segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O último chuif

Talvez a saída do Choramingos merecesse aqui uma análise extraordinária, mas a verdade é que não me inspira nada de particularmente especial. Provavelmente porque não vi, logo de início, nenhuma razão para o orgasmo colectivo que rodeou a entrada dele no Sporting.

A única coisa que realmente destacou o Domingos dos outros treinadores portugueses, nos últimos anos, foi o timing. Falando em bom português, a oportunidade. Quer nos clubes por onde passou quer na sua entrada no Sporting. Aliás, olho para o que escrevi nessa altura e não vejo onde me possa ter enganado. Não mudaria uma vírgula.

Mas vamos começar por aqui, pela oportunidade.



O projecto do costume

A diferença do Domingos para qualquer tentativa de clone mourinhesco que tenha entrado no Sporting desde José Peseiro é que o Domingos entra no momento mais importante da história recente do Sporting, após eleições em que, na prática, os sócios sufragaram (ou tentaram sufragar) o enterro da tecnocracia roquetista e passar a praticar uma política de investimento à Benfica, desistindo dos barretes a custo zero para passar a apostar em valores caros para obter resultados. Esta inflexão na política de despesas do clube teve três faces: Luis Duque, Carlos Freitas e Domingos, o homem de que o próprio Duque fez depender o seu regresso como condição essencial para o sucesso.

A saída de Domingos fragiliza imenso o projecto do Sporting (e quero ressalvar aqui o facto de, ao referir-me a projecto, estar a ser completamente sarcástico) acima de tudo porque, ao fragilizar todas as partes envolvidas, fragmenta o poder.

Despedir Domingos ao fim de oito meses da revolução – esta sim, uma revolução – não é o mesmo que despedir Carvalhal, Couceiro ou Paulo Sérgio, porque nenhum deles representava realmente um projecto, antes uma tentativa. Nem ter o real Luís Duque a ver cair o seu treinador é o mesmo que ter o curioso Costinha a ver cair a sua invenção. Foi uma aposta muito elevada, num momento demasiado importante, para ser equiparada a alguns disparates anteriores, que não passaram mesmo disso. Isto não foi um disparate – foi um rotundo falhanço.

E não é só o momento em que entra que distingue o Domingos. É também o momento em que sai, um dia depois do presidente do clube dizer que «isso não faria sentido» e dois dias depois da Juve Leo ter ido esperar a equipa ao aeroporto com insultos quatro dias após o apuramento para a final da Taça.



Juve Leo ao poder

A entrega da cadeira de treinador a Sá Pinto representa a subida definitiva da Juve Leo a um patamar de influência sobre a decisão que lhe permite superar a pequena margem que lhe faltou para eleger Bruno Carvalho à presidência no último Verão.

Só alguém extremamente inocente é que não vê na política comunicacional da Direcção do Sporting nos últimos meses uma tentativa de trazer a claque oficial do clube para o seu lado. O afastamento institucional em relação ao Benfica, liderado pelo vice-presidente ex-PJ Cristóvão, ao arrepio do próprio interesse estratégico do clube, é um exemplo evidente. Neste período, foi sempre o clube a virar à direita e a aproximar-se do extremo onde se encontra a claque. Da parte desta nunca se vislumbrou qualquer aproximação. A escolha de Sá Pinto – um tipo esperto, que soube, desde cedo, aproveitar a força da claque a seu favor – é o momento em que a Direcção do Sporting atravessa a linha de não-retorno. E é um momento desastroso para o futuro próximo do Sporting.

Neste momento, especificamente, numa altura em que entrou num processo de inversão estratégica histórica, o Sporting precisava de ter tido um líder. Um estadista. Alguém que dissesse, pelo seu gesto: «O poder está aqui. E não vai a lado nenhum.» Alguém que dissesse basta. Aconteceu exactamente o contrário. A Direcção não aguentou a pressão e rendeu-se. Ao render-se, permitiu o desmantelamento da estrutura de poder sem a qual não pode haver coerência na tomada de decisão. O que o Sporting ganhará em tranquilidade nas próximas semanas será rapidamente consumido pela degradação institucional que aqui tem origem.

