segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

«Agora pára, se fazes favor»

Como terão percebido já comecei a funcionar numa lógica inversa. O raciocínio, para mim, já parte de outra base. Não é «o Benfica vai ser campeão porque ganhou na Madeira». É «o Benfica vai ganhar na Madeira porque vai ser campeão».
Wishful thinking, dir-se-á. Pior do que isso: pleno convencimento.

Estava a ver o jogo com o Marítimo, um olho no burro e outro no cigano (o burro era o tipo que eu estava a ler e o cigano era o Jesus) e entrei nos últimos dez minutos a pensar: «Eh pá, está mesmo complicado. Mas que volta é que isto vai dar para o Benfica ganhar?» Porque quem não ganha na Madeira muito dificilmente é campeão. E lá deu a volta.

É por estas e por outras que já não me desconvenço. Quais? Esta, por exemplo: dos outros quatro primeiros classificados o Benfica já jogou fora com três – Porto, Braga e Marítimo – juntando-se a estes o sempre traiçoeiro Nacional e, em casa, o Sporting.

Nada que se compare com Porto ou Sporting. E está à frente do campeonato.

É claro que, se baquear nos jogos contra os Setúbais (o se aqui é meramente académico, dada a minha lógica inversa, bem entendido), nem o Benfica nem ninguém é campeão. Mas se alguma coisa é lógico, neste momento, é que o Benfica seja campeão. Vai perder um jogo algures (tal como o Porto e o Sporting, aliás) e empatar mais três ou quatro (provavelmente um deles em Alvalade) e será campeão.

Lamento retirar-vos a emoção, mas quem anda por aqui arrisca-se a ser totalmente afogado pelo puro e traumático racionalismo da Religião Nacional.



Em relação ao jogo, penso que é justo dizer que estamos, de facto, a assistir ao pleno processo de desaceleração física de uma equipa que começou a competir um mês antes das outras. Nota-se isso em muitos pormenores. Quando Aimar falha aquela jogada em frente ao guarda-redes, por exemplo, o défice não é de técnica, é de frescura.

A incapacidade de fazer mudanças de velocidade, a dificuldade em recuperar defensivamente contra uma equipa a jogar com dez, alguns falhanços, o jogo completamente perro são claros indícios de fadiga, tanto física como mental. E não deixo de considerar as lesões de Luisão e Gaitán, dois dos mais usados, como uma vertente dessa fadiga. Quando dois jogadores têm lesões musculares em lances perfeitamente normais isso é, claramente, o corpo a dar de si, a dizer: «Agora pára, se fazes favor».

Aliás, comparem o volume de golos marcados de um mês para o outro e verão bem a diferença de frescura na hora de rematar. Os golos falam enormidades. Uma equipa que não está fresca, de músculos e de cabeça, não consegue marcar muitos golos.



Se ganhar ao Rio Ave, contudo, o Benfica passará praticamente incólume por Dezembro – não considerando a eliminação da Taça, que por esta altura já deve saber muito bem a muita gente que (muito justamente) andava com a azia ainda há uma semana.

O jogo do Rio Ave, contra toda a lógica, é bastante problemático para o Benfica. Um jogo propício para facilitar e dar 45 minutos de avanço, confiando no golito que há-de aparecer, mas sem pernas para carregar em força na segunda parte, e frente a uma equipa bem treinada, em claro crescendo, e a jogar em velocidade no contra-ataque.

Além disso, os jogadores também sabem ler tabelas classificativas e ver calendários, e não há nenhum que possa dizer, honestamente, que o pior já não passou. O Rio Ave vai marcar na Luz, e o momento e que marcar será relevante para o resultado final. A forma como os jogadores do Benfica encararem o último jogo antes das férias será determinante.



Deixo para os próximos dias a minha análise táctica deste Benfica e, a talho de foice, o prazo de validade do Jesus. Está decidido.



Em relação ao Porto, tudo normal. Não vale a pena falar do falhanço na última jogada. Basta ver, e sentir a angústia que fica em toda a gente, muito mal disfarçada pelo Grande Timoneiro (atenção que o Grande Timoneiro não é o Pinto da Costa, é o mesmo o Pereira – private joke…), que, a pedido da «estrutura», recebeu uma palavra de apoio pública da Criatura, mais falsa que Judas. «Uma excelente pessoa», disse ele. Já estão apelar ao coração. Querem estabelecer um mínimo laço afectivo dos adeptos com o treinador. Pelas reacções dos adeptos, a começar pelos acompanhadores da equipa nos jornais, que são uma espécie de vox populi, vão longe…

O Porto vai ganhar facilmente ao Marítimo – foi, aliás, o grande beneficiado pela arbitragem de Jorge de Sousa no Funchal – e, em Alvalade, perder a liderança do campeonato. Fazendo o seu resultado mau de quatro em quatro jornadas, como sucederá até ao fim da época. Não esperem mais do que isso. O Porto não acabará o campeonato abaixo do segundo lugar.



