terça-feira, 29 de novembro de 2011

Leviatã

As últimas quatro semanas mostraram péssimos sinais para o Sporting.

Dizer isto não é novidade. Os dois últimos anos têm sido péssimos. Isto só se torna relevante porque, depois do jogo em Paços de Ferreira (o do 0-2  3-2 em dez minutos sem ninguém mexer em nada), o Sporting estava a conseguir aquilo que toda a gente parece disposta a aceitar como o que era o seu grande desafio: salvar-se.

É que estes não são tempos normais de crise para o Sporting. São tempos em que o Sporting, de facto, joga o seu futuro, e decide se se vai tornar num dos três grandes, outra vez, ou se se cristalizará como apenas o terceiro grande – o terceiro, hierarquicamente falando, algo que, hoje, ainda não se possa dizer claramente que é.



O Sporting não vai acabar, obviamente, nos próximos vinte anos, mas se o Sporting não conseguir ganhar mais que um ou dois campeonatos nesses vinte anos perderá, definitivamente, a sua grandeza equivalente, em termos de adeptos, em relação a Benfica e Porto, pois, por mais capacidade de renovação que as famílias sportinguistas possam ter, não aguentam, simplesmente, a pedalada.

Se o Benfica começa outra vez a ganhar e a crescer em número de adeptos, daqui a trinta anos a desproporção entre benfiquistas e sportinguistas pode, muito bem, passar de 1,5/2 para 1 para 3 para 1, ou até mesmo de 4 para 1, se se considerar que a maior parte da igualdade demográfica entre um e outro está entre as pessoas mais velhas, que (eventualmente…) acabarão por morrer.



Os primeiros jogos do novo Sporting pareciam ser cataclísmicos. Todos concordavam que era a última oportunidade, e a coisa ia direitinha ao fundo. Aconteceu Paços de Ferreira. Nos dois meses seguintes os sportinguistas voltaram a acreditar no destino. Deus disse-lhes: «Estão a ver? Eu não vos abandonei.»

Depois aconteceu o que lhe acontece sempre: o Benfica.

A proximidade do seu Leviatã começou a trabalhar com os nervos do Sporting. Aconteceu-lhe aquilo que acontece tantas vezes a quem não está seguro do que vale, e meteu na cabeça que tinha de fazer mais do que aquilo que sabia. É como o defesa-esquerdo que não joga muito e que vai jogar o seu primeiro dérbi. Como não se sente seguro de si pensa que tem de mostrar a toda a gente que sabe driblar, centrar, fintar com o pé direito, parar a bola com o peito… na verdade, esse defesa esquerdo só sabe defender. Ora, assim que começa a tentar fazer o que não sabe, dá um passo para o desastre. É a clássica história que acaba sempre mal.


Começaram com a rábula dos bilhetes, que não teve pés nem cabeça e que é o mais demonstrativo de todos os episódios desta telenovela – pode-se questionar tudo o que se passou depois, inclusivamente a oportunidade e a intenção de quem pôs a rede, mas não se pode questionar a nítida intenção provocatória do pedido de 10 mil bilhetes quando se sabia que as possibilidades de os receberem eram mínimas (e eu estou à vontade porque até não fui contra que se dessem os bilhetes).

Viu-se o Cirúrgico Barroso a mandar bitaites, o Gordinho a falar do Mantorras, uma série de outras pequenas parvoíces enquanto, do lado do Benfica (até porque havia outras guerras para travar), só chegava silêncio.

Apareceu então a gaiola. Eu sou contra a gaiola. Não é que a gaiola não faça sentido, em termos de segurança, mas é porque também sou contra as claques. Acho degradante pôr pessoas dentro de uma rede, num estádio de futebol – aliás, acho degradante pôr pássaros dentro de uma gaiola – mas eu só não as punha porque, comigo, as pessoas que deviam estar dentro de uma gaiola nem sequer entravam no estádio. Filmava-os a todos quando estivessem a gritar «filho disto» ou «vai para ali» e, no jogo seguinte, ficavam à porta por atentado ao pudor ou por não caberem num espectáculo desportivo.

«Mas toda a gente diz e isso é descriminatório!»

Estou-me cagando. Fossem queixar-se ao Papa. Processassem-me. Mas no Estádio não entravam.

E em relação à rede, fico por aqui.


Até aos 40 minutos da primeira parte tudo estava a correr de acordo com o plano do Sporting. na hora da verdade, após meses de preparação para o jogo da verdade, o Benfica, cansado, desconcentrado, desfalcado,impreparado para o adversário que tinha à frente (fresco, organizado, treinado ao pormenor durante a semana), estava à sua mercê.
Depois, no único ponto vulnerável pelo qual a estratégia podia falhar – os cantos – a muralha abriu. A nação benfiquista entrou. E o Sporting bipolar voltou a entrar na espiral negativa.


Daí para a frente tem sido um desastre. Como o Rui Dias muito bem disse na sua excelente crónica do jogo, no Record, (considero o Rui Dias, que conheço pessoalmente, o melhor jornalista desportivo português e, mais uma vez, ele insistiu em dar-me razão), o Benfica apelou à mística que, durante tantos anos, nomeadamente contra o Sporting, fez a sua sobrevivência e a sua prosperidade, e, com suor e sorte, aguentou um jogo que parecia impossível de ganhar.

Já o Sporting, no momento seminal, tornou a encarar uma fragilidade crónica, que o persegue historicamente: a incapacidade de matar.

Da força metafísica de um e da fraqueza existencial de outro se fez um resultado de que só daqui a uns anos conseguiremos perceber o verdadeiro alcance – uma vez que, com uma derrota, o Benfica facilmente perderia o campeonato.


Depois do jogo, falou o Paulo Judite Cristovão, que viu aí a oportunidade de ser o presidente de faroeste que os sócios não quiseram que ele fosse, e de mostrar onde é que está a força dentro da Direcção do Sporting.

Os adeptos fizeram a sua parte, praticando um acto criminoso para o qual vinham evidentemente preparados, como se comprova pela prisão de uma série deles à entrada do Estádio na posse de material incendiário. Com isso acabaram por retirar qualquer legitimidade à contestação institucional da sua Direcção. Mais uma vez, a Juve Leo mostra quem é que manda, realmente, no Sporting.

O presidente, que estava convalescente para ir ao estádio mas não está para o resto, entrou à leão, falando de condições degradantes e fazendo ameaças de gravador na mão para, hoje, à saída do MAI, sair à cordeiro, falando em pacificação e na «situação difícil do país», como se não se tivesse passado nada.

O Cirúrgico Barroso, que aparece pouco na televisão, também achou que devia vir falar outra vez da «oportunidade» da «caixa de segurança» - um argumento perfeitamente estúpido se se considerar que só há dois jogos em que a dita caixa faz sentido – com Sporting e Porto, eventualmente com o Braga, que também joga golfe – e que o Porto ainda não jogou na Luz.

O Sporting fala a três vozes em menos de 48 horas. Quatro se lhe juntarmos a do Duque, que disse o contrário disto tudo porque não disse nada. Quatro vozes de dentro da estrutura dirigente do Sporting, sobre um assunto paralelo, que só existe porque o Sporting perdeu com o Benfica.


Ora, o problema do Sporting é precisamente esse. Perdeu com o Benfica. É a derrota que os sportinguistas não conseguem engolir. Perder com o Porto é chato. Perder com o Benfica é trágico.
O Sporting perdeu o jogo, perdeu o campeonato – é que perdeu mesmo, não duvidem, se não for para o Benfica é para o Porto (aliás, já o tinha perdido) –  e perdeu a cabeça.
Assim que os resultados falharam, o novo Sporting recaiu no velho Sporting, muito vocal, cheio de opiniões pessoais, cheio de egos a reclamarem o direito aos seus cinco minutos sem acrescentarem nada de real ao esforço colectivo, e acabado de perder.

Se as fragilidades são as mesmas porque é que os resultados, a longo prazo, deveriam ser diferentes?

Pode o Sporting, neste jogo com o Benfica, ter perdido o pé?

domingo, 27 de novembro de 2011

Três andamentos

Antes do jogo em Alvalade, que pode marcar uma viragem no campeonato se o Benfica não perder pontos nos dois jogos que se seguem (Marítimo, fora, e Rio Ave), o Porto tem dois jogos fáceis para a Liga (Beira-Mar, fora, e Marítimo) e um jogo relativamente acessível para a Champions, em que lhe basta o 1-0 frente ao Zenit, em casa.
Depois disso tem três semanas para recarregar.

Não acredito que a paragem vá ser particularmente benéfica para o Porto. Não tem jogadores importantes lesionados. Vai receber o Danilo e um ponta-de-lança, que deve entrar logo nos primeiros dias de Janeiro, mas, a menos que seja uma grande bomba (o que é raro), não vai pegar de estaca. Ninguém pega de estaca nas primeiras semanas a jogar no Porto.

