segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A criatura

Hulk é um futebolista fantástico. Qualquer análise que não acabe nesta conclusão é porque começou enviesada pela clubite. É o melhor futebolista a actuar em Portugal, quer pela qualidade técnica e física quer pela competitividade, não tenho dúvidas, e o maior mérito na dimensão futebolística que ele atingiu pertence ao Porto. O Porto trabalha bem os seus jogadores e, geralmente, quando eles não pegam é porque ou não querem trabalhar ou querem trabalhar numa perspectiva de pôr a equipa a trabalhar para eles em vez do contrário.
O maior mérito do Porto é a sua capacidade de trabalho desportivo. O trabalho anti-desportivo, que existe, é posterior. (E enquanto os adeptos dos outros clubes não compreenderem perfeitamente esta distinção continuarão a ser presas em vez de serem predadores).

A filosofia colectivista e unitária que sustenta a cultura desportiva do Porto tem um elemento primordial: a abdicação de uma parte importante do ego, por cada jogador, a favor do colectivo. O sacrifício de uma parte da sua individualidade a bem do que é melhor para a equipa.

Porque é que o cabelo amarelo do Hulk suscitou estranheza (além do óbvio mau gosto)? Porque é uma expressão de individualidade invulgar no Porto. O Porto inventou o cinzentismo no futebol português. Criou a imagem do futebolista inexpressivo, totalmente concentrado no jogo, ausente do que existe em seu redor, um homem de cassete pronta para os jornalistas, o micro-management da comunicação, tudo a bem de uma imagem espartana da equipa, de uma máquina de guerra, preparada para tudo. É uma forma de cultura, baseada mais numa ideia de defesa da cidade que de ataque, de conquista. É por isto que o Porto tem tanta dificuldade em ganhar glamour. O Porto alcançou resultados mas não a admiração que deveria ter alcançado como consequência natural desses resultados. Estamos a falar de um clube de província português, sem recursos, que, graças a um processo espontâneo de construção de sucesso, se torna numa espécie de gigante dos pequenos da Europa. Qualquer adepto europeu de futebol deveria estar apto a reconhecer o brilhantismo dos seus feitos. No entanto, o Porto não tem glamour. Porquê? Porque a cultura do Porto é uma cultura de supressão de personalidade, e são as personalidades, não as vitórias militares, que conquistam as pessoas.

Ainda hoje, se perguntarem aos adeptos mais velhos do Porto quais são os jogadores que eles mais admiram eles vão, quase sempre, buscar jogadores antigos, de tempos em que o Porto pouco ganhava, mas que tinham um carisma que os diferenciava. Assim como hoje, se perguntarem aos mais jovens, eles não ligam o clube à imagem de um ou mais jogadores mas à identidade colectiva – à equipa. Sim, o Deco, o Falcão, etc, mas todos eles secundários da ideia da equipa. Até o adepto vulgar se vê compelido a falar do colectivo quando tem de defender o seu clubismo. É um discurso monocórdico que homogeneizou o clube.

Tão importante como ganhar, para se conquistar corações, é a graça com que se perde. Para haver ligação emotiva tem de haver humanidade. A essência do ser humano é o erro, o disparate. Quem não vacila são as máquinas. Quem é que quer saber de uma máquina?


É curioso como o Porto teve de criar uma cultura contra-natura ao ambiente em que está inserido para ter sucesso. O Porto-cidade é a verdadeira cidade liberal de Portugal. É uma terra de alegria, de espontaneidade, de vivacidade, de profunda liberdade, de personalidade e de carisma. O Porto-clube é uma realidade obscura, fria, negativa, opressora, fechada, lítica. Não digo que seja certo ou errado – pelos resultados dir-se-ia que é assim que tem de ser – só digo que é o que é. Aliás, esta é uma filosofia que tem feito escola nos outros dois clubes grandes portugueses. Gerou-se a ideia de que, para se ser um campeão, tem de se ser feio, porco e mau. Enquanto não aparecer um conjunto de personalidades livres que consigam ganhar com continuidade não haverá razões para se pensar o contrário. Até ver, isto não é para quem ri, é para quem aguenta.

Qual foi o último espírito livre a singrar no Futebol Clube do Porto? Alguém cuja primeira imagem, aos olhos do público, seja um sorriso, alguém que gere uma empatia natural, que se sinta que está fora de uma unidade militarizada? Não me lembro.
O colectivismo é a fórmula de sucesso do Porto, mas também é a sua fronteira. Para crescer, verdadeiramente, para extravasar a sua dimensão provinciana, o Porto terá de se render, progressivamente, aos indivíduos.

Ao pintar o cabelo, ao sair do campo propositadamente amuado, o que o Hulk está a dizer a toda a gente é que já é maior do que aquilo.
É ele e mais dez, segundo o presidente. Está na selecção do Brasil, joga quando quer e como quer, ganha mais do que os outros, custou mais do que os outros, vale 100 milhões, tem os clubes todos atrás dele e, evidentemente (não esquecer este pormenor), o Porto só não foi campeão em 2010 porque ele foi alvo de uma injustiça, segundo a própria mensagem pública veiculada pelo clube. Foi só ele voltar que o Porto nunca mais perdeu. Por que razão objectiva é que Hulk não deveria pensar que está acima do clube em que joga?

Hulk não é propriamente uma personalidade radiante, mas é um indisciplinado natural – a quem o castigo aplicado após o caso o túnel da Luz, por sinal, muito ajudou.
                   (Olhando retrospectivamente, teria sido preferível para o Benfica, por exemplo, que o castigo não tivesse sido aplicado: o Porto não teria sido campeão de qualquer forma, Hulk não seria o jogador que é porque não teria grandes motivos para mudar a sua atitude negativa, o Porto não teria encontrado um álibi para essa época nem uma motivação extra para a seguinte e provavelmente, Hulk, nesta altura, já não jogaria em Portugal.)

A fase pós-castigo acalmou-o e atrasou a sua explosão de personalidade, mas ela, agora, é irreversível e o Porto não está preparado para aclimatar um jogador assim. A criatura tornou-se maior que o criador.

A manutenção de Hulk após esta época – que é muito difícil em termos económicos –, ou de qualquer outra personalidade anormal, significaria que o Porto estaria a abrir uma outra dimensão de si próprio. Até certo ponto esse crescimento é inevitável. A partir de certo ponto a única forma de crescer quando uma cultura cristaliza é inserir elementos estranhos à tradição, liberalizar os costumes e esperar pela mistura de diferenças. Não é uma ciência oculta, é o processo social histórico.

Mas o Porto não vai fazer isso. Porque há outra tendência histórica que resulta directamente da natureza humana: a que diz que quando a realidade é rica, quando há muito a perder, a disposição do homem é conservadora, e não inovadora. Quando preza o que tem, o homem tende a não querer mudar, a não trocar o que julga certo pelo incerto. E o Porto tem muito a perder. Na verdade, tem tudo a perder, pois todo o seu sucesso desportivo real foi alcançado através do actual método a que podemos chamar de estóico.

Ninguém no Porto quer realmente manter Hulk na equipa para o ano que vem. É inseguro. É um risco. As coisas funcionam bem sem Hulks, como se comprovou nos últimos vinte anos. O Porto não vai liberalizar os seus costumes. E, como tal, vai-lhe acontecer o mesmo que aconteceu a todas as civilizações que passaram a seguir um instinto conservador: vai estagnar e, posteriormente, assim que uma civilização alternativa (Benfica ou Sporting) encontrar uma forma de evolução inovadora, cair em decadência. Até à vulgaridade. Como aconteceu ao Benfica depois dos anos 70, quando o Porto, através de Pedroto, encontrou a dimensão seguinte do profissionalismo do futebol português.

Eu, Carlos Xistra, confesso…

Sporting (IRPR = 0.125)

Domingos não é melhor nem pior que qualquer outro treinador português em relação à arbitragem. Quando é prejudicado chora muito, quando é beneficiado chora menos. Mas a capacidade inata para transformar toda e qualquer questão uma telenovela mexicana com dobragem para português da Leça da Palmeira vai-me aos nervos de uma maneira que mal consigo descrever.

«Foram quebras do jogo permanentes» (Domingos descobriu ontem que as equipas mais fracas tentam quebrar o ritmo das mais fortes. O que é estranho, porque a do feirense é das que menos antijogo faz em Portugal.)

«Dizer isto e aquilo é fácil, mas que perigo é que o Feirense nos criou?» (Com 0-0 o Feirense teve duas situações de jogadores em frente à baliza em que era só encostar. O Sporting, no jogo todo, não teve duas oportunidades tão boas como essa.)

«O Jéffren é um jogador que procura sempre a perfeição, e blá, blá, blá, blá, e sentiu o músculo a prender e saiu a correr» (Tradução: o Jéfren acagaçou-se e pirou-se)

«Tivemos a felicidade do penálti, como já tinha havido outro na primeira parte que não foi marcado» (Se alguém tem um movimento contra-natura é o jogador do Sporting, logo, é ele quem provocam o toque, que de facto existe. No primeiro lance o Elias sofre um toque e atira-se para o chão. Se o facto de ter levado o toque não o impediu de se impulsionar para o lado a tentar cavar a falta também não o impediria de continuar a correr, se quisesse, logo, o toque foi igual a tantos outros que existem num jogo e que, muito bem, não resultam em falta. Uma coisa é levar um toque, outra é sofrer falta. Há centenas de toques na área. O contacto físico é permitido no futebol. O que é sancionável é o impedimento do adversário de jogar a bola.)

