sexta-feira, 16 de março de 2012

Heavy Metalist

O sorteio da UEFA foi óptimo para o Benfica, sobretudo na parte em que saiu o Metalist ao Sporting. Se fosse pedido à la carte não teria saído tão bem. Ter o Sporting numa viagem à Ucrânia, saindo de lá na 5.ª feira à noite, com todas as probabilidades de ter de fazer um jogo pleno de esforço e concentração para passar e tendo todas as hipóteses para isso, para depois jogar em Alvalade na 2.ª feira seguinte, sobretudo quando o Benfica joga na 4.ª feira, num pulinho a Londres, é um bónus, na luta pelo título nacional, que nenhum benfiquista esperaria receber.

Se isso será decisivo no Sporting-Benfica. Muito dificilmente. Aliás, quando se fala nestes factores aleatórios deve-se ter sempre em conta que, tendo importância, não terão mais de 10 ou 15 por cento de importância relativa no jogo. Há outros factores que contam muito mais – desde logo da qualidade das equipas às próprias incidências do jogo. Contam muito mais que o eventual cansaço físico e psicológico. Mas esses 10/15 por cento que o cansaço conta nesta equação não são, dentro de uma luta tão equilibrada como a que estamos a assistir, minimamente desprezáveis. Ou seja, não deverá ser pelo cansaço do Sporting que o Benfica irá ganhar a Alvalade, mas pode ser.



Como já está mais que visto por quem vem regularmente ao site, a minha abordagem à Champions é tão pragmática quanto possível. Eu preferia que o Benfica já não estivesse na Liga dos Campeões. Entre ter mais 5 ou 10 por cento de hipóteses de ganhar o campeonato e passar uma eliminatória da Champions (mesmo com o dinheiro e o prestígio consequentes), esta época, sempre escolhi a primeira.

Eu teria preferido que o Benfica tivesse jogado com o Real Madrid nos oitavos-de-final e que a eliminatória tivesse ficado resolvida na 1.ª mão. Tivesse isso acontecido (sempre os ses…) e, provavelmente, hoje o Benfica estaria com o campeonato quase ganho. Como já se tornou evidente, o Benfica não tem, sequer, um plantel suficientemente apto sequer para competir a fundo no campeonato, muito menos tendo de enfrentar equipas com 200 milhões de euros de orçamento às quartas-feiras.



O voluntarismo irracional dos adeptos de futebol é um traço característico, e toca a todos. Toda a gente coloca a crença acima da razão. Senão também não valia a pena existir futebol, toda a gente jogava xadrez, onde não há cartas escondidas nem elementos aleatórios. É claro que só deve haver 5 pessoas no mundo que prefiram jogar xadrez a jogar futebol. Ou 4. Isto falando de pessoas sem handicaps físicos e emocionais graves, claro…

É, por isso, sempre enternecedor ver um benfiquista a admitir que as hipóteses de passagem da eliminatória são de 50/50.

Os factos racionais?

Nenhum jogador de campo do Benfica que tenha jogado frente ao Paços de Ferreira teria lugar, de caras, no onze do Chelsea, e só dois ou três é que teriam lugar na rotação – Luisão, Javi García, Witsel. Garay pode-se incluir neste lote. Os dois que teriam lugar no onze, de facto, já lá estão: David Luiz e Ramires. Este facto, apenas, é suficiente para aquilatar a diferença real de qualidade meramente futebolística entre as duas equipas.

Qualquer das cinco melhores equipas inglesas da actualidade, considerando o Tottenham como a quinta, é superior (e em alguns casos claramente superior) à melhor equipa portuguesa, que é o Porto, e, pela lógica, ainda melhor que a segunda, que é o Benfica. Tomar a eliminatória entre o City e o Sporting como exemplo é claramente errado. O City auto-eliminou, como fica evidente para quem queira ver com olhos de ver – nos 45 minutos em que decidiu que estava a jogar uma eliminatória da UEFA e não apenas a assinar um papel na alfândega o City ganhou 3-0, e chegou a ser constrangedor ver o Sporting a aproveitar cada paragem do jogo para fazer o mesmo papel que o Feirense vai fazer a Alvalade. É muito mais representativa a eliminatória entre o City e o Porto do que esta.