O problema do Porto não é falta de qualidade (os jogadores são quase todos os mesmos) nem a falta de tempo para trabalhar, uma vez que a equipa está feita. Pelo contrário, se alguma coisa joga contra o Porto é o tempo. Quanto mais tempo passa mais a qualidade que existe no plantel se degrada, uma vez que a raiz do problema (leia-se o treinador), continua lá, a contaminar aquilo tudo.
Tão pouco o factor desgaste tem sido notório. Além de ter tido muitos jogos fáceis, o Grande Timoneiro tem rodado muitíssimo a equipa. O Porto nunca pareceu cansado. Apático, sim, mas não cansado.
Se a isso juntarmos a vontade dos jogadores em sair em mais esta janela de oportunidade (Guarín, Fernando, Fucile, Álvaro Pereira), e o facto de começar com um Sporting-Porto que pode atirar a equipa de novo para o buraco, Janeiro pode ser muito mais um problema que uma solução para o ainda campeão nacional.

(Segundo golo do Braga. 3-2. O Porto está tão karmado, este ano, que até as vitórias têm bicho. A última imagem é a que fica.)

Pelo contrário, Benfica e Sporting têm muito a ganhar até ao reinício do campeonato, a 8 de Janeiro. A começar pela Taça de Portugal.

Em condições normais, a Taça é um estorvo na parte final da época, mas este ano, dadas as condicionantes (eliminação do Porto e possível confronto Sporting-Benfica nos quartos-de-final, a um jogo, ausência de outros candidatos credíveis, disputa das meias-finais a duas mãos), na prática a Taça de Portugal fica praticamente entregue no dia 21 de Janeiro. O Sporting está a um jogo de a ganhar (e é o grande favorito, neste momento), uma vez que contra o Belenenses vai ser treino, e o Benfica a dois. Depois disso vão de férias durante quase três semanas. Isso fará com que Sporting e Benfica apresentem as suas melhores equipas nesse jogo e o disputem como a uma final.

Até ao jogo com o Porto, em casa, o Sporting vai tentar recuperar o Rinaudo, o Izmailov e o Rodríguez, três titulares indiscutíveis, além do Jéffren e do Matías. Duvido que compre um central logo no princípio de Janeiro.

Além disso, vai ter mais tempo para trabalhar a equipa, o que é importante na fase de construção em que se encontra.

Seja qual for o resultado do Sporting em Braga, vai chegar ao jogo como Porto sem pressão. O jogo da Luz resolveu esse problema ao Domingos. Já toda a gente percebeu que o Sporting ainda não tem estofo de campeão, por mais que os Bernardos Ribeiros deste país o queiram vender como tal. Para o Sporting, o jogo com o Porto surgirá num cenário ideal: em casa, sem a pressã de ganhar mas com toda a vontade de o fazer. Ponho já a minha cabeça no cepo: o Sporting vai ganhar ao Porto em Alvalade, com o Domingos a dar um banho ao Técnico Oficial de Contas.


O Benfica tem objectivos ligeiramente diferentes até 8 de Janeiro.

Tem um jogo realmente fundamental para a sua época, com o Marítimo, para o campeonato, a 11 de Dezembro, dois onde vai apostar forte, para a Taça (ambos  em situação de pôr a melhor equipa a jogar), e três mais acessíveis (Galati, Rio Ave para o campeonato e a primeira jornada da Taça da Liga, já em Janeiro).
O Benfica tem um campeonato para não perder, uma Taça para tentar ganhar e, além disso, alguns jogadores para recuperar ou para elevar ao nível de opção válida.

Saviola, sim ou sopas. Ou fica, ou sai e dá o lugar a outro. Mas, se é para ficar, que o demonstre agora, neste jogos. Tem um mês para dizer se quer ficar ou se desistiu. Neste processo está Rodrigo Mora, que parece preparadíssimo para entrar na equipa.
Jardel, ou é solução ou não é. Não me parece que seja. O Benfica precisa de um terceiro central e tem de decidir se já o tem ou não. Se o tem, tem de o mostrar agora.
Capdevilla vai ter a última chance. Emerson é um ponto fraco na equipa do Benfica.
Matic tem de aproveitar Dezembro para subir o nível.
O mesmo com Rúben Amorim.

Está-se na fase da época em que se percebe se os plantéis são ou não curtos, porque é nesta altura que os jogadores que jogam menos mostram se estão ou não preparados para, de facto, jogar. Um plantel longo no papel pode ser, na prática, um plantel inútil se os jogadores não forem capazes de subir o seu nível de jogo. Dezembro é o mês das oportunidades e há dois casos, no plantel do Benfica, que, além do central e da questão da lateral-esquerda, podem fazer toda a diferença: Saviola e Enzo Pérez. São dois jogadores que podem elevar o nível do onze de um momento para o outro. O título passa por aqui.


O que fica

Benfica (IRPR = 0.613)
A única prestação melhor do Benfica esta época foi a das Antas, contra o Porto.
O Benfica teve dois factores a seu favor: o factor campo e a vantagem no marcador perto do intervalo. Ambos acabaram por revelar-se importantes.
Tudo o resto, somado, resultou num acumular de pressão que apontava para um mau resultado – sendo que um empate, de acordo com o plano, seria um mau resultado para o Benfica em termos de campeonato, sobretudo porque se tratava de um encontro potencialmente decisivo.

Porto (IRPR = 0.280)
A viagem à Ucrânia foi mais difícil para o Porto, no jogo de ontem, do que um Braga que, historicamente, faz maus resultados nas Antas.
Temporariamente aliviado da pressão interna, o Porto jogou à vontade, perante um adversário que não consegue, fora de casa, ter a mesma agressividade que tem em casa.
Ainda assim, o Porto arranjou maneira de poluir a vitória com aqueles dois golos sofridos – que já não foram a tempo de constituir pressão real.

Sporting (IRPR = 0.000)
Em termos de pressão, só o jogo com o Guimarães, fora (aquele que o Sporting ganhou a jogar com dez), representou um desafio maior para o Sporting – e apenas porque, neste caso, sendo a pressão interior e exterior maior, as situações de jogo foram bem diferentes, numa o Sporting teve de jogar com dez, noutra jogou contra dez.
Obviamente, ao contrário do que aconteceu em Guimarães, a pressão, desta vez, foi mais forte que a equipa do Sporting.

sábado, 26 de novembro de 2011

O pós-orgasmo

E agora, depois do afluxo de adrenalina, uma primeira análise mais a frio.

Este é o resultado impossível na época do Benfica, como o foi a vitória por 1-0 frente ao Porto no ano do último título.

Resumamos: sem Luisão, o líder em campo e pilar defensivo, de um momento para o outro; com um jogo frente ao Manchester United, fora, viagem incluída, a meio da semana; com um nítido défice de preparação em relação ao adversário, que teve uma semana de treinos completos e que vinha de sete vitórias consecutivas para o campeonato; com uma expulsão a 30 minutos do final do jogo, precisamente no momento em que, fisicamente, o desgaste atinge os jogadores.
 

O Benfica não foi, na minha opinião, a melhor equipa, e não estava preparado. Jogou francamente mal e até se pode dizer que a expulsão foi positiva porque lhe permitiu defender sem escrúpulos quando não estava a conseguir, nem minimamente, atacar como devia de ser. Foi uma boa desculpa para jogar à Arrentela.
Não há nada de racional que possa explicar a vitória do Benfica esta noite – a não ser uma coisa.

O Sporting não ganha o jogo porque não está (ao contrário do Benfica, que tem dois anos de luta pelo título e de pressão em cima) mentalmente formatado para ser campeão.
Não diria que é inconsciente – mas é subconsciente.
Quando precisou de ser assassino, o Sporting vacilou.

A própria abordagem ao jogo, pelo Domingos, na comunicação social, não foi convicta. Foi expectante. Cautelosa. Faltou ali muito killer instinct. Falta, a esta equipa do Sporting (aos seus jogadores, todos novos, leia-se) o sabor da derrota, o perceber o que é jogar-se para se ser campeão, experimentar a frustração, o ter algo importante perto da mão e não o conseguir agarrar.

Não me parece que seja dramático para os sportinguistas. O Sporting fez um jogo muito bom para quem faz o primeiro dérbi e fora de casa. Mas ainda não vai ser este ano que vão lá.

Também não me parece que a equipa do Sporting se vá desmontar após este resultado – precisamente porque o Domingos foi muito cauteloso e não colocou demasiada pressão sobre os jogadores. Por um lado, perdeu o jogo por causa disso. Por outro, não perdeu (para já) uma equipa que está em fase de construção. Agora, que perdeu uma oportunidade que não volta a ter tão cedo de aniquilar o Benfica, perdeu. E vamos ver quanto é que isso lhe custará. A ocasião faz o ladrão, e o Sporting não foi oportunista. Veremos, historicamente (daqui a uma época e meia, creio eu), como é que se pode qualificar este resultado, dentro de um âmbito mais amplo.

 (O Choramingos está a falar da juventude do plantel. Pois é, amigo. Por isso é que os juniores não ganham campeonatos. Nem no Sporting, nem no Benfica nem em lado nenhum a não ser na Holanda, se jogarem pelo Ajax.)

É claro que podemos falar dos cantos – mas não podemos escamotear que o único canto realmente bem marcado pelo Benfica foi o que deu o golo. Não vou por aí. Se alguma coisa valeu ao Benfica foi o seu espírito combativo.

