domingo, 11 de março de 2012

Tribunal Inquisitório

Se calhar não devia falar de arbitragem, mas não estou a conseguir resistir: vou fazer de Jorge Coroado, no Tribunal do Jogo e ser o desmancha-prazeres de plantão, quer para uns quer para outros.


Penálti do Hulk

Tal como em inúmeras outras situações, o Hulk passa pelo adversário e decide atirar-se para o chão. Com o Hulk é fácil sabermos que não é falta porque sempre que ele tenta inventar uma falta, quando vai a cair, faz um movimento de tesoura com as pernas, torce o tronco e faz um esgar de dor, que lhe passa assim que cai no chão. É à Futre, mas sem cabelo – o cabelo deu muitos penáltis ao Futre.

No lance do Hulk há contacto mas não há falta. Os jogadores embrulham-se com os braços e o defesa da Académica tenta agarrar o Hulk, sem grande sucesso. Independentemente disso, tecnicamente, é penálti se o árbitro quiser marcar, porque a intenção de fazer a falta está lá. Mas o Hulk, que é um bisonte, liberta-se e ganha a frente. E é já depois de ter ganho a luta física que decide que prefere o penálti e se atira para o chão, lançando as pernas para trás (lá está, em tesoura) à procura de novo contacto – que existe, mas esse já provocado por ele. Não foi o defesa que impediu o Hulk de jogar, foi o próprio Hulk que decidiu não jogar. Logo, não é falta.

O árbitro só lhe dá o amarelo para proteger a sua decisão, que está correcta. Se não desse, apareciam logo os Coroados a dizer: «Se não deu amarelo é porque sabia que foi falta, e se sabia que foi falta devia ter marcado, e se não marcou foi porque não quis marcar.» É só por isso que os árbitros começaram a dar amarelo neste tipo de jogadas duvidosas – para se protegerem.

Comentário bónus: Já houve situações, e vai continuar a haver, em que se diz que não há penálti porque não há contacto. Permitam-me que discorde. Em claro paradoxo com o que aconteceu ontem, há situações em que não há contacto mas em que há penálti. Se um defesa ou um guarda-redes entrarem de carrinho, ou de forma perigosa, sobre um avançado que leva a bola ou que persegue a bola na área, com vantagem, e o avançado, por exemplo, saltar para se proteger, e cair, é claro que tem de ser penálti, mesmo sem haver contacto. É como levar um soco. Há um jogador que nos tenta dar o soco. Nós esquivamo-nos e ele não nos toca. Isso quer dizer que não há agressão? Claro que há agressão. É é uma agressão azelha. Não tem de haver contacto para haver falta, dentro ou fora da área. Se o gesto do defesa for impeditivo de o avançado jogar a bola, claro que é falta.
Não vi o lance do James em directo, só vi uma repetição. Vi que não há nem contacto mas não sei se houve falta – precisaria de rever, para avaliar se é a acção do defesa que o impede de jogar a bola ou se é só ele que se atira para o chão.



O fora-de-jogo do Hulk

 Igual a quinhentos foras-de-jogo todas as semanas em que, quando o fiscal-de-linha consegue ver o jogador (que não conseguiu ver arrancar), este já tem cinco metros de avanço. Não marcar o fora-de-jogo é que seria altamente suspeito. Em cada cem situações destas marca-se fora-de-jogo 95 vezes, e quando não se marca é porque anda mouro na costa.

Na lei do fora-de-jogo o que conta é o momento do passe, na prática do fora-de-jogo o que conta é o momento em que o fiscal apreende a situação, o que demora mais alguns centésimos de segundo. Esses centésimos de segundo podem representar entre 5 e 20 metros de distância do avançado para o último defesa. Não gostam? Não acham justo? Aguentem-se. Todas as equipas do mundo já passaram por isto, e até em situações muito piores, a empatar ou a perder a poucos minutos do fim. É igual para todos. E vai continuar a ser assim enquanto

 não mudarem a lei do fora-de-jogo.