«O Rinaudo leva dois amarelos em dois jogos só por jogar a bola.» (Isto depois do Sporting ter visto o jogo ser desencalhado por um vermelho dado a um jogador do Feirense por fazer falta sobre o Capel numa jogada em que este já tinha a bola perdida.)



Podia ter sido o Jesus, o Grande Timoneiro, o Cajuda, qualquer outro a dizer isto, mas no Jesus, por exemplo, na maior parte das vezes não passa de um assomo de boçalidade – no caso do Domingos, quando não há premeditação, é mesmo aquela costela Calimero que rebenta pelas costuras.

Cada conferência de imprensa do Domingos é um enredo, um drama, qualquer coisa de brutalmente trágico, desumanamente injusto, uma perseguição atroz, uma verdadeira novela – o lábio sempre húmido, o sorriso carente, as mãozinhas finas num crisma permanente.

Espero que ninguém diga isto ao Choramingos, senão ele lava-se em lágrimas, passa a mão no cabelo e desabafa: «Não podemos agradar a toda a gente. Eu compreendo…»

Há quem ganhe pela insistência. O Choramingos vai ganhar pela piedade.
Jesus, por favor, salva o Choramingos, porque ele sofre muito!

Em relação ao jogo o Sporting teve o benefício que qualquer um dos três grandes tem. Não é preciso fazer nenhum drama. Para isso já cá temos o Domingos.


Porto (IRPR = 0.100)

Momento do jogo por ordem temporal: um auto-golo digno dos Três Estarolas na última jogada da primeira parte.

Momento do jogo por ordem de grandeza: a substituição do Hulk. A criatura tornou-se, oficialmente, maior que o criador. Merece um post só para ele. Fica prometido.


Benfica (IRPR = 0.070)

Já não há dirigentes como antigamente. Nos bons velhos tempos (estou certo…) haveria de haver quem aplicasse uma bela multa de pelo menos 10 por cento do ordenado por se sofrer um golo como o do Olhanense. Da forma como dois jogadores do Olhanense arranjaram espaço, na linha lateral, para centrar à vontade uma bola que atravessa toda a grande-área e vai parar a um jogador sozinho do outro lado do campo para este encostar, tudo naquela jogada foi uma ode à calanzice por parte dos jogadores do Benfica.

O grande problema do Benfica não é técnico, nem táctico, é de concentração. Também isto vai merecer um post – quer vocês queiram quer não. Já aqui disse que só há uma coisa que me tira realmente do sério a ver futebol: a estupidez. Não confundir estupidez com ignorância. Ignorantes somos todos. Ignorância é não saber. Estupidez é não querer saber.

O Rodrigo não engana, mas atenção ao Matic. Tem dois pequenos problemas:

- não é nem um médio defensivo nem um médio ofensivo, ou seja, não é um especialista, o que hoje em dia é complicado a não ser que se seja muito bom;
- falta-lhe alguma agressividade.

Nenhum dos dois é um handicap definitivo. Pelo contrário. Aliás, se solucionar a segunda parte a primeira parte soluciona-se por si própria, porque aquilo que o Matic está a mostrar é que é um médio box-to-box com um potencial altíssimo nível, que enche o campo, rápido sobre a bola, com visão de jogo de linha a linha, capacidade física acima da dos restantes e uma técnica suficiente para meter a bola a quarenta metros sem risco. Com tempo de jogo, o Benfica pode ter encontrado aqui um jogador sensacional. Assim que aprender a dar porrada (a chamada «agressividade no bom sentido» vem depois, por simpatia), o que não é fácil, fica prontinho. Para já, com o sem Javi, vai ser titular em Braga, ou eu não me chame Jorge Jesus.

E ainda…

Estou a escrever isto enquanto vejo os resumos dos jogos. O penálti do Leiria-Setúbal é complicado, mas o do jogo do Guimarães…  Caramba
Eu não gosto de falar de arbitragens (agora até parecia um técnico dos da nossa praça), porque é um elemento poluidor de qualquer conversa, mas já que abri uma excepção para poder gozar um bocado com o Choramingos, acabo o serviço.

Vamos lá a ver: há uma ligeira (ligeiríssima) hipótese do Xistra ter sido condicionado pelo ambiente do jogo, mas o que eu vejo, naquele penálti, em que a bola vai bater na mão de um jogador que está de costas, a cair para trás e que nem sequer teve tempo para perceber que o adversário a tinha cabeceado, é um dos melhores argumentos que eu já vi a favor da tese dos que dizem que existe corrupção, pura e dura, ainda hoje, no futebol português. Naquele contexto (o Vitória à beira de ser desmantelado por dentro, a empatar em casa com o Rio Ave cinco minutos depois da hora) marcar aquele penálti é uma autêntica confissão tácita, e é dizer «sim, estou comprado e estou-me borrifando para o que vocês têm a dizer em relação a isso.»

Um hino à desonestidade.

domingo, 30 de outubro de 2011

A técnica e a arte

Há poucos bons treinadores de futebol. A esmagadora maioria é sofrível – geralmente vivendo à conta da carreira como jogador, outras vezes aproveitando a facilidade de seduzir as pessoas que, não tendo jogado, discernem mal entre o que é importante e o que é inútil no futebol. Um exemplo claro deste tipo de treinadores é o de Quique Flores.

Um bom treinador consegue levar uma equipa a jogar muito perto do que seria a soma do valor individual dos seus jogadores. Um Gaitán a jogar a 80 por cento mais um Cardozo a jogar a 90 por cento mais um Matic a jogar a 90 por cento e os outros todos dariam um Benfica a jogar a 90 por cento daquilo que poderia como equipa.
Tirar um rendimento próximo do máximo dos jogadores e conseguir conjugar esse conjunto de rendimentos individuais de forma a tornar a equipa competitiva – difícil de enfrentar pelos adversários – é um apanágio dos bons treinadores.

Considero o Jorge Jesus um bom treinador. Aliás, tendo em conta o momento histórico do Benfica e do futebol português – um clube obrigado a ganhar a tentar reconstruir uma identidade num ambiente desfavorável de quase hegemonia de um adversário – haveria muito poucos treinadores capazes de substituir o Jesus com melhores resultados.
Um treinador jovem, bem falante, com boa imprensa, politicamente correcto, burguês, demasiado flexível em relação aos jogadores, aos dirigentes e aos adeptos, no Benfica actual, falharia, por mais conhecimentos técnicos que tivesse. O Benfica actual requer liderança. Não tem de ser liderança de qualidade, mas tem de ser liderança forte, ainda que egocêntrica. Digo mais: além do Jesus, o único treinador do mundo (entre os possíveis, claro) que vejo com perfil para treinar o Benfica é o Manuel José – e não quero saber se tem 70, 80 ou 90 anos.

Não considero o Jesus um grande treinador porque vejo uma diferença fundamental entre um bom treinador e um grande treinador: um grande treinador é aquele que consegue fazer com que o valor da equipa, em campo, seja superior ao resultado da soma das partes.
Ser um bom treinador é uma técnica. Ser um grande treinador é uma arte.

Nem sempre um grande treinador faz este milagre da multiplicação. É preciso um ambiente propício. Mourinho não conseguiria, jamais, no Benfica o que conseguiu fazer no Porto. Capello não conseguirá fazer com a selecção inglesa o que fez no Milan, por exemplo. Duvido que Guardiola venha a conseguir fora do Barcelona o que conseguiu em Barcelona – aliás, não sei se Guardiola já fez o suficiente para ser considerado um grande treinador (só o saberemos quando virmos o que faz o Barcelona depois de ele sair).

Há quem diga que as grandes equipas fazem os grandes treinadores. Não concordo. Acho que as boas equipas fazem os bons treinadores, isso é verdade. Mas só um grande treinador transforma uma boa equipa numa grande equipa.
Não sou dos que acha que uma equipa começa e acaba na capacidade do treinador, pelo contrário, acho que uma boa equipa nem sequer precisa, necessariamente, de um bom treinador para ser boa. Mas admito que só a existência uma individualidade que leve uma equipa a comportar-se como uma unidade orgânica capaz de se superar permite que essa equipa se torne grande.

Uma grande equipa pensa em conjunto, age em conjunto, compreende os momentos de jogo e a forma dos seus companheiros o pensarem em cada um desses momentos, tem uma fluência natural que está acima da mecânica, que se situa na parte intuitiva. Podem chamar-lhe química, se quiserem. Um grande treinador é o que consegue influenciar realmente essa química, juntar os ingredientes, fazer arte com um conjunto de onze atletas altamente competitivos e egocêntricos.

O Benfica não é nem será, com Jesus, uma grande equipa. Não consegue pensar em conjunto. Continua a ter jogadores a ler momentos diferentes no jogo. Uns pensam que é para guardar, para jogar para ali, para fazer assim, outros pensam que é para atacar, para fazer assado, etc. São as pequenas coisas? Evidentemente que são. São sempre as pequenas coisas que distinguem o bom do óptimo, e na maior parte das vezes elas são tão pequenas que não encontram ninguém apto a reconhecê-las.