O que ganhou o jogo ao Benfica foi a diferença de rodagem, de quilometragem, nos dois primeiros lugares do campeonato ao longo de 2 anos. A forma como a equipa desceu e assumiu a Arrentelada depois da expulsão é, apesar de feia, pragmática. Uma equipa sem personalidade não a teria assumido tão desavergonhadamente.

Um exemplo de como a inexperiência altera um dérbi? Dois dos melhores jogadores em campo, completamente afectados pela pressão: Elias, pelo Sporting, e Artur, pelo Benfica.
Elias falha dois golos feitos, que marcaria noutras situações (pelo menos um); Artur, que segurou o resultado para o Benfica, teve duas falhas a repor a bola e começou a sair a todas os centros, sem critério, com medo que os defesas não fizessem o seu trabalho. Dois casos claríssimos de qualidade elevada com tremideira.

Tal como eu tinha dito – disparates à parte, entenda-se – o Benfica ganha este jogo, e vai ganhar o campeonato, sem saber bem como. Não ganharia o campeonato, perceba-se, sem ganhar um jogo como este. No fim, vão se construir inúmeras teorias e grandes mitologias. Mas eu (que sou como o Jesus e sei tudo) sei porque é que o Benfica vai ser campeão:

Dinâmicas.

A do Benfica e a do Porto.

Voando sobre uma gaiola de cucos

Bem vindos à Cerimónia dos Óscares.

Vou começar pelas três nomeações para a categoria Rebenta a Tripa a Rir da semana pré-dérbi (aviso que só li jornais de relance e na net, por isso é possível que haja candidaturas melhores, mas estou a Leste):

- «João Pereira na lista do Milan».
O grau de inteligência das pessoas vê-se pela qualidade das tretas que lhes impingem. É como a pulseira do equilíbrio. Em relação à saída do João Pereira do Sporting basta-me remeter ao arquivo oracular e está tudo dito. Além disto, em relação ao João Pereira, quero só dizer que eu, se fosse o Jesus, era menino para pôr o Gaitán a dar cuecadas ao rapaz durante vinte minutos, para trás e para a frente, na linha, só para o expulsar. Dizia ao Gaitán: «Quando passares por ele e chegares à grande-área, páras e voltas para trás. Não te preocupes com a baliza. Diverte-te.» Era como limpar o rabinho a bebés, e o Gaitán ainda dava o prémio do jogo à Fundação Benfica para me agradecer.

- «Van Wolfswinkel interessa ao Real Madrid»
Isto faz todo o sentido uma vez que sempre que o Mourinho foi comprar avançados-centro eles eram pretos, africanos e versáteis (McCarthy, Drogba, Etoo, até o emprestado Adebayor – os outros eram os que já lá estavam). O Wolkswagen, uma vez que é branco, holandês e tem um raio de acção de trinta metros, encaixa perfeitamente nesta tipologia de ataque do Mourinho.

- Futre: «Podiam estrear a rede noutro jogo.»
Poder, podiam, mas não era a mesma coisa.
Contra o Porto, por exemplo. Ou contra o Porto. Ou contra o Porto…
Ou contra o Rio Ave, mas aí, em vez de uma rede gigante, podiam usar mesmo uma daquelas gaiolas dos piriquitos, uma vez que são para aí uns cinco adeptos…

*

Agora a sério: hoje vou saltar para o vazio. Não só vou prever o resultado final como vou prever a marcha do marcador.

Ganha o Benfica por 3-2, sem saber bem como, e de aflitos. Começa 1-0 para o Benfica e depois é 1-1, 2-1, 2-2 e 3-2, já perto do fim.

Vão ser barracas defensivas do princípio ao fim. Até vai doer, mas ninguém se vai importar com isso. Vai ser o Benfica-Sporting mais espectacular dos últimos anos.

O árbitro vai ajudar à festa, porque vai ser um jogo demasiado rápido para um estreante em dérbis, e vai acabar por decidir maioritariamente a favor do Benfica nas jogadas importantes.

*

Às 20 horas cá estarei. Só postei isto porque já não me aguento com os nervos. Ainda por cima não pude ir ver o jogo a casa dos meus cunhados, onde o Benfica nunca perdeu um jogo com o Sporting ou com o Porto. Se eu fosse supersticioso consideraria isso uma péssimo augúrio.

Já vejo lacostes até debaixo do sofá.

Pela positiva, noto que esta noite a Religião vai chegar às 6 mil hóstias. 6 mil, 6 milhões, estão a ver…?

Oh meu Deus, isto contra a Bósnia foi muito mais fácil…

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Segunda Bipolar

Para os adeptos do Sporting, os dois jogos com o Benfica são, invariavelmente, os jogos da época. Há os que dizem que não porque percebem que isso é um sinal de menoridade mas, mesmo esses, não conseguem esconder que, lá no fundo, ganhar ao Benfica, e ficar à frente do Benfica, é pelo menos metade da época. Se alguma coisa boa a estadia do Paulo Bento no Sporting teve para o Benfica foi a inocência com que ele admitiu, depois de sair, que, no interior do Sporting, ficou tudo em polvorosa a partir do momento em que, na pré-época, se percebeu que o Benfica podia fazer uma grande temporada. Foi de uma sinceridade desarmante.

O Sporting não é só um clube bipolar no seu comportamento desportivo e na sua estrutura social – também o é territorialmente.
O Sporting é capaz de façanhas desportivas incríveis (ainda que pontuais) ou terríveis. Tem uma elite clara e um povo bem distante dela. E, para se sentir completo, não só precisa de sentir que tudo está bem na margem norte da Segunda Circular como de que tudo esteja pior na margem sul.

Posso estar enganado, mas duvido muito que, para os adeptos benfiquistas, o comportamento dos seus adversários tenha a mesma influência psíquica que o comportamento do Benfica tem no sentido inverso. Por exemplo, não me parece minimamente que os benfiquistas (ou os portistas, por sinal) se sintam minimamente diminuídos, ou até ameaçados, pela recente recuperação pontual do Sporting. Também penso que ganhar ao Porto, para os benfiquistas, tem muito menos importância que para os portistas ganharem ao Benfica (e por isso é que têm ganho tanto). Mas sei que os sportinguistas tremeram com o empate do Benfica em Manchester.

Para saber o que eles pensam, comprei ontem o Record. O Record é a voz da intelligentsia sportinguista. Basta interpretar os textos de opinião e as primeiras páginas para tomar o pulso à nação sportinguista. O Bernardo Ribeiro, sobretudo, leão dos sete costados e muito próximo da estrutura sportinguista (é amigo do Carlos Freitas desde os tempos em que trabalhavam no Jogo e andou a lutar pelo regresso dele a Alvalade desde o ia em que ele se foi embora), é transparente.

A primeira página do Record antes do jogo com o United, por exemplo, é típica. Quando titulam «Benfica pensa em grande» não estão a ser originais. A estratégia do Record é sempre a mesma: encher artificialmente o balão benfiquista, de preferência aproveitando as bacoradas dos próprios responsáveis benfiquistas (como quando JJ disse que o Benfica podia ganhar a Champions do ano passado, por exemplo), para depois, quando o inevitável falhanço aparece, o rebentar com um estrondo suficiente para abalar a moral dos benfiquistas.

Esse era o plano para esta semana. Quando o Jesus apareceu a dizer que ia lá «para ganhar», esfregaram as mãos. Já estavam a ver o filme: o Benfica ia lá de peito feito, trazia dois ou três no cabaz, amochava e dois dias depois jogava no Sporting «com a desilusão de Manchester na bagagem» (como se o jogo com o United significasse, de facto, grande coisa para o apuramento), com os adeptos desconfiados, de cabeça feita e prontos para assobiar ao primeiro falhanço. Os adeptos do Benfica são relativamente fáceis de manipular e não há grandes variações no tipo de cozinhado psicológica feito pelos dois jornais do inimigo ao longo dos anos. É com os jogos, com os reforços, etc. Faz-se a festa, deita-se os foguetes e apanha-se as canas. É tudo tão inventado que, mais um bocadinho, e nem Benfica tinha de haver para se escrever a história toda.

O que não estava no plano era o Benfica não só não perder com o United como jogar como jogou. É que o sportinguista também é fácil de manipular, só que não é pelos jogos mediáticos artificiais. O sportinguista, que desconfia naturalmente do Benfica (já foram enganados muitas vezes e nas situações mais inesperadas), treme quando pressente que o perigo que vem do Benfica, mais do que resultado do fogo-de-artifício dos jornais, é real. Quem não sofre de benfiquite percebe facilmente quais são os pontos fortes e os pontos fracos e o que val realmente o Benfica, e sobretudo os sportinguistas, que vêem os jogos do Benfica quase com tanta atenção como aquela que prestam aos do seu clube.

Antes de Manchester, os sportinguistas estavam ansiosos. Agora estão nervosos. Viram numa equipa do Benfica algo que já não viam há muito tempo: personalidade. E sabem que há lá qualidade e maior maturidade que na sua própria equipa – mesmo com as vitórias sucessivas frente a adversários maioritariamente muito acessíveis .

