segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Índice de Relação Pressão-Resultado

Hoje era um dia porreiro para começar a fazer uma análise qualitativa das três equipas da «Religião», não era? Comportamento, confirmações, decepções, previsões, circunvalações, etc, etc. Pois era. (Ainda por cima ontem foi o dia em que veio mais gente ver o blog e temos aí pessoal novo. Bem vindos, reacção incluída. Vamos só combinar uma coisa: não censuro nada, o insulto aqui é livre – não foi o caso – mas só é livre quando é na minha direcção, certo? A partir do momento em que se começarem a insultar uns aos outros nos comentários começo a fechar as torneiras. Só há uma pessoa que escreve no blog, sou eu, chamo-me Hugo, e tenho as costas largas. Quem visita vem cá para se entreter, não é para se chatear. Posto este ponto de ordem…) Era porreiro, não era?
Pois era.
Mas…

- Hoje entrei às 9 e saí às 9 e amanhã tenho outra talega.

- Com o intervalo das selecções corremos o risco, se não deixarmos nada por dizer, de passar duas semanas em conversas circulares, redundantes e desinteressantes, com muitos nomes do tipo Bacalhausson, Pescadássen, Trazmaséasbatatássens ou Nãotesqueçasdapimentásson. Não, obrigado. Não vou falar islandês, dinamarquês ou paulobentoguês.

Como tal, hoje vou fazer uma resenha quantitativa do comportamento das equipas até esta fase da temporada – e quem não achar que «resenha quantitativa» é um termo que o próprio Rui Santos utilizaria no seu programa diário é porque ou não conhece a peça ou não fala ruissantoguês.
Para quem chegou agora, estou a inventar (da minha própria «ótoria», como diria o nosso Saramago da Táctica) um índice que mede o desempenho das equipas sob pressão. Chamei-lhe IRPR (Índice de Relação Pressão Resultado). Porque é que faço isto?

Primeiro, porque sou maluquinho pelas estatísticas, e não encontrei nenhuma que me satisfizesse neste aspecto. Acho que o futebol é, sobretudo, pressão competitiva, e que uma vitória por 2-0 debaixo de grande pressão não diz o mesmo, em relação a uma equipa, que uma vitória por 2-0 contra o Aliados do Lordelo. Na minha opinião, a qualidade da época de uma equipa depende do que ela faz debaixo de pressão. O IRPR é uma tentativa de medir essa qualidade. É uma espécie de barómetro de resposta à pressão competitiva através dos resultados conseguidos pela equipa.
Segundo, para ver se é possível.
Terceiro, no caso de ser possível, para ver se a ideia que temos do desempenho de uma equipa condiz com a realidade ou não.

O IRPR contempla três tipos de pressão sobre a equipa: interna (factores internos que dificultem o desempenho), externo (os factores externos iniciais no jogo, por exemplo o valor da equipa contrária e o facto de o jogo ser em casa ou fora) e as situações de jogo (ou seja, a sorte de jogo, que pode ser favorável, e não exercer pressão, ou desfavorável, e dificultar muito a obtenção de um resultado positivo.)
Há sempre subjectividade na atribuição dos valores mas também uma tentativa permanente de objectividade. No fim do ano vou ver o que esteve bem e o que esteve mal e aperfeiçoar.

Estou convencidíssimo que encontrei a pólvora, como devem calcular. É mesmo isto que vai mudar o mundo. Um dia destes tenho aí a CIA a convidar-me para colaborar com eles ou, melhor ainda, o BCP a pagar-me uma fortuna para fazer um anúncio com uma bracelete.
Seguindo em frente…

1.00 é a pressão máxima a que uma equipa pode estar sujeitar num jogo, considerando o seu potencial e o potencial máximo do adversário que pode encontrar ao longo da época. 0.00 é a ausência de pressão – não existe, há sempre alguma pressão, mas pode ser, por exemplo, 0.010. Já a equipa que algum dia venha a fazer 1.00 fez o jogo perfeito, no momento perfeito, contra toda a adversidade.
Como tal, decidi agora mesmo esta escala qualitativa de valores:

0.00 a 0.99 – pressão muito baixa
0.100 a 0.249 – pressão baixa
0.250 a 0.499 – pressão relevante
0.500 a 0.699 – pressão elevada
0.700 a 0.899 – pressão muito elevada
0.900 a 1.00 – pressão extrema

Prolegómenos despachados (sim, eu sei que disse que ia escrever pouco, mas já escrevi isto antes, ok?), vamos ver no que deu, até agora.

