segunda-feira, 29 de abril de 2013

Marítimo-Benfica

Um golo aos 5 minutos a favor de uma equipa que não sabe jogar em vantagem, e em que apenas os defesas sabem defender.

Bola para a frente de qualquer maneira, a dar o jogo todo ao Marítimo, que tem sempre três homens na frente - com um relvado aos buracos, em que a bola está constantemente aos ressaltos, dificultando os cortes de primeira.

Jogadores a darem espaço e pouco concentrados, nitidamente desgastados em termos físicos.

Está-se mesmo a ver o que isto vai dar, não está?

O Benfica, para ganhr este jogo, tem de marcar um golo nos primeiros 15 minutos da segunda parte, esteja o resultado como estiver.

A continuar no intervalo.

sábado, 27 de abril de 2013

A vergonha não é para os parvos?


Só agora, ao ler as declarações do Professor Pardal, percebo que talvez não tenha sido suficientemente claro e objectivo na análise que fiz a seguir ao Benfica-Sporting. Como tal, tenho de me penitenciar, e alterar alguma coisa em relação ao que disse.

Antes de mais, dizer ao Professor Pardal que não são apenas duas pessoas que acham que o Capela ajuizou bem nos penáltis-fantasma na Luz: somos três. O Capela, o observador da arbitragem ao jogo e eu. Com mais um já dá para fazer uma suecada.

(Devo só notar que ainda ninguém se entendeu sobre quantos penáltis é que houve na Luz. Alguns sportinguistas falam em quatro, outros em três, outros em dois, outros em um, o Vítor Pereira fala em três e meio, e a única coisa que sobra disto tudo é que ninguém parece saber o que é que é penálti e o que não é. O que fragiliza, só um bocadinho, os seus argumentos… Mas adiante.)

Depois de salientar que não houve erros graves do Capela na Luz, devo, então, acrescentar alguma coisa em relação ao texto inicial.

É preciso dizer que tenho poucas dúvidas de que quer o Capela quer o observador estivessem controlados pelo Benfica.

Como é que se justifica esta aparente contradição? De uma forma muito simples.

O que seria normal, naquelas situações, seria marcar penálti – pelo menos no do Volkswagen. Não por ser penálti, que não é, mas porque é o que se costuma fazer.

Teria sido normal (errado, mas normal) que o Capela tivesse marcado aquele penálti.

Da mesma forma que teria sido normal ao fiscal-de-linha do jogo com o Nacional marcar fora-de-jogo no primeiro golo do Nacional (lembram-se?). Também foi estranho não marcar, porque, mesmo errando, os fiscais-de-linha marcam sempre aquilo.

Como é normal marcarem falta sobre o guarda-redes sempre que ele se atira para o chão a esbracejar dentro da pequena-área. Foi o que aconteceu, por exemplo, na primeira jornada, quando o Beto simulou uma falta do Cardozo e levou o árbitro a invalidar o terceiro golo do Benfica, que lhe daria a vitória.

Um grande exemplo disto foi o que aconteceu ontem no Estoril, na jogada em que o Braga reclama penálti. A decisão do Bruno Paixão é sensacional. Diria mesmo que foi a melhor decisão, tecnicamente, que vi este ano no campeonato, confirmando que o Paixão, sendo uma pessoa doente – como já aqui disse há uns tempos – pela obsessão compulsiva que tem em estar no centro do Universo, é, em termos técnicos, o melhor árbitro português.

Na repetição por trás da baliza, vê-se claramente o guarda-redes a alterar a trajectória da bola com a perna, ficando demonstrado que a defendeu, apesar do espalhafato do Custódio. Uma grande saída da baliza, uma grande decisão do árbitro e, na Sport TV, o que é que se ouve: a repetição, até à exaustão, que tinha sido um erro. Porquê? Porque teria sido o mais óbvio, porque o que se espera dos árbitros é que marquem aquelas coisas, independentemente do que ajuízam em campo e do que está certo, e porque decidem que é um erro, mesmo não o sendo.

A lógica subsequente, é óbvia: se ele não marca é porque não quer, se não quer é porque está «comprado».

Com o Bruno Paixão, não acredito que esteja comprado. Como já aqui disse, o Paixão não é comprável. Para ele, a possibilidade de, mantendo a incorruptibilidade, continuar a poder provocar as pessoas e chamar as atenções, é impagável.

Do Capela, já não consigo dizer o mesmo. É um árbitro igual aos outros, faz o que se espera dele, subindo, assim, na carreira, mantendo as pazes com o sistema e, por isso, quando «decide» tornar-se muito melhor árbitro do que é, é demasiado estranho.

Para mim, portanto, o Capela entrou em campo decidido a não sair dele sem uma vitória do Benfica.

Dito isto, o que se deve também dizer é que o Vieira está a caminho de se tornar num grande dirigente, de acordo com os critérios portugueses.

Em Portugal, um dirigente que, durante 31 anos, provoque violência, corrompa árbitros, compre jogos, manipule as instituições, a comunicação social e a indústria do futebol; um dirigente que utilize quaisquer meios para atingir os seus fins é, pelo que tenho visto nos últimos anos, o melhor dirigente do mundo, um exemplo para o país e um fiel representante da cultura nacional, arriscando-se mesmo a ser recebido em apoteose na Assembleia da República, a ser condecorado por instituições políticas sustentadas pelo voto e pelos fundos da população, e a colocar-se acima da lei.

