domingo, 19 de fevereiro de 2012

O Benfica do Minho

Há aqui alguém que deixe de me falar se eu disser que não vi um único minuto do jogo do Porto e que do Sporting só vi dois ou três bochechos (só o suficiente para ver que o Sporting continua a não jogar nada?

Não estava com paciência para jogos da treta.

Mas posso partilhar convosco a Primeira Lei do Crescimento Territorial do Estado, proposta pelo alemão (claro…) Friedrich Ratzel, um dos precursores da geopolítica: «O primeiro impulso para o desenvolvimento territorial de um Estado vem do exterior, de uma civilização mais adiantada.»

E a Segunda também, já agora: «O espaço de um Estado aumenta a expansão da sua cultura por ir assim difundindo o seu poder»

São sete, ao todo, e a sua publicação data de 1897.

Vale a pena saber disto, para se perceber que, ao falar-se de crescimento civilizacional do Porto ou de um Norte benfiquista, não se está realmente a revelar a fórmula da Coca-Cola.



Como já devem ter percebido, só cá vim picar o ponto. O único jogo capaz de me fazer sentar a ver futebol hoje seria para aí um Liverpool-Everton, um Bilbao-Real Sociedad, um Roma-Lazio ou um Bétis-Sevilha. Assim uma valente picardia, mas daquelas picardias a sério.

Já que estamos a falar de geopolítica e de picardias e do Minho, não sei se também têm esta ideia, mas a reprodução da guerra Porto-Benfica entre Braga e Guimarães tem muito mais em comum do que apenas o empréstimo de jogadores.

Mesmo quando tinha jogadores emprestados pelo Porto, o Guimarães já era uma espécie de Benfica do Minho. O apoio popular real ao clube é muito mais forte em Guimarães do que em Braga. A paixão exacerbada, que facilmente resvala para a pura irracionalidade. Não se consegue conceber com facilidade acontecer em Braga o que acontece com os adeptos em Guimarães, porque passa a sensação de que em Braga tudo aquilo é muito profissional, muito sistemático, muito bem pensado, mas, no fundo, muito artificial. A sensação que tenho, pelo menos, é que no dia em que acontecer ao Braga, por algum razão, em termos de resultados, o que tem acontecido ao Vitória, os adeptos saem de fininho, vão buscar outra vez os seus cachecóis do Benfica e fazem de conta que não tiveram nada a ver com aquilo. «Eu? Eu não sei nada, só cá vim ver a bola.» E o AXA fica para parque de estacionamento da Bragaparques.

O Braga não parece capaz de seduzir, realmente. Falta-lhe a ligação. Há um cheiro a podre que não se consegue disfarçar no meio de tudo aquilo. Eu chamo-lhe o cheiro da negatividade. O Vitória, pelo contrário, resiste, e parece ter essa ligação visceral à gente da terra de que é feita a massa do verdadeiro clubismo. É, entre as suas paixões assolapadas, os seus falhanços e os seus êxitos, um clube positivo – apesar do vulto omnipresente do sinistro Pimenta Machado.

É fácil, hoje, pensar que o aliado certo para se ter no Minho é o Braga. Pois eu continuaria a escolher o Vitória. Porque acho mais provável que, daqui a dez ou quinze anos, quando mudarem as pessoas e os cenários, ele continue a ser mais clube que o Braga.



*



Quando se chega a um score de 0-7 só há uma coisa a fazer: tentar a perfeição.

Mas com estilo.

Sobra-me um jogo. O saldo desta jornada é de 35 milhões de rupias apostadas e 35 milhões de rupias perdidas. Só há uma aposta simultaneamente valiosa e útil que me permita ou recuperar os 35 milhões ou, em alternativa, fazer o pleno: a vitória do Vitória a 6.25.

Portanto, aqui vai:

7 milhões de rupias na vitória do Guimarães a 6.25.

E quando o Benfica ganhar, amanhã, espero que os benfiquistas se lembrem que o enguiço invertido que resolveu o jogo foi feito aqui, e que o Jesus, o Cardozo e os patudos não foram mais que meros actores secundários neste grande enredo alquímico do qual vocês são espectadores (ou espetadores, com o novo acordo ortográfico) privilegiados.

2 comentários:

  1. Concordo com o que escreveste sobre o Braga. Cresceu, é verdade, mas cresceu sem uma identidade (pelos semelhante à do Guimarães) sobretudo porque a sua lealdade e aliança com o Porko é demasiado óbvia. Por exemplo, nenhum de nós consegue, hoje, pensar no Braga sem pensar nos Corruptos. Estão e estarão para sempre indelevelmente marcados a essa ligação promiscua. Essa simbiose que um dia deixa de dar frutos e (pegando no que escreveste): " vão buscar outra vez os seus cachecóis do Benfica e fazem de conta que não tiveram nada a ver com aquilo".

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  2. Custou-me mais esta que a dos 5-0 contra o Porto...

    Acerca deste jogo, so vou dizer duas coisas:

    - Isto pode ser um case study para o efeito borboleta: como 'e que um elemento mal trocado no 11 inicial num jogo a meio do campeonato pode causar a perda do mesmo.

    - Se eu por algum motivo soubesse o 11 inicial do Benfica, tinha-me registado na BWin e apostado 100 euros na derrota do Benfica: 'e que seria quase o mesmo que dinheiro no banco.

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