quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Furo no balão

Há subtilezas que é preciso compreender. Na terça-feira, na TSF, a locutora das notícias dizia, com a emergência do costume: «Importante, mas não decisivo, diz Vitor Pereira.»
«Espera aí,  – pensei eu –. Decisivo? Um jogo em casa com o APOEL de Nicósia? Em que universo alternativo?»

«Bom», conclui, «é a TSF, jornalismo de agenda, ausência de critério, normal.»

Mas depois vi a capa de um jornal e lá estava a palavra. «Decisivo.»

Confesso que levei demasiado tempo a compreender, mas lá cheguei.



O jogo com o APOEL era tão decisivo para o Porto como o do Pêro Pinheiro – se perdesse. Mas essa premissa só seria válida se se acreditasse que o Porto pudesse perder com o APOEL ou com o Pêro Pinheiro, o que não passaria pela cabeça de 99 por cento da população futebolística nacional.

Como se percebe perfeitamente após o empate, mesmo que o Porto tivesse perdido ou ganho, e mesmo que o resultado do outro jogo não tivesse sido um empate, o jogo com o APOEL não seria decisivo. Há mais nove pontos em disputa e uma diferença de três entre o primeiro e o quarto, sendo que o primeiro é a equipa menos favorita a acabar nessa posição.



A pergunta óbvia seria: «É o jogo para começar a garantir o apuramento?» Faz todo o sentido. Porque é o que realmente era.

A ideia que estava por detrás da pergunta («É um jogo decisivo»?) era a de aproveitar o momento para ganhar balanço. O Porto tinha cinco jogos seguidos para ganhar em dezanove dias (APOEL duas vezes, Nacional e Paços em casa, olhanense fora) antes da interrupção do campeonato, e a ideia, clara, seria fazer deste ciclo de vitórias um novo arranque de época depois da partida em falso, sobretudo porque o Benfica acaba este mesmo ciclo com o jogo em Braga, onde pode perder pontos, o que provavelmente daria a liderança ao Porto.



O único problema é que o ciclo é muito fácil. Ou seja, está pouco valorizado. É preciso dar-lhe mais importância do que a que realmente tem. Na realidade, ganhar os cinco jogos seria o mínimo que se exigiria ao Porto. Convenhamos, não é propriamente uma injecção de adrenalina no coração. Para entusiasmar era preciso vitaminar um bocado a pílula – os jogadores vão nessas tretas com facilidade e a opinião pública (vulgo os cronistas dos jornais) estão domesticados.



É nessa linha de pensamento que a questão da «decisão» é colocada, pela propaganda oficial, através de um dos seus acólitos, na boca do treinador. O que ele diz é irrelevante. O que interessa é fazer a pergunta e usar a palavra «decisivo».

É como perguntar: «Este é um caso de violação de menores?»

«Não», responde o advogado.

Azar: para quem ouviu passou a ser.



Desta forma a suposta fácil goleada aos bons rapazes do Chipre – que é o que toda a gente esperava, sem excepção – seria transformada numa grande vitória num jogo decisivo, e o balão enchia mais um bocadinho.



Eu só pensei assim: «Eh pá, giro, giro era os rapazes chegarem cá darem cabo do esquema.»



Dito e feito. Como diriam os ingleses, «brilliant!»

3 comentários:

  1. Esperemos que na volta, em Nicósia, se comece a desenhar um "annus horribilis" para os lados do Freixo. Duvido, sinceramente, que os tipos lá consigam ganhar. Não jogaram absolutamente, nadinha, um zero à esquerda.
    A única coisa que me chateia é que se os tipos não se apuram, o Vitinho Tá tá mas é fora da Cadeira de Sonho, também.
    Por outro, como já aqui referiste, Hugo, importa manter os gajos ocupados na Europa, porque tê-los só no campeonato é mauzinho. Espero que se qualifiquem para a "EuroLeague".

    Abraço

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  2. Penso que o Vitinho tem uma clausula de rescisão de 18 milhões que funciona para os dois lados.

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  3. João Gonçalves20/10/2011, 21:15:00

    Se se fala que o FCP não paga o Mangalla e o Defour por falta de fundos, uma clausula de rescisão de 18M a funcionar para os dois lados seria um grande problema...
    Custa a crer que PdC se sujeitasse a isso.

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