domingo, 4 de dezembro de 2011

Uma Luz que não morre

Os meus três melhores momentos na antiga Luz:



18 de Abril de 1990.

Não era possível que houvesse apenas 120 mil pessoas na Luz. Não se via escadas, nem entradas para a bancada, só se via cabeças. Eu, um colega doente com eu e o pai, atrás da baliza, como sempre. O Marselha jogava muito à bola. Era a melhor equipa da Europa. Tinham conseguido calar o estádio durante toda a segunda parte. Há um canto do outro lado. Estava o pessoal todo em pé. A bola vai para a molhada e aquele golo, para mim, durou uns três segundos. Do nosso lado do estádio acho que ninguém viu a bola entrar, porque estávamos todos a engalfinhar-nos para ver o que acontecia. Ouvimos o outro lado do estádio aos gritos, o pessoal à minha volta também começa a gritar, eu vejo os franceses a correr para o árbitro (também eu já estava aos berros) e só quando vi os jogadores do Benfica a festejar é que compreendi o que tinha acontecido.

Não é exprimível por palavras. Nunca mais voltei a experimentar aquele sentimento de loucura colectiva que senti nesse momento. Havia pessoas abraçadas, sem se conhecerem, e a caírem sobre as que estavam na fila abaixo. Eu agarrei-me a toda a gente que tinha à volta. Nunca as bancadas tremeram tanto. Não me lembro do que aconteceu até ao fim do jogo. O Benfica estava na final da Taça dos Campeões e aquilo, para mim, era tudo surreal.



30 de Junho de 1991.

Éramos eu e mais 13 pessoas num camarote que normalmente dava para 8. Também não era possível estarem menos de 150 mil pessoas nesse jogo da final do Mundial de sub-20 com o Brasil. Os penáltis foram na baliza do nosso lado. Quando chegou a vez do Rui Costa eu abracei-me a uma miúda por quem estava «ligeiramente caidinho» e que tinha ido comigo e com o mesmo colega do jogo do Marselha, e que tinha ido comigo ver todos os jogos que se jogaram na Luz.

Quando o Rui Costa marcou o golo deu-me um beijo, com o estádio todo maluco à minha volta.

Também gostei de termos ganho o Mundial…



15 de Novembro de 1995.

Nunca apanhei uma molha como aquela. Cheguei à Luz uma hora e meia antes do jogo e já estava a chover. Era de noite e estávamos em Novembro. Saí meia-hora depois do jogo acabar e continuava a chover.

Os irlandeses tinham trazido uns trinta mil adeptos. Antes do jogo, a organização pôs, nos altifalantes, os U2 a cantar Sunday, Bloody Sunday. 30 mil irlandeses a cantarem em uníssono a minha música preferida na altura. No fim,. Agradeceram aos portugueses com palmas e nós respondemos. Fiquei em êxtase. Nunca tinha assistido a uma demonstração de desportivismo como aquela. Ganhámos 3-0 e apurámo-nos para o Euro de Inglaterra. No fim, cá fora, os irlandeses andavam no meio dos portugueses, a rir, a contar piadas e a trocar cachecóis.

Fiquei a admirar intensamente aquele povo, aqueles adeptos e aquela filosofia de futebol.



Aquele estádio foi a minha catedral.

Espero poder vir a sentir pelo actual, um dia, o que hoje ainda sinto por aquele.

5 comentários:

  1. Interessante o post, Hugo. A minha experiência mais viva no estádio antigo foi já relatada num comentário a um texto anterior e foi a meia final da Taça das Taças com o Parma. Depois disso vi alguns jogos de diferente campeonatos, nem sempre com resultados muito positivos.

    No deve e haver, admito que a nova Luz já foi mais visitada e isso tem uma razão - o meu filho. Fi-lo sócio no ano em que nasceu e começámos a ir à Luz com regularidade quanto tinha 5 ou 6 anos e, desde essa altura, nunca mais deixei de ir com regularidade, isto é 3 ou 4 vezes por ano, sempre em competições europeias, na apresentação da equipa ou na Taça do Rei Eusébio. Por isso, espero poder ver jogos memoráveis, embora já tenha assistido a algumas boas exibições. Talvez a melhor tenha sido a dos 5-0 ao Everton, para a Liga Europa.

    Há, por isso, uma ligação maior, porque mais vivida, com a nova Luz!

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  2. À nova Luz, sobretudo por motivos económicos, não consegui ainda criar um vínculo igual, mas posso dizer que já vivi, aí, o jogo da minha vida: Portugal-Inglaterra para o Euro 2004.

    Quando chegarmos ao Euro da Polónia, em vez de estar a falar do treino da selecção, hei-de contar as peripécias desse jogo.

    Foi o momento desportivo da minha vida.

    Mas ainda foi só um. Espero não enguiçar nada (até porque não sou supersticioso...) mas estou a contar (secretamente) que o próximo Benfica-Porto entre para a minha galeria imortal.

    Já não vou ver um Benfica-Porto desde 1992 ou 93, ainda o Domingos e o Kostadinov jogavam pelo Porto. Nunca gostei de ver o Benfica perder com o Porto, e como já sabia o que esperar, nem sequer me aproximava do estádio.
    De tal forma que, comigo no estádio, o Benfica nunca perdeu com o Porto.
    Mas este ano vou lá. Só para verem a fé com que estou para esta época.

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  3. 18 de Abril de 1990

    Após o golo do Vata, fiquem a gritar ataquem cabrões durante uns 3 minutos, achava que o Marselha era um extraordinária equipa e estava a fazer um jogo muito controlado.

    30 de junho de 1991
    Vi esse jogo pela televisão(tenho pena)


    15 de Novembro de 1995

    Nunca esqueci esse jogo, um extraordinário golo do Rui Costa.

    Mas os Irlandeses esses sim o topo norte era todo deles ou quase, apesar da derrota no final do jogo, eu e dois amigos fomos apanhar o Metro ao colombo. Chegamos às escadas de acesso e estava uma multidão imensa, "Vamos mas é para trás, vamos beber uma cerveja às roulotes", bebi umas seis não paguei uma. Um grupo de 4 irlandeses, olhavam para o lado, contavam as pessoas e mandavam vir desde 7 a 11 conforme as pessoas que estavam de momento lá. Um deles estava prestes a ser pai, ou já era não sabia ainda lhe disse "com a minha mulher nesse estado não teria vindo cá ver o jogo", ao que ele respondeu "futebol é futebol e eu não sou médico acho que não faço falta nenhuma".

    Depois ainda notei mais pois o jogo seguinte foi com a Alemanha, e que arrogância dos seus adeptos.

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  4. «Não sou médico».
    Genial!

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  5. Só a partir de 2001 assentei de vez em Portugal de maneira que conheço melhor o novo estádio.O jogo do ano passado contra o Sporting foi o que melhor me soube pois vi-o no meio da claque dos NoNames e a sensação é incrível.Aconselho esta experiência a qualquer um.Este ano,irei de certeza,ao jogo contra o Porto.

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