Comentário bónus: o fora-de-jogo do Maicon, na Luz, é fora-de-jogo, pela lei, mas não devia ser, pelo bom senso. Para que é que existe o fora-de-jogo? Para evitar que os atacantes beneficiem de uma vantagem injusta em relação aos defesas (uma vez que já têm a vantagem de ter a bola e de estarem perto da baliza do adversário). Sem a lei do fora-de-jogo o futebol tornava-se num jogo de gato e rato, em que a defesa não teria a mínima hipótese de defender a não ser encafuada na sua grande-área assim que perdesse a bola. Ora, na jogada do livre, na Luz, o Benfica tinha onze jogadores na sua grande-área. Que tipo de vantagem há para o atacante em haver alguém meio metro à frente do último defesa? Os defesas não estão lá todos? Então defendam! Uma sugestão para melhorar a lei do fora-de-jogo e, com isso, melhorar o jogo e evitar as «tácticas do autocarro»: sempre que a equipa que defende tenha mais de cinco jogadores entre a sua linha de fundo e uma linha (a ser marcada) a 30 metros do meio-campo, não há fora-de-jogo. Têm lá defesas? Então defendam a bola.



Penálti do black

Primeira ideia: o cabeceamento é muito perto e a bola é que vai bater na mão do defesa, que já lá estava.

Segunda ideia: a bola só vai bater na mão do jogador porque ele a pôs, intencionalmente, lá, de maneira a impedir que a bola fosse para a baliza.

É um lance complicado mas acho que o árbitro ajuizou bem. O defesa percebe que perdeu o duelo aéreo, que a jogada pode dar golo e deixa a mão atrás para o tentar evitar. Por acaso, a bola bate mesmo no braço. É uma espécie de penálti a priori, mas é penálti.

Comentário bónus: em câmara lenta todas as mãos, casuais ou não, parecem intencionais. É o caso da mão do Cardozo. Quanto mais lenta é a repetição maior parece ser a intenção do jogador em jogar a bola com a mão. Na verdade, seria impossível para o Cardozo não tocar com a mão na bola dado o movimento natural do seu corpo e a posição da bola em relação a ele. Geralmente a primeira ideia, que é a única que é vista em velocidade real, é a correcta. E aqui, amigos, não há tecnologia que valha: é sempre a capacidade do árbitro (o seu talento, no fundo, e a sua coragem) que vai decidir. Nenhum computador será capaz de julgar, em tempo real, a intenção de um jogador. Até porque, muitas vezes, nem o próprio jogador tem uma intenção clara de meter a mão à bola. Ou seja, tem intenção, mas tem-na antes de pensar. É instintivo. No fundo, não quer, racionalmente, fazer a falta, mas fá-la mesmo. Foi, julgo, o que aconteceu ontem.



Apreciação global

Pelo que vi – que não foi tudo, confesso –, digo da arbitragem deste tipo – de que não sei o nome, não conheço e nunca me foi apresentado – o mesmo que disse da do Proença na semana passada: muito boa.

Os erros são aceitáveis, nos principais lances acertou todos e nos que não acertou foi por responsabilidade dos fiscais-de-linha, sendo que essa responsabilidade é relativa pois são lances quase impossíveis de ajuizar de outra maneira em tempo real.

Se todas as arbitragens em Portugal fossem tão boas como esta haveria fundamentos éticos para castigar com um mês de ordenado qualquer indivíduo que difamasse a honra dos árbitros e estaríamos muito mais perto de termos um futebol mais justo.

Comentário bónus: A reacção dos elementos do Porto à arbitragem – uma espécie de «sim, mas…» - além de revelar o bom-senso possível numa situação de frustração e pressão, vem confirmar duas coisas:

- não é, definitivamente, a mesma coisa ser prejudicado por um erro que praticamente entrega o campeonato ao adversário, como aconteceu ao Benfica, e ser prejudicado por um erro num empate em casa com a Académica já com o as faixas a caminho. A dimensão dos dois erros não é comparável. Aliás, remeto para o último parágrafo do post de sábado: é querer confundir a estrada da Beira com a beira da estrada.