Com Jesus, o Benfica será sempre uma equipa dependente das circunstâncias – da possibilidade de encontrar uma equipa superior num momento mais eficaz, por exemplo, ou de um jogo traiçoeiro, como foram os do Olhanense ou do Beira-Mar.
Quanto melhores jogadores Jesus tiver, melhor será a sua equipa. É pouco provável que ele estrague a sopa. É um bom treinador e sabe tirar um bom rendimento dos jogadores. Mas que ninguém espere que algum dia o Benfica de Jesus venha a voar. Disso ele não é capaz. Se fosse já tinha tido tempo para o mostrar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Águias e falcões

Segue-se uma lista dos presidentes fortes que Pinto da Costa teve de enfrentar desde que tomou de assalto o poder no Porto a Américo de Sá (e corrijam-me se estiver enganado):

João Rocha – Foi o último presidente do Sporting a enfrentar, olho por olho dente por dente, Pinto da Costa. Note-se que, na altura (finais de 70, inícios de 80), Sporting e Porto tinham as melhores equipas portuguesas. O Benfica, apesar de continuar a ser o Benfica, estava já no início da sua decadência, em contraciclo com o Porto pedrotiano. As duas primeiras épocas de Eriksson, que apanharam os outros de surpresa pela extrema qualidade do sueco, foram uma espécie de canto do cisne de uma época dourada. O grande adversário do Porto era, então, o Sporting. A guerra do Futre, do Oliveira, do Jaime Pacheco e de outros foi toda com o João Rocha, que perdia mas não se encolhia e jogava com as mesmas armas.
Nessa altura, Pinto da Costa tinha em Fernando Martins, presidente do Benfica, um aliado – e ainda hoje a equipa vai sempre para o hotel dele.

Depois de João Rocha o Sporting entrou numa espiral de degradação do poder, em que Sousa Cintra, um empresário de sucesso e um idiota enquanto político, foi o mais estável até aparecer José Roquette y sus muchachos.

Nesse interregno entre Rocha e Roquette (sensivelmente dez anos) o Sporting foi um não-factor, quer desportiva quer politicamente, incapaz de fazer mal a alguém a não ser a ele próprio devido à mediocridade dos seus dirigentes. O próprio Sousa Cintra, no único ano em que teve hipótese de ganhar o campeonato, espetou uma garrafa de água das pedras na própria jugular ao trocar um treinador de futebol (Bobby Robson) por um tipo de bigode (Carlos Queirós).

Nesta fase, o grande adversário de Pinto da Costa foi Gaspar Ramos, o homem do futebol de Jorge de Brito (o verdadeiro chefe do Benfica, mesmo quando João Santos era, formalmente, o presidente). Os anos que se seguiram à conquista da Taça dos Campeões pelo Porto, em 1987, e o fim do mandato de Jorge de Brito, em 1994, após o Verão Quente de Paulo Sousa e Pacheco, foram de uma intensidade de conflito como não voltou a haver no futebol português – nem actualmente. Foram os anos da verdadeira bipolarização, em que personagens como Lourenço Pinto, Adriano Pinto e muitos outros sugiram em todo o seu esplendor.
A guerra acabou com a vitória de Pinto da Costa, que encontraria, depois, um novo aliado em Manuel Damásio como presidente do Benfica – outro presidente fraquíssimo, um presidente de jet-set, com o substrato de uma noz podre, como nunca tinha havido na história do Benfica e que ia contra toda a sua identidade, operária e popular.

O que se deve notar, em relação a este período, é que foi aqui que o Sporting começou a subalternizar-se, assumindo que o seu principal adversário era o Benfica (os presidentes precisavam de popularidade e o povo sportinguista sempre preferiu ganhar ao Benfica que ao Porto) e não o Porto, então claramente já o grande dominador do futebol português e quase sempre campeão.

José Roquette – No primeiro discurso como presidente do Sporting, e ante a debilidade da posição benfiquista, Roquette define a nova prioridade: «É preciso fazer o 25 de Abril do futebol.» O ditador, claro, era Pinto da Costa. Quando Roquette entrou a matar, Damásio era um (discreto mas bom) amigo de Pinto da Costa.  Quando saiu a morrer, depois de perceber que o futebol era uma economia fechada, o presidente do Benfica era João Vale e Azevedo.

João Vale e Azevedo – Que ninguém duvide que Vale e Azevedo foi um presidente forte. A demagogia, o populismo e, sobretudo, a situação de desespero a que os benfiquistas tinham chegado ante o vazio de liderança, dera-lhe uma força que nunca nenhum presidente do Benfica tinha tido. Com Vale e Azevedo o Benfica estreou o absolutismo – um sacrilégio na sua história, intrinsecamente democrática (um sacrilégio que ainda não acabou e está longe de acabar, diga-se de passagem) – mas que tenha chegado a tanto sintetiza bem o estado de decadência que atingiu.
Vale e Azevedo usou Pinto da Costa para chegar ao poder (atacando-o) e, mérito lhe seja feito, nunca se rogou ao ataque depois de eleito. A ofensiva à Olivedesportos foi o golpe mais directo que já foi feito ao sistema. Uma vez que a Olivedesportos era a Dona Branca do futebol português nessa altura, Pinto da Costa não teve dificuldade em encontrar aliados, e o mais importante foi… José Roquette, que, fazendo uma espécie de PREC à maneira dos ricos, decidiu que, não podendo ganhar-lhes, devia juntar-se a eles e aproveitar a oportunidade de atirar o Benfica para o fundo de um poço em que nunca tinha estado em cem anos.
Foi nesta altura que começaram os jantares de Roquette na casa de Pinto da Costa, pela noite fora, delineando «estratégias empresariais comuns», trocas de jogadores, etc.

Os sucedâneos de Roquette – até ao Bettencourt foi tudo da mesma cepa, e o Godinho não é diferente, mas o Godinho, na bola, não manda nada e nem deve saber qual é a cabine – foram mais do mesmo, com a breve excepção de Dias da Cunha, um lunático que teve a lata de dizer a palavra que fica para a história – sistema – e que pagou por isso.

Luís Filipe Vieira – Esta é a guerra em curso, e não será preciso contextualizar muito. Convém, no entanto, dizer, a bem da tese que irei referir, que o Sporting esteve sempre, no mandato de Vieira, ao lado de Pinto da Costa, satisfeito com a oportunidade de ficar em segundo, apurar-se para a Liga dos Campeões e não falir, à custa do Benfica e de uma subalternização evidente ao Porto.
O culminar desta política de agachamento foi o comportamento do Sporting no caso do Apito Dourado, submetendo-se a uma posição de circunstância, situacionista, débil, aguardando, como um bom oportunista, pela carcaça que ficasse a jazer no solo. Saiu-lhe o plano ao contrário: no momento em que ia comer o cadáver deu um piparote (como tantas vezes já aconteceu nesta história de má vizinhança), encontrou Jesus e meteu o abutre na gaiola.


Os trinta (?) anos de presidência de Pinto da Costa ficam marcados, politicamente, pelas lutas de poder contra estes quatro presidentes. Os outros foram figuras perfeitamente secundárias.

E agora aqui está uma coisa que nunca aconteceu nestes trinta anos: uma aliança Benfica-Sporting, bem organizada, para eliminar o sistema de poder de Pinto da Costa.

Sempre que houve a possibilidade de isso acontecer, Pinto da Costa encontrou maneira de separar as forças. Quando Roquette chegou, por exemplo, esboçou-se, com a Liga de Clubes, a possibilidade de lhe retirar o poder sobre os árbitros. Rapidamente Pinto da Costa enleou Damásio contra Roquette e, depois, Roquette contra Vale e Azevedo.

A grande prioridade política de Pinto da Costa sempre foi dividir para reinar. Aproveitou, para isso, a rivalidade atávica entre Benfica e Sporting, mais da parte dos segundos que dos primeiros, que lhe facilitou bastante a vida. Sobretudo em relação ao Sporting, foi-lhe fácil comprar a lealdade com a promessa de supremacia sobre o Benfica.
Muito do poder que Pinto da Costa construiu foi à custa do poder que ia ficando isolado, e foi sempre para ele que ficou a parte de leão, muito pouco restou para o parceiro.

O actual momento pode ser histórico porque Luís Duque, acima de todos, é ambicioso, e sabe que o seu lugar na história, de facto, só pode ser conquistado à custa de Pinto da Costa. Não está disposto apenas a ficar com as sobras. Quer ser o primeiro a comer, e com isso está a forçar o Sporting a afastar-se do Porto e a procurar o único aliado real que lhe resta: o Benfica.
A contratação de Domingos é um claro ataque ao Porto. É entrar em casa do inimigo e roubar-lhe património, de maneira que ele nem se consegue defender – seria impossível a Domingos recusar o Sporting.

Duque é um homem inteligente e pode ser, quer para o Sporting quer para o Benfica, no actual contexto de guerra total com o Porto, um homem providencial. Uma aliança entre Benfica e Sporting, neste ponto da história, de fortalecimento dos dois clubes de Lisboa e estagnação (no alto, por enquanto) do Porto, poderia constituir o momento mais importante dos últimos trinta anos. E seria inédita.

Quer Duque quer Vieira sabem que só há uma maneira de tirar o Porto do poleiro: levantando toda a merda que o pôs lá e que, por agora, ainda vai estando acamada. A acontecer, vai ser sujo, vai ser feio e vai ser longo.

É neste macrocenário que devem ser avaliadas, actualmente, todas as movimentações de Benfica e Sporting. É tempo de cedências e de interesses convergente. É tempo de política. De alta e de baixa política. E não é tempo de ter vergonha. Se Pinto da Costa se tornou papa foi porque nunca se preocupou com esse pormenor. Haverá tempo para o pudor e para limpar o campo de batalha depois de se ganhar a guerra.

