terça-feira, 25 de outubro de 2011

As goleadas que embalam o berço

O Benfica teve o jogo-granada da jornada. É, de facto, o tipo de jogo que, na história, tem alçapões por baixo – a seguir à Champions, um adversário cheio de ferrolhos e bem arranjado, a fazer do jogo com o Benfica o jogo da época (geralmente, contra o Porto a fé é menor, porque estão ninguém está habituado a que o Porto dê abébias, e contra o Sporting não é bem a mesma coisa – basta olhar para as bancadas).
Ganhou 1-0, um bocado a correr outro a arrastar-se, mas teve a melhor vitória da jornada em termos práticos porque foi o jogo (bem) mais difícil.

Os 5-0 do Porto são mentirosos, o que faz com que o resultado só pareça muito bom. Os resultados que são melhores que os jogos têm um efeito perverso: os jogadores do futebol são facilmente iludíveis. Talvez por viverem diariamente num ambiente de competição tão intensa, procuram mais a facilidade. Isso é comum a todos os animais. Há uma razão para engordarmos e nos tornarmos sedentários à medida que envelhecemos. Não usamos os nossos recursos para termos mais dificuldades, mas para termos menos. É muito raro (para dizer nenhum) o pai que não tenta dar ao filho uma vida mais fácil que a que teve para si.

Se alguém tentar explicar a um jogador do Porto, depois de ganhar 5-0, que não jogou o suficiente, ele até pode dizer que sim, mas, no fundo, não quer saber. É por isso que se aprende sempre mais com uma derrota do que com uma vitória.

Alguém que fosse dizer aos jogadores e treinadores do Benfica, depois de ganharem o campeonato de 2010, que não tinham jogado o suficiente para, numa época com os azares normais, ser campeão. Eles mandavam-no passear. Por essa razão foi preciso perderem como perderam no ano passado para voltarem ao ponto de onde deviam ter partido para 2010/2011.
 

No ano passado, quando comecei a ver as goleadas do Benfica, lembrei-me logo de um ano em que o Benfica, com o Eriksson, passou três meses a esmagar. Foi no ano em que foi à final da Taça dos Campeões com o Milan. Eram jogos de 5 para cima sucessivamente. Quando chegou a Dezembro o Benfica ia à frente e o Magnusson tinha mais de vinte golos marcados no campeonato (penso que nesse ano foi o segundo melhor marcador da Europa). Aquilo era uma máquina compressora. O que é que aconteceu?
Quando chegou o Inverno as coisas começaram a parecer mais complicadas. O Porto, que tinha dado pouco nas vistas mas quase não tinha perdido pontos, foi empatar à Luz (se não me engano 2-2, com o Domingos e Kostadinov no ataque), o Benfica perdeu mais um jogo em qualquer lado, perdeu nas Antas e perdeu o campeonato.

Isto das goleadas é giro, mas a verdade é que pdem adormecer. Há goleadas e goleadas. Como já disse aqui numa crónica, preferi a vitória do Benfica, este ano, em casa, com a Académica, por 4-1, num jogo difícil, do que os 8-1 ao Setúbal do Azelha em 2010.

Filosofias à parte, teria sido melhor para o Porto ganhar por menos e um pouco mais apertado, para se manter alerta. Ganhar 5-0 ao Nacional, para o Porto, significa pouco. É relativamente fácil ganhar por 5-0 ao Nacional. Marcando os dois primeiros a coisa acaba quando a equipa grande decide que deve acabar. Enquanto tiver o pé no acelerador é juntar golos.

Foi o que acabou por se passar também com o Sporting. A diferença para o Sporting é que os traumas dos jogos em casa se tornaram tão grandes durante a última época que ainda há fantasmas por ali escondidos atrás dos postes.

Ainda em relação ao Porto, havia a expectativa de que pudesse deixar pontos com o Nacional. Mas não é assim que a coisa se vai passar. Não vai ser um fundão no rio. Vai ser um empate aqui, uma derrota ali – a derrota vai mesmo acontecer – mais por serem inesperadas que por falta de qualidade. Numa intermitência, o Porto perde um ponto. Depois passa mais três ou quatro jogos a vencer facilmente. Depois perde outro. Foi assim que perdeu o campeonato de 2010 e, a perder o deste ano, é assim que o vai perder também. A estrutura da equipa do Porto é demasiado forte e os adversários demasiado fracos para lhe infligirem uma série de três ou quatro maus resultados.