Tradução da primeira página do Record após o jogo de Manchester:
 - O que saiu: «Benfica foi mesmo grande»;
- O que significa: «Oh diabo! O que foi isto? Espera lá, vamos ter calma. Damos gás mas não muito que a coisa complicou-se. Só o suficiente para depois valorizar o facto do Sporting não perder ou para atenuar uma eventual derrota.»


Há duas leituras diferentes a fazer da abordagem do Sporting ao jogo de sábado.

Em termos institucionais – a paródia dos bilhetes, da gaiola, do jantar, da camisola do Mantorras, do cirurgião Barroso a soltar bitaites, etc – é o Sporting a meter-se em bicos dos pés. Resulta de dois anos humilhantes que provocaram um afastamento muito grande do clube do centro de decisão. O Sporting caiu num papel menor e sente a necessidade, até perante os seus adeptos, de voltar a subir de divisão. Tudo isto é normal, é passageiro e não me parece que vá minar a aproximação política entre os dois clubes – até porque a verdadeira aproximação está e vai continuar a ser dirigida pelo Luís Duque, que, até agora, salvo erro, ainda não disse nada e deixou o Godinho (que precisa de ganhar os adeptos, sobretudo os da Juve Leo, que no dia das eleições o sequestraram no Estádio) chegar-se à frente. Os sportinguistas agradecem esta fantochada da gaiola. Dá-lhes a oportunidade de sentirem que são gente outra vez.
O jogo vai passar e, daqui dois meses, quando for a vez dos Superdragões irem para a gaiola, tudo isto fica atenuado.

Outra, mais importante, é a desportiva. Que fique claro: a contratação de Domingos, mais que por qualquer motivo técnico-filosófico, foi orientada pela necessidade imediata de ganhar ao Benfica. Por vários motivos (pelo passado portista, pelo aparente domínio táctico e psicológico sobre Jesus, pelos bons resultados conseguidos nos últimos anos) o Domingos especializou-se em defrontar o Benfica, nomeadamente o Benfica de Jesus,que joga sempre da mesma maneira. Quando não ganhou esteve perto disso. Com melhores jogadores à disposição, nada mais natural do que continuar a fazer bons resultados.

Duque sabe que ficar à frente do Benfica (ou ganhar-lhe pelo menos uma vez) é indispensável para o Sporting. Só isso lhe dará o tempo suficiente para montar uma equipa campeã em dois ou três anos. Se ele achasse que o Cajuda lhe daria melhores hipóteses de ganhar ao Benfica o Domingos agora estava a treinar o Porto.

Reparem como a abordagem por parte da estrutura desportiva do Sporting tem sido completamente diferente da directiva. Parece que até nem há jogo. Enquanto o Sporting do Godinho está indignado e patrioticamente exaltado, o Sporting do Duque está, como diria o Futre, concentradíssimo.

O Sporting chega ao jogo decisivo da sua época – o jogo que realmente não pode perder – perante uma dúvida fundamental: será que a química de uma equipa nova e com uma semana de trabalho concentrado será suficiente para resistir (num ambiente de pressão que ainda não experimentou, num contexto novo para a grande maioria dos seus jogadores) ao melhor adversário que já teve de enfrentar esta época, sendo que esse adversário tem mais dois anos de experiência competitiva de alto nível em cima e parece, de acordo com a exibição de Manchester, ter atingido um nível de maturidade superior?

Não são sós os sportinguistas que estão na angústia, diga-se de passagem.

Friamente, as perspectivas benfiquistas não são as melhores.
Perdeu o seu jogador fundamental na defesa, sem ter um substituto minimamente à altura.
Enfrentou um jogo de alto nível de exigência, com todos os titulares (os mesmos que vão jogar na Luz, à excepção de Rodrigo e Luisão), a meio da semana, enquanto o adversário fez todos os treinos de preparação sem qualquer sobressalto.
Sente uma obrigação de ganhar que, sendo positiva, torna mais fácil a tarefa de um treinador especializado em sacar-lhe bons resultados com base numa defesa organizada e num jogo de contra-ataque.
Para os mais supersticiosos (que não é o meu caso, não senhor…) não ajuda nada falar-se de que falta um jogo ao Jesus para bater o recorde do Eriksson, ou que nunca perdeu com o Sporting, e etc e tal. Cheira a enguiço.

Não descarto a hipótese de chegar ao fim do jogo convencido a não rejeitar o empate e a pensar nas contas finais do campeonato.

Por outro lado, depois dos empates fora com Porto e Braga, não tenho dúvida de que uma vitória frente ao Sporting – uma vitória de qualquer espécie – significaria que este é, definitivamente o ano do Benfica.

Acho que vai ser um jogo perfeitamente brutal em termos mentais. Estou psicologicamente preparado para ver pelo menos cinco golos, dois dos quais nos últimos vinte e cinco minutos. Vai ser um jogo de sorte, em que marcar primeiro não será decisivo. Quanto ao resto, a fórmula para ganhar um clássico, sem penáltis inventados ou expulsões maradas, é sempre a mesma.

Não podem ficar na cave?

Em relação a meter os adeptos do Sporting numa gaiola, no Estádio da Luz, sou contra. Se estamos a falar dos adeptos de futebol não deviam estar separados dos outros adeptos de futebol, não deviam comprar bilhetes só para um quadrado dentro do estádio, deviam poder ver o jogo de onde quisessem. Não sei que tipo de burocracia é que se devia fazer para que isso fosse possível, mas devia fazer-se.
Se estamos a falar dos adeptos do grunhismo, dos que vão cantar «filhos da puta SLB», dos que praticam o «vamos-rebentar-a-estação-de-servicismo», que jogam golfe indoor, etc, também acho mal que fiquem numa gaiola no Estádio. Deviam era ficar numa gaiola na cave do Estádio.

Possivelmente haverá por aqui pessoal das claques.
Lamento mas não sou dos que dizem mal das claques e depois, quando são apertados, dizem que não, que afinal as claques são óptimas, «mas isto é como em tudo, há os bons e os maus», sendo que os maus são sempre os dos outros clubes.
Eu sou do tempo em que a Juve Leo foi inventada, em que os Diabos Vermelhos eram trinta gatos pingados com uma bandeira grande num cantinho do Estádio da Luz antigo e em que a verdadeira claque não era a dos 2 ou 3 mil mas a dos trinta mil que, sem claques, sabiam muito mais de futebol e percebiam perfeitamente quando era para puxar pela equipa e quando era para estarem calados. Não me deixo impressionar pela conversa do «se não formos nós ninguém abre a boca» porque vivi uma realidade que os que dizem isso, geralmente, não conhecem, porque ainda não eram nascidos. Há muitas pessoas que não abrem a boca porque têm lá os «profissionais» para abrir a boca por eles. Garanto que não é a mesma coisa, e qualquer pessoa que vai ao estádio consegue facilmente perceber isso. Sobretudo, os jogadores percebem isso.

O comportamento dos benfiquistas que estiveram em Manchester foi impressionante. Devo mesmo dizer que foi das manifestações de apoio mais impressionantes que já vi. Tenho a certeza de que grande parte dos que lá estavam era pessoal de claques, e isso prova que pertencer a uma claque não tem de significar ser-se um anormal. Não ouvi insultos ao United, ao Sporting, ao Porto e a ninguém (pode ter havido, mas não ouvi). Não ouvi falar de estragos em lado nenhum. Não vi nenhum isqueiro a voar para dentro do campo. Foi realmente sensacional, às vezes até arrepiante. Em Old Trafford só se ouvia Benfica.

E tudo isto também prova que, dentro de Portugal, pertencer a uma claque é, em parte, querer pertencer a um exército.
É normal num jovem e é saudável. Não tenho nada contra. Não sou a favor das sociedades assépticas. Acho que uma sociedade sem violência é uma sociedade doente ou em vias disso. Se querem andar à porrada, força. A porrada desincha. Alguém que tenha os tomates para isso. Em vez de andarem armados em galarós atrás dos cordões policiais, juntem-se naqueles terrenos à volta do Estádio Nacional, por exemplo, e façam uma batalha. Façam um campeonato. Espero que o Benfica ganhe. Aproveitem e partam meia dúzia de Milleniuns e de Pingos Doces. O povo agradece. Sobretudo se matarem os tipos que cantam nos anúncios do Pingo Doce. Mas não me estraguem a merda do jogo, porque é uma das coisas boas em viver neste cabrão deste país de bandidos.

Bom, queria só meter aqui a piadola da gaiola na cave e falar do Sporting-Benfica e não só já me fartei de perder tempo precioso como arranjei maneira de deixar dois órfãos no mundo.

Bela trampa de post em vésperas de superdérbi. Lamento. Mas também não vai para o lixo. Vou tentar meter outro, se conseguir, ainda hoje.


URBI ET ORBI – Para os que quiserem enganar os nervos no sábado à noite, vinte minutos antes do jogo começo um feed ao vivo, como experimentei no Bósnia-Portugal. E aberto a comentários minuto a minuto, obviamente. Como diria o Marco do Big Brother, vai ser uma ganda «órgia».

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Deixem-no trabalhar...