Arrisco a dizer que quem acha que se mata um porco sem fazer sangue deve sentar-se à mesa e esperar pelo chouriço.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Capeldevilladas


Um contra-ataque rápido, em meia-dúzia de passes, daqueles para chegar à baliza e decidir, porque hoje está muito complicado em termos de tempo:

1 – A verdadeira Cadeira de Sonho é a do seleccionador do Brasil. Quando o Bruno César e o Kléber têm lugar na selecção do Brasil, mesmo na B, é porque o critério não pode ser a qualidade. Talvez seja nos cinco ou seis melhores que jogam sempre, mas nos outros a coisa deve ser na base da comissão. E o Benfica e o Porto, pela quantidade de zebras que têm sacado, devem conhecer bem o sistema. E na selecção argentina a mesma coisa. Anda ali esquema do grosso. O que não tem graça nenhuma é o Luisão andar outra vez nestas andanças.

2 – A história dos 10 mil bilhetes é o Sporting a fazer peito. É bem jogado. E não sei se também não era bem jogado o Benfica dar-lhes os 10 mil bilhetes – com garantias de reciprocidade, evidentemente (10 mil por 10 mil. É que 10 mil em 63 mil é uma coisa, em 43 mil é outra...) Politicamente, é um momento importante de aproximação. Vou falar disto melhor amanhã ou depois. Não devemos menosprezar a importância deste momento específico na realidade do futebol português da era-Pinto da Costa.

3 – Luís Duque tem o projecto de, através do futebol, se tornar presidente e, depois, presidente vitalício do Sporting, à Pinto da Costa. A forma tranquila como dividiu as águas em relação às eleições da FPF e como colocou a «estrutura do futebol», num instante, do lado do candidato que não é o que a «nomenclatura» apoia, comprova isso. Mas também comprova que, sem resultados desportivos, o Sporting continua a ser o ninho de cobras que sempre foi. Os slides de felicidade que se passam para o exterior são uma verdadeira campanha de marketing. A forma como Godinho é mostrado, nos meios de comunicação social, como um elemento estranho ao organismo do futebol, é reveladora. Apontem aí: ainda antes do fim desta época vamos assistir a uma clivagem interna entre futebol e Direcção no Sporting. O Duque quer ser rei. O Godinho é carne para canhão.

4 – Nas últimas seis semanas o Record já vendeu o Capdevilla pelo menos seis vezes. Chama-se a isto, literalmente, fazer render o peixe. Claro que o Capdevilla vai sair do Benfica em Janeiro. Neste momento, ninguém quer que ele fique: o jogador quer jogar, o Benfica quer poupar o salário (e não deve ser pouco) e o Jesus nem vale a pena falar – aliás, acho que o Jesus nem quer o Capdevilla nem quer o Emerson, mas em Janeiro falamos melhor.

5 – Antes de chegarmos aos 150 mil visitantes diários, e de depois virem dizer «Ó palhacinho, sabes muito, sabes muito, mas com o Capel nem a viste passar», eu admito: enganei-me com o Capel. Em meu favor, o Capel (e o Sporting) teve a sorte do seu lado: praticamente ao mesmo tempo o Jéffren lesionou-se e o Djaló foi vendido. O Capel, que o Domingos ia deixar no banco à espera da «adaptação», acabou por entrar porque não havia mais ninguém. Teve dois ou três jogos seguidos e engatou. As carreiras fazem-se e desfazem-se, também, assim.

Golo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A pedalada

No primeiro post deste blogue especulei sobre as seguintes janelas pontuais para os três candidatos no final do campeonato: Porto – 74 a 79 pontos; Benfica – 76 a 73 pontos; Sporting – 66 a 74 pontos.
Não vejo razões, até agora, para rever esta previsão. Com um quarto do campeonato jogado, Porto e Benfica perderam 4 pontos cada, o que apontaria para 16 pontos perdidos no final (74 pontos), o Sporting perdeu 7, o que apontaria para 62 pontos no final (sendo que os sete pontos foram todos perdidos nas primeiras jornadas, o que aponta para uma melhoria em relação a esta projecção).

Pelos números, e aceitando as previsões como válidas, o Porto estaria a ter a pior prestação admissível dentro dos valores previsíveis, o Benfica estaria ligeiramente abaixo do melhor possível mas muito perto dele e o Sporting muito longe do que seria preciso para ser campeão – os 74 pontos que, juntando à pior prestação conjunta perspectivável de Porto e Benfica lhe daria o título, e provavelmente só por uma conjugação de resultados nos confrontos directos.
Também não encontro nenhuma razão para considerar o Sporting mais candidato agora do que era à terceira jornada. Continuo a achar que o Sporting perdeu o campeonato nas três primeiras jornadas, e que terá um papel neste campeonato, sobretudo, nos pontos que fizer Benfica e Porto perder nos jogos em que se enfrentarem.

Falo nisto para projectar as últimas cinco jornadas do Benfica nesta primeira volta. Partindo do princípio que um empate com o Olhanense, na próxima jornada, seria praticamente letal,  e portanto contando com uma vitória nesse jogo, para se manter dentro do ritmo de campeão o Benfica poderia perder mais três pontos até ao final da primeira volta. Teria, então, sete pontos perdidos já depois de ter jogado nas Antas e em Braga. Sem uma eventual quebra (fatal), a perspectiva seria a de não perder mais pontos na segunda volta do que os que perdeu na primeira.

Eis os jogos do Benfica até ao fim da primeira volta: Olhanense (c), Braga (f), Sporting (c), Marítimo (f), Rio Ave (c), Leiria (f), Setúbal (c).
Depois do Olhanense, o Benfica joga com o terceiro, o quarto e o quinto classificados.
Não seria de estranhar que a primeira derrota do campeonato acontecesse neste período, nem sequer seria dramático. Seria, até, natural. Até porque não há qualquer hipótese de o Benfica acabar o campeonato invicto. (Isso não vai acontecer.)

A grande questão, penso, será a quebra de forma. Apesar de o Benfica (que começou a época um mês antes que os outros) este ano não ter tido, ainda, um pico de forma – o que eu acho positivo –, vai ter uma quebra. A perspectiva é que a quebra não leve a equipa tão fundo como noutros anos, porque a energia tem sido gerida de forma completamente diferentes dos últimos dois anos. Se a quebra ficar para depois das próximas quatro jornadas as perspectivas do Benfica são óptimas.

Se o Benfica passar o ciclo Braga-Sporting-Marítimo com seis pontos é positivo – com a ressalva de uma eventual derrota com o Sporting (que é sempre admissível num dérbi) dar hipóteses reais ao Sporting de entrar na luta pelo campeonato. Perder um jogo em Braga ou na Madeira e ganhar os outros dois seria bom. Ganhar dois e empatar um (mesmo que seja com o Sporting), seria muito bom. Ganhar os três seria uma afirmação inequívoca de estatuto de campeão.

Entretanto, o Porto recebe o Braga e joga em Alvalade. Todos os outros jogos são perfeitamente acessíveis. Arrisco mesmo a dizer que o jogo com o Braga é igualmente acessível. Significa que o Porto tem um jogo de perder pontos até ao final da primeira volta. Qualquer cenário que não envolva estar à frente do campeonato ou, pelo menos, empatado na liderança, no fim da jornada 15 coloca o Porto numa situação muito difícil de reverter.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

As goleadas que embalam o berço

O Benfica teve o jogo-granada da jornada. É, de facto, o tipo de jogo que, na história, tem alçapões por baixo – a seguir à Champions, um adversário cheio de ferrolhos e bem arranjado, a fazer do jogo com o Benfica o jogo da época (geralmente, contra o Porto a fé é menor, porque estão ninguém está habituado a que o Porto dê abébias, e contra o Sporting não é bem a mesma coisa – basta olhar para as bancadas).
Ganhou 1-0, um bocado a correr outro a arrastar-se, mas teve a melhor vitória da jornada em termos práticos porque foi o jogo (bem) mais difícil.

Os 5-0 do Porto são mentirosos, o que faz com que o resultado só pareça muito bom. Os resultados que são melhores que os jogos têm um efeito perverso: os jogadores do futebol são facilmente iludíveis. Talvez por viverem diariamente num ambiente de competição tão intensa, procuram mais a facilidade. Isso é comum a todos os animais. Há uma razão para engordarmos e nos tornarmos sedentários à medida que envelhecemos. Não usamos os nossos recursos para termos mais dificuldades, mas para termos menos. É muito raro (para dizer nenhum) o pai que não tenta dar ao filho uma vida mais fácil que a que teve para si.

Se alguém tentar explicar a um jogador do Porto, depois de ganhar 5-0, que não jogou o suficiente, ele até pode dizer que sim, mas, no fundo, não quer saber. É por isso que se aprende sempre mais com uma derrota do que com uma vitória.

Alguém que fosse dizer aos jogadores e treinadores do Benfica, depois de ganharem o campeonato de 2010, que não tinham jogado o suficiente para, numa época com os azares normais, ser campeão. Eles mandavam-no passear. Por essa razão foi preciso perderem como perderam no ano passado para voltarem ao ponto de onde deviam ter partido para 2010/2011.
 

No ano passado, quando comecei a ver as goleadas do Benfica, lembrei-me logo de um ano em que o Benfica, com o Eriksson, passou três meses a esmagar. Foi no ano em que foi à final da Taça dos Campeões com o Milan. Eram jogos de 5 para cima sucessivamente. Quando chegou a Dezembro o Benfica ia à frente e o Magnusson tinha mais de vinte golos marcados no campeonato (penso que nesse ano foi o segundo melhor marcador da Europa). Aquilo era uma máquina compressora. O que é que aconteceu?
Quando chegou o Inverno as coisas começaram a parecer mais complicadas. O Porto, que tinha dado pouco nas vistas mas quase não tinha perdido pontos, foi empatar à Luz (se não me engano 2-2, com o Domingos e Kostadinov no ataque), o Benfica perdeu mais um jogo em qualquer lado, perdeu nas Antas e perdeu o campeonato.

