domingo, 20 de novembro de 2011

Crónica de uma morte anunciada

Na prática, um dos dois troféus que salvam uma época – o outro é o do campeonato nacional – ficou reduzido a uma luta entre Benfica e Sporting, e terá uma equipa de Lisboa na final de certeza absoluta.
A Supertaça é um troféu de pré-época, por mais que os portistas queiram fazer dele um troféu a sério para o poderem contabilizar com os outros que são, de facto, a sério, e só tem alguma relevância quando o jogam dois dos três grandes, o que é para aí metade das vezes.
 A Taça da Liga, apesar de ser, de facto, a competição potencialmente mais competitiva a seguir  ao campeonato, uma vez que entram nela todas as equipas mais fortes e só as equipas mais fortes, ainda não tem estrada nem histórias suficientes para ser levada a sério.
Além disso, uma joga-se um ano antes de acabar a época e a outra dois meses antes. Em Maio já ninguém se lembra a não ser os treinadores e os dirigentes que se agarram a elas como a uma bóia do Titanic.

Já a Taça de Portugal, que se resume a dois, no máximo três jogos realmente difíceis, e que só ganha alguma complexidade precisamente porque Benfica, Porto e Sporting só começam a pensar nela depois de terem o campeonato perdido, pode perfeitamente salvar uma época. É o último jogo da temporada e qualquer equipa que acabe vinte pontos atrás do campeão pode, com uma festa de 30 mil pessoas no Jamor (a última imagem é a sempre a que fica), fazer de conta que a coisa até correu bem. Só diz que a Taça não salva a época quem é eliminado prematuramente. Benfiquistas, portistas e sportinguistas têm todos muita experiência nesse tipo de negação.

Isto é importante porque não é de todo improvável que o Porto tenha perdido, em Coimbra, a possibilidade de fazer uma época apenas sofrível em vez de uma época completamente ruinosa.
Há muita época para o Porto e é altamente provável (não é difícil, aliás) que o melhor Porto da temporada esteja para vir. Não é o mesmo Porto do ano passado. Esse morreu e está enterrado.

(Aliás, quando o Rui Moreira, tentando dizer uma gracinha à Winston Churchill, escreveu na Bola que «as notícias sobre a morte do Porto foram grandemente exageradas», depois de um daqueles triunfos de que agora já ninguém se lembra, há umas semanas, não estava exactamente a pensar bem: de facto, se o Porto não morreu, felizmente, a morte «daquele» Porto está hoje confirmada, com certidão de óbito e tudo.
Diga-se que quanto mais tarde os portistas se convencerem de que o cadáver está no caixão e já não ressuscita mais caro pagarão, porque a negação sai sempre cara.
Não me refiro, sequer, a mudar de treinador. Refiro-me a entenderem que o que viveram na última época é muito mais do que aquilo que a realidade está preparada para comportar. A parte sádica da coisa é que não só essa descida à Terra dificilmente acontecerá este ano como será sempre lenta e dolorosa. Acho mesmo que enquanto não doer a sério não vão acreditar que o sonho já acabou.)
Voltando ao ponto, quando o Porto mudar de treinador e desanuviar o ambiente os jogadores vão subir de rendimento. Sem jogarem o mesmo que o ano passado, voltarão a ser a equipa mais forte do campeonato. Faltar-lhes-á, eventualmente, a consistência e a sorte da época anterior. Não vão chegar invictos ao fim, e vão perder mais pontos.
Racionalmente, e apesar de eu continuar a achar que o Benfica será campeão, o Porto não deixou de ser o candidato mais provável a ganhar o campeonato. Basta ver nas bolsas de apostas. Os tipos que fazem as probabilidades têm sistemas, são isentos, não querem saber dos clubes para nada, e continuam a pôr o Porto à frente.

Da mesma forma, a eliminação da Champions, desportivamente, é favorável ao Porto. Na Champions, o Porto não vai a lado nenhum. Joga mais dois jogos e é eliminado.
Na Liga Europa arrisca-se a ir pelo menos às meias-finais, o que animicamente é muito diferente. O Porto ainda tem boas vitórias pela frente este ano e vai mitigar a primeira metade da época.
Pode é muito bem acontecer que, no fim dessa mesma época, a derrota com a Académica, que lhe roubou a oportunidade de poder voltar a ganhar jogos decisivos a Benfica ou Sporting lá mais para a frente, se venha a revelar muito cara.

