segunda-feira, 12 de março de 2012

Champions para toda a gente

Havia 5 equipas envolvidas na luta para não descer. Paços de Ferreira, Beira-Mar, Setúbal, Feirense e Leiria. Destas, o Benfica jogaria com Beira-Mar e Leiria em casa e Setúbal fora, na última jornada. O Porto com Paços, fora, e Beira-Mar, em casa. O Braga com Feirense e Paços, fora, e com o Beira-Mar, em casa.
Teoricamente, o Braga ganha com a decisão do alargamento. Depois o Benfica. Finalmente o Porto.

Por outro lado, considerando que o Porto vai à frente de um campeonato que muda as regras a meio, e que é como se outro campeonato começasse a partir de agora, acho difícil que o Porto – que não parte do zero, entenda-se, mas do «+1» – possa ter razões de queixa.



No entanto, acho precipitado, por um lado, que se considere que vamos assistir a um mini-campeonato dentro do campeonato nas próximas oito jornadas, e por outro que se considere que a vida dos três candidatos fique facilitada pela ausência de pressão sobre as equipas até agora em risco de descer.

Fazer isso é partir do princípio que qualquer equipa joga melhor sob pressão. Muuuito precipitado…

Podemos presumir que uma equipa defenda mais o ponto se precisar dele, mas, por outro lado, não sabemos até que ponto é que a liberdade ofensiva pode dificultar a vida aos seus adversários.

O Paços, por exemplo. Depois de ver o jogo de ontem, alguém tem dúvida de que os melhores jogadores do Paços estão no ataque? O Porto vai jogar da mesma forma que jogaria, pois precisa dos três pontos, mas terá um Paços que, por um lado, já não precisa do resultado, mas que, por outro, joga com um grande, debaixo dos holofotes. O mesmo que o Porto encontrará na Madeira, afinal, com o Nacional.

Pensemos nisto: qual é a principal motivação para qualquer jogador abaixo do quarto lugar do campeonato? Não descer de divisão? É claro que há a parte do brio pessoal, mas, na prática, o que é que qualquer jogador quer, além de receber ao fim do mês?

Um contrato.

E, até boa amostra em contrário, tal como os jogadores dos grandes conseguem bons contratos a mostrar-se na Europa, os jogadores dos pequenos conseguem bons contratos a mostrar-se contra os grandes. É a sua Champions.



Há algum facto demonstrável, científico, digamos assim, além das meras suposições, de que uma equipa seja mais perigosa para o adversário a jogar com pressão do que sem pressão? Qualquer equipa? Seria preciso fazer um levantamento de todos os resultados, por exemplo, dos últimos 20 anos, em jogos entre equipas pressionadas para não descer e candidatos ao título, mas, à partida, do que me lembro, acho que é uma suposição algo forçada. Uma ideia feita.



Essa certeza de que tem de haver uma pressão negativa para haver competitividade na metade de baixo da tabela – uma ideia que sustenta as teorias de que «tem de haver descidas para haver interesse» – é, quanto a mim, um mito. Entre jogadores profissionais o que conta é a carreira. Alguém duvida que, para o Melgarejo, seja muito melhor jogar com o Porto para mostrar o que vale do que para evitar que o Paços desça de divisão? Ou para qualquer jogador do Leiria, que está desejoso de se ver livre daquilo? Se o Paços descer, para o ano, os melhores jogadores estão todos a jogar numa primeira divisão qualquer, a portuguesa ou outra. O romantismo é bonito, mas o Michel, na prática, está-se borrifando para o Paços, o que ele quer é aproveitar os poucos anos que tem de carreira para chegar a um clube maior e ganhar dinheiro.



Eu sou contra as descidas de divisão. Na minha opinião, só trazem negatividade ao jogo. Mudam facilmente o foco da possibilidade de vitória, que é a essência do futebol, para a fuga dramática à derrota, resultando quer numa defesa excessiva do empate quer na castração do instinto natural de cada jogador, desde miúdo, que é o de jogar para ganhar, como animal competitivo e egocêntrico que é.



