Já se sabia que o Beira-Mar Benfica ia ser um jogo de tricô. Não é à toa que uma equipa passa sete jogos quase sem sofrer golos. Era coisa para ficar 1-0, 2-1, e à rasquinha.
É precisamente neste tipo de jogos, contra equipas que usam a sua grande-área para fazerem plantação de pitons, que se torna mais visível uma das coisas que mais me tira do sério na equipa do Benfica.
Podia ser a incapacidade de marcar um canto bem marcado? Podia. Mas não é. É ainda pior. Porque para fazer isto nem sequer é preciso tocar na bola.
O Benfica consegue passar um jogo inteiro – inteiro, eu vi! – sem fazer over-laping uma única vez.
O que é over-laping, perguntam vocês (e muito bem, porque isto de ser Mestre da Técnica não é para todos)? Over-laping é uma coisa complicadíssima – para os jogadores do Benfica, obviamente. Over-laping é passar por trás do gajo que tem a bola, caraças.
Neste momento há 50 indivíduos a dizer: «Passar por trás?! Ó pá, vai à merda, isso não interessa para nada, não inventes.»
Ao que eu respondo: «Pois não, não invento porque já está inventado há muito tempo.» (Neste preciso momento, aos 54 minutos de jogo, o Emerson acabou de deixar fugir a bola pela linha de fundo na grande-área porque, como passou pela frente do Bruno César em vez de passar por trás, teve de virar a cabeça para ver a bola e, com isso, perdeu o tempo da jogada.
O Jesus está a soprar para as melenas a pensar na táctica. E eu estou a mandá-lo à merda.)Não há nenhuma equipa de nenhum jogo colectivo de nenhum escalão etário no mundo que não treine o over-laping – a não ser o Benfica, claro, porque são todos muito bons e não precisam disso para nada, uma vez que, ao contrário de todos os outros futebolistas, têm três pernas e cinco pés e consegue fintar para cima de doze jogadores de cada vez.
Eu sei porque quando joguei basquete, nos infantis, aos dez anos, já treinávamos o over-laping.
(Olha o Emerson a passar outra vez à frente do que tem a bola. E a parar, claro…)
Quando um jogador passa a bola a outro tem de continuar a avançar para manter a dinâmica. Se está a tentar criar uma situação de ter o passe devolvido só tem duas alternativas:
- Corre pela frente do outro. Nesta situação o que acontece é o seguinte: o tipo que não tem a bola leva o defesa atrás, tem de parar para não ficar em fora-de-jogo e faz com que o que tem a bola passe a ter, entre ele a baliza, no espaço de dez metros, três jogadores (os dois defesas mais o companheiro, que não tem para onde ir), nenhuma linha de passe e nenhum espaço para fintar, obrigando-o a parar e, finalmente, a jogar para trás, ou então a esperar que o outro javali recue para voltar a ter espaço para jogar. Ou seja, a primeira alternativa não é, de facto, uma alternativa, é apenas um erro à espera de acontecer.
(Vamos ver se o Cardozo não perdeu o jogo nesta jogada em que se esqueceu que tem dois pés…)
- Corre por trás do outro. Leva, à mesma, o defesa atrás, mas como, desta vez, abre uma linha de passe, deixa os defesas na incerteza sobre o que o jogador que tem a bola vai fazer, dá a hipótese de escolha ao colega (passar para um jogador liberto ou aproveitar a hesitação dos defesas para driblar) e faz o jogo correr.
(Olha, o Artur a salvar a pele ao Cardozo…)
Em jogos em que as situações de 2x1 pela linha lateral se repetem dezenas de vezes o over-laping pode valer mais do que trinta lições tácticas, porque num momento podem encontrar a nesga de espaço, o cruzamento, o 1x1 em zona de remate de que uma equipa pode passar dez ou quinze minutos à procura.
O Benfica, aparentemente, é uma equipa demasiado avançada no espaço e no tempo para fazer o mais elementar do futebol. Para um Mestre da Táctica, estas coisas corriqueiras que qualquer treinador de iniciados sabe não estão à altura, não dão prestígio, são demasiado básicas. Ou então passam tanto tempo a montar vídeos com variações táctico-estratégicas que não têm espaço no disco rígido.
Porque é que estou tão aziado? Porque é por o Benfica não trabalhar o suficiente em campo nestas pequenas coisas que dão trabalho que, aos 76 minutos de jogo, tenho a certeza de que Beira-Mar, que não joga nada, ainda vai ter pelo menos uma grande oportunidade de empatar o jogo. E não sei se não vai mesmo conseguir marcar. E quem diz o Beira-Mar, hoje, diz um Sporting ou um Porto amanhã.
Porque este futebol é estúpido.
(E, já agora, o Paulo Baptista está mortinho, mortinho…)
Só mesmo para acabar,nos últimos cinco minutos de jogo o Benfica entregou a bola umas quinze vezes ao Beira-Mar. O que faz todo sentido porque ter a bola não é importante para se marcar golos.
ResponderEliminarE agora estou a ver o Barcelona e vejam lá, estes totós, que não percebem nada de técnica, nem de táctica, passam a vida a fazer over-laping, em todas as jogadas de ataque.