Isto das goleadas é giro, mas a verdade é que pdem adormecer. Há goleadas e goleadas. Como já disse aqui numa crónica, preferi a vitória do Benfica, este ano, em casa, com a Académica, por 4-1, num jogo difícil, do que os 8-1 ao Setúbal do Azelha em 2010.

Filosofias à parte, teria sido melhor para o Porto ganhar por menos e um pouco mais apertado, para se manter alerta. Ganhar 5-0 ao Nacional, para o Porto, significa pouco. É relativamente fácil ganhar por 5-0 ao Nacional. Marcando os dois primeiros a coisa acaba quando a equipa grande decide que deve acabar. Enquanto tiver o pé no acelerador é juntar golos.

Foi o que acabou por se passar também com o Sporting. A diferença para o Sporting é que os traumas dos jogos em casa se tornaram tão grandes durante a última época que ainda há fantasmas por ali escondidos atrás dos postes.

Ainda em relação ao Porto, havia a expectativa de que pudesse deixar pontos com o Nacional. Mas não é assim que a coisa se vai passar. Não vai ser um fundão no rio. Vai ser um empate aqui, uma derrota ali – a derrota vai mesmo acontecer – mais por serem inesperadas que por falta de qualidade. Numa intermitência, o Porto perde um ponto. Depois passa mais três ou quatro jogos a vencer facilmente. Depois perde outro. Foi assim que perdeu o campeonato de 2010 e, a perder o deste ano, é assim que o vai perder também. A estrutura da equipa do Porto é demasiado forte e os adversários demasiado fracos para lhe infligirem uma série de três ou quatro maus resultados.

Esses tempos acabaram há cinco anos, e enquanto não houver um nivelamento por cima dos três grandes – só o Benfica não chega –, um aumento de pressão e alguma estabilização das segundas linhas do campeonato (Braga, Guimarães, Nacional, Marítimo) não vão voltar.

Vai ser uma coisa gradual. O Porto não vai descer à Terra entre o início e o fim de um mês.


Dito isto…

Benfica (IRPR = 0.215)

A sorte do jogo descomplicou-o para o Benfica. Uma fífia do Rui Rego e um golo num bom momento, uma ou duas boas defesas de Artur, e 90 minutos em terceira. O Benfica foi o único a ter um jogo realmente decisivo na Europa durante a semana – o Porto pode tê-lo tido, mas só depois de se saber o resultado, ao ir para o jogo não – com viagem incluída. As equipas grandes têm a desvantagem de, no campeonato, um empate ser quase sempre um mau resultado e de terem sempre o «ónus do golo», mas neste caso, a debilidade atacante do Beira-Mar era tanta que 1 golo – ao contrário do que acontece geralmente com o Benfica – certamente bastaria para ganhar. Como chegou.


Porto (IRPR = 0.105)

Incluindo um 2-0 em fora-de-jogo nítido (sim, os erros deste tipo – deste tipo… – também contam numa diminuição do índice de dificuldade) tudo correu bem ao Porto. O Nacional tem uma defesa muito vulnerável e um ataque que se vê aflito para marcar golos. A fadiga de quarta-feira entra nas contas, obviamente, sobretudo porque a melhor equipa jogou contra o APOEL.


Sporting (IRPR = 0.095)

Aqui, a melhor equipa jogou contra o Gil Vicente, e na Europa jogaram os suplentes. Um golo aos seis minutos, nenhuma pressão exterior a não ser a normal num clube grande, confiança no topo, um adversário bem mais macio do que o que foi com Benfica e Sporting, e o jogo mais fácil da temporada para o Sporting. É giro como até a rir o Choramingos parece uma madalena arrependida. Que nervos que me mete aquele tipo, sinceramente…

 Ou seja, foi uma daquelas jornadas que não conta para o totobola.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A «situação Maxi»

Num clube como o Benfica – ou o Sporting, ou o Porto – que representa mais uma nação, com as características psíquicas e políticas que acabam por ser as que pertencem às nações (os laços culturais, o sentimento de pertença a uma história comum, etc), do que um clube, é um erro minimizar os gestos políticos e diplomáticos, e é um erro ainda maior não aplicar uma abordagem institucional a todas as relações com entidades exteriores – outros clubes, agentes de mercado, instituições nacionais e internacionais, etc.
A situação Maxi Pereira, na minha opinião, só tem duas alternativas teoricamente, porque, na prática, o único caminho que leva a efeitos, a longo prazo, positivos, é o segundo entre as que vou descrever.

Na primeira alternativa o Benfica faz de conta que não está a ser chantageado e ridicularizado por um empresário que sabe perfeitamente que tem dois trunfos do seu lado: a qualidade do jogador (e o facto de ter uma qualidade relativa muito grande no plantel dada a má planificação efectuada no defeso em relação à posição de lateral-direito) e o contexto de guerra total entre Benfica e Porto.
Nesta alternativa, o Benfica baixa as calças sem tentar dar muito nas vistas, paga o que Paco Casal (acho que é este o nome do artista) quer, quando ele quer e como ele quer, faz assinar uma cláusula de confidencialidade e, no fim, diz nos jornais que ganhou para tentar uma formar uma opinião pública favorável.

Na segunda alternativa, o Benfica diz, claramente, ao jogador: «Nós não fazemos negócios com esse tipo porque ele nos enganou, deliberadamente, no caso do Cristian Rodriguez, por isso, das duas uma: ou tratamos do negócio da renovação sem ele (e se for preciso arranjamos-te um advogado e assumimos as perdas em caso de perderes o processo) ou não há negócio. E como não confiamos nele, se não houver negócio, tu deixas de fazer parte da equipa e ele que arranje uma solução até ao dia 30 de Janeiro que não seja, nem agora nem no futuro, o Porto. Caso contrário ficas seis meses sem jogar e a treinar à parte porque partimos do princípio que vais jogar pelo Porto para o ano e também deixamos de confiar em ti. Ou estás dentro ou estás fora, mas é para decidir até ao dia 30 de Novembro porque nessa altura começamos a procurar um substituto para comprar em Janeiro.»

O mais certo, nisto tudo, é o jogador querer sair, e faz muito bem. Mas o Benfica faz ainda melhor em fazê-lo sair se ele não «entrar», definitivamente, no espírito da coisa – e o espírito da coisa, actualmente, é uma guerra total com o Porto, em que tem de se entrar para ganhar e não «para ganhar se…»

A questão não está na qualidade do jogador – mesmo que estivesse, atenção, o Maxi Pereira só nos parece tão bom (apesar de ser bom) porque estamos habituados a ele. A questão nunca é se o que sai é bom, é se o que vem é melhor ou pior. E tenho a certeza de que o Benfica consegue arranjar melhor que o Maxi Pereira para lateral-direito. Só brasileiros há às resmas. A questão está no precedente e na mensagem.

O Benfica negoceia, todos os anos, dezenas de jogadores com empresários de todo o mundo. Para se salvaguardar, o Benfica tem de deixar uma mensagem forte aos empresários e aos próprios adeptos: não negociamos com terroristas.
É só isso. Não é fundamentalismo. É política real. Não negociamos com terroristas. Não é para fazer figura de duro: é porque enquanto o Benfica for vulnerável ao terrorismo de mercado vai ser vulnerável aos Danilos, aos Mangalas, aos Falcões, aos Álvaros Pereiras, etc, etc.
Uma posição «de Estado», de exercer o poder, é fundamental nesse caso, precisamente porque o caso é importante.

E é importante que isto fique resolvido até Dezembro. Porque o Porto sabe perfeitamente que tem em Paco Casal um bombista infiltrado no barco inimigo. Se o caso não for resolvido antes disso vai aproveitar a abertura do mercado em Janeiro para tornar Maxi Pereira num elemento de discórdia, de divisão e de desconcentração dentro do próprio Benfica. Ao fim de uma semana já vai haver notícias de que Maxi tem um pré-acordo assinado com o Porto para a próxima época. Mesmo que não seja verdade (e o mais provável é que venha a ser verdade) é o suficiente para minar, por dentro, a estrutura anímica da equipa do Benfica e semear a suspeita da traição.

O Benfica tem muito mais e muito melhor a perder do que muitos Maxi Pereiras se preferir ficar com este Maxi Pereira a custo da sua posição diplomática e negocial futura.

É altura do Benfica começar a assumir uma postura de Estado e de afirmar a sua soberania. A definição de soberania é «um poder sem igual a nível interno e um poder sem superior a nível externo». Mas o poder só existe quando é exercido.

sábado, 22 de outubro de 2011

É o futebol, estúpido!

Já se sabia que o Beira-Mar Benfica ia ser um jogo de tricô. Não é à toa que uma equipa passa sete jogos quase sem sofrer golos. Era coisa para ficar 1-0, 2-1, e à rasquinha.

É precisamente neste tipo de jogos, contra equipas que usam a sua grande-área para fazerem plantação de pitons, que se torna mais visível uma das coisas que mais me tira do sério na equipa do Benfica.
Podia ser a incapacidade de marcar um canto bem marcado? Podia. Mas não é. É ainda pior. Porque para fazer isto nem sequer é preciso tocar na bola.
O Benfica consegue passar um jogo inteiro – inteiro, eu vi! – sem fazer over-laping uma única vez.