A lição que podemos aprender dos comentadores, fazedores de opinião ou simples adeptos iluminados deste país – uma ideia emitida sobretudo a partir desse arquipélago de inteligência e carácter nacional que é a região do Grande Porto – é que a única coisa que realmente interessa é ganhar, e que quem não ganha não é honesto, mas fraco, e como tal merece ser humilhado.

Sendo assim, eu, ao contrário do Pinto da Costa, sinto-me optimista, porque o Benfica ganhou. E se ganhou, de acordo com o pintismo, é porque foi melhor – seja lá no que for.

A única coisa que espero é que continue a ganhar. Porque, se ganhar o suficiente, e durante o tempo suficiente, tudo aquilo que fizer de criminoso será facilmente apagado da opinião pública.

Sim, claro que eu gostaria queos campeonatos em Portugal não fossem ganhos mergulhados em lama, mas, como também já aqui disse, não é possível fugir a ela, porque Pinto da Costa é a lama que não sai deste futebol, e enquanto ele e os seus cordeiros cá andarem não haverá senão lama.

Num dos primeiros posts deste blog escrevi uma coisa que mantenho. Todos gostaríamos de ganhar «limpinho, limpinho», de ver os méritos reconhecidos pelos perdedores, para podermos fazer o mesmo quando perdêssemos. Quando isso não é possível, contudo, quando, entre quem joga, há quem não ligue à maneira como se ganha desde que se ganhe, só há um caminho: perceber as regras do jogo e ganhar com aquilo que nos põem à frente.

Se a alternativa é ver a mafia do Porto a ganhar, a baixar-nos as calças, a montar-nos e a forçar-nos a agradecer, todos os anos, eu prescindo. Prefiro ter os Capelas todos na mão e ver os que perdem a tomar comprimidos para a azia, obrigado. E espero que continue, até mudar o regime. Porque, para mudar o regime, basta que a sua cabeça (Pinto da Costa) comece a perder.

Não se envergonhem. Afinal, as elites deste país demonstram-nos que a vergonha é um conceito a que o bom povo dá demasiada importância. Por isso é que não vai a lado nenhum. Certo?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Estugarda


O pior dia de benfiquismo da minha vida não tem nada a ver com o Porto ou com o Sporting.

O pior dia de benfiquismo da minha vida foi o dia 25 de Maio de 1988, quando o Benfica perdeu a final da Taça dos Campeões Europeus nos penáltis, por 6-5, contra o PSV Eindhoven. Eu tinha 14 anos, acabados de fazer cinco dias antes.

Quando o Veloso passou a bola ao Van Breukelen (o melhor guarda-redes europeu da altura), no sexto penálti, o meu mundo acabou. Tranquei-me na casa-de-banho a chorar, depois de, pela primeira vez,ter dito uma asneira em frente ao meu pai, que, com o espanto, nem sequer teve coragem de me ir chamar. Quando saí daquela casa-de-banho, tinha vontade de espancar alguém. Precisei de vingança. E posso confessar que continuo a sentir essa sede. O Benfica deve-me uma compensação. Já se aproximou algumas vezes dela – poucas, como o 2-0 do César Brito, nas Antas, os 6-3 de Alvalade, ou o título de 2010 – mas nunca abateu realmente a sua dívida.

Naquela altura, a quente, miúdo que eu era, pareceu-me, primeiro, um sonho, e depois um pesadelo. Só depois, com o tempo, percebi que aquilo não devia ter acontecido. Até chegarmos à final parecia mesmo sonho, perfeito. Mas era irreal. O Benfica, mais do que não ter perdido, não devia ter jogado aquela final. Não estava preparado. Não era o momento.

Desde logo, porque as duas melhores equipas europeias desse ano eram o Porto e o Real Madrid. O Porto, então campeão europeu, foi eliminado prematuramente pelo Real, que depois foi eliminado pelo PSV nas meias-finais, enquanto o Benfica eliminava um Steaua muito mais acessível.

Mas, sobretudo, não era o momento do Benfica, que já estava em decadência. Já nada tinha a ver com a grande equipa de Eriksson, a última verdadeira grande equipa do clube até hoje, e o clube estava a cair para a mediocridade, para a baixa exigência e para a vulgarização.

A final de dois anos depois, com o Milan, quase nem chateou, porque a diferença era tão grande que não se esperava nada.

Nesse dia, do jogo com o PSV, percebi a minha bitola como benfiquista. Se, hoje, alguns de vocês acham que eu sou um lunático, que espero demais do meu clube, eu culpo esse dia. Porque foi aí que eu percebi que, para mim, que sou o benfiquista mais doente que conheço, ir a uma final não é nenhum objectivo. O objectivo é ganhar a final.

Nesse dia percebi a diferença entre jogar uma final e ganhar uma final. Entendi a grande distância que vai do sucesso à merda, e, paradoxalmente, como é curto o caminho entre ambos. Posso dizer que foi nesse dia que eu deixei de ser enganado por promessas ocas, conversas de galarós, vendedores de banhas da cobra e procissões de fé por parte dos adeptos.

Quando eu penso no Benfica, vejo um jogo ideal. Nesse jogo ideal, o Benfica joga contra a melhor equipa da Europa (nem sequer é com um PSV), do clube mais forte do Mundo, contra o tempo, o árbitro e as lesões, e ganha porque é mais forte que o adversário e as adversidades.