Já quanto ao Sporting, penso que está a começar a ter problemas. O balão esvaziou, claramente, na Luz; foi relegado para o papel secundário que pretendia ter no começo da Liga e o calendário favorável acabou. Vai ter problemas em Coimbra, com uma Académica que está alguns pontos abaixo do que realmente vale, vai ter problemas para ganhar ao Marítimo para a Taça, em casa, e vamos ver como vem do Natal, com dois jogos decisivos, frente a Porto e Braga.

Mas esta equipa do Sporting é uma equipa com muita piada, futebolisticamente falando. É, aliás, das coisas mais curiosas que aconteceu no futebol português nos últimos anos. Falaremos disso depois.



Benfica (IRPR = 0.441)

Um jogo realmente difícil, em termos de pressão, para o Benfica, só aliviada pela expulsão (justíssima) de um jogador do Marítimo na segunda parte. Se tivesse ganho a jogar contra 11 este teria de ser considerado uma das quatro melhores prestações sob pressão de uma equipa sem Luisão, sem Gaitán, sem espaço para sequer empatar depois da vitória do Porto na véspera, num campo dificílimo, perante a quinta melhor equipa portuguesa da actualidade. Este é um daqueles jogos que cheira a título. Um daqueles de que se diz, quando se perde um campeonato, que «ficaram dois pontos na Madeira.» Não ficaram.



Porto (IRPR = 0.261)

Não é possível menosprezar o facto do Porto ter sofrido o golo inicial a poucos minutos do intervalo, frente a uma equipa muito defensiva – mas também não é possível ignorar a natureza do falhanço do Beira-Mar na última jogada, em que o Porto falhou, claramente, e só não perdeu por demérito alheio. Nesse falhanço, nesse contexto (sem dar azo a recuperações) foi-se a pressão quase toda…



Sporting (IRPR= 0.122)

Contra o último classificado, em casa, com uma semana de descanso, a maior pressão para o Sporting parece ter vindo da casa cheia. E pôs-se mesmo a jeito.

P.S. - Correu bem, muito obrigado. Se a professora me dá menos de 15 ofereço-lhe um cachecol lacoste no Natal.

6 comentários:

  1. João Gonçalves12/12/2011, 21:33:00

    Fomos-nos todos habituando a assistir ao bom futebol praticado pelo Benfica no inicio desta época que só quando a coisas começaram a correr menos bem, nos lembrámos que a época começou a sério para o Benfica um mês antes da dos restantes clubes. Mesmo com alguma rotatividade de jogadores o cansaço nota-se, sendo, talvez, mais mental que físico o que vai dar no mesmo: menos qualidade.
    Não sei qual o remédio para isto. Mais tempo de férias não será o mais indicado mas o Benfica joga sexta e depois só volta a jogar a 3 de Janeiro. Estes 18 dias, com férias de Natal e viagens pelo meio, terão de ser bem geridos para que no inicio do ano o reset esteja feito e o bom futebol esteja de volta.
    Para que tudo isto corra bem, os 3 pontos com o Rio Ave são essenciais.
    Um cachecol lacoste não se oferece a ninguém...

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  2. Pontos menos positivos (nao lhes vou chamar negativos porque tamos nos oitavos e seguimos em primeiro) da epoca do Benfica:

    1. A gestao do plantel so' se tem feito onde se pode. Ou seja, nas pedras essenciais Witsel e Garcia tem sido praticamente nula e o proprio Aimar, penso eu, tem feito mais minutos que na epoca anterior (nao me quero dar ao trabalho de confirmar...).

    2. A finalizacao nunca foi o ponto forte esta epoca e tem sobrevivido sobretudo 'a custa de um Cardozo menos matador que em epocas anteriores e sucessivos tesoes de mijo: primeiro Nolito, depois B. Cesar, depois Rodrigo.

    3. As alas nao estao 'a altura do resto da equipa, em termos de qualidade e/ou ao nivel exibicional.

    Luis

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  3. Gostava de ter metade desse optimismo! :) Continuo a acreditar que o Benfica vai ser campeão, mas este último jogo foi miserável.

    A "única" coisa que não gostei na 1ª parte foi da falta de eficácia, porque de resto, visto que estávamos a jogar na Madeira contra uma boa e moralizada equipa, não nos podemos queixar muito. Agora na 2ª parte devíamos ter feito mais. Discordo num ponto, acho que jogar contra 10 aumentou ainda mais a pressão do Benfica, porque o Marítimo em vez de jogar com 4/5 defesas passou a jogar com 8 ou 9 e este Benfica não tem criatividade nas alas nem sabem chutar de longe, requisitos que qualquer equipa que quer ser campeã deve ter para poder ganhar às "tácticas do autocarro" que futuramente irão aparecer. Apesar da segurança defensiva na 2ª parte não ter sido muita (Maxi voltou às paragens cerebrais), atrevo-me a dizer que contra 11 tinha sido mais fácil.