O que é over-laping, perguntam vocês (e muito bem, porque isto de ser Mestre da Técnica não é para todos)? Over-laping é uma coisa complicadíssima – para os jogadores do Benfica, obviamente. Over-laping é passar por trás do gajo que tem a bola, caraças.

Neste momento há 50 indivíduos a dizer: «Passar por trás?! Ó pá, vai à merda, isso não interessa para nada, não inventes.»
Ao que eu respondo: «Pois não, não invento porque já está inventado há muito tempo.»

                (Neste preciso momento, aos 54 minutos de jogo, o Emerson acabou de deixar fugir a bola pela linha de fundo na grande-área porque, como passou pela frente do Bruno César em vez de passar por trás, teve de virar a cabeça para ver a bola e, com isso, perdeu o tempo da jogada.
O Jesus está a soprar para as melenas a pensar na táctica. E eu estou a mandá-lo à merda.)

Não há nenhuma equipa de nenhum jogo colectivo de nenhum escalão etário no mundo que não treine o over-laping – a não ser o Benfica, claro, porque são todos muito bons e não precisam disso para nada, uma vez que, ao contrário de todos os outros futebolistas, têm três pernas e cinco pés e consegue fintar para cima de doze jogadores de cada vez.
Eu sei porque quando joguei basquete, nos infantis, aos dez anos, já treinávamos o over-laping.

(Olha o Emerson a passar outra vez à frente do que tem a bola. E a parar, claro…)

Quando um jogador passa a bola a outro tem de continuar a avançar para manter a dinâmica. Se está a tentar criar uma situação de ter o passe devolvido só tem duas alternativas:

- Corre pela frente do outro. Nesta situação o que acontece é o seguinte: o tipo que não tem a bola leva o defesa atrás, tem de parar para não ficar em fora-de-jogo e faz com que o que tem a bola passe a ter, entre ele a baliza, no espaço de dez metros, três jogadores (os dois defesas mais o companheiro, que não tem para onde ir), nenhuma linha de passe e nenhum espaço para fintar, obrigando-o a parar e, finalmente, a jogar para trás, ou então a esperar que o outro javali recue para voltar a ter espaço para jogar. Ou seja, a primeira alternativa não é, de facto, uma alternativa, é apenas um erro à espera de acontecer.

                (Vamos ver se o Cardozo não perdeu o jogo nesta jogada em que se esqueceu que tem dois pés…)

- Corre por trás do outro. Leva, à mesma, o defesa atrás, mas como, desta vez, abre uma linha de passe, deixa os defesas na incerteza sobre o que o jogador que tem a bola vai fazer, dá a hipótese de escolha ao colega (passar para um jogador liberto ou aproveitar a hesitação dos defesas para driblar) e faz o jogo correr.

                (Olha, o Artur a salvar a pele ao Cardozo…)

Em jogos em que as situações de 2x1 pela linha lateral se repetem dezenas de vezes o over-laping pode valer mais do que trinta lições tácticas, porque num momento podem encontrar a nesga de espaço, o cruzamento, o 1x1 em zona de remate de que uma equipa pode passar dez ou quinze minutos à procura.

O Benfica, aparentemente, é uma equipa demasiado avançada no espaço e no tempo para fazer o mais elementar do futebol. Para um Mestre da Táctica, estas coisas corriqueiras que qualquer treinador de iniciados sabe não estão à altura, não dão prestígio, são demasiado básicas. Ou então passam tanto tempo a montar vídeos com variações táctico-estratégicas que não têm espaço no disco rígido.

Porque é que estou tão aziado? Porque é por o Benfica não trabalhar o suficiente em campo nestas pequenas coisas que dão trabalho que, aos 76 minutos de jogo, tenho a certeza de que  Beira-Mar, que não joga nada, ainda vai ter pelo menos uma grande oportunidade de empatar o jogo. E não sei se não vai mesmo conseguir marcar. E quem diz o Beira-Mar, hoje, diz um Sporting ou um Porto amanhã.

Porque este futebol é estúpido.

(E, já agora, o Paulo Baptista está mortinho, mortinho…)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Equipas-proveta

A subida de qualidade e de forma do Sporting levanta um questão que acho interessante, porque um dos dogmas eternos do futebol é o que diz que é preciso tempo para «construir» uma equipa.

Esta é a forma racional de pensar. Há um processo, tem de haver um método (em princípio universal para todas as equipas) e, seguindo esse método, atinge-se o resultado. Tudo isto implica fases, tempo, tentativa e erro, recuos e avanços, falhanços para aprender.

Há muito pouca gente que consiga sair desta forma de pensar, e eu incluo-me nesse grupo.

Mas depois acontecem os paradoxos, o que os físicos chamam de singularidades – eventos em que as regras não se aplicam. «Et pur, si muove», como diria Galileu.



Lembro-me da primeira vez que testemunhei, em consciência, o fenómeno. Foi em 1996, quando o Fabio Capello foi para o Real Madrid, que tinha ganho um campeonato em seis anos e estava em queda livre depois de apanhar com o Super-Barcelona de Cruyff.

Capello entra no Real, com ele surgem Mijatovic, Suker, Seedorf, Roberto Carlos e outros e, imediatamente, ganha o campeonato. Foi uma mudança do dia para a noite, e não ficou por aí. Capello só lá esteve uma época, mas a dinâmica que se instalou levou o Real a ganhar três Taças dos Campeões, duas delas já na época dos Galácticos de Florentino, mas com grande parte dos jogadores a serem os que já lá estavam (Raúl, Seedorf, Roberto Carlos, Hierro, Sanchis, etc).



Igualmente espantoso, ainda que mais fácil devido à falta de concorrência, foi o Porto de Mourinho. Mourinho pegou na equipa de Octávio Machado a meio da época e acabou em terceiro. Na época seguinte pegou em Paulo Ferreira, Nuno Valente, Ricardo Carvalho, Maniche, Costinha, Postiga, McCarthy, Derlei e mais não sei quem, recuperou Jorge Costa e, em dois anos, ganhou uma Liga dos Campeões, dois campeonatos, uma Liga Europa, uma Taça, etc. Fez uma equipa campeã praticamente do nada.



Menos avassaladora mas igualmente surpreendente foi a saga do Benfica campeão de 2010. No final de uma época, com Quique Flores, o Benfica não jogava praticamente nada, e as hipóteses de ser campeão, ganhando a Porto e Sporting, eram uma miragem. No princípio da época seguinte, em cinco jogos estava feito um candidato ao título. O que mudou? O treinador (que corrigiu alguns defeitos tácticos – David Luiz a defesa-esquerdo para Sidnei jogar a central, meu Deus! – e inventou algumas soluções – Coentrão, que tinha vindo do Rio Ave, a defesa-esquerdo, Di Maria e Cardozo a titulares absolutos) alguns jogadores novos (Javi Garcia, Ramires, Saviola) e… voilá. Aparentemente, a única coisa que mudou do Benfica de 2009 para o de 2010 foi o bom senso.



Esta equipa do Sporting é, aparentemente, um caso histórico. Não se trata, sequer, de uma equipa feita de uma época para a outra – é mais uma equipa feita em quinze minutos. Estava a perder 2-0 e era uma bela merda e, quinze minutos depois, passou a estar a ganhar 3-0 e não é capaz de perder nem a jogar com o Paulinho à baliza. Isto num jogo em que mudou nove titulares e passou a contar apenas com dois jogadores da época anterior.



É claro que há muito de momento neste Sporting. Está a jogar sem pressão, está super-confiante na sua sorte e a sorte tem-no ajudado quando o engenho não é suficiente (como aconteceu com o Rio Ave ou com a Lazio).

A tendência é para pensar que o que aparece depressa também desaparece depressa. Foi assim com o Porto do Mourinho, ou com o Benfica do ano assado, por exemplo. Geralmente o que acontece, de facto, é mesmo isso: uma equipa que é construída lentamente adquire uma estabilidade natural que faz com que, na quebras, não desça tão fundo e recupere mais facilmente; uma equipa feita subitamente também quebra mais subitamente, e perde o pé com maior facilidade, quando perde não sabe tão bem como fazer para voltar a ganhar.



Tudo isto é verdade – ou parece ser. Mas também é verdade que as equipas feitas de um momento para o outro, quando são realmente boas, permitem aos clubes subir patamares.

O Porto de Mourinho transformou-se no Porto de Del Neri, Fernandez e Couceiro mas, com Adriaanse subiu a um patamar superior ao que se encontrava antes de Mourinho.

O Benfica 2.0 de Jesus foi bastante inferior ao 1.0, mas o 3.0 é o melhor dos três, e duvido muito que, quando Jesus sair, o Benfica retroceda ao estado em que estava com Koeman, Quique, etc.


Este Sporting, feito numa proveta durante o mercado de Verão, é um caso interessante de seguir.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O miúdo não é deficiente

Benfica (IRPR = 0.345)

Um jogo potencialmente muito importante no apuramento para fase seguinte mas onde a pressão estava atenuada por um empate ser considerado um resultado positivo face aos objectivos. Os acontecimentos correram de feição, à excepção da expulsão de Emerson, mas que ocorreu já com 2-0 e a pouco tempo do fim. Mais do que ser banal, o Basileia foi banalizado por mérito do Benfica. Não foi dos jogos de maior pressão (sexta melhor prestação da época), apesar de ter sido um resultado importante. Significativo é que, ao décimo-quinto jogo da época, o Benfica ainda só tenha feito um mau resultado.