Quando eu vos digo que para mim, a Champions é para jogar só até aos oitavos-de-final, ou que a Liga Europa não vale o esforço, vocês ficam chateados comigo porque pensam que eu não sou suficientemente benfiquista. Pensam que eu não quero ganhar, que não sou ambicioso. Estão enganados.

Não há nada que eu queira mais, como benfiquista, do que vingar aquela final de Estugarda. Ser campeão europeu. Mas quero sê-lo como deve de ser. É o meu sonho como benfiquista. É ter uma grande equipa, jogar contra uma grande equipa, superar tudo e todos, chegar ao fim com mais um golo marcado e com o orgulho de não haver nada a dizer, de sentir que aquela glória, mesmo que passageira, me dá paz. Talvez seja uma utopia, mas não me interessa. Para mim, o Benfica é essa utopia. E ninguém ma pode tirar. Se ela sobreviveu a 25 anos de frustrações e vergonhas, não é agora que vai morrer.

Quando eu olho para esta equipa do Benfica vejo a de 1987. Uma equipa aceitável, que não envergonha, mas incapaz de ganhar uma final europeia a sério. E quando eu falo em final europeia falo da Taça do Benfica: a dos Campeões.

Esta equipa não está preparada para ganhar. Vão ser precisos anos, de bom trabalho, de lucidez, de dedicação e de sofrimento. Anos.
E fazer uma tripla, nesta altura até poderia ser tão contraproducente como foi o 6-3 em Alvalade: à conta de um bambúrrio, por se convencerem de que valem mais do que realmente valem, dar-se um retrocesso de dez anos.

O resultado na Turquia foi mau porque não marcámos. Tivemos azar com o árbitro e sorte com os postes. Normal. Nestes momentos em que tudo está em jogo, as equipas que jogam em casa são sempre beneficiadas pelos árbitros. O Benfica também vai ser na segunda mão.

O Fenerbahce está muito motivado, e vem à Luz para fazer o jogo das suas vidas. Provavelmente marcará. O resultado de 1-0 será perfeitamente reversível se o Benfica jogar tão motivado na Luz como eles jogaram lá, mas o Benfica terá de entrar mentalizado para marcar pelo menos três golos, o que será difícil – entrar mentalizado para isso, e não marcar os golos, entenda-se. Marcar golos, para esta equipa, é o mais fácil.

O que apurou o Benfica até aqui – os golos fora – desta vez não existem.

Neste momento, o Fenerbahce tem 75 por cento de hipóteses de chegar à final.

Mesmo que passe, o Benfica perderá a final com o Chelsea, pela mesma razão que o Sporting perdeu na Luz: porque, quando a diferença de categoria entre jogadores é tão grande, a equipa inferior tenta marcar e a equipa superior marca, mesmo que pareça que está a jogar menos. Não está a jogar menos. Está é à espera do seu momento.

Se passarmos à final e ganharmos ao Chelsea, com sorte? Tudo bem, seria muito giro, dava para ganhar maturidade, mas para mim significaria pouco. Não vai ser isso que me mata a sede. Porque o mais provável, para o ano, seria voltar a ficar pelos oitavos ou quartos-de-final da Champions, que é o que esta equipa realmente vale. Ou duvidam?

A Liga Europa, a mim, dá-me igual. O jogo do ano é o do Funchal.

Se me pusessem aqui à frente um papel para assinar em que eu tivesse de trocar uma vitória na Madeira por uma vitória sobre o Chelsea na final da Liga Europa, eu escolhia logo a vitória na Madeira.

Porque o Benfica, para voltar a ser realmente grande, tem é de começar por ganhar ao Porto todos os anos, e não ao Chelsea uma vez na vida.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Batei na Madeira, carago!

O Benfica-Sporting de domingo resolveu o principal problema do Porto este ano. Andava desde Janeiro à procura de uma boa mão-cheia de areia para atirar aos olhos das pessoas, e não conseguia. Janeiro é sempre uma altura importante para o Porto, porque é por aí que, regularmente, começa ou a condicionar o sistema de maneira a ganhar  o campeonato ou a preparar o álibi de final da época em caso de (rara) derrota.

Como já aqui disse, nos últimos 30 anos o Porto nunca perdeu um campeonato por culpa própria. Ou foi o árbitro, ou a federação, ou a Liga ou a PIDE.

Este ano, o grande problema é que ainda não havia túneis, nem estádios no Algarve, nem árbitros. O Porto estava, pura e simplesmente, a enterrar-se sozinho. Impensável. A Estrutura, com 100 milhões gastos em jogadores e comissões, estava à beira do maior fracasso desportivo do futebol português nos últimos vinte anos – repito: à beira do maior fracasso desportivo do futebol português dos últimos vinte anos.

O Capela, sozinho (bom, com a ajuda do povo calimérico…) resolveu esse problema. Se o Porto perder este campeonato, vai ser por causa do Capela, que, estupidamente, se inibiu no momento de fazer aquilo que se espera de qualquer árbitro português: que cometa um erro para satisfazer o sistema do politicamente correcto.

Vou repetir isto também, para que não fiquem dúvidas daquilo que alguns considerarão facciosismo mas que eu considero independência crítica: o Capela acertou ao não marcar todos os penáltis-fantasma, mas neste país não é suposto um árbitro acertar, é suposto marcar aquilo que o sistema acha que está na moda.

