sábado, 18 de fevereiro de 2012

«Quem quer passar além do Bojador...»

É quase humanamente impossível, para qualquer pessoa que siga o futebol em Portugal, olhar para o calendário do campeonato e não fazer do ciclo Guimarães- Académica-Porto um único jogo para o Benfica.

Não é só a invulgaridade de se jogar dois jogos seguidos fora de casa; é também a coincidência de esses dois jogos serem contra equipas tradicionalmente difíceis e de antecederem o jogo do título, resultando estes três jogos num ciclo decisivo para um eventual desbaste da vantagem de 5 pontos que o Benfica detém sobre o Porto.

Não são só os benfiquistas que olham para este Gui-Aca-Por como um único jogo tripartido – os portistas também. Foi a olhar para estas três jornadas, enfiadas no meio de uma eliminatória russa da Champions, que o Porto também jogou as suas fichas em Janeiro. O Porto sente, e sabe, que se não chegar ao dia 3 de Março a pelo menos dois pontos do Benfica as suas chances de renovar o título caem para 5 a 10 por cento – neste momento andarão nos 35 por cento.

Ou seja, em 12 dias o campeonato pode ficar praticamente decidido.



Vitória e a Académica são equipas completamente diferentes, e, sendo ambas muito difíceis, para lhes ganhar é preciso fazer coisas também diferentes, sendo que o Benfica faz melhor uma que outra.

O Vitória é uma equipa de velocidade, de explosão, com um plantel construído nesse sentido desde o início de época. A Académica, sendo também uma equipa de transição (tirando os três grandes todas as equipas de Portugal são equipas de transição) é uma equipa mais construtiva, que joga mais devagar e mais no processo simples e bem feito do que no risco criativo. É por isso que a Académica tem dificuldades em ganhar em casa – porque, fazendo as coisas bem feitas, as faz mais devagar e de forma mais previsível, o que, dando-lhe muita bola, se traduz em pouco espaço por onde chegar à baliza. Ora, esse é um problema que a Académica não vai ter frente ao Benfica, porque o Benfica ataca sempre e dá sempre espaço – mesmo quando não ataca, porque não é grande coisa a defender.

A Académica vai poder dar-se ao luxo de jogar em casa como gosta: em contra-ataque.

O jogo de Guimarães vai ser um tiroteio, o de Coimbra um jogo de xadrez.

Ora, na minha opinião a equipa do Benfica está muito mais preparada para tiroteios do que para jogos de xadrez – foi por ter permitido que o jogo das Antas deixasse de ser um jogo de xadrez e passasse a um tiroteio que, por exemplo, o Porto empatou a 2 com o Benfica. Num jogo de transições, nas quais o Benfica é fortíssimo, como diz o Jesus e muito bem, tem mais hipóteses de sair por cima do que contra uma equipa mais fechada atrás a jogar em casa.

Na defesa, o Guimarães vai dar mais espaço ao Benfica que a Académica. No ataque, apesar de provavelmente vir a criar mais perigo, também lhe vai dar a bola mais vezes e mais depressa. Este Guimarães a jogar em casa, pelo seu estilo de jogo, é um adversário mais acessível ao Benfica, na minha opinião, do que a Académica a jogar em casa.



É claro que esta perspectiva enferma do preconceito básico que já referi no início: apesar de sermos compelidos a olhar para estes dois jogos pré-Porto como um só, não há nada que os torne dependentes um do outro. Ou seja, nada impede de considerar que o Benfica pode perder pontos nos dois jogos. Só mesmo a boa vontade dos benfiquistas.



Pelo coração, todos os benfiquistas anseiam por uma vitória em Guimarães. Pela razão, haverá poucos que não admitam que o empate é o resultado mais lógico para este jogo. Senão vejamos: o Benfica vai a casa de uma equipa tradicionalmente muito difícil e na melhor fase da época, quatro dias depois de ter feito um jogo exigentíssimo em termos físicos e emocionais, com duas longas viagens à Rússia pelo meio, sem o seu especialista defensivo do meio-campo e sem o seu avançado desequilibrador, ambos lesionados, esperando-o aí uma partida feita de transições rápidas e sucessivas.

Penso que, razoavelmente, nestas circunstâncias, e com 5 pontos de avanço sobre o segundo classificado, seria difícil considerar um empate em Guimarães um mau resultado, e que poucas pessoas conseguiriam recriminar Jorge Jesus se, a 10 ou 15 minutos do fim, e estando empatado, ele fizesse uma substituição para segurar o resultado em vez de para arriscar a vitória. Apesar de eu achar que, se esta situação ocorrer, o Jesus tenta mesmo ganhar o jogo, porque é a sua (boa) maneira de ser.



Pessoalmente (e assumo-o desde o início da época) considero que, na conquista do título pelo Benfica, haverá mais de destino que de capacidade. É uma subversão lógica, é um pouco justificar os factos pelos factos em si, em vez de pela razão, mas, lá está, eu aceito essa acusação. É verdade: tenho baseado a maior parte das minhas análises partindo da convicção que o Benfica será campeão, e não baseando a convicção de que o Benfica será campeão numa análise racional. Para ser ainda mais correcto, tenho baseado as minhas análises na convicção de que, por uma questão de lei da dinâmica competitiva (que não existe, note-se bem), o Porto não será campeão – e, uma vez que só sobra outro candidato, que por isso o título irá para o Benfica.