Sporting (IRPR = 0.095)

Uma equipa mais difícil do que se pensava, matreira, mas um jogo facilitado pelas circunstâncias (vantagem, superioridade numérica, vantagem pontual no grupo a dar folga psicológica).



Porto (IRPR = 0.000)

Estive na dúvida sobre se deveria considerar este resultado negativo ou apenas parcialmente positivo, uma vez que deu um ponto e pode ser por um ponto que o Porto se apura. Decidi que é negativo porque, se isso acontecer, será contra todas as perspectivas, sobretudo depois do Porto ter perdido na Rússia.

Bem podem dourar a pílula à vontade. O Porto só pode empatar em casa com uma equipa do Chipre se jogar com nove e se estiver a chover só em metade do campo. O resto é conversa para boi dormir.



O que fica em aberto


Benfica

Evidentemente, quem é que Jesus vai desenrascar para defesa-esquerdo para o jogo da Luz. A conversa de chacha do «jogador que faz mais de uma posição» em relação ao Jardel não fez  nem nunca fez sentido nenhum. O Jardel, a defesa-esquerdo, é pior que o Miguel Vítor (e duvido que a central também não seja), ou seja, faz uma posição e é com muito boa vontade.

Eu parecia que estava a adivinhar quando o Jesus fez aquele jogo de poder a propósito do Capdevilla. Estava-se mesmo a ver que o primeiro a ser expulso ia ser o que não tinha substituto por casmurrice do treinador.

É claro que não foi por acaso que o expulso foi o Emerson. Só foi expulso porque apanhou pela frente com o melhor jogador do Basileia, e a questão que fica é precisamente como é que o Benfica vai defender o melhor jogador de uma equipa que joga melhor fora de casa que em casa e que precisa de ganhar para ser apurada.

Comigo, garanto que não inventava e punha o Luís Martins a jogar. Tem pedalada para o outro, tem rotina do lugar (se bem que o sistema de fora-de-jogo do Benfica exija um conhecimento suplementar da equipa) e, ao contrário do que se possa pensar vendo as equipas do Jesus, os jogadores com um ou dois anos de sénior não são deficientes físicos.

Aliás, a grande questão não é como o Benfica vai defender mas como vai atacar. Se jogar como deve jogar, em casa, contra qualquer Basileia, é indiferente quem vai ser o defesa-esquerdo, porque o extremo-direito deles vai passar mais tempo a defender que a atacar. Se começarem a armar-se em parvos e a jogar para o ponto, como se o Basileia fosse o Sporting, então arriscam-se mesmo, e arriscariam sempre, a perder o jogo, fosse o Emerson ou o Maldini o defesa-esquerdo.

O Benfica tem três jogos para fazer quatro pontos, e dois em casa, mas atenção: se perder com o Basileia é mesmo eliminado.



Sporting

Não fica nada em aberto porque até neste jogo, em que o apuramento ainda estava por decidir, o Domingos já jogou com metade da equipa suplente.


Porto

O cenário ideal para o Benfica (pronto, eu junto também o Sporting só para fazer a vontade aos burocratas, apesar de continuar a pensar que os três pontos de desvantagem no campeonato são fictícios…): o Porto vai ter de trabalhar a sério para passar no grupo, vai passar – o que é bom, porque o impedirá de se concentrar totalmente no campeonato, como no ano passado – e o cenário de fazer um passeio deste ciclo competitivo até 11 de Novembro já foi à vida.

O jogo de Donetsk vai ser, esse sim, decisivo, mais até do que o do Chipre. O Porto tem de fazer pelo menos cinco pontos nos próximos três jogos para passar. Já agora, que passe em primeiro, para apanhar um dos segundos dos outros grupos e ver se ainda passa mais uma eliminatoriazita… Eram mais dois joguinhos de alta pressão em pleno Inverno e com o mesmo resultado final: a eliminação.

Furo no balão

Há subtilezas que é preciso compreender. Na terça-feira, na TSF, a locutora das notícias dizia, com a emergência do costume: «Importante, mas não decisivo, diz Vitor Pereira.»
«Espera aí,  – pensei eu –. Decisivo? Um jogo em casa com o APOEL de Nicósia? Em que universo alternativo?»

«Bom», conclui, «é a TSF, jornalismo de agenda, ausência de critério, normal.»

Mas depois vi a capa de um jornal e lá estava a palavra. «Decisivo.»

Confesso que levei demasiado tempo a compreender, mas lá cheguei.



O jogo com o APOEL era tão decisivo para o Porto como o do Pêro Pinheiro – se perdesse. Mas essa premissa só seria válida se se acreditasse que o Porto pudesse perder com o APOEL ou com o Pêro Pinheiro, o que não passaria pela cabeça de 99 por cento da população futebolística nacional.

Como se percebe perfeitamente após o empate, mesmo que o Porto tivesse perdido ou ganho, e mesmo que o resultado do outro jogo não tivesse sido um empate, o jogo com o APOEL não seria decisivo. Há mais nove pontos em disputa e uma diferença de três entre o primeiro e o quarto, sendo que o primeiro é a equipa menos favorita a acabar nessa posição.



A pergunta óbvia seria: «É o jogo para começar a garantir o apuramento?» Faz todo o sentido. Porque é o que realmente era.

A ideia que estava por detrás da pergunta («É um jogo decisivo»?) era a de aproveitar o momento para ganhar balanço. O Porto tinha cinco jogos seguidos para ganhar em dezanove dias (APOEL duas vezes, Nacional e Paços em casa, olhanense fora) antes da interrupção do campeonato, e a ideia, clara, seria fazer deste ciclo de vitórias um novo arranque de época depois da partida em falso, sobretudo porque o Benfica acaba este mesmo ciclo com o jogo em Braga, onde pode perder pontos, o que provavelmente daria a liderança ao Porto.



O único problema é que o ciclo é muito fácil. Ou seja, está pouco valorizado. É preciso dar-lhe mais importância do que a que realmente tem. Na realidade, ganhar os cinco jogos seria o mínimo que se exigiria ao Porto. Convenhamos, não é propriamente uma injecção de adrenalina no coração. Para entusiasmar era preciso vitaminar um bocado a pílula – os jogadores vão nessas tretas com facilidade e a opinião pública (vulgo os cronistas dos jornais) estão domesticados.



É nessa linha de pensamento que a questão da «decisão» é colocada, pela propaganda oficial, através de um dos seus acólitos, na boca do treinador. O que ele diz é irrelevante. O que interessa é fazer a pergunta e usar a palavra «decisivo».

É como perguntar: «Este é um caso de violação de menores?»

«Não», responde o advogado.

Azar: para quem ouviu passou a ser.



Desta forma a suposta fácil goleada aos bons rapazes do Chipre – que é o que toda a gente esperava, sem excepção – seria transformada numa grande vitória num jogo decisivo, e o balão enchia mais um bocadinho.



Eu só pensei assim: «Eh pá, giro, giro era os rapazes chegarem cá darem cabo do esquema.»



Dito e feito. Como diriam os ingleses, «brilliant!»

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Axel,o Eixo

O Benfica comprou Axel Witsel para jogos como o de Basileia – jogos de meio-campo, de disciplina defensiva e de transição rápida, jogos de resultado, para decidir por um golo, jogos, no fundo, de época.
Por isso decidi acompanhar o jogo da Suiça de uma perspectiva diferente: fiz uma estatística própria sobre o Witsel.

Aqui há uns tempos criei uma estatística – às vezes pareço mesmo o Mestre da Táctica a falar… - a que chamei de Estatística Compreensiva. O objectivo é usar a estatística de forma mais qualificada, traduzindo melhor o que os jogadores realmente fazem. A recolha, evidentemente, é muito limitada. Para fazer este tipo de estatística de todos os jogadores num jogo apenas seriam precisas umas sete pessoas. Mas para fazer de apenas um jogador, e com apenas algumas categorias, é fácil.

O racional da Estatística Compreensiva é o seguinte: um passe para o lado entre os dois centrais que vai, depois, para o lateral, e para o guarda-redes e assim sucessivamente, não é o mesmo que um passe que progride no terreno, ou feito na zona de ataque, ou que tenta desmarcar um jogador para marcar golo. Assim como uma recuperação de bola na grande-área do adversário não é igual a uma recuperação de uma bola perdida na zona defensiva.

Há uma série de categorias estatísticas que não usei neste caso, por não ser possível, mas aqui estão a que usei:

- Passes de progressão – é um passe que, de imediato ou no passe seguinte, resulta numa progressão territorial da equipa em direcção à baliza adversária;

- Passes de contenção – é um passe que não resulta nessa progressão imediata ou no tempo imediatamente seguinte;

- Intercepções/recuperações de bola – é isso mesmo: a recuperação da posse de bola pelo jogador;

- 1 contra 1 – todas as situações com bola, ofensivas ou defensivas, e com tentativa de progressão territorial. Um 1 contra 1 ofensivo ganho tem de resultar num avanço territorial sem perda de bola. Um 1 contra 1 defensivo ganho é o oposto, claro;

- Cabeceamento – para se considerar cabeceamento ganho ou perdido tem de haver uma disputa, ou seja, não vale aqueles toquezinhos à vontade, sem nenhum adversário à volta. Isso é um passe normal.