Também vou dizer isto outra vez, porque este post é o último em que falo de árbitros este ano, aconteça o que acontecer na Madeira e nas Antas: não mudo uma vírgula à minha visão dos lances.

A Sport TV continua a repetir os lances, até convencer toda a gente que tem de ser penálti. O que eu vejo cada vez mais à medida que eles os repetem é o Volkswagen a ir à procura do contacto com o Garay, o Capel a falhar o remate e a embrulhar-se com o Maxi quando já não pode acertar na bola (agora até vermelho já lhe querem mostrar, numa jogada em que o Capel nem sequer tinha ainda tocado na bola, o que mostra bem os verdadeiros sentimentos caliméricos na análise dos sportinguistas ao lance), o Viola a perder o pé de apoio quando vai a arrancar e, na última jogada, a atirar-se para cima do Jardel. Deste quatro, o único lance que me pareceu penálti  à primeira vista foi o do Volkswagen, e na repetição percebi que não era.

Nada disto, contudo, alguma vez será dito nos jornais, primeiro porque todos os Calimeros têm direito à vida, e depois porque não podemos contrariar o Pinto da Costa. Ele é omnipresente e omnipotente. A sua fina ironia consegue matar à distância, como se sabe. É um ser inteligentíssimo e, como tal, a última palavra pertence-lhe por direito.

Eu, que sou benfiquista, devo ser o mais pessimista deste país, porque continuo a dizer que o Benfica tem (agora) 50 por cento de hipóteses de ser campeão, que são as hipóteses que tem de ir ganhar à Madeira.

Mas é compreensível que também Pinto da Costa esteja mais pessimista agora, em relação ao título. Afinal, o campeonato começou de maneira auspiciosa, com o Benfica a empatar em casa com o Braga com um golo anulado ao Cardozo a cinco minutos do fim porque não tocou no guarda-redes.

Continuou ainda melhor, quando a Académica beneficiou de dois penáltis inexistentes para, também ela, empatar com o Benfica. Esses quatro pontos dos oito que o Benfica já perdeu este ano no campeonato eram boas razões para o optimismo de Pinto da Costa.

Tal como a grande defesa do Alex Sandro em Braga, na pequena área, beneficiando do critério largo selectivo do providencial Carlos Xistra.

Ou as vistas largas do Cosme Machado no jogo com o Olhanense, naquela mão no chão do jogador do Olhanense, que deu o penálti que o Jackson atirou para os Superdragões.

Havia boas razões para o optimismo de Pinto da Costa, mas o Capela entregou o campeonato ao Benfica. Alguém tinha de ser.

É preciso dar a volta a isto, e só há uma pessoa que pode pôr o futebol português a funcionar de maneira honesta e profissional: o grande líder, o homem infalível e sem idade.

É preciso fazer de Pinto da Costa presidente da Liga. É um desígnio nacional. Com ele, o futebol português terá estádios cheios, árbitros competentes, uma ética intocável e um futuro imenso. Eu sei do que estou a falar, porque já assisti.

Sim, eu sou do tempo em que o Pinto da Costa foi presidente da Liga, na gloriosa década de 90, em que tudo era possível no futebol português. Nessa altura, tudo estava como devia estar. Era matéria de sonhos.
O Porto ganhou oito campeonatos – os outros dois perdeu-os por causa dos árbitros, obviamente, apesar de haver árbitros de grande categoria, como Martins dos Santos, José Guímaro, Soares Dias, José Silvano, Carlos Calheiros e tantos, tantos outros que, hoje, fariam o Capela corar de humildade.

Bons tempos, em que o advogado Lourenço Pinto podia decidir, sossegadamente, à secretária da presidência do Conselho de Arbitragem da FPF, manipulando relatórios de delegados, que árbitros subiam, que árbitros desciam e quem chegava a internacional.

Tudo era bonito.

E tudo esta ignorante gente vermelha estragou.

Mas nem tudo está perdido. Pode ser que a flash interview casual do grande timoneiro na apresentação dos barcos de turismo do Rio Douro consiga, enfim, abrir os olhos ao árbitro do próximo Marítimo-Benfica, ajudá-lo a decidir em conformidade, e que ainda se vá a tempo de fazer justiça neste campeonato.

Afinal, é a última oportunidade, mas também é a melhor oportunidade.

Calimero desceu à Terra


Nem sequer cá vinha, porque tenho muito que fazer, mas já fiquei em brasa, pelo que cá estou.

Ponto prévio: o Benfica do Jesus joga tanto hoje como jogou sempre – assim, assim.
A bola é barata, a equipa tem poucas soluções colectivas, ataca de forma individualizada, é muito limitada quanto aos fundamentos do jogo e, por causa disso, tem dificuldades a defender. Tem pontos muito fortes – a velocidade no último terço do campo, o porte fisico, a criatividade de alguns jogadores no ataque e a capacidade táctica individual do meio-campo para trás, incluindo o Matic – e tem uma equipa já relativamente madura que lhe permite ganhar muitas vezes a nível interno, sobretudo porque é muito mais cara que todas as outras à excepção daquela que, como equipa, lhe é superior (a do Porto).

Falta-lhe classe para jogar como o Jesus pensa que ela já joga (porque não joga), e não vai a lado nenhum a não ser se contratar cada vez melhores jogadores para o sistema em que joga. Se este Benfica trocar um Cardozo por um Higuaín, por exemplo, se passar dos Limas, dos Maxis, dos Melgarejos, dos Gaitáns, para jogadores um nível acima, melhora. De outra maneira, nunca vai dar mais do que dá agora.

