domingo, 2 de outubro de 2011

Um cálice de Porto

O Benfica teve a vitória mais fácil do campeonato. Pouca história neste jogo. O Paços é uma equipa fraca, tão simples como isso. Se há jogos talhados para o desastre, este não era um deles.

A grande jogada de ontem foi a do Vieira.
Apanhou-me de surpresa, confesso. Não o julgava capaz de subir a este nível. E faz-me acreditar que, de facto, a equipa dirigente, departamento de comunicação incluído, pode estar à altura de dar a volta ao Porto.

Primeiro, marcou pontos ao pôr o JJ na ordem. O JJ já se estava a atirar um bocadinho para fora de pé depois do empate nas Antas. O pessoal mais básico embarca facilmente no excesso de confiança. Já era o «quem é que meteu o jogador para segurar o empate», o «fiz bem em escolher o fulano tal», o «eu já tinha pensado nisso há muito tempo», aquelas pequenas avarias do Jesus, que começou a época pianinho e já está a querer abrir as asinhas porque há muito tempo que não ouve ninguém a dizer que ele é um génio.

O Vieira trouxe-o à Terra. Ao dizer que não quer um treinador do Benfica preocupado com treinadores de outras equipas (leia-se com os treinadores do Porto), disse-lhe: «Cala-te e trabalha, porque ainda não ganhaste nada.»
Excelente sentido de oportunidade e, sobretudo, espírito de iniciativa.

O que disse do Grande Timoneiro, contudo, é mais do que oportuno ou proactivo: é audacioso.
«Um treinador jovem que já deu todas as provas de ser capaz de treinar uma grande equipa», disse ele. E, para ter a certeza de que toda a gente percebia, ainda repetiu: «Um treinador que já não tem de dar mais provas a ninguém.»

A chave deste enigma está precisamente aí: Vieira sabe, como os portistas sabem, como toda a gente sabe, e Vieira sabe que todos sabem, que Vitor Pereira ainda não deu provas absolutamente nenhumas de ser capaz de treinar uma grande equipa, pelo contrário, esta a começar a dar provas de que não tem mãos para o barco.
E também sabemos que foi uma escolha pessoal de Pinto da Costa.

Ao pé desta jogada, aqueles cartazes de psicologia invertida que apareceram nas bancadas no Porto-Benfica eram uma brincadeira de crianças.
Vieira não se limitou a dar o troco às opiniões de Pinto da Costa sobre Roberto («É um grande guarda-redes») e Jesus («Se não fosse o treinador…») na época passada. Fê-lo com requintes de malvadez. Porque foi cirúrgico e porque tem razão.

O ponto mais fraco do Porto é o treinador, e Vieira assegurou-se de que ninguém ficava com dúvidas em relação a isso.
Já não me lembro da última vez em que ouvi alguém do Benfica a dizer bem de algo ou alguém do Porto. Nem eu nem ninguém. A única explicação é a mais simples: Vieira não estava, de facto a dizer bem de Vítor Pereira, pelo contrário, estava a atacá-lo de uma forma impiedosa, servindo ao Porto um cálice de veneno puro.

O brilhantismo deste ataque psicológico está no facto de não permitir defesa.
Ao elogiar um treinador que está, nitidamente, a falhar, Vieira está a vincar o seu falhanço. O recurso ao sarcasmo não tem retorno – a não ser com mais sarcasmo, mas isso é difícil porque o Benfica está, ao contrário do Porto, num momento positivo, o que levaria a que uma resposta representasse, previamente, uma derrota (Pinto da Costa aparece como vencedor destas históricas picardias verbais e psicológicas não pela razão que tem mas pela que ganha dentro de campo, quando a sua equipa acaba por cima).
Revela uma leitura perfeita da situação, pois percebe que a contestação ao treinador é real e generalizada e, ao apoiá-lo, mais o fragiliza.
E se, por acaso, o Porto der a volta por cima, Vieira sairá sempre por cima, ao recordar: «Eu sempre disse que a contestação não tinha razão de ser.» Ou seja: «Eu sei mais do vosso clube do que vocês. Vocês têm poucos segredos para mim.» Mesmo que a intenção seja enterrar.
No interior da equipa do Benfica, se o Porto der a volta, não há desculpas, porque o próprio presidente disse: «Eles vão dar a volta, porque o treinador é bom.»
Se alguém do Porto (Grande Timoneiro incluído) reagir à bruta, fica, na opinião pública, com o ónus da questão. Do género: «Então ele estende a mão, com fair-play, e agora eles cospem-lhe?» Marca pontos.

Quando vejo coisas que não fazem muito sentido – como seria, à partida, um elogio do presidente do Benfica a um treinador do Porto com problemas – o meu primeiro impulso é o de desconfiar que ali há uma intenção oculta, um plano.
Não tenho dúvidas de que esta intervenção do Vieira, sem pedir licença a ninguém, e batendo a quente onde devia, faz parte de um plano.
Quando estamos habituados a um barco à deriva, aparecer alguém com uma boa ideia e um mapa na mão faz-nos acreditar.

5 comentários:

  1. A tirada de Vieira foi feita com classe. Múltiplas frases, um ar sério, compenetrado, nem um sorriso fugaz, uma hesitação, um brilhozinho especial que denunciasse o veneno mortal injectado com tanto sangue frio. Brilhante :).

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  2. Vou seguir o vosso blog.Por mero acaso enquanto lia o vosso post,ouvia o Rui Santos a falar do mesmo tema e comecei-me a rir sozinho tal a estupidez desmascarada e deslavada do dito sujeito.

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  3. obrigado xirico
    aparece sempre.

    abraço

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  4. Realmente ate escreves bem, mas nao aceratas uma.
    1ªExiste uma obceçao d vieira por pc(so lhe falta agora andar com uma puta brasileira)

    2ªo k ele disse não passas d uma copia rasca do q o outro disse o ano passado

    3ªa argumentação d q o elogio ficaria sem resposta a altura está ai - http://www.metacafe.com/watch/7334419/7_jornada_acad_mica_vs_porto_vitor_pereira/

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