Em termos futebolísticos, Benfica e Chelsea continuam a estar, com ou sem Villas-Boas, com ou sem chicotadas, com ou sem crises, em universos conjecturais diferentes. E nada disto é segredo para ninguém. Diria mesmo que 90 por cento dos adeptos chegariam à mesma conclusão.

Repare-se que não estou a falar do facto de o Benfica vir a dar luta, mas de passar a eliminatória. Luta dá-se sempre, ter hipóteses reais de passagem é outra coisa.



Há três factores que jogam a favor do Benfica num cenário de eventual apuramento.

Jogar em casa a primeira mão é um deles. Receber uma equipa favorita em casa na primeira mão é bom porque estende a eliminatória. O Chelsea tem qualidade mas não tem personalidade – acho que nenhuma equipa inglesa actualmente a tem – para vir jogar à Luz ao ataque sabendo que tem um segundo jogo em casa. E, ao prescindir de entrar logo ao ataque, guardando-o mais para a segunda mão, dá espaço à equipa favorita para tentar equilibrar as forças, equilibrando a abordagem positiva ao jogo. Foi o que aconteceu com o Nápoles. Ao não assumir claramente a sua superioridade em Itália, o Chelsea abriu a porta a uma equipa inferior, e por pouco não foi mesmo à vida.

Outro é a facilidade histórica que o Benfica tem em enfrentar equipas inglesas. Mesmo com alguns resultados muito negativos pelo meio – lembro-me sobretudo dos jogos com o Liverpool, o grande carrasco benfiquista na década de 80 – não há, no conflito de estilos entre o futebol do Benfica e o inglês, uma clivagem tão grande como a que existe com o futebol inglês ou o italiano. Ao contrário do Porto, que tem um estilo muito mecânico e não bate bem com os ingleses, que vivem muito da correria e de um ritmo elevado, o estilo do Benfica, historicamente, tem aquilo a que os britânicos chamam flair, e que pode ser traduzido, grosso modo, como imprevisibilidade. Para o mau, dá em inconstância e elevada falibilidade; para o bom provoca situações incontroláveis pelos sistemas rígidos. Muitas equipas britânicas já sofreram na pele essa capacidade do Benfica em jogar out of the box, digamos assim.Isto não dá uma vantagem ao Benfica, mas equilibra mais as coisas.

Finalmente, penso poder dizer que o Chelsea se dá mal com equipas carismáticas. E isto quer a nível interno quer a nível externo. Não estou, note-se, a falar necessariamente de história. Não é a antiguidade do Benfica nem a sua dimensão histórica superior que colocarão problemas ao Chelsea. É a sua personalidade.

O forte do Benfica não é a ciência, é a mística. O carisma. O forte do Chelsea não é o carisma, é a ciência. O Chelsea, como clube internacional, é um clube emocionalmente amputado. Falta-lhe alma. É, no fundo, um clube pequeno num corpo grande – ao contrário de um City, de grande índole popular, de um Tottenham, de um Arsenal, mesmo de um Everton e alguns outros. O Chelsea é um clube tecnocrático. O Benfica é um clube democrático. Tal como o Nápoles. O Benfica, o Nápoles, o Valência, só para falar em alguns que esta época colocaram grandes dificuldades ao Chelsea apesar do claro desnível qualititativo, têm esse carisma que Abramovich não pode comprar. Não há, neles, nada de artificial. No Benfica, pelo contrário, o que há é uma lacuna de artificialidade, de técnica, de ciência que enquadre a alma. O Benfica, exactamente ao contrário do Chelsea, tem uma alma maior do que o seu corpo. Alguém que tente explicar a um benfiquista que o Benfica deveria abordar a eliminatória de forma cautelosa, pela lógica. Isso, no Benfica, não existe. Até eu, que sou um cabeça de ovo, sinto que, lá no fundo, se quisermos mesmo, e mesmo contra o que seria mais útil, ATÉ OS COMEMOS!!!