Nada disto é novo, para mim, e se me enervo com esta equipa é porque ela não dá verdadeiras razões para confiarmos nela. Fé, crença, até podemos ter, mas uma confiança à prova de bala, é impossível, e qualquer benfiquista sereno percebe isto. A todo o momento há a sensação de que esta frágil castelo de «notas artísticas» pode vir por aí a baixo, como veio na época passada. Até pode ser já contra o Marítimo.

Dito tudo isto, convém meter as coisas no seu lugar, tal como o Jesus fez, sem espinhas, quando disse que a Académica também foi um jogo difícil para o Benfica, e que o Paços de Ferreira também teve muito a bola a meio-campo quando jogou na Luz (Impagável!).

O Jesualdo Ferreira, que treina uma equipa do Sporting que está a 37 pontos de distância do primeiro lugar (!), teve tempo, entre a boca do túnel e a conferência de imprensa, de passar das dúvidas à certeza de que o Sporting foi roubado em quatro – quatro! – penáltis.

Só não teve dúvidas, em nenhum dos casos, em dizer que o Sporting foi melhor que o Benfica.

Ora bem…

O Sporting, que anda a fazer estágios semanais em Alcochete há mais de três meses – no futebol moderno, quando uma equipa tem seis dias para preparar o próximo jogo, é um verdadeiro estágio –, jogou na Luz contra uma equipa do Benfica:

- que tinha de ganhar e dar espaços na defesa, perante um adversário com jogadores talentosos no contra-ataque;

- com mais dez jogos nas pernas dos seus elementos nucleares, para não falar dos toques e das mazelas que são inevitáveis nesta altura da época (uma equipa já nitidamente na reserva, como se tornou evidente, e que ainda tem o mês das decisões pela frente);

- com uma sucessão de jogos com um nível de exigência anímica permanente que o Sporting já deixou de ter há meses;

- com uma meia-final decisiva, a ser jogada na Turquia, à distância de quatro dias;

- sabendo perfeitamente que jogava perante uma equipa inferior, e que a chave do jogo estava na finalização.

O Sporting, que estava à espera de ser passado a ferro, teve muito mais a bola do que contava. Teve a bola no meio-campo (onde, como apontou o Jesus, não se marcam golos) e, em frente à baliza, os seus jogadores fizeram aquilo que melhor sabem fazer: atiraram-se para o chão.

O miúdo Bruma vai ser mais jogador que qualquer um daqueles artistas de circo. Tem mais futebol que eles todos juntos, incluindo o «matador».

Dos quatro «penáltis» que, segundo o Urso de Carvalho não deixaram os avançados do Sporting rematar, nenhum  - nem um! – o é. Apesar de em todos haver contacto.

No primeiro, o Garay faz o carrinho ao lado do Volfswinkel que, como se vê perfeitamente na repetição por trás da baliza, sai da sua linha e vai à procura do contacto. Se o Volfswinkel tivesse mantido a corrida a direito não teria havido contacto, teria rematado e, provavelmente, sem se desequilibrar com esse contacto, teria marcado golo. Não se decidiu se queria marcar, proteger a bola ou provocar o penálti e não conseguiu nenhum dos três, mas penálti não há nenhum.

No segundo, quando o Maxi toca no Capel já a bola passou, já o Capel percebeu que não vai a lado nenhum e já se atirou à procura do contacto. É uma jogada de ratice, em que o árbitro, e bem, não caiu, porque o contacto que há não tem nada a ver com o falhanço do Capel. A jogada é rápida e os dois jogadores falham a bola.

No terceiro, os dois jogadores estão a agarrar-se, o Viola escorrega quando vai a arrancar, desequilibra-se, e depois tenta aproveitar a confusão para sacar o penálti. Houve vinte jogadas daquelas em que não houve falta, metade delas contra o Sporting. Ali seria falta porquê? Porque era a favor do Sporting? Porque o Calimero desceu à Terra?

No quarto o Viola atirou-se contra o Jardel.

Tivemos hoje mais um episódio da interminável saga calimérica do Sporting, a que não faltou a indispensável esperança no futuro, baseada na talentosa juventude que, na cabeça dos sportinguistas, vai ter todo o tempo e todo o espaço para crescer viçosamente.

Na realidade, o que é que vai acontecer?

O que vai acontecer é que, no fim das próximas duas temporadas, cheias de vitórias morais e de erros colossais de arbitragem, esta gloriosa juventude, que não tem estaleca para dar a volta a plantéis com jogadores superiores em experiência e categoria, vai ter acabado mais dois anos em terceiro ou quarto lugar, vai ser vendida a retalho, primeiro o Bruma, depois o Illori, o Dier e os outros, como antes já foram todos os grandes talentos do Sporting – ao desbarato – e vai ser desfeita para se começar de novo, com a SAD já vendida a um angolano qualquer.