- o Porto sente-se à vontade. Compare-se esta reacção do TOC com a que teve em Barcelos. Independentemente disso, em termos de atitude perante o jogo, não desgosto do Pereira. É claro que o ideal seria dizer: «Qual árbitro?», mas admitir os erros da própria equipa é muito positivo. O TOC pode não ser grande espiga a tomar decisões, mas tem sentido crítico e, sobretudo, auto-crítico. É um bom observador, que percebe os erros e não tem medo de os enfrentar. Lá está, daria um excelente adjunto…



Tudo isto dito, continuo a borrifar-me para o fora-de-jogo do Maicon.

Comentario bónus: Só para não pensarem que também eu estou num processo de branqueamento…

10 comentários:

  1. Hugo,

    Peço desculpa, mas não posso concordar com as afirmações sobre a qualidade da arbitragem do lustroso Proença. O Emerson não fica a dever grande coisa à inteligência, mas a diferença de critério entre a não expulsão do Djalma, logo no início da 2ª parte e a expulsão do Emerson é, na minha opinião, a pedra de toque de uma arbitragem habilidosa. O lustroso do Proença fá-lo sempre assim. O tipo não é burro, não se compara a tipos como o Cosme Machado, ou o básico do Paixão. Com o Proença as decisões que influenciam são sempre as que ficam na zona cinzenta.
    Não preciso de to dizer, porque sabes isso. Aliás, basta ler a tua crónica do jogo com o Zenit, no que diz respeito ao árbitro. Está lá.

    Isto não significa que tome a arbitragem do Proença como responsável pela derrota. O reconhecimento dos erros próprios poderia fazer-nos mais fortes e mais imunes a erros de Proenças e Gomes e quejandos. Mas que eles influenciam, isso não se pode branquear.

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    1. Expulsão do Djalma? Dado o numero de faltas que lhe sao imputadas... Foi ele por exemplo que "fez" a falta do 1-2. Nao ha falta nenhuma. Quem tem razoes de queixa afinal? Dizes que devia ter levado amarelo (2o) num lance que é quase uma carga de ombro ao Maxi, em que vão LADO A LADO a correr e ele da um encosto quase as margens da lei (dou de barato). Queres comparar a falta do Emerson, que foi as pernas do Hulk por tras ja tendo perdido o duelo e vendo-o fugir???
      Eu sei tudo sobre este jogo. Podem meter a viola no saco.

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  2. Uma coisa é o que gostaríamos que fosse, se as regras fossem mudadas de acordo com a nossa opinião. Outra coisa, muito diferente, são os factos. E os factos é que houve um penalty descarado, um lance ainda mais descarado quando fruto de um livre em que os jogadores em infracção estavam PARADOS em posição irregular durante largos segundos com o fiscal bem no enfiamento da jogada a olhar para o lance, como se comprova nas imagens. E uma imagem diz mais do que mil palavras.

    Off-side DESCARADO por muito que o tentem branquear com as teorias mais criativas do universo. Os fiscais, já ficou provado, até conseguem ver bem os offsides. São suficientemente competentes para o fazer. QUANDO QUEREM!

    Quanto ao Coroado, who cares?! Um tipo que tem sido toda a vida um manhoso, anti benfiquista primário (não deixa de o ser mesmo quando dá razão) que escreve num jornal manhoso - escreve no jornal certo - que está a caminho da extinção.