A minha resposta para a pergunta: «Mas porque é que achas que o Benfica vai ser campeão?» é, no fundo, apenas essa: «Porque não acredito que o Porto o venha a ser, e não resta mais ninguém.»

«Mas então não achas que o Benfica seja melhor que o Porto?»

«Não. Acho que vai fazer um campeonato melhor que o Porto e que por isso vai ser campeão.»



Posto isto, e considerando o que atrás ficou dito sobre Vitória e Académica, o que é que eu vejo a acontecer neste ciclo de três jogos?

Vejo o Benfica a fazer 5 pontos.

Não me parece que o Benfica vá perder nenhum destes três – aliás, acho que o Benfica só vai perder pela primeira vez depois de ter o campeonato encaminhado, e provavelmente em boa parte por ter de jogar os quartos-de-final da Liga dos Campeões.

Vejo o Benfica a passar o Cabo Bojador em Guimarães, com uma vitória, com muita sorte à mistura. Vejo-o a empatar em Coimbra, com muito sofrimento, e a chegar ao Cabo das Tormentas com pelo menos 3 pontos de vantagem, o que lhe permitirá encarar um empate (até 2-2, por causa do factor desempate) como um resultado positivo.

Vejo Porto e Benfica a empatarem na Luz, dando sequência ao campeonato mais equilibrado entre os dois primeiros das últimas décadas. Não vejo este Porto a ser capaz de ir ganhar à Luz, nem vejo o Benfica com capacidade de ser melhor que o Porto num único jogo com tanto em jogo.

Penso que o Benfica sairá deste ciclo com 3 a 5 pontos de vantagem sobre o Porto (dependendo de o Porto vencer ou não, hoje, em Setúbal), e com uma convicção importante: a de que uma eventual derrota no jogo com o Sporting, em Alvalade, não dará a liderança do campeonato ao Porto. Penso que essa vantagem no confronto directo mesmo em caso de derrota com o Sporting será a almofada anímica que permitirá, por um lado, ao Benfica gerir a pressão da recta final do campeonato e que colocará o Porto sob uma pressão que o fará, entretanto, perder mais pontos, mesmo estando só concentrado no campeonato.

Também acho que o Porto vai eliminar o Benfica à Luz, na Taça da Liga, mas isso são contas de outro rosário.

5 comentários:

  1. Para facilitar as coisas em Guimarães, os tipos mandaram o Xistra. Apesar disso, acho que temos todas as condições para continuar a 5 pontos quando tivermos os corruptos na Luz, mesmo com Xistras e quejandos. Talvez alguma pressão para ganhar na Luz, para o Benfica, não fosse má de todo...

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  2. Ta feita a tua aposta?

    Eu aposto em 7 pontos. Empate em Gmr, goleada em Coimbra, vitoria tangecial na Luz.

    Acho boa pratica assumir que o nosso principal adversario vencera os jogos todos - 5 pontos nao sao suficientes para baixar a guarda.

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    1. Vitória na Luz dá título. Não acredito que vá ser assim tão fácil. Mas gostava.
      5 pontos nestes 3 jogos. E stress até ao Porto-Sporting.

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  3. Gosto de ver os benfiquistas pessimistas. É bom sinal. :-)))

    Passo a explicar, tradicionalmente quando os benfiquistas estão eufóricos e começam com bazófias, acabamos por dar com os burrinhos na lama. Este ano não está a acontecer, bem pelo contrário, tem havido constantes críticas ao LFV, ao JJ e a alguns jogadores. Como já disse, isso é bom sinal. E mais não é preciso dizer. Estou convencido que o Porto ainda vai perder mais pontos.

    Há já muita gente resignada e atirar a toalha ao chão e toda a gente sabe porquê, pelo menos dentro dos benfiquistas. Com ordenados em atraso, que eles constantemente se recusam a acreditar, preferindo atirar as culpas para cima do treinador, o espírito da equipa baixa, e tem vindo sempre a baixar, arrastando com isso toda a "estrutura". E não há árbitros nem bastidores que lhes valhe. Têm-se portado como "losers", e ninguém gosta de "losers".

    É só fazer contas. Tentaram vender 5 jogadores, "and all they got was those lousy loans". LOL! Que provávelmente ninguém quererá comprar no fim da época. Os restantes activos têm vindo a baixar de valor a uma velocidade assustadora, o que esta mão da Europa bem mostrou. O exemplo Hulk é bem paradigmático do que digo. E eles sem vendas milionárias sai-lhes o oxigénio da boca. E sem oxigénio fica apenas o hidrogénio, o que pode ser bastante desagradável e uma grande chatice. Toda a gente sabe que grandes concentrações de hidrogénio podem causar explosões graves. :-))) Piores que as explosões de metano!! LOL!

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    1. também comungo com esse gosto especialmente se estão assim pessimistas porque os pontos de adianto já se esfumaram LOL

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