O caminho, para o Sporting, era muito mais o do Duque e do Freitas que esta pseudo-solução de meter os juniores a fazer de seniores. A solução é ganhar, e só se ganha com jogadores experientes. Não é só com tempo, como sugeriu o Jesualdo. Os jogadores jovens, a entrarem, só podem ser um ou dois em onze, e tem de ser aos poucos, como o Jesus faz. Essa é que é a realidade em qualquer grande equipa europeia. Se o talento jovem fosse suficiente para vencer jogos os Real Madrid, Manchester United, Bayern e outros não andavam a comprar experiência e carácter, compravam uma mão-cheia dos melhores putos do mundo e punham-nos a jogar. Isso não existe. De quarenta em quarenta anos lá aparece um Ajax, mas mesmo essas equipas excepcionais duram duas ou três épocas e desaparecem.

Sem vitórias não há projectos, e sem maturidade não há vitórias. O resto é lirismo. Não esqueçamos, nestas fantasias, que não basta ao Sporting ter uma boa equipa de jovens: tem de ter uma equipa de jovens que ganhe ao Porto e que ganhe ao Benfica no mesmo ano. Ou o Sporting vai desistir, definitivamente, de ser campeão? E daí até se tornar num Everton demora quanto tempo?

Equipas como esta do Sporting são equipas que, como disse o Jesus e muito bem, não fazem a diferença em frente à baliza, que só ganham um campeonato por acaso – algo que dificilmente acontecerá considerando a distância a que o Porto e o Benfica se encontram – e que não vão a lado nenhum.

A verdade crua e nua? A este Benfica, que nem sequer é nada de especial, bastou fazer um jogo certinho, baço, e duas jogadas com mais de quatro passes, para ganhar a este Sporting.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sorriso amarelo


Havia duas coisas que eu não queria no sorteio da meia-final da Liga Europa:

1 – Jogar com o Chelsea

Não é que eu queira ser mija-na-sopa do pessoal, mas qualquer equipa presente numa meia-final com um orçamento três vezes superior a qualquer uma das outras é a única favorita a ganhar a competição, e tem 80 por cento de hipóteses, no mínimo, de a ganhar.

Dizem-me que, há um ano, podíamos ter eliminado o Chelsea, o que é verdade, mas não estivemos tão perto como a típica boa vontade benfiquista fez passar a ideia – uma ideia que ficou nos jornais, como é costume, porque é sempre bom para as vendas iludir os benfiquistas. O Chelsea passou a eliminatória com o Benfica com relativa facilidade. Tal como o Benfica passou a eliminatória com o Newcastle com relativa facilidade, apesar de um ou outro momento de tentativa de superação por parte do Newcastle.

As hipóteses do Benfica ganharem ao Chelsea sobem bastante se for a vitória final disputada a um jogo. Um pouco como vai acontecer com o Vitória de Guimarães na final da Taça de Portugal. Com apenas um jogo as possibilidades, por parte da equipa mais forte, corrigirem os problemas causados por incidentes extraordinários – um erro do árbitro, um azar de um jogador, uma expulsão, um penálti – caem muito. Em último caso, chegando aos penáltis, as hipóteses aproximam-se muito dos 50/50, que é o máximo que qualquer uma das três equipas conseguirão ter diante do Chelsea.

O Chelsea está em crise. Quem tem Mata, Hazard, Ramires e uma série de outros grandes jogadores, independentemente das crises, só não é favorito perante equipas que custam o mesmo. Haveria sete ou oito equipas na Europa que, em competição com o Chelsea na Liga Europa, poderiam ser consideradas favoritas – e o Benfica não é uma delas.

2 – Ir jogar à Turquia na primeira mão

Apanhar o Fenerbace é bom em termos desportivos, porque é o adversário menos competitivo, mas ir à Turquia na primeira mão é péssimo, por duas razões.

Primeiro porque, como já defendi há dois ou três posts atrás, esta equipa do Benfica tem sempre vantagem em jogar a segunda mão fora de casa, onde já não há hipótese de os adversários responderem aos golos fora que o Benfica marca sempre, e porque o Benfica joga melhor em contra-ataque do que em ataque organizado – como o Real Madrid, por exemplo.

Segundo,  mas sobretudo, porque pode ser absolutamente determinante, para um eventual insucesso do Benfica no campeonato, ter de ir à Turquia a meio da semana decisiva para o campeonato nacional, e ainda por cima para fazer um jogo de pressão máxima em todos os sentidos – no ambiente, pela história, pelos objectivos da época, pelo cansaço acumulado, etc, etc.

A época do Benfica joga-se nos dois jogos com Sporting e Marítimo. Tem de os ganhar. Um empate é quase sinónimo de derrota no campeonato. Em condições normais, fazer duas vitórias nesses jogos já é difícil. Nestas condições, se o Benfica as conseguir, será quase extraordinário. E já nem conto com as possíveis lesões e castigos. Caramba, considerando a importância que a eliminatória vai ter para o Fenerbahce (é o jogo mais importante na história do clube) eu, se fosse o Vieira, até garrafas de oxigénio levava para não correr o risco de ser envenenado através do ar condicionado.

O ideal, considerando o cenário global, seria apanhar o Basileia e jogar primeiro em casa. Mesmo apanhar o Chelsea, que é um pulinho, seria preferível a ir à Turquia a meio da semana mais importante da época, passar 24 horas no inferno.

Olho para este cenário e vejo consolidarem-se aqueles receios que já aqui exprimi mesmo antes do Benfica se apurar para a Liga Europa. O Benfica joga contra a História, contra as probabilidades e, admitamos, contra si próprio, porque nem é a equipa com melhores condições para vencer o campeonato nem é a equipa com melhores condições para vencer a Liga Europa. Vejo uma corda esticada e um momento que se aproxima, com datas marcadas, em que o mais certo é mesmo partir.