O pior disto tudo é que mesmo que Sá Pinto não tenha sido escolhido para apaziguar a Juve Leo, parece, e isso é suficiente para passar o poder à claque. O poder no Sporting já caiu na rua, e, entre alguns êxitos (que hão-de aparecer) e muitos mais insucessos, por lá vai andar nos próximos anos até aparecer alguém suficientemente audacioso, ambicioso e oportunista para o agarrar, o concentrar (como Vieira e Pinto da Costa) e o exercer durante muitos e muitos anos. Se calhar até alguém que apareça de dentro da Juve Leo…



«O perfil», take 357

Assim que o Ricardo Sá Pinto for apresentado como novo homem de facto providencial do Sporting, com a Juve Leo a transformar a sala de imprensa num comício ateniense, há uma palavra que inevitavelmente vai saltar da boca do presidente do Sporting: «Perfil».

O perfil é a pedra filosofal do Sporting nos últimos 20 anos, pelo menos. Quando o Sporting encontrar o homem com o perfil, vai ser imparável. O perfil é o Projecto Manhattan do Sporting. O Duque já tinha dado com o perfil, quando quis contratar o Mourinho «e o meu país não deixou» (leia-se, a Juve Leo...). É, aliás, ainda hoje, o seu grande capital de crédito. O Duque sabe qual é o perfil - ou sabia, pensou-se até agora, e por isso é que o Domingos se torna um problema tão grande...

Há um conjunto de treinadores que me preocuparia ver entrar no Sporting e todos eles têm várias características em comum, que em conjunto constituem aquilo que normalmente se chama de perfil. Escusado será dizer que nenhum deles é o Ricardo Sá Pinto, como não era nem o Domingos, nem o Paulo Sérgio, nem o Carvalhal, nem o Couceiro, nem o Paulo Bento, nem qualquer outro jovem talento que lá tenha estado desde que o Inácio saiu.

Todos esses treinadores que me preocuparia ver no Sporting têm bem mais de 50 anos, todos já passaram por todo o tipo de experiência no futebol português menos uma (serem campeões nacionais como treinadores) e todos têm uma personalidade relativamente carismática, construída pelo tempo e pela sua própria personalidade.

Quando digo todos, digo três. Três manuéis. Por esta ordem, Manuel José, Manuel Cajuda e Manuel Fernandes.

Louco? Quem, eu?

Amanhã, quando eu entrar dentro do ADN do Sá Pinto, falamos melhor sobre isso…



Só para acabar, quero reafirmar o seguinte, para que conste: quem despediu o Domingos não foi o Godinho Lopes, nem o Duque, nem próprio Domingos – foi o Benfica.

(E se não acreditam tirem as vossas conclusões de agora mesmo eu estar a ouvir na SIC Noticias o Ribeiro Cristovão, sportinguista dos sete costados e representante do mais tradicional sportinguismo, a fazer comparações entre o Benfica e o Sporting, sem ninguém lhe fazer qualquer pergunta nesse sentido, num dia em que a única notícia benfiquista foi a equipa ter apanhado um avião para a Rússia. Ao contrário isto não aconteceria.)

8 comentários:

  1. Oh Hugo desculpa lá chatear mas tens de me esclarecer duas duvidas:
    1) o que beneficia o Sporting em aproximar-se da juve merda?
    2) qual a sua ( juve merda) real importância para fazer crescer esse clube?

    Já agora : " (...) entrar dentro (...)" ???
    Foi á JJ...