Só por isso, mesmo sabendo que ao Benfica não restarão mais de 25 por cento de hipóteses de chegar às meias-finais da Champions, será muito interessante assistir a esta eliminatória.



Quanto ao resto, fico satisfeito. Acho fraquinho andar na Champions e querer jogar com o ZENIT, com o APOEL, com o Marselha e ganhar a final a um Mónaco qualquer. Qual é a diferença entre estar na Champions e estar na Liga Europa se, depois, não se joga contra os realmente grandes? Já para não dizer que ser eliminado por um Chelsea é claramente diferente de ser eliminado por um Marselha ou por um APOEL.

5 comentários:

  1. Extra Liga Bwin:

    Nacional-Porto

    Não acredito que o Porto vá fazer como o Benfica e perder em duas jornadas toda a vantagem em relação ao segundo. Penso que ganha na Madeira e arrisco dizer que ganha facilmente
    Aposta: Porto marca 3 ou mais golos. 4 euros a 2.60


    Benfica-Beira-Mar

    Não consigo resistir às odds desta aposta, considerando que para o Benfica a cabeça já está no jogo com o Porto e que para o Beira-Mar um pontinho sabia a bacalhau:
    5 euros em como o Benfica ganha por um golo de diferença, a 4.40.

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  2. Eh pah maior parte dos temas deste post foram assunto das minhas conversas matinais, até parece coisa do demóine!

    Depois do Sporting garantir a passagem da eliminatória, a primeira coisa que fui fazer foi ver quando calhavam os jogos da liga Europa. Realmente uma ida do Sporting à Ucrânia 3 dias antes do derby veio mesmo a calhar. É que já se sabe que uma vitória dos lagartos sobre o Benfica para eles é como ganhar o campeonato, logo quanto mais cansados eles entrarem em campo melhor.

    Também não entendo como é que a malta benfiquista acha que temos 50% de hipóteses de passar. O Benfica só se pode bater taco-a-taco com o APOEL e Marselha, todas as outras equipas são superiores à nossa. Ainda para mais este Chelsea já teve tanto dissabor esta época que vai encarar esta eliminatória com muita seriedade e sem a arrogância do City. Uma coisa é achar que podemos passar, outra é dizer que em 10 jogos ganhávamos 5.

    Também não me parece que o Porto perca pontos hoje. O Nacional é uma equipa demasiado ingénua para saber aproveitar a falta que o Fernando faz no meio-campo dos tripeiros. É pena.

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  3. Estou neste momento a ouvir na TV a reportagem dos lacostes a cantarem de galo na chegada da equipa.Tadinhos.Enchem logo o balão por dá cá aquela palha e depois quando rebenta"ai,ai que o bicho é mau".Pois eu estou cá com uma fézada que o Nacional vai fazer a vida negra ao Puerto.

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  4. O benfica terá uns 35% de hipoteses pois o Chelsea vai apostar tudo na Champions,principalmente agora que recuperaram algum andamento.
    Os Lagartos vão ter de escolher entre a Liga Europa eo jogo do Benfica.Uma escolha dificil para aquelas almas que ainda não perceberam que a eliminatoria com o City foi uma versão do conto da Lebra e da Tartaruga.Lá virá outra vez a euforia.É possivel um clube passar por isso 2 vezes na mesma temporada?Só o Sporting mesmo.
    Daqui a pouco não há nada a fazer.Quando uma equipa vai jogar a casa do acólito Alves que apenas quer a benção do Padre da freguesia das Antas (Palavras do próprio numas escutas perto de sí)...

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  5. De facto a fábula da lebre e da tartaruga encaixa-se perfeitamente a esta eliminatória o Sporting.

    Como esta equipa do Nacional consegue marcar 4 golos num jogo, como marcou na semana passada, é um mistério científco maior que o da criação da vida no Universo.

    Se eu vos disser que ando com um feeling que o titulo se vai decidir no Porto-Sporting desde que o Benfica foi lá empatar talvez vocês não acreditem, mas garanto que é verdade.

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