As acções englobadas nestas categorias são divididas, espacialmente, em três terços: terço defensivo, terço médio e terço atacante. Temporalmente, faz-se uma distinção entre as acções em situação de igualdade e em situações de vantagem ou desvantagem, assim como nos últimos 10 minutos de cada parte (que eu, desta vez, não fiz).

Como se torna evidente assim que se começa a recolher os dados jogo a jogo (que eu não faço, torne-se claro, porque dá um trabalho incomensurável e eu sou maluquinho mas não tanto), estas estatísticas só começam a servir para definir as características de um jogador ou, quando vistas em conjunto, de uma equipa, quando se acumulam em grandes quantidades e em muitas situações de jogo diferentes. É a única maneira de detectar padrões. De qualquer forma, desta vez, só por curiosidade, fiz uma só do Witsel e só deste jogo.

Antes de apresentar os resultados, uma dica para os emocionalmente mais instáveis: acompanhar um jogo do Benfica sob esta perspectiva, de estarmos concentrados num aspecto estatístico específico, faz optimamente aos nervos. Desviamos a atenção da parte fanática do cérebro para a parte mais racional e as emoções tornam-se mais suportáveis.

Dito isto, na primeira parte, onde a exibição do Benfica foi mais consistente, Axel Witsel fez 15 passes de progressão na primeira parte, quatro na defesa, oito no meio-campo e três no ataque. Falhou um no meio-campo e não tentou nenhum passe para remate.

Fez cinco passes de contenção, todos no meio-campo e todos após o 1-0, e não falhou nenhum.

Disputou quatro cabeceamentos (2+1+1) e em todos o Benfica ficou com a bola.

Recuperou uma bola na defesa (não em zona de remate) e duas no meio-campo e venceu a única situação de 1x1 que disputou, no ataque.

Fez duas faltas, ambas a meio-campo, e não fez nenhum remate.

Note-se que, em 21 acções de posse de bola e em ataque na primeira parte, Witsel perdeu-a uma vez.
 

Em termos de contacto com bola, a segunda parte de Witsel foi muito diferente e, antecipando já parte da minha leitura do jogo que ele fez, a sua estatística comprova as diferentes formas de utilidade que pode ter mediante as necessidades da equipa. Enquanto a primeira parte foi tão posicional como técnica, a segunda foi, fundamentalmente, posicional. Estou convencido que, se se visse aquela mancha de acção que a UEFA às vezes mostra, a da segunda parte seria mais ampla, pois aí a sua função foi mais de ocupar vários espaços que de ter a bola.


Na segunda parte, Witsel fez 10 passes: sete de progressão e três de contenção.

Dos passes de progressão, falhou três, todos a meio-campo, mas com a atenuante de dois deles terem sido na sequência de cabeceamentos ganhos em que tentou, imediatamente, pôr a bola jogável, com poucas opções de a segurar.

Disputou cinco cabeceamentos, todos a meio-campo, e ganhou quatro.

Recuperou uma bola a meio-campo e outra no ataque e tentou dois 1x1 a meio-campo e um no ataque (nenhum nos últimos vinte minutos do jogo), perdendo dois.


A segunda parte, estatisticamente, é mais modesta que a primeira, mas depois, no fim do jogo, vemos as estatísticas da UEFA e o que vemos? Jogador mais passador no Benfica: Axel Witsel, 39 acções entre passes normais e jogadas de cabeça (mais de dez por cento do total da equipa). Jogador com Maior distância percorrida no Benfica: Axel Witsel, com mais duzentos metros que Javi Garcia num total de 12.29 km.


O que eu vi, ao acompanhar detalhadamente o jogo de Witsel, é consistente com tudo isto.

Vi um jogador que joga nas três zonas do campo (meio-campo, ataque, defesa, por esta ordem). Vi um jogador que não entrega uma bola de barato – quatro perdas legítimas, em 39 acções, e nenhuma em acção defensiva ou na zona perigosa para a sua baliza. Vi um jogador que ganhou 90 por cento dos cabeceamentos que disputou. Um jogador que faz a bola e a equipa andar sem engasganços.

Vi um jogador que está sempre perto da bola, quer a atacar quer a defender – sobretudo, na segunda parte, a defender – que aparece no momento em que o adversário se prepara para aprofundar o jogo e que, por estar aí, o obriga a lateralizar. Witsel não tem muitas recuperações de bola nem 1x1 defensivos porque o seu oponente, com bola, opta por passá-la para o lado – não tem espaço para avançar. Ele é a verdadeira primeira barreira defensiva, na linha frontal do meio-campo.

Witsel é o verdadeiro jogador invisível, e a técnica é a menor das suas qualidades. Se eu tivesse de definir a sua exibição no jogo de ontem – e, consequentemente, as suas principais qualidades como futebolista – em duas palavras, escolheria disciplina e segurança.
Numa equipa de kamikazes sul-americanos, dá um jeito do caraças.


Em relação ao resto do jogo, gostei, além do resultado:

- do ar inteligente que o Jesus põe para pensar;

- do Rodrigo, em pleno jogo decisivo da Liga dos Campeões, a jogar à bola com o cérebro na
jogada do golo (para não falar do resto);

- do Artur (fónix!);

- da concentração defensiva.



Não gostei por aí além…:

- do Gaitán com cãibras aos 70 minutos de jogo (uii…)

- do Maxi a rasgar-se todo (pelo menos este problema fica resolvido: agora é que tem mesmo férias)

- do passe de 60 metros de um idiota qualquer para o Cardozo (destes ele fica com a bola 0 vezes em 350 tentativas) a jogar já com dez menos o Gaitán menos o Chuta-Chuta, a cinco minutos do fim (é esta deficiência cerebral que me deixa fora de mim – já sei, sou picuinhas…)

Quanto ao resto, o Benfica teve a sorte que mereceu, fez o jogo que devia fazer – o que é, repito, o mais importante na Liga dos Campeões (jogar como se deve jogar, sobretudo fora de casa, antes de se querer jogar bem) – e claro, mesmo sendo bem melhor que o Basileia, evidenciou o seu défice de classe, o que é perfeitamente natural.
Vê-se que está a tentar aprender a controlar o adversário e a fluência do jogo mas falta-lhe, ainda, muito instinto alfa.

Reconhecer o momento do jogo, dentro de campo, e atacá-lo como e quando deve ser atacado, como equipa, só é possível quando a qualidade se sujeita à pressão durante o período de tempo suficiente. Requer um ambiente específico (aquele em que tem estado a mover-se nas últimas duas épocas), continuidade no trabalho (que já existe) e talento (que nunca é suficiente…)

domingo, 16 de outubro de 2011

A 2000 chegarás

Se alguém me dissesse que o blog que comecei a escrever no meio das férias de Verão, por puro gozo e necessidade de desopilar os meus disparates sobre futebol, ia ter duas mil visualizações em dois meses, eu chamava-lhe maluco. Mas olha, aqui está: chegámos ontem às duas mil!

É pá, eu sei, duas mil visualizações é muito pouco, é uma pedrinha pequenina a fazer de marco, mas, porra, já é qualquer coisinha.

Acreditem numa coisa: já trabalhei num jornal que vendia dezenas de milhar de exemplares por dia e que era lido por centenas de milhar de pessoas, mas nunca senti, nessa altura, estar tão em contacto com quem me lia como agora com as 50 pessoas que diariamente vêm aqui dar uma vista de olhos ao que se está a dizer. A Internet, de facto, torna-nos (ainda que numa dimensão mínima) relevantes. Antes não percebia muito bem o vínculo – ia dizer o vício – mas agora percebo.

Além desse prazer de sentir que escrevo o que penso sobre o que gosto para alguém que existe, há outras duas coisas que me estão a dar muito prazer.

Uma é a qualidade do pessoal que cá vem: ainda não tive de eliminar nenhum comentário e não me lembro de ter havido alguém a ofender outra pessoa. Gosto muito disso, e tenho vindo a perceber que parece um ambiente raro na Internet. Desejo mesmo que continue assim, porque é sinal que toda a gente sai daqui bem disposta (ou pelo menos sem grandes azias), sem chatices, com um bocadinho mais do que o que trazia ao princípio. Se o preço para continuar esta boa onda fosse nunca passar dos 50 visitantes diários eu assinava já por baixo.

Outra é mais pela graça: nestes dois meses tivemos visitas, além de Portugal, de França, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Suíça, Angola, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Austrália, Rússia, Estados Unidos e Canadá. Acho um piadão a isto. Era giro chegar aí a uns cinquenta países durante o ano. Lá para Janeiro, se a Troika não coeçar a taxar os blogues entretanto,  talvez comece a colocar crónicas sobre o futebol na Malásia, ou na Venezuela, para ver se atraio os mercados alternativos…

Tenho alguma pena de não ter mais tempo para me informar e para pensar mais no futebol e nas coisas que andam à volta, sobretudo desde que recomecei a faculdade, mas se calhar é pelo melhor – não fosse o vício tornar-se destrutivo.
 

Duas mil palmadinhas nas costas para toda a gente e, antevendo já uma quase impossibilidade de postar alguma coisa amanhã, até terça, mais tardar, já com bola a sério. A propósito disto, se alguém tinha dúvidas de que o Manchester United decidiu meter a segunda na Champions é ver como o Ferguson, sem olhar pelo espelho retrovisor, pôs a equipa meio-B a jogar com o Liverpool para poupar os melhores jogadores para os bons rapazes da Transilvânia. Mais uma razão para se encarar o jogo de Basileia como decisivo nas (ligeiras, admitamos…) pretensões europeias do Benfica esta época.