Aquilo por que o Benfica vai jogar frente ao Otelul é, simplesmente, pela possibilidade de, nos oitavos-de-final, apanhar o Lille, o Dortmund ou o Ajax, que lhe dão, pelo menos, 50 por cento de hipóteses de passar aos quartos-de-final. Desportivamente não há grandes diferenças entre chegar aos quartos-de-final da Champions League e chegar à final da Liga Europa. Não chego ao ponto de dizer é o mesmo que ganhar a Liga Europa – é verdade que 14 das 16 melhores equipas da Europa, pelo menos (se calhar 16 em 16…), estão na Champions, mas ganhar uma competição europeia implica muito mais pressão e mais prestígio que passar uma eliminatória, mesmo que seja de uma competição superior. Agora, chegar a uma meia-final da Champions, isso sim, fica muito pouco ou nada a dever a ganhar a uma Liga Europa.


O grande benefício desportivo que passar aos quartos-de-final da Champions pode ter, na minha opinião, nem é esse: é a possibilidade que fica em aberto de não ter de vender ninguém importante no Verão.
A verdade é que nenhum clube português pode deixar de vender alguém no Verão, a menos que vá longe na Champions. Sem o dinheiro da Champions (e se calhar mesmo com ele…) o Benfica vai vender Javi Garcia, Rodrigo ou Gaitán.

(Já não digo o Cardozo, porque, infelizmente, deixei de acreditar… Seria demasiado perfeito. Coisas dessas não acontecem no mundo real.)

Com dinheiro extra, abre-se a possibilidade de, no caso do jogador não querer sair (se quiser sair, sai mesmo), manter a equipa intocada. Numa equipa em crescimento e com uma identidade a ser formada, num conjunto de jogadores que começa a ganhar tarimba europeia, isso vale mais que contratar reforços.


O Porto vai apurar-se, mas já dificilmente será primeiro. Basta o APOEL não perder em casa com o Shaktar. Isso significa que tem como prováveis adversários possíveis:
Intocáveis - Real Madrid, Bayern Munique, Barcelona;
Mais acessíveis (mas favoritos) – Inter, Arsenal.
Igual para igual - Leverkusen
Seja qual for, vai exigir ao Porto o máximo do seu jogo.

Se for à Liga Europa, é pior. Os jogos são muito mais fáceis, mas vão ser em muito maior quantidade.
As equipas mais fortes da Liga Europa são (tremam, portistas) o Tottenham, o PSV Eindhoven, o PSG, o Atlético de Madrid, o Schalke, a Lazio e o Sporting. Eu diria que, se ficar em terceiro no grupo, há uma impossibilidade prática de o Porto não chegar, pelo menos, às meias-finais da Liga Europa, senão mesmo à final. Vai andar a fazer dois jogos por semana praticamente até Maio. Por mais acessíveis que sejam, é preciso jogar com onze jogadores e é preciso correr.

Para já tem um jogo decisivo em casa. Veremos no fim da época se este balão de oxigénio é bom ou mau para o Porto. Por mim, tendo em conta aquilo que já disse anteontem, estou muito satisfeito por o Grande Timoneiro ter ganho (espero) vida até ao final da época.
Num assunto relacionado, esperamos ansiosamente pela entrevista de Pinto da Costa em que ele vai dizer que a equipa conseguiu desmontar a pressão colocada sobre o treinador pela imprensa de Lisboa. Deve ser ainda hoje, a seguir ao jogo. Provavelmente acompanhada por uma fina ironia de qualquer sorte.

Também foi bonito ver o Grande Timoneiro a agarrar-se aos jogadores, no fim do jogo, como se tivessem acabado de o tirar da prisão. É a isto que se chama um verdadeiro condutor de homens.

Quanto aos jogos desta jornada europeia:

Benfica (IRPR=0.561)
Terceira melhor prestação da época para o Benfica, a seguir ao empate no Dragão e ao empate na Holanda, frente ao Twente.
Recordo que o único critério aqui é a pressão, não é o prestígio do resultado. Assim se explica que um empate com o Twente valha mais que um empate com o Manchester United. O jogo com o Twente representou uma pressão maior para o Benfica. Era um jogo mais decisivo, noutra altura da época, que o Benfica começou a perder, e em que se jogava o apuramento para a Champions. Em Manchester o Benfica jogou sem lesões no melhor onze, só precisava de não perder por muitos, marcou logo a abrir, e o próprio Manchester United não estava encostado à parede. A maior pressão veio, de facto, da própria qualidade do adversário, do ambiente do jogo, da lesão de Luisão e do primeiro golo do adversário, claramente irregular.

Porto (IRPR=0.405 )
A pressão sobre o Porto desceu consideravelmente a partir do momento em que um empate colocava o apuramento à distância de uma vitória por dois golos frente ao Zenit, em casa, na última jornada. Nada de impossível, para não dizer perfeitamente acessível.

O Shaktar joga muito pouco, mas neste índice tento fugir a essa subjectividade. Olho para os resultados. Desse ponto de vista, o Shaktar é claramente a equipa mais fraca do grupo, mas precisava desesperadamente da vitória para não ser eliminado. O seu estádio é obviamente complicado, como o demonstram os resultados, e o frio também.
O Porto teve a sorte do jogo. Levou duas bolas ao poste e acabou por marcar primeiro.
Dito isto, foi a segunda melhor prestação do Porto este ano. Curiosamente, a melhor foi também contra o Shaktar, em casa (0.438).

terça-feira, 22 de novembro de 2011

«Por favor, não matem o TOC!»

Probabilidades do Benfica acabar a época com nenhuma derrota: 0 %.
Probabilidades de uma derrota com o Manchester United comprometer minimamente a época do Benfica: 1 %.
Boas razões para eu não me importar minimamente com uma derrota do Benfica, hoje, em Manchester (desde que não tragamos um cabaz no avião…): 99.

Apesar disso, não joga o Rooney.
Ainda assim, prefiro mais ser do Otelul Galati desde pequenino que acreditar muito num bom resultado do Benfica em Inglaterra. Era giro, mas não é que seja preciso. É melhor guardar a primeira vitória em Manchester para outras núpcias.

*

Os terroristas ameaçam rebentar qualquer coisa em Donetsk. Se alguém tiver aí por perto um ucraniano das obras com contactos à rede terrorista, peçam-lhe para ligar para lá e ele que lhes transmita esta mensagem:
«Por amor de Deus, o tipo baixinho com pulôver azul à Técnico Oficial de Contas e nariz comprido não é para matar. Repito: não é para matar!

Alvos preferenciais:
- ser mutante disfarçado de jogador de futebol. Fácil de reconhecer, apesar de já não ter o cabelo oxigenado: é o que manda nos outros e no TOC.
- velho bem vestido com olhos de carneiro mal morto. Pode acontecer que se desenvolva  um cheiro pútrido à sua volta. Leva a filha, brasileira. Também é fácil de reconhecer. É o que atrai as moscas mesmo com 15 graus abaixo de zero.

*

Ao intervalo cá estarei.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Eterno

O futebol é uma promessa. Por isso é que o adoramos. Estamos, constantemente, à espera de um momento especial. Podemos passar anos, décadas, vidas, à espera de alguns segundos maiores que o mundo. Mas esperamos, porque sabemos que o futebol nos dá milagres – e vale a pena esperar uma vida inteira por um milagre.
O meu filho chama-se Gustavo, e tem quase a mesma idade do filho do Carlos Martins. Prefiro não falar muito disto. O que o futebol me deu este fim-de-semana foi único. Eterno.

O momento foi teu, ninguém to poderia tirar – e agora que venha também o teu milagre, Carlos.


domingo, 20 de novembro de 2011

Crónica de uma morte anunciada

Na prática, um dos dois troféus que salvam uma época – o outro é o do campeonato nacional – ficou reduzido a uma luta entre Benfica e Sporting, e terá uma equipa de Lisboa na final de certeza absoluta.
A Supertaça é um troféu de pré-época, por mais que os portistas queiram fazer dele um troféu a sério para o poderem contabilizar com os outros que são, de facto, a sério, e só tem alguma relevância quando o jogam dois dos três grandes, o que é para aí metade das vezes.
 A Taça da Liga, apesar de ser, de facto, a competição potencialmente mais competitiva a seguir  ao campeonato, uma vez que entram nela todas as equipas mais fortes e só as equipas mais fortes, ainda não tem estrada nem histórias suficientes para ser levada a sério.
Além disso, uma joga-se um ano antes de acabar a época e a outra dois meses antes. Em Maio já ninguém se lembra a não ser os treinadores e os dirigentes que se agarram a elas como a uma bóia do Titanic.

Já a Taça de Portugal, que se resume a dois, no máximo três jogos realmente difíceis, e que só ganha alguma complexidade precisamente porque Benfica, Porto e Sporting só começam a pensar nela depois de terem o campeonato perdido, pode perfeitamente salvar uma época. É o último jogo da temporada e qualquer equipa que acabe vinte pontos atrás do campeão pode, com uma festa de 30 mil pessoas no Jamor (a última imagem é a sempre a que fica), fazer de conta que a coisa até correu bem. Só diz que a Taça não salva a época quem é eliminado prematuramente. Benfiquistas, portistas e sportinguistas têm todos muita experiência nesse tipo de negação.

