The Day After«


O primeiro jogo pós-apocalíptico da equipa do Benfica, em «Celtic» (como diria o Jorge Cadete) foi uma boa proveta para o que será a época. Não no sentido de deixar boas ou más indicações mas no de mostrar como vai jogar a equipa do Benfica.

 

(Antes de mais, uma nota para esta equipa do Celtic, menos que medíocre, fraquíssima, arriscaria mesmo dizer que a mais fraca da Liga dos Campeões, e que vem, uma vez mais, confirmar que os escoceses deveriam ganhar o prémio para «o futebol mais incompetente do Mundo». Com o dinheiro que os escoceses têm, o clima de verdade desportiva, a paixão dos adeptos e a proximidade da Premier League, arrisco dizer que Portugal estaria no top-3 do futebol europeu de clubes. Voltando ao Benfica…)

 

A única hipótese minimamente credível desta esquartejada equipa do Benfica não se imolar em chamas por altura do Natal e alcançar um sucesso mínimo no final da época (passar a fase de grupos da Champions e acabar em segundo no campeonato) consiste em:

- jogar em toque de bola, e manter a bola o máximo de tempo possível e o mais afastada possível do seu meio-campo, evitando que um conjunto de jogadores que não sabe defender tenha de defender – só há dois jogadores do Benfica que sabem defender (Luisão e Garay). Se estão a pensar em Maxi, está errado. Maxi defende mal. As grandes jogadas defensivas de Maxi são, na verdade, jogadas em esforço, que ele ganha porque é um lutador, e ganha-se em esforço, não em técnica defensiva. Tem é muita capacidade para se esforçar, e engana bem.

- marcar muitos golos, pelo menos dois por jogo – que compensem a inevitável falha defensiva que, 90 por cento das vezes, vai aparecer – e fazê-lo recorrendo a um ataque de mobilidade extrema, em que quase não se perceba quem joga onde.

 

Qualquer outra conversa é falácia. Estou a escrever no decorrer do jogo, com o resultado em 0-0, e, antecipando já a conversa da «pressão alta» do Jesus, afirmo que a «pressão alta só vai dar alguma coisa em meia-dúzia de jogos, com equipatão fracas como as do Celtic e fora de casa. Uma equipa que veja este jogo «em Celtic», que saiba jogar só um bocadinho e que tenha a oportunidade de preparar o jogo vai ter avenidas abertas em transição, e vamos voltar a assistir a algo que já víamos antes, mas agora em maior quantidade: os defesas do Benfica a apanharem com os avançados lançados direitos a eles, tentado tapar um buraco para deixarem outro aberto onde entrará o jogador seguinte, até ao remate.

Para pressionar alto é preciso ter jogadores que, mesmo não defendendo bem, sejam consistentes durante o jogo e como equipa – em contrapartida o Benfica tem Aimar, Gaitán, Salvio, Carlos Martins, desconfio que Enzo Pérez…

A «pressão alta» do Benfica vai falhar rotundamente, e daqui a cinco ou seis jogos, os jogadores do Benfica, pressionados pelos maus resultados, vão perceber que não é na defesa que vão ganhar jogos, mas no ataque, e que a única hipótese que têm é deixando de jogar com a displicência a que estão habituados – deixando de precisar de chegar 10 vezes à área contrária para ter de fazer um golo.

Se uma equipa de alta competição, sobretudo nos grandes jogos, vive e morre da eficácia ofensiva, esta ainda mais. Para poder competir com as outras, terá de ser muito mais eficaz que as outras.

 

Dito isto, tenho de avisar os meus consócios benfiquistas de que a colocação de uma fasquia de exigência elevada, para este Benfica, é um acto de potencial suicídio anímico e mental. Como é evidente, em termos de resultados imediatos (leia-se nesta época) este Benfica está tanto à beira do milagre como à beira do desastre.

 

Quanto ao resultado de hoje (aos 65 minutos está 0-0), devo dizer que, depois de ver jogar o Celtic no fim-de-semana passado e hoje, estou convencido de que a equipa que não lhes conseguir tirar os seis pontos será a equipa a ficar em terceiro no grupo.

 

(Olha, 2-1 para o Spartak em Barcelona…)