Atenção a uma coisa: não creio que a Selecção represente Portugal; acredito que a Selecção portuguesa representa o futebol português, o que é diferente. O futebol português, actualmente, é 70 por cento de estrangeiros entre os jogadores titulares dos clubes da I Liga e 85 por cento entre os quatros maiores clubes do campeonato. Achar que um Pepe, um Liedson ou um Deco não representam o futebol português é, perdoem-me, pateta. Para representar o futebol português,aliás, teria de haver mais um ou dois jogadores naturalizados na Selecção.
A Selecção representa-me não por eu ser português mas por eu pertencer, de livre vontade, à comunidade do futebol português.À parte disto, a questão fundamental: o problema da Selecção Nacional nunca foi o talento de treinadores ou jogadores, o estilo de jogo, a componente física ou, sequer, os adversários. O problema da Selecção Nacional sempre foi um e apenas um, e, coerentemente, também é o mesmo problema do futebol português: o problema do futebol português e da Selecção que o representa é e sempre foi um problema de compromisso.
O homem de futebol português, do futebolista ao dirigente, nunca se comprometeu realmente com a Selecção, da mesma forma que nunca se comprometeu realmente com o futebol.
A relação do homem de futebol português com o futebol é uma relação de parasitismo, mais que se altruísmo. O jogador português, o treinador, o dirigente, o adepto português, não respeitam o jogo. Toleram a batota, desde que os favoreça, cultivam o anti-jogo, desde que os favoreça, e pensam sempre naquilo que o jogo lhes pode dar antes de pensarem naquilo que têm de devolver ao jogo. E assim que podem saem para onde tiveremem mais a ganhar, sem se importar de deixar a terra toda queimada atrás de si. É esse défice de reciprocidade que torna o futebol português num pântano, e é por o futebol português ser esse pântano que o que dele nasce (a Selecção do que de melhor é gerado pelo futebol português) é, invariavelmente , uma experiência mórbida, algo que é apenas suportável e raramente agradável.
Que ninguém se esqueça, à entrada da chicane que vai dar à recta da meta de mais uma campanha internacional que acabará da mesma forma de praticamente todas as outras – sem grande relevância –, que o único período de sucesso relativamente continuado dos representantes do futebol português (entre 2004 e 2010) foi quando foram liderados por um estrangeiro, que não tinha nada a ver com o futebol português nem voltou a ter, e que teve a audácia de se comprometer a fundo e de comprometer com a equipa todos os que nela trabalhavam.
Saíu o elemento do compromisso – o mercenário, como lhe chamava o atrasado mental do Porto – voltou a Selecção ao ponto morto, dependente da inclinação do terreno.
Também não senti nada na altura dos golos. Nnão sei se estarei doente, ou melhor ainda, se deixei de estar doente... Com o meu clube (Benfica), por vezes acontece-me o mesmo, só sinto qualquer coisa quando a equipa marca o terceiro ou quarto golo, o que nem sempre acontece.
ResponderEliminarDe resto concordo, como de costume, com tudo o que escreveu.
Cumprimentos.
Como não gosto do anonimato mas enganei-me ao submeter o comentário, o dito cujo foi meu, João Paulo Gonçalves.
ResponderEliminarHonestamente, a selecção não me interessa para nada. O meu filho até fica incrédulo quando me ouve dizer que preferia que, como aconteceu, a equipa da FPF tivesse perdido. Desejei-o por uma razão - estou farto dos arranjinhos que voltaram à selecção desde que Scolari saiu.
ResponderEliminarA minha opinião sobre Paulo Bento é muito pior, agora, do que quando treinava o Sporting. Passou a ser um gajo dos que só se importa com o lugar, o salário, aceitando a teia de interesses que pulula à volta da dita.
Eu gostava, gostava mesmo (e quero lá saber se me chamam anti-patriota), que levássemos um banho aí de uma Bósnia ou de um Montenegro. Talvez isso servisse para que alguma coisa mudasse mas, se nem isso acontecesse, ao menos, por uma vez, o crime não compensaria.
Também para mim,a selecção,embora não me seja indiferente,cada vez me diz menos.E isto está ligado,sem dúvida nenhumas,aos dirigentes mafiosos e corruptos que têm sequestrado a FPF.Foi ignóbil a emboscada preparada ao C,Queiróz,independentemente se ele devia ser despedido ou não.O P.Bento,que no Sporting só mostrou teimosia,fraco relacionamento e incompetência,na selecção continua a saga,montado em cima de uma c.social,estranhamente tolerante.
ResponderEliminarConcordando e revendo-me no anteriormente escrito acrescento ainda que penso que se pouparia mais dinheiro em não ir ao Euro, do que aquele que se perderia com patrocinios. E ainda evitariamos figuras tristes, porque elas vão acontecer, ó se vão.
ResponderEliminarPS - Finalmente temos mais de 2 comentários :)
Viva!
ResponderEliminarDiscordo quando diz que a selecção não representa Portugal, por essa lógica, só a bandeira e o hino nacional representariam a nossa pátria. O país, tal como os demais, é representado em diversas áreas. O futebol é uma delas, e a selecção é, na minha opinião, o expoente máximo daquilo que pode representar nosso país. Ainda para mais, não podemos esquecer a nossa sociedade, e da forma como somos fãs e entusiastas do desporto rei. Defendo, de igual forma, que não deveriam ser permitidas naturalizações - sou pateta, portanto-. Medidas como estas, estão a destruir o futebol português. Deveriam ser urgentemente implantadas decretos que estagnassem o fluxo de jogadores estrangeiros nos clubes nacionais. Qualquer dia, não teremos jogadores de qualidade para representar a selecção - e atenção que pelo andar da carruagem não é um futuro assim tão distante-. A actual conduta dos 3 grandes nacionais - excluo o SC Braga porque ser um "grande" não é apenas uma questão de resultados, mas sim de história e aficionados - é, simplesmente, vergonhosa. Na estrutura presente, ninguém faculta possibilidades aos jovens portugueses. Desta forma, como é que construiremos uma selecção sustentável, capaz de carimbar resultados aos que estamos habituados nos últimos dez anos? Como?! Da actual selecção sub-21, digam-me os que vêem com capacidades de assegurar um lugar a médio-longo prazo nos AA? Eu vejo muito poucos, poderei ser pessimista, mas reitero que vejo uma minoria.
Por outro lado, não posso deixar de concordar quando refere o pântano que é o futebol português. Está correctíssimo e penso não haver nada mais a acrescentar.
Por fim, congratulo-o pela excelente crítica, apesar de divergir da sua opinião em alguns pontos.
Os meus mais sinceros cumprimentos,
Paulo Duarte Miguel