Isto é importante porque não é de todo improvável que o Porto tenha perdido, em Coimbra, a possibilidade de fazer uma época apenas sofrível em vez de uma época completamente ruinosa.
Há muita época para o Porto e é altamente provável (não é difícil, aliás) que o melhor Porto da temporada esteja para vir. Não é o mesmo Porto do ano passado. Esse morreu e está enterrado.

(Aliás, quando o Rui Moreira, tentando dizer uma gracinha à Winston Churchill, escreveu na Bola que «as notícias sobre a morte do Porto foram grandemente exageradas», depois de um daqueles triunfos de que agora já ninguém se lembra, há umas semanas, não estava exactamente a pensar bem: de facto, se o Porto não morreu, felizmente, a morte «daquele» Porto está hoje confirmada, com certidão de óbito e tudo.
Diga-se que quanto mais tarde os portistas se convencerem de que o cadáver está no caixão e já não ressuscita mais caro pagarão, porque a negação sai sempre cara.
Não me refiro, sequer, a mudar de treinador. Refiro-me a entenderem que o que viveram na última época é muito mais do que aquilo que a realidade está preparada para comportar. A parte sádica da coisa é que não só essa descida à Terra dificilmente acontecerá este ano como será sempre lenta e dolorosa. Acho mesmo que enquanto não doer a sério não vão acreditar que o sonho já acabou.)
Voltando ao ponto, quando o Porto mudar de treinador e desanuviar o ambiente os jogadores vão subir de rendimento. Sem jogarem o mesmo que o ano passado, voltarão a ser a equipa mais forte do campeonato. Faltar-lhes-á, eventualmente, a consistência e a sorte da época anterior. Não vão chegar invictos ao fim, e vão perder mais pontos.
Racionalmente, e apesar de eu continuar a achar que o Benfica será campeão, o Porto não deixou de ser o candidato mais provável a ganhar o campeonato. Basta ver nas bolsas de apostas. Os tipos que fazem as probabilidades têm sistemas, são isentos, não querem saber dos clubes para nada, e continuam a pôr o Porto à frente.

Da mesma forma, a eliminação da Champions, desportivamente, é favorável ao Porto. Na Champions, o Porto não vai a lado nenhum. Joga mais dois jogos e é eliminado.
Na Liga Europa arrisca-se a ir pelo menos às meias-finais, o que animicamente é muito diferente. O Porto ainda tem boas vitórias pela frente este ano e vai mitigar a primeira metade da época.
Pode é muito bem acontecer que, no fim dessa mesma época, a derrota com a Académica, que lhe roubou a oportunidade de poder voltar a ganhar jogos decisivos a Benfica ou Sporting lá mais para a frente, se venha a revelar muito cara.

Para encerrar este assunto, a razão por que considero que o Porto da época passada morreu, e ao mesmo tempo por que não é possível que seja com Vítor Pereira que vai mudar alguma coisa. O Porto teve duas excelentes oportunidades, no que já houve de época, de regressar à normalidade.
A primeira foi no terceiro ciclo competitivo, quando teve cinco jogos para ganhar avanço sobre o Benfica no campeonato, decidir o apuramento da Champions e subir para um novo patamar anímico. Falhou em toda a linha – e recordo perfeitamente o que escrevi depois dos 5-0 ao Nacional da Madeira.
A segunda foi precisamente agora: depois de uma derrota traumática em Nicósia, duas semanas de paragem das provas nacionais, tempo para parar, reflectir, reagrupar e voltar a dar as cartas. Uma pausa providencial. E o que é que o Porto nos traz depois disto? A pior exibição dos últimos anos, num jogo a eliminar.
Isto já não é sintoma, é mesmo doença. E tem muito menos a ver com o treinador do que se pensa. Duvido que algum treinador conseguisse inverter o verdadeiro problema do Porto este ano: a lei da gravidade.

Sporting (IRPR=0.285)
O Sporting teve a sorte toda do jogo – desde os golos que marcou, na altura em que os marcou, aos que não sofreu, na altura em que os não sofreu.
Foi o quinto melhor desempenho da época, para o Sporting, em 18 jogos, mas há poucas dúvidas de que o resultado engana. A defesa do Sporting, sem Rodríguez (ouvi dizer que o Rodríguez tem o joelho tão estragado que só pode fazer um treino por semana) e, sobretudo, com João Pereira, vacila por todos os lados, e o Braga, a jogar em Alvalade, nunca foi a pior equipa sobre o campo.
A verdade é que o Sporting mostrou alguma coisa, não jogou mal longe disso) mas não mostrou nada de especial. Ainda assim, conseguiu, de longe, o melhor resultado dos três.

Benfica (IRPR=0.280)
É sempre fácil dizer que ganhar à Naval não vale nada, e de facto a Naval não joga um caracol, mas a vitória do Benfica vale mais do que o preço que tinha à partida. Jogar num relvado que, logo à partida, rouba grande parte da supremacia técnica à melhor equipa, e chegar empatado aos 80 minutos em condições perfeitamente imprevisíveis, num jogo a eliminar e que pode ir a penáltis, torna-se, obrigatoriamente, um teste de pressão. Não um teste de alta pressão, obviamente, mas de alguma pressão. Segundo o IRPR, este triunfo frente à Naval representou uma resposta melhor que, por exemplo, cinco dos dez jogos que o Benfica já jogou no campeonato.

Porto (IRPR=0.000)
Mais palavras para quê?


Só mais uma coisa.

O que é... ISTO?!

sábado, 19 de novembro de 2011

O processo

Não me admirará que, nas próximas semanas – sobretudo se o Porto for eliminado na Liga dos Campeões – o braço armado da Direcção do Porto venha a assumir um comportamento, relativamente a Vítor Pereira, semelhante ao que teve com Co Adriaanse.

Não digo isto por saber o que pensa a claque sobre o Vítor Pereira – deve pensar muito bem, certamente… – mas porque sei como funciona Pinto da Costa.

Neste momento, para fazer o que sabe que devia fazer, Pinto da Costa precisa de um bom pretexto. A única forma de despedir Vítor Pereira sem dar parte de fraco, sem ser obrigado a reconhecer o erro e sem destruir o mito (falso) de que «o Porto não despede treinadores por causa de resultados», é se a claque (supostamente) tornar a vida do treinador tão difícil que, «para o próprio bem dele», Vítor Pereira ache melhor sair.

Como é que a coisa de processa? É assim: a claque, com o beneplácito papal, começa a atazanar, seriamente, a vida do treinador; as notícias dos problemas do treinador com a claque saem nos jornais e ganham, graças aos agentes da máquina oficiosa de propaganda, um dramatismo que, na verdade, não têm; Pinto da Costa transmite publicamente a sua total confiança no treinador, e dessa forma ganha mais algum tempo; se o Porto for eliminado da Champions, é o próprio treinador quem apresenta a demissão, dizendo que «se os jogadores são praticamente os mesmos, se os dirigentes são os mesmos, se a estrutura é a mesma» então o problema deve ser ele, e que, como portista de coração, sente que não pode ser um problema.

Pinto da Costa aceita a demissão (sem indemnizações, obviamente, mas com outras compensações obscuras, como é timbre da casa) e, nas férias do Natal, contrata outro treinador – provavelmente um português, provavelmente Pedro Emanuel, talvez Jorge Costa, alguém da alma portista, para tentar salvar a nova época que começa em Janeiro e tendo o campeonato, apenas, para apostar tudo. Depois, no Verão, com o tempo que não teve no defeso que passou, vai buscar um treinador mais a sério (Jardim? Ou um estrangeiro, para matar traumas?). Será que Villas-Boas ainda regressa à casa de partida durante o Verão? Não se surpeendam se isso já estiver a ser pensado. Seria uma boa explicação para o Dragão de Ouro, e o Abramovich já percebeu, por esta hora, que havia uma razão para um ser o treinador e o outro o adjunto.

É claro que é Pinto da Costa quem convence o Grande Timoneiro a demitir-se com promessas de ajudas futuras na carreira, «porque és um dos nossos, Vítor, e foste mais de 50 por cento do sucesso da época passada».

O maior problema do Porto é se ganha mesmo em Donetsk e se se apura para a fase seguinte da Champions.

Sim, é claro que uma vitória em Donetsk podia ser um momento de reviravolta na época. Mas a dinâmica que o Porto leva, neste momento, é de uma morbidez que se pode considerar irreversível. Ganha dois ou três jogos sem convencer e perde outro, miseravelmente. Não consegue arrancar, mesmo quando ganha (mesmo quando ganha por cinco!), e quando perde parece muito mais próximo da verdade, em termos exibicionais.

É preciso dizer que o despedimento de Vítor Pereira será mais do que justo. Em cinco meses o Grande Timoneiro conseguiu destruir completamente a defesa da equipa e banalizar o seu meio-campo, perdido entre os seus sonhos de perfeição da «pressão alta» e a mediocridade de um Moutinho a jogar metade do que jogava na época passada. Quanto ao ataque, não teve de fazer nada, a Direcção tratou disso ao não saber vender Falcão a horas e ao fazer de Hulk o primeiro jogador a estar acima da equipa em vinte anos graças ao seu suposto anti-benfiquismo.

