terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um belo e estéril pântano

A Selecção vai ganhar o play-off e vai ao Europeu, onde vai passar a primeira fase e perder com a Espanha, a Alemanha, a Itália ou a França, por 1-0, 2-1 ou coisa do género. Vi o jogo de viés e não senti absolutamente nada quando sofremos golos ou quando marcámos. E eu sou dos que sofrem com a Selecção. Isto, para mim, quer dizer tudo sobre a selecção. Não sofri porque não sinto que aquelas pessoas me representem ou queiram realmente representar-me.
Atenção a uma coisa: não creio que a Selecção represente Portugal; acredito que a Selecção portuguesa representa o futebol português, o que é diferente. O futebol português, actualmente, é 70 por cento de estrangeiros entre os jogadores titulares dos clubes da I Liga e 85 por cento entre os quatros maiores clubes do campeonato. Achar que um Pepe, um Liedson ou um Deco não representam o futebol português é, perdoem-me, pateta. Para representar o futebol português,aliás, teria de haver mais um ou dois jogadores naturalizados na Selecção.
A Selecção representa-me não por eu ser português mas por eu pertencer, de livre vontade, à comunidade do futebol português.

À parte disto, a questão fundamental: o problema da Selecção Nacional nunca foi o talento de treinadores ou jogadores, o estilo de jogo, a componente física ou, sequer, os adversários. O problema da Selecção Nacional sempre foi um e apenas um, e, coerentemente, também é o mesmo problema do futebol português: o problema do futebol português e da Selecção que o representa é e sempre foi um problema de compromisso.

O homem de futebol português, do futebolista ao dirigente, nunca se comprometeu realmente com a Selecção, da mesma forma que nunca se comprometeu realmente com o futebol.
A relação do homem de futebol português com o futebol é uma relação de parasitismo, mais que se altruísmo. O jogador português, o treinador, o dirigente, o adepto português, não respeitam o jogo. Toleram a batota, desde que os favoreça, cultivam o anti-jogo, desde que os favoreça, e pensam sempre naquilo que o jogo lhes pode dar antes de pensarem naquilo que têm de devolver ao jogo. E assim que podem saem para onde tiveremem mais a ganhar, sem se importar de deixar a terra toda queimada atrás de si.

É esse défice de reciprocidade que torna o futebol português num pântano, e é por o futebol português ser esse pântano que o que dele nasce (a Selecção do que de melhor é gerado pelo futebol português) é, invariavelmente , uma experiência mórbida, algo que é apenas suportável e raramente agradável.

Que ninguém se esqueça, à entrada da chicane que vai dar à recta da meta de mais uma campanha internacional que acabará da mesma forma de praticamente todas as outras – sem grande relevância –, que o único período de sucesso relativamente continuado dos representantes do futebol português (entre 2004 e 2010) foi quando foram liderados por um estrangeiro, que não tinha nada a ver com o futebol português nem voltou a ter, e que teve a audácia de se comprometer a fundo e de comprometer com a equipa todos os que nela trabalhavam.

Saíu o elemento do compromisso – o mercenário, como lhe chamava o atrasado mental do Porto – voltou a Selecção ao ponto morto, dependente da inclinação do terreno.

6 comentários:

  1. Também não senti nada na altura dos golos. Nnão sei se estarei doente, ou melhor ainda, se deixei de estar doente... Com o meu clube (Benfica), por vezes acontece-me o mesmo, só sinto qualquer coisa quando a equipa marca o terceiro ou quarto golo, o que nem sempre acontece.
    De resto concordo, como de costume, com tudo o que escreveu.
    Cumprimentos.

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  2. João Gonçalves12/10/2011, 12:47:00

    Como não gosto do anonimato mas enganei-me ao submeter o comentário, o dito cujo foi meu, João Paulo Gonçalves.

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  3. Honestamente, a selecção não me interessa para nada. O meu filho até fica incrédulo quando me ouve dizer que preferia que, como aconteceu, a equipa da FPF tivesse perdido. Desejei-o por uma razão - estou farto dos arranjinhos que voltaram à selecção desde que Scolari saiu.
    A minha opinião sobre Paulo Bento é muito pior, agora, do que quando treinava o Sporting. Passou a ser um gajo dos que só se importa com o lugar, o salário, aceitando a teia de interesses que pulula à volta da dita.
    Eu gostava, gostava mesmo (e quero lá saber se me chamam anti-patriota), que levássemos um banho aí de uma Bósnia ou de um Montenegro. Talvez isso servisse para que alguma coisa mudasse mas, se nem isso acontecesse, ao menos, por uma vez, o crime não compensaria.

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  4. Também para mim,a selecção,embora não me seja indiferente,cada vez me diz menos.E isto está ligado,sem dúvida nenhumas,aos dirigentes mafiosos e corruptos que têm sequestrado a FPF.Foi ignóbil a emboscada preparada ao C,Queiróz,independentemente se ele devia ser despedido ou não.O P.Bento,que no Sporting só mostrou teimosia,fraco relacionamento e incompetência,na selecção continua a saga,montado em cima de uma c.social,estranhamente tolerante.

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  5. Concordando e revendo-me no anteriormente escrito acrescento ainda que penso que se pouparia mais dinheiro em não ir ao Euro, do que aquele que se perderia com patrocinios. E ainda evitariamos figuras tristes, porque elas vão acontecer, ó se vão.

    PS - Finalmente temos mais de 2 comentários :)

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  6. Viva!

    Discordo quando diz que a selecção não representa Portugal, por essa lógica, só a bandeira e o hino nacional representariam a nossa pátria. O país, tal como os demais, é representado em diversas áreas. O futebol é uma delas, e a selecção é, na minha opinião, o expoente máximo daquilo que pode representar nosso país. Ainda para mais, não podemos esquecer a nossa sociedade, e da forma como somos fãs e entusiastas do desporto rei. Defendo, de igual forma, que não deveriam ser permitidas naturalizações - sou pateta, portanto-. Medidas como estas, estão a destruir o futebol português. Deveriam ser urgentemente implantadas decretos que estagnassem o fluxo de jogadores estrangeiros nos clubes nacionais. Qualquer dia, não teremos jogadores de qualidade para representar a selecção - e atenção que pelo andar da carruagem não é um futuro assim tão distante-. A actual conduta dos 3 grandes nacionais - excluo o SC Braga porque ser um "grande" não é apenas uma questão de resultados, mas sim de história e aficionados - é, simplesmente, vergonhosa. Na estrutura presente, ninguém faculta possibilidades aos jovens portugueses. Desta forma, como é que construiremos uma selecção sustentável, capaz de carimbar resultados aos que estamos habituados nos últimos dez anos? Como?! Da actual selecção sub-21, digam-me os que vêem com capacidades de assegurar um lugar a médio-longo prazo nos AA? Eu vejo muito poucos, poderei ser pessimista, mas reitero que vejo uma minoria.

    Por outro lado, não posso deixar de concordar quando refere o pântano que é o futebol português. Está correctíssimo e penso não haver nada mais a acrescentar.

    Por fim, congratulo-o pela excelente crítica, apesar de divergir da sua opinião em alguns pontos.

    Os meus mais sinceros cumprimentos,

    Paulo Duarte Miguel

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