No desporto americano não há descidas de divisão, e desafio seja quem for a apontar à NFL, por exemplo, ou à NBA, algum défice de competitividade, sobretudo quando as equipas mais fracas e sem hipóteses de apuramento para o Play-off jogam contra outras que estão na luta. E outra coisa: lá, só há um campeão e um lugar de consolação (o de finalista, que é campeão de conferência). Ou seja, são dois lugares vitoriosos para 30 equipas. Mas a competitividade, mesmo pelas equipa medianas, que nenhumas hipóteses têm de serem campeãs, é brutal. Porque a cultura é de vitória, não de empate, e o foco é na vitória, não na não-derrota – aliás, lá não existe sequer a hipótese de empate, ou se ganha ou se perde.



O campeonato português não devia ter descidas de divisão – e se estão a perguntar-se «então e continuam a subir duas por ano até haver 100 equipas na I Liga?», a resposta é não. A Liga deveria ser fechada. E amanhã explico melhor qual seria a minha proposta.



Para já, em relação ao tema principal deste post, em coerência com o que acabei de dizer, não, não acho que alguém tire algum benefício das regras terem mudado a meio curso.

10 comentários:

  1. Andas a ver muita ESPN America...

    O que tens nos Estados Unidos não são são clubes, são franchises e a razão de existirem é por serem mercados relevantes ao nível quer da receitas nos estádios/pavilhões, mas principalmente do potencial comercial (TV).
    E quanto à parte do "Mas a competitividade, mesmo pelas equipa medianas, que nenhumas hipóteses têm de serem campeãs, é brutal." é pura e simplesmente mentira, pois o facto da ordem do Draft ser em grande parte relacionada com a ordem inversa das classificações faz com que a partir de certo ponto possa existir maior interesse em perder do que ganhar.
    Enquanto que na NBA ainda existe um sorteio (com ponderações das classificações para as 3 primeiras escolhas), na NFL esse sorteio não existe mesmo. AInda este ano, houve uma equipa (os Indianapolis Colts) que perderam quase todos os jogos propositadamente de forma a terem o pior "score" da NFL e assim terem a primeira escolha do Draft, num ano em que a 1ª escolha óbvia é um jogador considerado com uma das maiores esperanças da posição quarterback dos ultimos 10 anos pelo menos.

    Esta coisa de achar que os americanos são os maiores em tudo é conversa de comentador de TV ou de sofá.

    aconselho que vás estudar melhor como funcionam as ligas americanas para depois poderes dizer mesmo que achas que aquele modelo de organização desportiva funcionaria em qualquer outro sitio que não nos EUA.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. "O que tens nos Estados Unidos não são são clubes, são franchises e a razão de existirem é por serem mercados relevantes ao nível quer da receitas nos estádios/pavilhões, mas principalmente do potencial comercial (TV)."

      100% correcto.

      'E uma realidade diferente e (read my lips) incomparavel:

      http://en.wikipedia.org/wiki/Expansion_team

      Tentar fazer o mesmo na Europa 'e nao tomar em consideracao as diferentes realidades nos dois continentes. Isto nao 'e somente uma questao de "'e assim que se deve fazer porque 'e assim que se tem vindo a fazer" (isso seria pura falacia).

      Tentar adoptar o criterio descrito acima em Portugal de forma literal seria limitar a liga a Benfica e Porto ou entao a Benfica, Porto, Sporting, Academica e Braga. A partir dai seria um sem numero de injusticas, no sentido em que existem terras pequenas com muita cultura de clube e de futebol e terras relativamente grandes em que o oposto acontece.

      Eliminar
  2. Hugo,

    O exemplo americano pode ser falacioso. Não quer dizer que discorde por completo da tua opinião, contudo, devo lembrar que a classificação na NBA é decisiva para atribuição de vagas no draft e que pode servir de meio de negociação entre clubes, pelo que não a podemos desvalorizar.

    Abraço,
    RS

    ResponderEliminar
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  4. Se começarmos por pensar que aqui nem os grandes têm demonstrado ser economicamente viáveis, a ideia de desporto profissional à americana parece de aplicação altamente improvável. Não é por acaso que o modelo americano não é seguido em mais nenhum país relevante, tanto quanto eu saiba...

    Há muitas razões para se estar contra esta alargamento. O personagem Fiúza podia ser uma delas. Outra é o próprio presidente da Liga. Genro do tipo do Marítimo, funcionário do advogado de Pinto da Costa. Os casamentos por conveniência também se praticam na máfia do futebol luso :).

    O alargamento é a imagem de marca do dirigismo desportivo lusitano - um bando de batoteiros, como pouquissimas excepções, que aturam o que tiverem de aturar para assegurar manutenções e subidas.