Enfim, chegámos ao momento em que somos confrontados com a verdadeira essência do benfiquismo: acreditar, contra tudo e contra todos. Fazer de conta que a lógica não existe, que não há racionalidade, que podemos porque sim, porque é o Benfica, e o Benfica, se houvesse normalidade, nem sequer deveria existir, porque era um grupo de miúdos a jogar à bola que andava com a baliza às costas.

Chegou o momento de deixar de considerar a realidade. Voltamos à Terra daqui a um mês, e que seja o que Deus quiser. Nisso, não há melhor do que nós. Acreditemos, portanto.

sábado, 6 de abril de 2013

Grande Guerra de Olhão


1)      Um clube com quatro meses de salários em atraso que recebe um Benfica a três semanas de poder ser campeão e prescinde de jogar no Estádio do Algarve para não dar vantagem ao opositor – mesmo sabendo que, no José Arcanjo, a esmagadora maioria de adeptos vai continuar a ser do Benfica, e que, com isso, sabe que vai perder uma receita suplementar que lhe permitiria pagar pelo menos um desses meses de ordenados em atraso;

2)      Uma equipa a um ponto da linha de água, treinada por Manuel Cajuda, o único treinador em Portugal com mais calo no cu do que o Jorge Jesus;

3)      Um campo que, sem água, só é bom como terreno de pasto, e que, com água, nem para isso serve;

4)      Menos de 72 horas de descanso depois de um jogo contra uma equipa inglesa em que se teve de recuperar de uma desvantagem de 0-1 aos 15 minutos, numa eliminatória decidida pelo número de golos que se marcam (com uma viagem de autocarro até ao Algarve pelo meio);

5)      Segunda mão contra essa equipa inglesa, fora de casa, quatro dias depois;

6)      Um adversário que pertence à esfera de influência do Porto (como se comprova pela política de empréstimos de jogadores e de nomeação de treinadores nos últimos anos);

7)      Um presidente que, a quatro dias do jogo, perante um ultimato dos jogadores, aparece com 150 mil euros para pagar um mês e meio de ordenados, segundo ele proveniente de um amigo, sem contrapartidas previstas, porque, obviamente, o dinheiro é para se dar sem se esperar nada em troca. Note-se que só há dois clubes em Portugal para quem é fundamental que o Olhanense não tenha falta de comparência com o Benfica: o próprio Olhanense e o Porto;

8)      Um presidente que aproveita a reunião da Liga de Clubes, no Porto, para ir jantar a um restaurante da família do Reinaldo Teles;

9)      Um árbitro que protagonizou um dos jogos em que, no ano passado, o Benfica perdeu o campeonato – enquanto que, no Porto-Braga, é nomeado Pedro Proença, que ainda há uma semana foi colocado na primeira fila de uma festança da Associação de Futebol do Porto, para que quem tivesse dúvidas sobre o relacionamento entre Proença e o Porto pudesse deixar de as ter;

10)   Margem de erro: zero.

Tudo isto é apenas o cenário de partida. Ainda falta o jogo. Vai ser uma guerra pegada.

Preparem os intestinos: domingo é dia de São Campeão.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Vai pondo bifes, Jesus


Nesta altura, nem eu, que sou fundamentalista e que preferia que o Benfica tivesse sido eliminado da Liga Europa ainda antes de começar a jogá-la, já acho que faça sentido prescindir da Liga Europa.

Não é que não atrapalhe, nem é que não possa provocar a perda do campeonato, mas agora já não vale a pena. Vai haver pelo menos mais um jogo, o cansaço vai pesar, e a eventual meia-final vai ser disputadíssima, porque agora as equipas já estão a jogar motivadas e acreditam que podem ganhar a Taça (até aos oitavos-de-final era mentira, parecia jogos de solteiros e casados), mas a maior parte do mal, a haver, já está feita.
O Benfica está a atingir um patamar que de eficácia regular que já não tinha desde 1983, e, como tal, já não há alternativa: a solução, quando se chega a patamares destes, já não é gerir mas, simplesmente, cumprir. Neste ponto, o que a equipa do Benfica precisa de aprender, para crescer, é a ganhar em esforço psíquico. Mesmo que perca o campeonato (o que é muito possível, note-se) tem de o conseguir ganhar desta maneira, senão nunca deixará de ser apenas um projecto de equipa à mercê. E, agora, ou é capaz ou não é capaz.

Fazer mais do que o que o Jesus fez nesta quinta-feira, nem eu (que contra o Leverkussen até o Urreta e o Miguel Vítor teria metido…) lhe peço. Tudo o que é carne comestível ele está a meter no assador. Nos quartos-de-final, contra uma boa equipa inglesa, jogou com o André Almeida, o André Gomes, o Rodrigo e o Ola John. Quem havia para rodar sem entregar o jogo de bandeja, jogou. Bravo. A César o que é de César. O Jesus está a cumprir e, na minha classificação, continua a transformar pontos negativos em pontos positivos.
(Neste aspecto, registo para a passagem de certidão de óbito definitiva a Aimar e Carlos Martins. Se não jogaram hoje, o comboio já passou  e a época deles, a partir de agora, é mais bolos e treinos.)

