quarta-feira, 7 de março de 2012

Quem é que sabe?

Ainda não é hoje que vou aos 111 milhões. Não deu. Mas há uns dias pus-me a pensar alto – que é como quem diz a pensar com os dedos no teclado – e ficou-me isto para aqui, que se calhar vale a pena publicar.



Os americanos dizem que só há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. Nunca tiveram o privilégio de ter um Apito Dourado, senão ficavam a saber de outra: nunca nenhum dos três grandes portugueses vai descer de divisão. O que significa que, todos os anos, enquanto o futebol não for substituído pela caça ao imigrante como desporto nacional, Benfica, Porto e Sporting vão jogar entre si.



Isso levanta-me uma dúvida.

«Sabemos por que é que perdemos com o Porto», disse o homem.

Questão: Quem é que sabe?

O Jesus?

O Benfica?



Questão: Quem é que analisou técnica e tacticamente o jogo no interior do Benfica? O Jesus e os amigos que o Jesus trouxe para o ajudarem a treinar? Mais alguém?



Questão: Quando o Jesus sair do Benfica, o Benfica continuará a saber por que perdeu com o Porto, ou a informação vai com ele?



Questão: Se o Benfica for buscar o Arséne Wenger, ou um marciano brilhante, por exemplo, que não perdeu tempo a assistir a este Benfica-Porto, o Arséne Wenger ou o marciano poderiam, pela simples visualização a posteriori do jogo, entender as razões mais profundas pelas quais o Benfica perdeu esse jogo? Saberiam, por exemplo, porque não jogou o Rodrigo, e porque jogou mal o Gaitán, só vendo esse jogo?



Questão: Há, dentro do Benfica, um departamento técnico autónomo, independente das equipas técnicas, dependente apenas da Direcção, que disseque o comportamento da equipa, incluindo aí o comportamento e as decisões certas e erradas dos próprios treinadores que, supostamente, «analisaram» o jogo?

E se o treinador do Benfica, este ou qualquer outro, não tiver a competência e a capacidade  de reconhecer um erro, ou não conseguir ler o jogo de forma distanciada para o entender de outra maneira que não a sua?



Questão: Algum departamento técnico no interior do Benfica preparou o Jesus, com antecedentes, para o primeiro Benfica-Porto que ele jogou? Ou ter mais informação além da que se traz na bagagem não interessa?



Questão: Se o Jesus for para o Porto, o próximo treinador do Benfica pode ligar-lhe a perguntar como é que ele ganhou ao Porto e porque é que ele perdeu com o Porto?



Questão: A análise da equipa técnica do Benfica em relação à evolução, aos pontos fortes e fracos, ao comportamento nos treinos e à resposta sob pressão, por exemplo, de Nélson Oliveira, Luís Martins, Witsel, Rodrigo, etc, está devidamente relatada em documentos que fiquem acessíveis ao futuro treinador do Benfica ou é informação confidencial do Jesus e dos seus amigos, que amanhã estarão a trabalhar na concorrência (podendo, aqui, a concorrência ser interna ou externa)?



Questão: As conclusões da equipa técnica sobre a análise do Benfica-Porto estão escritas e poderão ser consultadas futuramente por qualquer profissional técnico do Benfica ou só existem de boca? De que outra forma se poderá saber (até mediante avanços que venham a surgir na metodologia de treino e de jogo) se as conclusões do Jesus estão ou não muito ou pouco incompletas?



Questão: É suposto a transmissão de informação na cadeia interna do clube, ao longo do tempo, estar dependente de entraves tais como a bola que bate na trave e o despedimento prematuro de um treinador? Quem é que guarda essa informação preciosa?



Questão: Existe, de facto, profissionalismo de alto nível no Benfica, ou apenas o convencimento de que se é muito profissional só porque o treinador temporário (e isto é um facto indesmentível, o treinador é sempre temporário) passa a noite a ver vídeos dos campeonatos sul-americanos (vendo os resultados de 80 por cento dessas contratações a questão é para quê, afinal)?