    ResponderEliminar
  5. ESPN America?
    Quando eu comecei a ver basquetebol americano ainda só havia dois canais de televisão em Portugal, amigo. E o basquete que dava, no segundo, era só meia parte, uma hora de jogo.

    Eu conheço a realidade americana há 25 anos. Conheço perfeitamente o sistema de draft, mesmo antes de ser como é actualmente, sobretudo na NBA, e sei o suficiente para dizer que esse tipo de comportamento (perder de propósito) é raríssimo, para não dizer que praticamente não existe. Assumir que isso é a prática comum é que é, de facto, não saber do que se está a falar e pensar «à antiga portuguesa», sem conseguir imaginar uma cultura desportiva que não seja feita à base do esquema, do delegado Armindo ou do São Martinho de Penafiel.
    Dosul, se achas que é mentira que haja competitividade a meio da tabela nas ligas americanas é porque o teu sofá está avariado.


    São vocês que estão a ser precipitados, ao tomarem como garantido o que acham que eu defendo, porque, provavelmente, nunca pensaram realmente sobre isso e só consideram a hipótese de uma cópia. É que eu não disse, de todo, que o modelo americano, puro e duro, é aplicável ao futebol europeu. Mas há lá coisas importantes a aprender.

    Os americanos não são melhores em tudo. Nem sequer são melhores, simplesmente têm uma cultura particular, adaptada mas algo afastada dos padrões europeus, tal como os latino-americanos.

    É curioso como, no fim deste post, todos os comentários vão buscar a parte menos importante do dito, que é a dos americanos.
    É bem mais relevante o que está escrito antes disso, e isso sim, merece uma boa discussão, porque é a essência da coisa, não a forma. A forma pode ser a que resulte melhor em cada contexto, desde que a essência esteja entendida.

    Mas mais logo, depois da Champions, falamos mais. E até vamos falar melhor da América, se é assim tão relevante, apesar de não ser o meu objectivo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade.

      João Coutinho e Carlos Barroca.

      O Coutinho então era espetacular. O Michael Jordan foi chamado várias vezes de Michael Jackson, o os NY Knicks chegaram a ser os NY Times.

      Bons tempos. Domingo à hora de almoço. Muitas vezes já tinha tido jogo da minha equipa, iniciados ou cadetes, não me lembro, e os meus pais tinham que gramar com basquete à hora de almoço.

      Abraço,
      RS

      Eliminar
    2. "São vocês que estão a ser precipitados, ao tomarem como garantido o que acham que eu defendo, porque, provavelmente, nunca pensaram realmente sobre isso e só consideram a hipótese de uma cópia. É que eu não disse, de todo, que o modelo americano, puro e duro, é aplicável ao futebol europeu. Mas há lá coisas importantes a aprender."

      Esta foi a ideia que passou.

      Obrigado pelo esclarecimento.

      Eliminar
    3. «E agora... Michand Jencsan no afundançooooo!!!!»
      «Professor, Michael Jordan...»
      «Cnaro, cnaro, Michand Jordan...»

      «Robert Parrish, o Chefe, Narry Bird, Kevin McHane...
      E agora, Kadeeemmmm Abdun-Djabbar, com o seu sky-hook, o gancho vindo do céu...»

      Épico.

      Outros tempos. Torneios de Verão de iniciados, jogos ao domingo de manhã... Bonito.

      Abraço

      Eliminar
  6. De inicio, ingenuamente, julguei que o alargamento seria benéfico para o futebol português quanto mais nao seja por serem mais duas equipas a receber receitas provenientes dos direitos transmissivos e a " encher a casa" com as visitas dos três grandes... Ou melhor com a visita do Benfica. Para alem disso, as equipas jogavam mais vezes o que, comparando com o que se faz no resto da Europa, traria maior competitividade às equipas nacionais.
    Mas cedo me apercebi que esta decisão tinha segundas intenções (neste caso até foi uma promessa eleitoral, o que se compreende, nao se pode é prometer coisas que nao de podem cumprir. Ou melhor, poder, pode-se, mas é uma grande falta de ética) como quase todas as que sao tomadas no futebol português... Então quero que estes dirigentes se fodam e podem ate alargar para 5353 equipas desde que, no fim, seja o Benfica o campeão.

    ResponderEliminar