segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

El salvador de la naçom

Mesmo contra uma equipa de fundo da tabela do campeonato, só foi preciso um jogo para, como nas anedotas do português, do francês e do inglês, ver a diferença entre um médio de corpo inteiro (Lucho), um mini-médio de corpo inteiro (o Moutinho)  e um belga a jogar à bola (Defour).

O golo do Lucho foi só um brinde. O trabalho esteve todo na batuta. O homem pegou naquilo e mandou tocar. Joga muito à bola. Quando quero ver um jogo como deve de ser tiro o som à televisão, para separar o trigo do joio – ou seja, a eficácia do bruá. Ao contrário de outros jogadores, que sem a histeria do público se banalizam na televisão, sem som o Lucho ainda joga melhor.

Para os portistas, depois da noite de domingo, só parece haver uma palavra adequada: «Eureka!»



Mas uma das forças do Porto nas últimas décadas foi não ter salvadores da pátria. Parecendo o oposto, os salvadores da pátria são um sinal de fragilidade. O Benfica teve muitos salvadores da pátria nos últimos 30 anos. Todos esses jogadores salvaram alguns jogos – algumas vezes o primeiro e geralmente os que interessavam pouco – mas nunca salvaram uma equipa. A força do Porto, pelo contrário, nunca foi o indivíduo e sempre foi o colectivo.

A lógica do salvador da pátria é a seguinte: «A coisa não funciona. Mas vamos buscar este tipo e é ele que vai pôr a coisa a funcionar.» Ora, isto é um engodo extremamente perigoso, sobretudo quando se fala nestes termos dentro de uma cultura cujos alicerces do sucesso estão assentes numa engenharia diametralmente oposta, que diz que «ninguém é mais importante que a equipa». Não se pode dizer que alguém está acima da equipa neste Porto, mas podemos, claramente, dizer que neste Porto há dois jogadores mais iguais que os outros: Hulk e Lucho. Com Hulk, até agora, penso que é legítimo constatar que o que tem resultado tem sido uma degeneração das soluções colectivas.

Lucho, aparentemente, tem tudo para dar certo, e parece vir a ser uma jogada de mestre, capaz de alterar a conjugação de forças até no próprio campeonato, se o Benfica abrir o flanco. Mas, para ser sincero, olho para o golo do Lucho, para o impacto do Lucho, para o luxo do Lucho, para a quase impossibilidade, para os adeptos, de dar a volta ao Lucho enquanto homem-providencial, e dou por mim a pensar no que já pensei tantas e tantas vezes a propósito das grandes entradas dos homens-providenciais no Benfica: «O fogo-de-artifício lança-se no fim, não no princípio.» Só espero que os resultados, neste caso, sejam os mesmos que foram nessas alturas…



Segundo o João Rui Rodrigues, do Record, o Porto abdicou dos 3 milhões de euros que o Marselha ainda lhe devia para ficar com o Lucho.

Eu, se fosse do Porto, achava um bom negócio. 3 milhões pelo Lucho? Se o Manko vale 3 milhões, o Lucho, mesmo com 31 anos, vale pelo menos 5. Nada a dizer, na minha opinião. Vai ficar o Lucho mais tempo no Porto que o Manko.

Mas a questão que fica é a seguinte: se, na prática, o Porto pagou 3 milhões pelo Lucho, para quê a falácia do «custo zero» que inclusivamente foi enfatizado no comunicado?

Retomando o tema de há dois dias, a ideia que passa é que a maneira do Porto enfrentar os novos tempos do futebol globalizado, em que tudo se vem a saber, continua a ser com histórias da carochinha.

Se ainda fosse num mau negócio, agora neste, com um jogador adorado pelos portistas …

Revelador, no mínimo.

*

Mais uma palavrinha só para o golo do Hugo Viana de antes do meio-campo, quando o árbitro mostrava um amarelo a um adversário, 15 segundos depois dos 94 minutos de um jogo que já não decidia nada, quando já havia jogadores a dirigir-se para os balneários, incluindo o guarda-redes, que se dirigia para o centro do terreno e foi apanhado à traição: filhadaputice.