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  2. Ó pá, eu sou um bocado suspeito para falar de claques, porque as coloco imediatamente abaixo do cancro e acima da diabetes na escala evolucionária das patologias. Já sei que há por aqui gente que teve experiências maravilhosas e enternecedoras com as claques, que nutre por elas sentimentos muito nobres, ou andou no comboio, ou esteve lá no meio, ou foi da claque quando era pequenino, ou tem um cãozinho chamado NoName, e que acha que sem eles não há futebol, e tudo o resto, mas para mim as claques organizadas são simplesmente… enfim. Fico-me por aqui.
    A minha perspectiva, por isso, é diferente: não é uma mera aproximação por interesse, é uma tomada de poder. É uma imposição, por parte da claque, e, aparentemente, quer pela força física quer pela capacidade de penetração no eleitorado (presumo que pela influência nos fóruns), a que as direcções do Sporting não têm força para resistir.
    O poder está lá, e como as direcções são lideradas por tipos sem verdadeiros tomates, o poder fica num vazio. Quando o poder fica sem alguém que o agarre bem, fica à mercê da rua. A rua é a Juve Leo. De cada vez que um treinador é despedido o detentor legítimo do poder perde credibilidade e legitimidade. Perde poder.
    Como a Juve Leo sustenta a sua força, continuamente, direcção após direcção, é algo que me escapa. Os presidentes, treinadores e outros dirigentes do Sporting poderiam explicar bem aos sportinguistas porque temem tanto a Juve Leo – mas deduzo que tenham demasiado medo para isso.

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  3. Então tu achas que a juve merda e os super cabrões têm a mesma influenca no zzbording e no porko respectivamente?
    Só que enquanto os sd de aliam á direcção devido aos bons resultados deportivos ( e no campo social...) a juve merda pretende uma revolução pois, e tendo em conta que ninguém pega naquilo como deve de ser, quer modificar aquilo á sua imagem ?

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  4. No dia em que a liderança forte do Porto desaparecer, desaparece também o (algum) respeito que a claque lhe tem, e nesse dia os Superdragões (que têm, potencialmente, tanta ou mais força que a Juve Leo) vão fazer o mesmo que a Juve Leo, e tentar aproveitar o vazio de poder para chegar ao nível da decisão.
    Ter nos Superdragões uma organização de controlo nocturno de jogadores, de terrorismo sobre treinadores indesejados e um braço armado dentro da cidade, até à porta do tribunal, não vai sair barato ao Porto. Um dia, eles aparecem para cobrar. Não há almoços grátis. Cá estaremos.

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  5. No dia em que o Domingos é posto no seu lugar, acabei de assistir a um momento que, arrisco dizer, define um treinador. Aos 35 minutos de jogo, a perder 1-0 em casa com o Gil Vicente, poucos dias depois de ter assegurado a presença na final da Taça, o Pedro Emanuel tira três jogadores, incluindo o capitão de equipa e o ponta-de-lança, e mete outros três. Enquanto os jogadores saiam de campo, o Pedro Emanuel destacou-se bem do banco, ficando à vista de toda a gente. Nenhum dos três jogadores que saíram sequer esboçaram uma reacção negativa, perante ele. Isto é um domínio total e absoluto sobre uma equipa e sobre a situação, e o exemplo claro do exercício legítimo da autoridade, aceite por quem é liderado.
    É deste carácter – e não das paneleirices do Domingos, por exemplo – que se fazem os grandes treinadores. O Pedro Emanuel pode não ter o talento suficiente para vir a ser um grande treinador, pode nunca vir a ter a bagagem científica para isso – em tudo há saber – mas quanto ao resto tem tudo no sítio, sobretudo os testículos.
    Com este gesto, tão simples e ao mesmo tempo tão difícil, o Pedro Emanuel fez algo que poderia ter custado várias jornadas e alguns pontos a fazer: disse aos jogadores que a Taça já acabou e agora só volta em Maio.

    Quanto à Académica, estou deliciado: tudo o que não fosse uma prolongada bebedeira colectiva, como já referi, seria, para mim, que conheço a cidade, uma enorme decepção. E a Académica não perde hoje.

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  6. Granda tótó. Porque é que eu mudei a minha aposta? Eu tava com o feeling que o Gil ia lá limpar a Briosa... Façam-me um favor: da próxima que eu quiser mudar uma aposta a meio da jornada inventem uma regra qualquer para me impedir, OK?
    Fónix, granda azia.
    Sempre eram 30 euros a fingir a mais, caraças...

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  7. Eu não gosto do Domingos nem um bocadinho e quero muito que vá para o Porto, mas esta decisão dos lagartos é incompreensível, ainda por cima para o substituir pelo Sá Pinto. Esta é uma decisão absolutamente imbecil.

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  8. A juve leo com o torturador-mor à cabeça tomaram conta dos lacostes.Estão f.....s.Escafederam-se.

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