Só estou a perguntar. Não estou a responder.

A sério.

Se alguém souber e não for segredo de Estado que diga alguma coisa.

3 comentários:

  1. Realmente eu também gostaria de saber ou seja o Benfica não tem um gabinete técnico incluído na sua estrutura que acompanhe todos esses vectores referidos pelo Hugo?Não sei e não me cabe na cabeça que o não tenha.Isso seria estar a trabalhar em cima do joelho.Será?Minha nossa.

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  2. Ora aqui estão perguntas pertinentes e que embora não possam ser respondidas deviam ser tomadas em consideração, pois que a organização de um Sistema de Informação Interno de uma empresa deve ser feito e guardado. Num clube de futebol como muito bem indica o Hugo, isso deve e TEM de ser feito.

    De outro modo o que acontece quando os treinadores se vão, ou uma direcção se vai, e vem outra equipa, todo esse manancial de experiências e de conhecimentos acumulados perdem-se e a organização tem de COMEÇAR DE NOVO. E começam a cometer os mesmos erros que cometeram antes. Não há nada pior para uma organização, do que repetir os mesmos erros que se cometeram no passado. Para além de custarem dinheiro, minam a confiança interna e por vezes a confiança externa, a dos clientes. E num clube de futebol custa resultados.

    Não há muita gente que pense nisso, mas é terrivelmente importante. Não sei se no Benfica se faz, mas se não se faz já se podia começar a fazer hoje.

    Diz-se que uma das maiores riquezas das empresas são as pessoas. Pois são. Empregar pessoas cada vez mais competentes, que tragam novos conhecimentos e ideias para poderem ser implementadas e ajudarem a empresa a crescer. Os conhecimentos fazem parte da bagagem competitiva e da competência que deve ser preservada internamente.

    O que há de mais nefasto para uma organização é haver gestores que, por serem inseguros e incompetentes, empregam pessoas sempre piores do que eles. Isso é o pior que pode ser feito e uma organização assim nunca cresce.

    Alguma desta competência tem de ser passada para novos gestores ou novas pessoas que venham substituir os antigos. Dependendo do ramo de negócio, uma grande parte pode ser guardada no sistema informático. Mas existe muita informação que ou está guardada na cabeça das pessoas ou na sua posse em documentos.

    Para a passar, ou terá de ser feito por via oral ou através de documentos que poderão estar dentro do Sistema de Informação Interno. Num caso de um clube de futebol, a via oral parece-me inviável em muitos aspectos, pelo menos naqueles que mudam constantemente, como sejam os treinadores. Neste momento o Benfica tem dentro algumas pessoas directamente ligadas ao futebol que poderão fazer a passagem de alguma informação a novos treinadores e novos jogadores. Penso que alguma coisa estará a ser feita. Existem também treinadores junto da equipa técnica que pertencem à estrutura do clube e que poderão servir de veio de transmissão.

    O ideal era ter alguém dedicado apenas a isso, um especialista formado em futebol, encarregue de ir colhendo a informação espalhada pelos diversos intervenientes, no tempo e no espaço. Com a ajuda da informática e um programa dedicado é muito fácil fazer uma base de dados com toda a informação que poderá sempre que se queira estar acessível a uma busca futura.

    Acho um post muito pertinente. No entanto, penso (espero) que muita coisa apontada aqui já esteja a ser feita.

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    1. Porque se isto (entre outras coisas) se fizer, qualquer clube poderá utilizar os seus recursos para JUNTAR TALENTO À INFORMAÇÃO. Para acumular informação - para criar cultura. E isso, quando se tem mais recursos do que os outros, é uma das chaves do sucesso.

      E eu até espero mais: espero que os profissionais do Benfica façam muito mais do que esta mera hipótese colocada por um curioso amador na Internet.

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