Para encerrar este assunto, a razão por que considero que o Porto da época passada morreu, e ao mesmo tempo por que não é possível que seja com Vítor Pereira que vai mudar alguma coisa. O Porto teve duas excelentes oportunidades, no que já houve de época, de regressar à normalidade.
A primeira foi no terceiro ciclo competitivo, quando teve cinco jogos para ganhar avanço sobre o Benfica no campeonato, decidir o apuramento da Champions e subir para um novo patamar anímico. Falhou em toda a linha – e recordo perfeitamente o que escrevi depois dos 5-0 ao Nacional da Madeira.
A segunda foi precisamente agora: depois de uma derrota traumática em Nicósia, duas semanas de paragem das provas nacionais, tempo para parar, reflectir, reagrupar e voltar a dar as cartas. Uma pausa providencial. E o que é que o Porto nos traz depois disto? A pior exibição dos últimos anos, num jogo a eliminar.
Isto já não é sintoma, é mesmo doença. E tem muito menos a ver com o treinador do que se pensa. Duvido que algum treinador conseguisse inverter o verdadeiro problema do Porto este ano: a lei da gravidade.

Sporting (IRPR=0.285)
O Sporting teve a sorte toda do jogo – desde os golos que marcou, na altura em que os marcou, aos que não sofreu, na altura em que os não sofreu.
Foi o quinto melhor desempenho da época, para o Sporting, em 18 jogos, mas há poucas dúvidas de que o resultado engana. A defesa do Sporting, sem Rodríguez (ouvi dizer que o Rodríguez tem o joelho tão estragado que só pode fazer um treino por semana) e, sobretudo, com João Pereira, vacila por todos os lados, e o Braga, a jogar em Alvalade, nunca foi a pior equipa sobre o campo.
A verdade é que o Sporting mostrou alguma coisa, não jogou mal longe disso) mas não mostrou nada de especial. Ainda assim, conseguiu, de longe, o melhor resultado dos três.

Benfica (IRPR=0.280)
É sempre fácil dizer que ganhar à Naval não vale nada, e de facto a Naval não joga um caracol, mas a vitória do Benfica vale mais do que o preço que tinha à partida. Jogar num relvado que, logo à partida, rouba grande parte da supremacia técnica à melhor equipa, e chegar empatado aos 80 minutos em condições perfeitamente imprevisíveis, num jogo a eliminar e que pode ir a penáltis, torna-se, obrigatoriamente, um teste de pressão. Não um teste de alta pressão, obviamente, mas de alguma pressão. Segundo o IRPR, este triunfo frente à Naval representou uma resposta melhor que, por exemplo, cinco dos dez jogos que o Benfica já jogou no campeonato.

Porto (IRPR=0.000)
Mais palavras para quê?


Só mais uma coisa.

O que é... ISTO?!

4 comentários:

  1. Isto? Um flop cuja cambalhota, na Luz, marcará a tremideira da lagartada no campeonato.

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  2. As crónicas continuam certeiras que nem balas.O Benfica precisa de ganhar ao Sporting para começar a lançar-se no campeonato.Em nossa casa temos que ganhar.Não há mais nenhuma alternativa pois um empate só seria bom para os lacostes.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Por, desportivamente, a eliminação da Europa favorecer o campeonato, é que eu tenho de torcer para os tipos ficarem, pelo menos, na Liga Europa. Ficarem só concentrados no campeonato é mau, até porque não perderam muitos pontos até aqui, mesmo com o VP. Convinha uma ou duas derrotas de folga, antes de correrem com o VP de lá. Porra, que os tipos ganhem ao Shaktar se isso der mais um mês ou dois ao grande treinador.

    Concordo com a valorização do jogo com a Naval. Tudo se conjugava para uma tempestade (até a tempestade) e a jogar com menos utilizados, o tempo, a porcaria do árbitro, não só se ganhou, como se alimentou a aura de Rodrigo. Muito bom.

    A lagartada anda no paraíso. Pode ser que isso não lhes deixe ver os problemas, evidentes no jogo de ontem, que na Luz teremos que aproveitar. O Benfica tem de ganhar o jogo na Luz, até porque o Porto está tão mal, que mesmo a jogar com os amigalhaços de Braga, a perda de pontos é possível. Será uma oportunidade para ganhar distâncias à concorrêmcia.

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