    Para finlizar, o JJ anda a mexer muito mal na equipa e a inventar demais para o meu gosto. Não sou o maior fã do Nolito, mas antes ter um desequilibrador como o espanhol do que não ter nada. Umas partidas no banco iam fazer bem ao Bruno César.

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  4. Boas! Sou portista, mas gosto muito de ler o que escreves. Queria-te pedir, se tiveres tempo, para escreveres um post para o Porto (e outro para o sporting ja agora) iguAl aquele em que analisavas a equiPa do Benfica jogador a jogador com notas de 0-100. Que tal?

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  5. Boas, portista anónimo. Tá combinado. Devo dizer que, apesar da maioria de posts aqui acabarem por ir dar ao Benfica (defeito emocional), e de eu ser doente pelo Benfica, não é suposto isto ser um blog sobre o Benfica. Aliás, acaba por ser um ciclo vicioso: começo por dar mais atenção ao Benfica porque sou benfiquista, os benfiquistas vêm ler, eu começo a escrever mais sobre o Benfica a pensar neles, vêm mais ler, ando so on, and so on…
    Mas se houver pessoal do Porto e do Sporting a começar a comentar acho excelente. É uma forma de controlo exterior que permite que eu mantenha uma objectividade que é mais difícil quando a corrente só tem um sentido.
    Esse post de que falas, por sinal, foi escrito não tanto no sentido de fazer para o Benfica e não fazer para os outros mas mais num momento em que apareceu um papagaio benfiquista na televisão a falar de uma «equipa de sonho». Eu tentei demonstrar que há pessoas que têm sonhos muito desinteressantes…
    Hoje de manhã estava, precisamente, a pensar escrever um post sobre o Porto, a propósito precisamente dos minutos de jogo. Uma coisa que o Pereira tem conseguido fazer, no meio do turbilhão (e à custa da própria coesão da equipa, acrescente-se), é cortar muito nos minutos dos jogadores em comparação com o Benfica. É uma coisa que pode ser muito importante a partir de Fevereiro/Março.

    Neste momento também convém relembrar uma coisa: o facto de aparecerem contra-correntes nos comentários abre, inevitavelmente, frentes de contraditório. Vai-se falar de árbitros, de corrupção, de regimes, de pneus, de casas de alterne, de aconselhamento matrimonial e todas as outras coisas maravilhosas que rapidamente passam de ter graça para desgraçarem toda a gente.
    Como tal, eu recordo a todos, sem excepção, que o único atrasado mental, idiota, desonesto, etc, etc, etc, que há neste site é a pessoa que escreve os posts. Ou seja, eu. Qualquer tipo de insulto entre os visitantes, sejam membros assíduos, detentores do cartão gold, quer tenham cá garrafa ou venham apenas beber uma cerveja, é liminar e muito fascistamente censurado. A única pessoa que tem direito a ser insultada sou eu. Chamem-me egocêntrico.
    Achei que vale a pena avisar e acho que toda a gente que anda na net nestas coisas da bola e vê a poluição que para aí vai percebe a minha posição. Quem não perceber tem bom remédio e muitas alternativas, obviamente.

    E se quiseres podes pôr o teu nome. Mas se ainda não quiseres eu também compreendo. Nunca fiando, certo?

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  6. Quero pensar que a equipa está nitidamente cansada.A coisa que mais me tira do sério é que os jogadores que não têm a bola,ficam estáticos.Não há desmarcações,movimentações,nada.Quando temos a bola já começa a ser usual que o jogador que a tem,demora a passá-la,porque os companheiros não estão em movimento e são facilmente cobertos pelos adversários.Depois temos a previsibilidade das nossas movimentações ofensivas.Tens razão ao dizer que o futebol é essencialmente processos simples mas não podemos esquecer que a fantasia e a diversificações de movimentações ofensivas é o que faz as grandes equipas para além de uma boa defesa que actualmente quase temos(o Emerson será um bom suplente mas não o titular de uma equipa que quer ser campeã.)Portanto penso que a equipa para além de descanso precisa de mais 3 elementos no mínimo.1 lateral esquerdo,1 extremo direito de raiz e pelos vistos também precisa de um novo lateral direito já que o Maxi para mim é carta fora do baralho(concordo totalmente com as suas análises.)Também quero dar as boas vindas ao adepto portista e que ele não leve a mal alguns estados de alma que serão benfiquistas mas nunca anti-portistas.

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