Quanto à eliminatória, penso que o Benfica conseguiu o apuramento naquelas duas bolas aos postes dos ingleses. Qualquer resultado de uma eliminatória europeia a duas mãos em que esta equipa do Benfica só sofra um golo em casa é um bom resultado – até uma derrota por 0-1.

Há equipas ofensivas e equipas defensivas. Para uma equipa ofensiva, como é a do Benfica, que tem muita facilidade em marcar golos, jogar a segunda mão fora de casa é uma vantagem, por uma razão muito simples: porque o adversário já não tem a oportunidade de recuperar uma desvantagem conseguida pelos golos fora. O Benfica sabe que se marcar dois golos em Newcastle tem a eliminatória ganha, e o Newcastle já não pode fazer nada em relação a isso. Da mesma forma, durante o jogo, isso coloca pressão sobre a equipa da casa, que sabe que se sofrer um segundo golo tem de marcar dois.

Para uma equipa defensiva, saber que tem de marcar golos fora ma segunda mão é um problema. Para uma equipa como o Benfica, saber que cada golo fora, que vale por dois, já não pode ser rebatido na mesma moeda pela outra equipa, é uma vantagem.

O Benfica vai marcar em Newcastle, porque marca sempre, e muito mais em contra-ataque, e muto mais naquela relvinha rápida e bem tratada dos ingleses, e ainda mais com aqueles defesas porreiros que têm de pedir licença aos rins para mexer a perna. E, se marcar 2, os outros têm de marcar 5.

Logo para começar, o Newcastle tem de ganhar ao Benfica, o que já é pouco provável. O mais certo é haver um empate, o Benfica meter dois golitos até aos 60 minutos e, depois disso, toda a gente arrumaras fichas a pensar no campeonato, que é o que importa.

Até o 1-1 eu já assinava por baixo.

Façam este exercício: imaginem que eram o treinador do Newcastle e vinham empatar 1-1 à Luz. O que é que diziam aos jogadores antes do segundo jogo?

Que jogassem com calma, porque o 0-0 bastava? «Mas, mister, os homens marcam golos a toda a gente. E se sofremos um golo e depois não conseguimos marcar? E se eles marcam o segundo no contra-ataque? De 0 passamos a ter de marcar 3!»

Que jogassem ao ataque? «Mas, mister, começamos a atacar, abrimos a defesa, eles marcam e perdemos a vantagem. E se eles marcam o segundo?»

Não há nada pior, para uma equipa, na Europa, do que entrar em campo sem saber o resultado que tem de fazer, enquanto, do outro lado, a outra equipa tem um objectivo definido e sabeo que precisa de fazer. A não ser que se trate de uma equipa muito experiente internacionalmente, entre as indecisões e a convicção a convicção ganha quase sempre.

Contra equipas malucas e imprevisíveis como a do Benfica, que tanto podem levar três golos em 10 minutos como enfiar quatro batatas na baliza de qualquer equipa, numa eliminatória como esta a outra equipa só passa a ter vantagem por jogar em casa o segundo jogo se, no primeiro, marcar pelos menos dois fora de casa. Caso contrário, é sempre uma eliminatória a ser decidida na segunda mão, onde a vantagem do golo fora já só existe a favor dos outros.

O Newcastle devia ter apostado tudo em marcar mais um golo na Luz, mesmo que sofresse mais um ou dois. Para poder jogar à vontade em casa e atacar livremente, sem ficar presa pelo golo que o Benfica vai conseguir marcar.

E para o Benfica, a ideia terá de ser a mesma: se for para lá a pensar em marcar dois golos, desde que defenda relativamente bem, tem a eliminatória no bolso. E até pode sofrer quatro – o que não vai acontecer.

Mas vão ter de correr, atenção.
 
P.S. - O Cardozo está a elevar a técnica do penálti a arte. Hoje, subiu mais um degrau. No primeiro fez o que aprendeu a fazer na perfeição  durante os últimos meses: a esperar pelo primeiro passo do guarda-redes antes de rematar. Se o guarda-redesse mexe primeiro, morreu. Na repetição, pensei assim: «O guarda-redes, que é um bom guarda-redes, já o topou. No primeiro atrasou a queda tanto quanto pôde, agora, no segundo, não se vai mexer até ele baixar a cabeça para rematar. Sempre quero ver se o Cardozo tem estofo para lhe dar a volta. Ainda lhe vai acertar com a bola no peito a meio da baliza.»
Dito e feito. O guarda-redes parecia colado ao chão, e percebeu para que lado o Cardozo ia rematar. E o que é que fez o Cardozo, num golo que podia valer uma eliminatória? Percebendo que o guarda-redes ia atrasado, porque não se lançou suficientemente cedo, meteu-lhe a bola em jeito, com a força suficiente, para o seu (o do Cardozo) lado esquerdo, que é o mais difícil quando se é canhoto.
O Cardozo até pode falhar um penálti, e é mais provável que falhe a medida que a pressão vá subindo. Até o Maradona os falhou, e foi o melhor marcador que já vi. Mas só falha se falhar o remate tecnicamente, porque, na cabeça, tem tudo pré-definido quando parte para a bola. Tem um plano A e um plano B. Um plano C, não sei, veremos. Mas desde o Maradona que eu não via ninguém a marcar penáltis com esta certeza.
Eu sei que é sacrilégio pôr Cardozo e Maradona na mesma frase, mas pronto, um penálti é aquela situação extraordinária que há no futebol...