É evidente que o Porto vai ganhar mais jogos do que os que vai perder até ao fim do ano. Até pode ser campeão – afinal, só tem perdido fora do campeonato. Não sabemos. Mas há uma coisa que sabemos: esta semana não vai chegar aparecer nos treinos, como é da praxe. O Papa vai ter de andar de avião e dar a cara em Donetsk. Porque, se não for, é mesmo porque está a ficar velho.

Mora lá!

A minha mulher subornou-me para ir ver o filme dos vampiros e, como tal, não vi o Naval-Benfica de ontem, mas hoje, no café, estava a repetir e consegui ver meia-hora – o que, presumindo pelo estado do terreno, deve equivaler a ver o jogo todo, uma vez que deve ter sido sempre assim – e guardei duas notas.

1 – A primeira, e mais importante: se não aparecer algum Mestre da Psique a dizer ao Nélson Oliveira para jogar futebol em vez de passar o jogo a pensar em maneiras de sacar penáltis e faltas que não existem a meio-campo vai-se, pura e simplesmente, perder um jogador talentoso, que por mais prémios que ganhe enquanto júnior vai passar a maior parte da sua carreira a atirar-se para o chão a jogar por um APOEL qualquer – e daí para o banco, obviamente.

Já tinha visto isto no Mundial de sub-20, e penso até que já o tinha escrito, e não há melhoras visíveis. Está certo que não teve muitos jogos para levar nas orelhas, mas enquanto o Jesus não perceber que não vale a pena nenhuma inculcar compêndios tácticos a um jogador que se preocupa menos em meter a bola na baliza que em inventar faltas o Nélson Oliveira não vai a lado nenhum. É que depois, obviamente, nos poucos momentos em que tem o espaço necessário para aplicar a sua qualidade técnica, está desconcentrado em relação à bola e falha. É sempre por pouco que ele falha, se repararem. Pura falta de concentração.


2 – Nos poucos minutos em que tinha visto jogar o Rodrigo Mora esta época fiquei com ele atrás da orelha, e hoje confirmei: gosto muito do Rodrigo Mora. Mesmo muito. E quando vejo o Mora, vindo do nada, a dar uma entrevista ao jornal do Benfica a dizer que está «preparado» percebo que a equipa técnica já confirmou a toda a gente lá dentro que vai lancá-lo às feras, e que a equipa de comunicação está a fazer o seu trabalho.

Gosto muito mais do Mora do que do Jara – aliás, nunca gostei do Jara, e duvido que alguma vez ele volte a jogar pelo Benfica. Falo do Jara porque, durante uma época, andámos a apanhar com o Jara como um projecto de Lisandro López. Eu próprio alimentei essa hipótese, não o nego, mas, no fundo, duvidei sempre que o Jara conseguisse dar o salto qualitativo para o nível do Lisandro. Porquê? Porque, sendo muto forte fisicamente, é um jogador burro a jogar à bola e tecnicamente fraco. Mas sobretudo pela primeira razão. Ao contrário do Lisandro, Jara nunca estava a par do jogo, ficava sempre com a bola por um momento a mais, ou largava-a  antes do tempo. Não sabe jogar em equipa. Só vê baliza. Talvez tenha alguma hipótese de singrar se jogar como ponta-de-lança de área, mas como segundo avançado, a mexer muito na bola, trama completamente a equipa.

Pelo contrário, o Mora tem muito mais de Lisandro que Jara. Tecnicamente é incomparavelmente superior. Joga de forma colectiva, entende perfeitamente o momento e o ritmo do jogo e da equipa. Sabe onde estão os espaços. Remata bem. Tem uma mobilidade muito grande. É um futebolista de corpo e mente, e não nos esqueçamos do que suportou para chegar ao Benfica. Passou seis meses a jogar nas reservas para não voltar com a palavra atrás. Podia perfeitamente ter seguido por outro caminho, e não seguiu. Isso tem uma palavra: carácter.

O Benfica tem em Mora um grande jogador à espera de uma oportunidade real. Não sei se pode jogar na Champions, mas eu lançava-o já em Old Trafford.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SuperMaxi, pato e coelho

A primeira página de hoje do Record é um prelúdio para o que aí vem, quer na semana anterior ao jogo com o Sporting quer no mês de Janeiro. Quem ainda não acredita que a melhor solução para acabar com esta questão do Maxi Pereira é esta, é melhor começar a acreditar. Não é totalmente descabida a hipótese de o Benfica perder o campeonato por causa de um lateral-direito mediano e de um empresário que está a trabalhar para o inimigo.

*

O Jesus fez um anúncio muito importante: na Taça e em Old Trafford (!!!) vai jogar meia equipa suplente. Por um lado, estou completamente de acordo. É para isso que há mais de 20 jogadores num plantel. Por outro (e acho que, na altura, não cheguei a postar isto), só por curiosidade:

Critério de desempate na Liga dos Campeões para empate de três equipas:

1 – Pontos nos jogos entre as equipas empatadas;
2 – Diferença de golos nesses jogos;
3 – Mais golos marcados nesses jogos;
4 – Mais golos marcados fora nesses jogos;
5 – Repetir o procedimento se continuar a haver duas equipas empatadas;
6 – Diferença de golos em todos os jogos;
7 – Mais golos marcados;
8 – Coeficiente da UEFA.

Actualmente, nos jogos entre Benfica, Basileia e United:
Benfica – 5 pontos, 4-2 em golos, 2 golos fora
Basileia – 2 pontos, 4-6 em golos, 4 golos fora
United – 2 pontos, 4-4 em golos, 1 golo fora

Se o Benfica perder por 2 em Manchester o Basileia tem de ganhar por 2 ao United para ser apurado. Menos do que isso e fica com uma diferença de golos negativa em relação ao Benfica, e só é apurado se, na última jornada, fizer mais pontos com o Manchester do que o Benfica com o Otelul.

Então o empate com o Basileia, em casa, para o Benfica, não é um resultado aceitável? Se é pela azia de não ganhar em casa a uma equipa inferior, tudo bem. Mas acontece aos melhores, caraças. Até o Unáite só não perdeu por uma unha negra.
Agora, se é por causa do apuramento, não me lixem. Se ter de ganhar em casa aos romenos do Otelul Galati para se ser apurado para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões não é um bom cenário é porque devemos estar a falar de andebol.

Sim, pode acontecer o Basileia ganhar ao Otelul, fora, e ao United, em casa, e acabar em vantagem de golos nos jogos directos entre os três. Mas, para mim, tudo o que não seja levar 3-0 em Manchester, para o Benfica, é pato.

*

Preocupa-me a questão Saviola. Não acredito que Saviola seja dispensável se o Benfica quer chegar a Abril em condições de discutir o campeonato. Sei que é caro. Mas já não me lembro do último campeonato que tenha saído barato a seja quem for. Se um campeonato fosse para ser barato o Feirense podia ser campeão. Não é suposto. Aliás (apesar de isto fazer muita confusão aos economistas) o dinheiro, no futebol, só serve mesmo para ganhar campeonatos. É um valor secundário. Por isso é que não me lembro do último economista que tenha sido um bom dirigente desportivo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Paulo o que é de Paulo

O Paulo Bento estava maluco. Nunca o vi assim no Sporting. Gosto. Será sempre uma grande injustiça  não recordar que Paulo Bento pegou na Selecção com o apuramento quase perdido, dizimada pelos egos dos Queiroses, dos Laurentinos de merda que consomem este país, dos Amândios, dos Madaíles, dessa corja toda que nasceu debaixo de uma pedra. Antes de ele entrar o Madail foi a Madrid à procura do messias. Paulo Bento entrou e, sozinho, com o seu carácter, deu a volta a uma situação que todos, incluindo os jogadores, pareciam satisfeitos em dar por perdida. Não foi em fados. Teve sorte mas teve, sobretudo, tomates. Venham Bosingwas, venham Carvalhos, quando a História ditar a sua sentença, mas que ninguém esqueça que, entre todos os seleccionadores que apuraram uma equipa portuguesa para uma fase final de um Europeu, Paulo Bento foi o que teve a missão mais difícil.

*

O golo do Nani é uma coisa do outro mundo. E Portugal jogou, de facto, muito bem. Incrível é como quase se assistiu a mais outro fenómeno inexplicável. Os bósnios foram duas vezes à baliza e marcaram dois golos, um deles num penálti que não existe. Há sempre a tendência para ser picuinhas sobre isto ou aquilo – e este facilitou, e aquele não foi à bola, e tal. Não quer dizer que não seja verdade, mas o mais estranho deste jogo não foi Portugal ter marcado 6 golos, foi a Bósnia ter conseguido marcar dois.

*

Não vamos eliminar já Portugal na primeira fase do Europeu. Não sabendo quem nos vai cair em sorte, sei uma coisa: apesar de alguns pontos fracos evidentes (ter um Patricio, um João Pereira, um Postiga no onze não seria, em princípio, compatível com fazer uma equipa capaz de ir longe no Europeu), a Selecção tem alguns pontos muito fortes. Os centrais e os dois extremos são de primeiro nível mundial, e praticamente todos os jogadores estão na idade competitiva ideal. Numa fase final o que importa, sobretudo, é a capacidade de jogar em equipa, a eficácia e a forma física em que se chega.

Não me surprenderia que Paulo Bento conseguisse formar um espírito colectivo ao nível do que Scolari conseguiu.

