sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Equipas-proveta

A subida de qualidade e de forma do Sporting levanta um questão que acho interessante, porque um dos dogmas eternos do futebol é o que diz que é preciso tempo para «construir» uma equipa.

Esta é a forma racional de pensar. Há um processo, tem de haver um método (em princípio universal para todas as equipas) e, seguindo esse método, atinge-se o resultado. Tudo isto implica fases, tempo, tentativa e erro, recuos e avanços, falhanços para aprender.

Há muito pouca gente que consiga sair desta forma de pensar, e eu incluo-me nesse grupo.

Mas depois acontecem os paradoxos, o que os físicos chamam de singularidades – eventos em que as regras não se aplicam. «Et pur, si muove», como diria Galileu.



Lembro-me da primeira vez que testemunhei, em consciência, o fenómeno. Foi em 1996, quando o Fabio Capello foi para o Real Madrid, que tinha ganho um campeonato em seis anos e estava em queda livre depois de apanhar com o Super-Barcelona de Cruyff.

Capello entra no Real, com ele surgem Mijatovic, Suker, Seedorf, Roberto Carlos e outros e, imediatamente, ganha o campeonato. Foi uma mudança do dia para a noite, e não ficou por aí. Capello só lá esteve uma época, mas a dinâmica que se instalou levou o Real a ganhar três Taças dos Campeões, duas delas já na época dos Galácticos de Florentino, mas com grande parte dos jogadores a serem os que já lá estavam (Raúl, Seedorf, Roberto Carlos, Hierro, Sanchis, etc).



Igualmente espantoso, ainda que mais fácil devido à falta de concorrência, foi o Porto de Mourinho. Mourinho pegou na equipa de Octávio Machado a meio da época e acabou em terceiro. Na época seguinte pegou em Paulo Ferreira, Nuno Valente, Ricardo Carvalho, Maniche, Costinha, Postiga, McCarthy, Derlei e mais não sei quem, recuperou Jorge Costa e, em dois anos, ganhou uma Liga dos Campeões, dois campeonatos, uma Liga Europa, uma Taça, etc. Fez uma equipa campeã praticamente do nada.



Menos avassaladora mas igualmente surpreendente foi a saga do Benfica campeão de 2010. No final de uma época, com Quique Flores, o Benfica não jogava praticamente nada, e as hipóteses de ser campeão, ganhando a Porto e Sporting, eram uma miragem. No princípio da época seguinte, em cinco jogos estava feito um candidato ao título. O que mudou? O treinador (que corrigiu alguns defeitos tácticos – David Luiz a defesa-esquerdo para Sidnei jogar a central, meu Deus! – e inventou algumas soluções – Coentrão, que tinha vindo do Rio Ave, a defesa-esquerdo, Di Maria e Cardozo a titulares absolutos) alguns jogadores novos (Javi Garcia, Ramires, Saviola) e… voilá. Aparentemente, a única coisa que mudou do Benfica de 2009 para o de 2010 foi o bom senso.



Esta equipa do Sporting é, aparentemente, um caso histórico. Não se trata, sequer, de uma equipa feita de uma época para a outra – é mais uma equipa feita em quinze minutos. Estava a perder 2-0 e era uma bela merda e, quinze minutos depois, passou a estar a ganhar 3-0 e não é capaz de perder nem a jogar com o Paulinho à baliza. Isto num jogo em que mudou nove titulares e passou a contar apenas com dois jogadores da época anterior.



É claro que há muito de momento neste Sporting. Está a jogar sem pressão, está super-confiante na sua sorte e a sorte tem-no ajudado quando o engenho não é suficiente (como aconteceu com o Rio Ave ou com a Lazio).

A tendência é para pensar que o que aparece depressa também desaparece depressa. Foi assim com o Porto do Mourinho, ou com o Benfica do ano assado, por exemplo. Geralmente o que acontece, de facto, é mesmo isso: uma equipa que é construída lentamente adquire uma estabilidade natural que faz com que, na quebras, não desça tão fundo e recupere mais facilmente; uma equipa feita subitamente também quebra mais subitamente, e perde o pé com maior facilidade, quando perde não sabe tão bem como fazer para voltar a ganhar.



Tudo isto é verdade – ou parece ser. Mas também é verdade que as equipas feitas de um momento para o outro, quando são realmente boas, permitem aos clubes subir patamares.

O Porto de Mourinho transformou-se no Porto de Del Neri, Fernandez e Couceiro mas, com Adriaanse subiu a um patamar superior ao que se encontrava antes de Mourinho.

O Benfica 2.0 de Jesus foi bastante inferior ao 1.0, mas o 3.0 é o melhor dos três, e duvido muito que, quando Jesus sair, o Benfica retroceda ao estado em que estava com Koeman, Quique, etc.


Este Sporting, feito numa proveta durante o mercado de Verão, é um caso interessante de seguir.

2 comentários:

  1. Na fase da mó de baixo, tudo corria mal. Agora na mó de cima, tudo corre relativamente bem. A carreira europeia não diz puto, mesmo o Paulo Sérgio fez algo de muito semelhante. De qualquer modo, acho que este Sporting ainda não teve um jogo verdadeiramente exigente, pelo que tem de se aguardar para ver. A defesa continua fraca e submetida a um ataque mais forte, logo se verá se não vai responder com o sucesso do passado.

    A verdade é que esta equipa tem bem mais soluções que no passado, portanto será mesmo interessante ver como correm as coisas. Se não for antes, o jogo com o Benfica permitirá uma melhor aferição do valor desta equipa.

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  2. Para já, voltar a jogar com Polga e Carriço a centrais, como parece que vai acontecer, é um desafio maior que jogar com dez contra o Guimarães...

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