Esses tempos acabaram há cinco anos, e enquanto não houver um nivelamento por cima dos três grandes – só o Benfica não chega –, um aumento de pressão e alguma estabilização das segundas linhas do campeonato (Braga, Guimarães, Nacional, Marítimo) não vão voltar.

Vai ser uma coisa gradual. O Porto não vai descer à Terra entre o início e o fim de um mês.


Dito isto…

Benfica (IRPR = 0.215)

A sorte do jogo descomplicou-o para o Benfica. Uma fífia do Rui Rego e um golo num bom momento, uma ou duas boas defesas de Artur, e 90 minutos em terceira. O Benfica foi o único a ter um jogo realmente decisivo na Europa durante a semana – o Porto pode tê-lo tido, mas só depois de se saber o resultado, ao ir para o jogo não – com viagem incluída. As equipas grandes têm a desvantagem de, no campeonato, um empate ser quase sempre um mau resultado e de terem sempre o «ónus do golo», mas neste caso, a debilidade atacante do Beira-Mar era tanta que 1 golo – ao contrário do que acontece geralmente com o Benfica – certamente bastaria para ganhar. Como chegou.


Porto (IRPR = 0.105)

Incluindo um 2-0 em fora-de-jogo nítido (sim, os erros deste tipo – deste tipo… – também contam numa diminuição do índice de dificuldade) tudo correu bem ao Porto. O Nacional tem uma defesa muito vulnerável e um ataque que se vê aflito para marcar golos. A fadiga de quarta-feira entra nas contas, obviamente, sobretudo porque a melhor equipa jogou contra o APOEL.


Sporting (IRPR = 0.095)

Aqui, a melhor equipa jogou contra o Gil Vicente, e na Europa jogaram os suplentes. Um golo aos seis minutos, nenhuma pressão exterior a não ser a normal num clube grande, confiança no topo, um adversário bem mais macio do que o que foi com Benfica e Sporting, e o jogo mais fácil da temporada para o Sporting. É giro como até a rir o Choramingos parece uma madalena arrependida. Que nervos que me mete aquele tipo, sinceramente…

 Ou seja, foi uma daquelas jornadas que não conta para o totobola.

3 comentários:

  1. A mentira dos 5-0 é boa, serve para retirar pressão ao treinador que foi a escolha óbvia. Teremos oportunidade para os discursos banais, corriqueiros, cheios de lugar comum do grande treinador por mais uns tempos.
    Naquele clube tudo soa a falsete, hoje em dia, desde as contas por pagar aos discursos monocórdicos e chatos até à exaustão. Sinceramente, parece que todos assumem uma alienação da realidade como a própria realidade... Que continuem assim.

    A lagartagem, bom, que estão entusiasmados, estão. Até os árbitros acompanham, agora. O Volkswagen deu um belo mergulho para a piscina, com o toque do defesa do Gil, e acabou-se logo ali com o jogo. Estou curioso para ver o que fazem com o Braga.

    Abraço.

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  2. Confesso que sou um benfiquista que sofre em demasia com qualquer falha da equipa(aqui o blog terá que funcionar como um conficionário).Torno-me intolerante e perco totalmente a clareza de raciocínio que em qualquer outra situação da vida me orgulho de ter.Há quem diga que isto é uma doença mas pessoalmente acho(e aqui faço a analogia com a religião)de que sou um fundamentalista.E por isso tenho que fazer um esforço para me moderar.E comecei por dizer isto tudo porque o próximo Benfica-Sporting já começa a mexer comigo e só ponho a hipótese de vitória porque qualquer outro desfecho seria uma vergonha pior que a do ano passado(o Porto é o nosso inimigo a abater,mas o Sporting é o nosso adversário a quem temos de ganhar).Claro que eu sei que as coisas não são tão brancas ou pretas.Este ano estou a pensar ir ver o jogo no meio da claque pois a vibração é incrível.

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  3. Caro xirico,

    Temos de levar as coisas com calma. As 9 vitórias não me impressionam demasiado, mas também não pode achar-se que serão favas contadas. A defesa do Sporting é fraca e acho que eles não têm jogado com equipas que, verdadeiramente, lhes tenham dado trabalho. Mesmo a Lazio, não parece nada por aí além e passaram um sufocozinho (a Lazio que não conseguiu ganhar nem ao Vaslui em casa nem ao Zurique).
    Naturalmente, ganhar será um passo importante para esvaziar o balão deles e para não nos atrasarmos. Para nós, antes disso ainda temos Braga, onde seria importante não perder pontos - claro que com o Olhanense nem ponho essa hipótese.

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