ResponderEliminarParvos.
Estão a precisar de um treinador a sério, de alguém que domine todas as vertentes do jogo.
Ah,e tivemos o primeiro cliente do Brasil. Deve ser o Pelé.
ResponderEliminarHoje apanhei um susto.Mas que raio de jogo foi este?Não fizeram um ataque com cabeça.tronco e membros.E fartaram-se de perder a bola.Grande borra que tivemos.
ResponderEliminarEstive no estádio e saí do jogo quase tão irritado. Do que mais me irritou:
ResponderEliminar- o Bruno César aos 10 minutos já estava a bufar. Disse ao meu irmão, ao meu lado - este já deu o berro. E não jogou um caracol;
- Ainda que temos o Witsel, senão não sei o que seria. Houve uma enorme dificuldade em ligar a defesa ao ataque e Witsel foi o único a fazer alguma coisa (para além do ocasional chutão para a frente);
- Eu gosto do Bruno César e o Nolito, mas de vez em quando dava jeito ter gajos capazes de alargar o jogo em vez de o afunilar, tipo gajos capazes de levar a bola à linha e centrar decentemente, principalmente quando o centro do campo está hiper-povoado;
- precisamos de uma alternativa a cada um dos defesas laterais. O Emerson ontem pareceu mesmo mauzinho. O Rúben pareceu pouco melhor e a falta do Maxi também explica alguma incapacidade para criar oportunidades a sério;
- O Matic precisa de treino básico de passe. O tipo não faz um passe certo. De certeza que o Rúben faz melhor este lugar e ainda não percebi porque é que o Chelsea comprou mesmo o Matic.
Valeu pelos 3 pontos, mas ontem, confesso, tinha preferido ficar em casa.
Já estou mais calmo.Os nossos extremos não dão largura ao jogo,as equipas da liga já começam a topar o movimento que eles fazem para o interior e anulam as jogadas.Se não houver mais imprevisibilidade,vai ser lindo.O Emerson ontem mostrou que é mesmo muito limitado e o Rúben Amorim não é mesmo lateral direito.O Matic é grande,como o JJ gosta,mas é lento e não acertou um passe.Talvez o Rúben fizesse melhor figura que este sérvio.Sinceramente que me assustou.O Domingos,que é um grande rato como treinador,vai-nos fazer a folha,se a equipa não jogar com mais imprevisibilidade e velocidade.Realmente nas jogadas das laterais aparecia sempre 2x1 e os jogadores do Benfica não souberam como resolver,portanto dou toda a razão ao Hugo pela sua análise.Esperemos que o JJ tenha retirado algo de positivo neste desastre colectivo,porque senão...
ResponderEliminarNão vou ao ponto de dizer que fiquei assustado, foi um jogo depois de outro duro para a Champions, contra uma equipa que sofreu 3 golos em 8 jogos. Agora é claro que precisamos de outro tipo de soluções, quer para as laterais, quer para os extremos. Continuo a achar que se devia ter mantido Urreta, porque não temos nenhum extremo "normal" que possa dar o seu contributo. Enzo Perez está lesionado mas mesmo antes não tinha dado um contributo que tenha justificado a respectiva contratação. As coisas são mesmo assim, alguns jogadores integram-se com facilidade, outros nem por isso.
ResponderEliminarAcho que não se pode ficar eufórico pelo jogo de 3ª, nem excessivamente pessimista pelo jogo de ontem.
P.S. - O "Unáite" acabou de levar 6-1 do City. Há jogos mauzinhos...
ResponderEliminarE o mais espantoso do Unáite ainda foi ter conseguido marcar um golo. Grande banho.
ResponderEliminarNuma coisa o JJ tem razão: é nestes jogos, em que a coisa pode cair para os dois lados e acaba por cair para o nosso, que se fazem os campeões. Em 2010 o Benfica teve uns seis ou sete jogos assim e ganhou a maior parte.
É preciso não esquecer que o Unáite jogou toda a 2ªparte com 10.De qualquer maneira podiam ter levado mais.Espero que a fézada que tivemos seja a estrelinha de campeão.
ResponderEliminarÉ a 1ª vez que comento aqui e acho este blogue muito bom.Sobre o tema é um facto que este SLB deixa-nos por vezes a beira de um ataque de nervos.É impressionante a forma como se perde a bola em passes ridiculos e descabidos sendo os alas os que mais contribuem para tal.Valha-nos Witsel e Pablo para fazerem circular e reter a bola.No caso do belga não me surpreende pois passei a minha adolescencia nos escalões de formação(em divisões inferiores) no estrangeiro onde se dá muita importância ao passe e a recepção.Como já o dizia Van Gaal e Cruijff a posse de bola é fundamental pois assim temos nós possibilidade de marcar e ao mesmo tempo defendemo-nos do adversário que não a tem.É um aspecto que tem mesmo de ser melhorado pois cada passe errado pode ser uma entrega do ouro ao bandido e nesse aspecto o Scp revela-se o mais perigoso ou não tivesse marcado nos primeiros 5 minutos em 90% dos seus jogos.Mas vamos a ter fé!
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