Pressão em valores totais e médios
Benfica
Pressão total – 4.330 em 13 jogos
Pressão média por jogo – 0.333
IRPR – 0.320

Sporting
Pressão total – 3421 em 11 jogos
Pressão média por jogo – 0.311
IRPR – 0.258

Porto
Pressão total – 3411 em 11 jogos
Pressão média por jogo – 0.310
IRPR – 0.169

Uma leitura destes valores:

- O Benfica é a equipa que foi sujeita, até agora, quer em termos absolutos quer em termos médios, a maior pressão. Não só começou a época mais cedo como, nos seus 13 jogos, já teve seis para a Liga dos Campeões (quatro deles a eliminar, um com o Manchester United e outro fora de casa com o Otelul), além do jogo nas Antas, com o Porto, e com o Nacional, na Madeira. Mete algum respeito. O jogo do Porto será, provavelmente, o mais difícil da época do Benfica quando olharmos para trás.
Também é o que está a responder melhor à pressão. De facto, o Benfica não só ainda não perdeu nenhum jogo como, entre os empates, o único que foi um resultado negativo (onde o objectivo não foi alcançado) foi o de Barcelos, com o Gil Vicente. Em 13 jogos, o Benfica teve um resultado negativo e 12 positivos.
Dito por outras palavras, sem ser possível dizer que é a melhor equipa das três, o Benfica está a ser a equipa com melhor desempenho competitivo.

- O Sporting, apesar das seis vitórias consecutivas, está, em termos globais, num nível mais baixo, em boa parte porque o seu calendário tem sido, dos três, o mais acessível. Perdeu mais pontos na Liga, está numa competição europeia de dificuldade inferior e ainda não jogou com Benfica, Porto ou Braga.

- O Porto é a equipa com pior desempenho relativamente ao seu potencial e à pressão a que pode ser sujeito.
Em 11 jogos, o Porto teve quatro maus resultados: Barcelona, Feirense, Benfica e Zenit. Nenhum dos dois empates, por exemplo, serviu os seus objectivos – serviu-os apenas parcialmente. Nestes casos de empate no campeonato, o IRPR potencial é dividido por três, seguindo a lógica de que o empate vale, em termos pontuais, três vezes menos que uma vitória, mas não vale 0. Na Europa, um empate que sirva, teoricamente e à partida para o jogo, os objectivos da equipa, é contabilizado a cem por cento – o do Benfica com o United, por exemplo. Como seria um empate do Porto com o Zenit, para dar outro exemplo.

Benfica
4 jogos mais difíceis:
Porto (f) – 0.825
Twente (f) – 0.610
Twente (c) – 0.455
United (c) – 0.435

4 melhores resultados: nos mesmos jogos (teve resultados positivos em todos)

Sporting
4 jogos mais difíceis:
Guimarães (f) – 0.633
Paços de Ferreira (f) – 0.490
Lazio (c) – 0.448
Olhanense (c) – 0.420

4 melhores resultados:
Três primeiros iguais mais
Nordsjaelland (c) – 0.325
em vez do Olhanense

Porto
4 jogos mais difíceis:
Barcelona – 0.720
Zenit (f) – 0.505
Shaktar (c) – 0.438
Guimarães (f) – 0.385

4 melhores resultados:
Shaktar (c) – 0.438
Guimarães (f) – 0.385
Académica (f) – 0.290
Guimarães (Supertaça) – 0.200

A minha avaliação intercalar em relação ao IRPR:

De uma forma geral, estou agradado. Parece-me que está a conseguir traduzir relativamente bem o comportamento global das equipas e que tem coerência. Vamos ver como se aguenta até ao fim da época e, depois, melhorar o que houver para melhorar.
Nessa altura publico um almanaque no Círculo de Leitores.

3 comentários:

  1. Hugo,

    Esta coisa do IRPR era um pedido da audiência fiel, que agradece a atenção ;).

    Abraço

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  2. Um dia vou ter um conselho consultivo com o Capello, o Mourinho e o Manel Cajuda (este é só para me rir um bocado), fechados numa sala a fazerem-me análises dos factores de pressão e resposta até à casa dos milésimos, e uma app nos iPhones para fazer o download dos índices na hora em que saem do forno.
    Garantidíssimo.

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  3. Conde de Vimioso05/10/2011, 12:05:00

    Aplausos para quem faz o que gosta e ainda o transmite aos outros.

    Muito bom

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