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    1. Penalty descarado? Sim, concordo. Basta ir dois posts atrás e ver qur houve um penalty nesse jogo. O do Cardozo. Hugo, essa do "impossivel" e do "movimento natural" é uma pessima analise. A bola parte a 30metros de distância no canto e nao sofre alteracoes na sua trajectoria. Andamos a brincar ou que?
      De resto o unico erro mais relevante
      foi o offside. Estamos quites, sendo que o Cardozo seria expulso por 2o amarelo

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    2. Caro Nuno aconselho-o a rever novamente o ''Penalty'' do Cardoso - Entendo que foi umas das melhores análises que li acerca do lance, existem duas circunstâncias que não foram esmiuçadas a primeira chama-se Maicon, (quem praticou este desporto entende com naturalidade estas situações que são aleatórias e inesperadas) o Canto foi de facto cobrado a 30 Metros, mas foi o jogador do FCP que falhou por Centímetros o Cabeceamento, o Cardoso encontra-se imediatamente atrás do Maicon, por isso é-lhe completamente impossível ter a percepção correcta do lance, quanto mais o sítio onde a bola cai, atrevo-me a dizer que o Cardoso fez o movimento natural de quem defende, ele não tem a noção exacta da bola devido ao movimento do Maicon..
      O segundo argumento de fácil percepção é a reacção do Jogador após cortar o Lance, ele toca na bola, mas não tem bem noção, para onde ou como o fez... Quanto a mim este lance foi excelentemente ajuizado...
      Cumprimentos

      Ass. Scorpion

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  3. João Gonçalves11/03/2012, 15:08:00

    Neste blog o tema arbitragem devia ser banido. Falar, só em circunstâncias muitíssimo especiais. Não vamos transformar este espaço numa espécie de Dia Seguinte da SIC, Prolongamento da TVI ou Trio d'Ataque da RTP. Quando começam a analisar a arbitragem só há uma solução: desligar.
    Neste blog penso não se analisar a árvore mas sim a floresta. Tem sido assim e assim deve continuar a ser. Blogs de outro tipo há para aí às dezenas...

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    1. Tens toda a razão, João. Mea culpa,mea maxima culpa. Não consegui resistir.
      Como se pode comprovar, de boas intenções está o inferno cheio. E uma vez que as coisas vão aquecer bastante nas próximas semanas, não vamos abrir um precedente.

      Vou fazer assim: deixo este post, e todos os comentários, para ficar como (mau) exemplo , e se voltar a cair na tentação vocês dizem-me: «Vai ali àquele post e vê no que isso resulta.»

      Entretanto, vocês vão à vossa vida, aproveitam o domingo, e depois do jogo do Benfica já cá está outro post.

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    2. Aliás, vou fazer uma flash Bwin, só por causa da coisas.

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    3. João Gonçalves11/03/2012, 20:59:00

      Não é necessário o auto-flagelamento... Mas tem-se passado bem aqui sem essas questiúnculas.

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  4. 1º- Não faz mal falar em arbitragem, desde que as pessoas saibam comentar com honestidade e coerência. Coisa que não acontece no Dia Seguinte ou no Prolongamento mas que pode muito bem acontecer aqui se os frequentadores deste blog fizerem por isso.

    2º- Para mim há penalty sobre Hulk, mas só o consegui descortinar após várias repetições e também aceito a opinião de quem não ache que é penalty. Já o lance do James é um "piscinazo", e o colombiano já nos vai habituando a estes mergulhos.

    3º- Faz-me deveras impressão ver um fiscal assinalar um fora-de-jogo que não existe. E porquê? Porque a lei diz que em caso de dúvida se deve beneficiar quem ataca, e se eles não viram o arranque do jogador na altura do passe então não podem ter a certeza que está offside, certo?

    4º- O penalty do Pape Sow foi bem assinalado. Penso que ele não teve intenção de jogar a bola e o Kléber(?) cabeceia praí a meio metro do rapaz. No entanto o braço dele está levantado e é isso que difere este lance do pseudo-penalty do Cardozo contra o Porto, em que a bola lhe bate na cabeça e vai para os braços que estão numa posição natural.

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