Nunca gostei deste tipo, e pelos vistos tinha razão.

7 comentários:

  1. Eles ficam mais fortes com o Lucho, disso não há dúvida. Contrataram bem, em termos desportivos. Se chega... valha-nos o VP. De qualquer modo, 2-0 àquele Setúbal não quer dizer puto, não impressiona.

    Se ganharmos na Luz, estão aviados!

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  2. O Hugo Viana só fez o que lhe pagam para fazer. Não é o primeiro que remata assim para a baliza no final de um jogo em que não há nada para ganhar, a diferença é que desta vez a bola entrou. O jogo só acaba quando o árbitro manda. Na minha opinião ele não fez nada de condenável.

    Lucho continua igual. Talvez um nadinha mais lento, mas a classe está lá. Quanto à história do custo zero lá está, é história. Já o "Manko" (lol) confirmou as minhas suspeitas: é o pinheiro que o Paulo Sérgio queria há uns tempos atrás para o Sporting. Para um ataque que estava rotinado a jogar com pontas-de-lança móveis e trabalhadores, surpreende-me o facto do Porto ter ido buscar este gajo. Não me parece que o austríaco vá brilhar muito, mas quem sabe... Um ponta-de-lança que corre pouco precisa de marcar golos para se evidenciar, e isso fica difícil quando se joga na mesma equipa do Hulk. Se o Cardozo estivesse contratualmente ligado aos tripeiros, provavelmente estaria neste momento a fazer companhia ao Walter no Cruzeiro.

    Meia-final: Benfica vs Porto. A equipa que perder este jogo vai ganhar o campeonato.

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  3. O Viana devia dar uma vista de olhos aos jogos da NBA e ver o comportamento dos jogadores, treinadores e árbitros, quando faltam poucos segundos para acabar o jogo e aquela posse de bola já não aquece nem arrefece. Tantos anos no estrangeiro e tem tão pouco "mundo".
    Dei treinos de Basquete durante 11 anos desde mini a juniores e sempre fiz questão de ensinar aos meus jogadores estes "pormenores".
    A chegada do Lucho ao Porto fez-me lembrar a entrada do Paulo "ganhar caralho, ganhar caralho" Futre no Benfica. Deu uma Taça de Portugal num jogo estraordinários e, como dizes ajudou a equipa a ganhar 2 ou 3 jogos mas ajudou a ganhar o campeonato.
    Um abraço,
    RS

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    1. Errata: Extraordinário e não estraordinários.

      Errata 2: no final do último parágrafo queria dizer "não ajudou a ganhar o campeonato".

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    2. É uma daquelas gracinhas que não tem graça nenhuma, mesmo que haja 50 milhões de pessoas a ver no You Tube. Para fazer a gracinha, quando já não tem nada a perder, faz o guarda-redes passar uma humilhação. Não é ilegal, não é proibido, mas já não é cmpetição e é feio, só isso. Ele que tente fazer isso a meio de um jogo a sério, quando perder uma bola tiver importância e quando estiverem todos «metidos» no jogo em vez de a sair dele, e eu louvo-lhe a audácia. Agora assim, à menino, é apenas reles. Chico-espertice. Falta de dimensão ética que explica, na miha opinião, muito do insucesso deste jogador no campeonato inglês.

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    3. Só para completar: e ainda por cima ao guarda-redes de uma equipa muito inferior, que conseguiu ir a Braga aguentar o empate até ao minuto 94. Sem querer dramatizar muito isto, não sei se o Viana teria feito aquilo se alguma vez tivesse jogado num clube pequeno.

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  4. O Porto realmente anda a traulitar o fado do António Mourão "Ò Tempo Volta para Trás" que é assim mais ou menos"ò tempo volta para trás,dá-me tudo o que eu perdi,tem pena e dá-me a vida,a vida que eu que eu não vivi,...etc,etc...:)!

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