*

Não estava à espera de uma resposta tão convicta por parte do público. Tinha a ideia de que as pessoas estavam numa fase de grande afastamento, também por causa do clima de depressão generalizada que se está a instalar em Portugal por causa da economia. Pelo contrário, senti uma faísca pela Selecção que me surpreendeu. Muito bom. Muito bom.

*

Não sei o que seria mais desrespeitoso para os bósnios: fazer o que se fez, sobretudo em relação ao hino, ou ser paternalista e adoptar uma atitude de superioridade.

Se eu assobiasse o hino da Inglaterra, por exemplo, e fosse jogar lá uma semana depois, ficaria ofendido se eles não me respondessem na mesma moeda. Seria quase como dizerem-me: «Coitado, é pobrezinho, é tolo, são um país de ignorantes que não sabem o que fazem. Não vamos assobiar o hino deles.»

Os bósnios, que têm um país novo e um justo orgulho em tê-lo, merecem ser tratados como gente civilizada, igual aos outros. Ao assobiarem o hino português em Zebenrendca fizeram uma escolha cívica. Em Portugal receberam o troco. Não é bonito (pessoalmente choca-me um bocado estas coisas), mas, a frio, não me parece nada injusto. Porque é que os devíamos tratar como retardados? Não o são. Sabem o que fazem. E se não sabiam acabaram de perceber que não podem fazer o que lhes apetece só porque têm um país recente.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Os números falam connosco

É possível que a maioria de vós já conheça esta notícia, que é antiga, mas eu dei com ela há umas semanas e interessou-me bastante, porque os números passam por cima da propaganda e permitem-nos quer compreender quer antecipar realidades.

Quero realçar os seguintes:

Competições europeias: Porto, 2.6 milhões, Benfica 10.3 milhões.
Isto foi feito no ano em que o Porto não teve Liga dos Campeões. E permite-nos antever as consequências catastróficas que terá (não digo teria, digo, terá), um dia, na gestão portista, a ausência da Champions durante dois anos seguidos. Já aqui há uns tempos eu disse (se não foi aqui que o escrevi foi noutro sítio qualquer) que o declínio do Porto ficaria marcado no momento em que passasse duas épocas sem jogar a Champions, e também por causa deste outro número:

Transferências de jogadores: Porto, 30.8 milhões, Benfica, 16.1 milhões, Sporting, 18.8 milhões.
O Porto só consegue especular com os passes dos jogadores, e inflacioná-los, por duas razões: porque os tem na montra da Champions, que os valoriza pelo simples efeito mediático da competição; e porque pode dar-se ao luxo de esperar pela melhor altura, tendo a almofada financeira da Champions nas costas. Sem os 10 milhões garantidos, por época, da Champions, o Porto perde o seu trunfo negocial. Quem quiser comprar os seus jogadores sabe que o Porto, que é sobredependente das transferências, não está em condições de fazer o seu bluff. Por exemplo, se o Porto não se tivesse apurado para a Champions deste ano seria garantidíssimo que Falcão não seria vendido pelo dinheiro que foi. A necessidade do negócio, juntada à vontade do jogador em jogar a Champions noutro sítio (ou só de ganhar mais dinheiro, como foi o caso de Falcão), retiraria ao Porto toda a vantagem negocial.

Isto para dizer o seguinte, usando apenas estes dois pontos: a famosa gestão portista tem apenas um vector: o vector desportivo. Falhando a vertente desportiva o Porto fica completamente vulnerável. Dois anos de ausência da Champions resultariam, na prática, em perdas da ordem dos 20 milhões de euros por época. Traduzam «euros» para «jogadores» e «jogadores» para «resultados». E esta a importância estratégica do Sporting para o fim do domínio portista. Portugal vai ter duas equipas na Champions durante muitos anos, mas dificilmente terá três durante mais de três ou quatro, e há sempre o perigo real de uma eliminação antes da fase de grupos. Ter um Sporting entre os dois primeiros é fundamental para quebrar o Porto. (Ou o Benfica, visto do ponto de vista do Porto).

Vou cometer um sacrilégio benfiquista: se me puserem a frente um papel em que, nos próximos três anos, o Sporting ganha dois campeonatos e o Benfica um, e o Porto acaba sempre em terceiro, onde é que eu assino?

A vulnerabilidade do Porto é precisamente aquele que é tomado como o seu ponto forte: o rendimento desportivo. É um factor altamente volátil. Tanto pode sair bem como, pela própria conjuntura, sair mal. Chama-se a isto ter os ovos todos no mesmo cesto. Qualquer economista dirá que é o primeiro passo para tudo correr terrivelmente mal.


Outros números.

Para quem diz que o Benfica tem menos sócios pagantes que o Porto:
Quotizações: Porto, 1.9, Benfica, 5.1, Sporting, 2,1.
É só quase o triplo.

Direitos TV: Porto, 4.5 milhões, Benfica, 4,5 milhões.
Estamos a falar num cenário actual, pré- acordo. Por mais que o Pinto da Costa indexe o valor do Porto ao do Benfica, o fosso é considerável. Não vamos falar, sequer, nos referidos 40 milhões do Pais do Amaral. Falemos de 30 milhões que, a longo prazo (fora do contexto de tentativa de afogamento da Sport TV), é mais viável. Mesmo que o Porto conseguisse que alguém lhe pagasse 80 por cento desse valor (será que alguém além do Oliveira o faria, a longo prazo?) estaríamos a falar de menos 6 milhões de euros/ano. 6 milhões/ano é o valor de um Garay, de um Javi Garcia, de um Falcão a mais, todas as épocas do Benfica em relação ao Porto. Projectem isso a cinco anos, com os devidos rendimentos exponenciados pela futura venda.

Acabemos com um último exercício especulativo (especulativo, obviamente – e se é verdade que não estamos a contar com a capacidade do Porto arranjar outras receitas também não estamos a falar, por exemplo, do naming da Luz, ou de outras receitas – os 300 mil sócios? – que Vieira possa inventar entretanto – e ele já mostrou que sabe).

Estamos no ano de 2015, o Porto não foi à Liga dos Campeões, Benfica e Sporting acabaram nos dois primeiros lugares, já há novos acordos televisivos para os três, indexados ao valor do Benfica, que vamos fixar nos 40 milhões.
Total dos proveitos, incluindo vendas de jogadores:
Porto – 75 milhões de euros
Benfica – 101 milhões de euros
Sporting – 77 milhões de euros

Dinheiro é poder. 26 milhões de euros de receitas a mais, por época, é muito dinheiro.

Não seria tanto se se trabalhasse desportivamente mal. No Benfica isso já aconteceu – aliás. Foi por se trabalhar desportivamente mal que o Benfica perdeu toda a sua vantagem. Mas, hoje, já não acontece.
É nestes números que Pinto da Costa pensa quando determina que o sucesso desportivo do Benfica tem de ser evitado a todo o custo.

Há uma jogada que pode salvar o Porto – o Porto não vai acabar, entenda-se, mas estamos a falar do nível competitivo que os portistas hoje tomam por seguro, e que, não o sendo, é a mesma coisa que não valer nada e frustrar expectativas: a eventual criação de uma Liga Europeia. Mas se for feito no âmbito da UEFA, como se prevê, Platini (que vai ficar lá muitos anos) não admitiria que fosse apenas o Porto – um clube que ele despreza – a representar Portugal.

Há uma palavra que é chave no que se vai passar no futebol português dos próximos dez anos: Sporting.

Porque o lado para onde o Sporting cair é o lado para o qual a balança do poder vai desequilibrar.

Talvez os sportinguistas consigam perceber que o ciclo histórico está a mudar, e que é na sua rivalidade desportiva (saudável) com o Benfica, e não com a sua relação mórbida com uma potência decadente, que se encontra o futuro do futebol português.

Penso que Luís Duque já percebeu isso. Não sei se os idiotas que aconselham Godinho Lopes o querem perceber. Mas há um dado importante, a reter: foi em Duque e Freitas que os sócios votaram, de facto, na eleição de Godinho Lopes. Sem Duque do seu lado, Godinho Lopes teria facilmente perdido as eleições para um epifenómeno vale-e-azevedista. A sua base do poder é frágil, e a habilidade, ainda por cima, é escassa.

A entourage do Godinho Lopes faz o possível para não entender isso, e para o esconder, por uma questão de sobrevivência no poder, mas Duque, que é uma fera política, sabe-o perfeitamente, e sabe que, assim que os resultados começarem a aparecer, lhe basta ir esticando a corda, aos poucos, até partir e atirar com o lastro para fora do comboio. Aliás, já o está a fazer. 

Quando tiver de escolher, a velha guarda sportinguista vai escolher ser contra o Benfica. Está-lhes no sangue. Mas Duque vai preferir eliminar o Porto e devolver o poder a Lisboa. Ele sabe que essa é a única forma do Sporting vir a ser o maior clube português, a longo prazo. Sem ter poder real o Sporting não conseguirá, sequer, vir a ser maior que o Porto, e arrisca-se mesmo a ver o Benfica, segundo um processo natural de crescimento, a ficar sozinho com as chaves de casa e a tornar-se hegemónico.