quinta-feira, 12 de abril de 2012

2012/13 racional

Em relação ao chefe da Guarda Pretoriana Lacoste, e ficando ansiosamente à espera de mais desenvolvimentos para poder continuar a rir-me a bandeira despregadas, quero só, para já, remeter para o conceito de sportinguite já aqui enunciado anteriormente, e acrescentar que, em caso de sportinguite aguda, a «processo de auto-mortificação em que todas as partes, numa sequência lógica, encadeiam precipitações até criarem um problema administrativamente insolúvel», se deve juntar «e em que, no processo, os envolvidos conseguem dobrar-se e trincar os próprios tomates em público.»



Em frente.

Hoje e amanhã, um exercício de contraditório.



Racionalmente, a época de 2012/13 do Benfica é linear. Por isso é melhor estabelecermos já essa linearidade porque , daqui até Agosto, haverá múltiplas distorções que tornarão esta recta racional, se tudo correr bem, numa elipse, e se tudo correr mal num U, mandando tudo lá para trás outra vez – sendo este tudo três anos de crescimento gradual.



Esta é, então, a lógica a que, teoricamente, obedecerá a planificação da próxima época benfiquista:



1º segmento

Desportivamente, é a temporada de conclusão de um projecto. O treinador está no último ano de contrato e acumulou a experiência necessária para estar mais bem colocado do que nos três anos anteriores para atingir os objectivos desportivos.

A equipa tem subido gradualmente de capacidade – a única anomalia foi ter sido campeã no primeiro ano, tendo subido de terceiro (ou quarto?) para primeiro, saltando um degrau, algo que foi normalizado no ano seguinte e neste que agora acaba, com uma subida da capacidade competitiva reflectida na distância pontual para o primeiro.

Há um núcleo de jogadores que cumpriu todo o ciclo como coluna vertebral da equipa (Luisão, Maxi, Javi, Aimar, Cardozo) e que atinge, sem excepção um momento de maturidade competitiva ou definitiva ou muito perto do limite possível enquanto jogadores do campeonato português. Neste momento, os principais jogadores do Benfica já viveram o suficiente para saberem praticamente tudo o que há para saber no que respeita ao que é preciso para serem campeões.

O último ano do treinador coincidiria com o último ano, também, de alguns destes jogadores, que representam o modelo futebolístico que implantou desde o primeiro dia. É fácil, e mesmo natural, ver Javi, Aimar e Cardozo, por exemplo, a encerrarem este ciclo e a sairem no fim da próxima época.

Não faria sentido romper, neste momento pré-conclusivo, com a continuidade, a começar pela cabeça: o treinador é a pedra basilar do plano quadrianual (já dizia Estaline…), como tal deve ficar.



2.º segmento

A equipa que este ano ficou à beira do título – não é, de todo, desajustado dizer que ficou a um resultado do título – foi uma equipa com 9 jogadores novos no clube: Artur, Garay, Emerson, Matic, Witsel, Nolito, Bruno César, Rodrigo e Nélson Oliveira, a que se pode juntar um décimo, Yannick, com alguma boa vontade.

Destes 9 jogadores, há 8 com margem de progressão evidente se se juntar a maturidade de um ano de competição alta ao seu próprio processo individual de crescimento. Incluo Artur porque um guarda-redes só o é mesmo a partir dos 30 anos e não incluo Emerson, porque não tem potencial para mais do que o que já dá. Destes 8, há 4 que representarão, provavelmente, uma subida de qualidade do onze inicial (Artur, Garay, Witsel e Rodrigo), dois que, potencialmente, podem explodir (Matic e Nélson Oliveira) e dois que acrescentarão profundidade, de facto, ao plantel, ainda que não tenham, potencialmente, a categoria para jogar, de caras, no onze inicial de um Benfica de alto nível (Nolito e Bruno César).

A margem de progressão do plantel como está é grande, e há poucos pontos fracos. Em termos de onze inicial, o Benfica pode dar-se ao luxo de adquirir apenas um defesa-esquerdo e um extremo, além dos substitutos para o(s) jogador(es) que sair(em). Se tivesse apostar apostaria em Gaitán – uma aposta tão segura que já nem é aposta – o que não será muito prejudicial para a equipa e Javi García – o que será, na minha opinião, um erro, mas provavelmente um erro inevitável, porque será o jogador com mais mercado. Mais facilmente venderia Rodrigo, Nélson Oliveira ou Cardozo para poder ficar com Javi mais um ano, mas enfim, não se tem o que se quer, tem-se o que se pode.

O Benfica tem quatro aquisições por fazer. Se acertar em três é suficiente para melhorar a equipa. Quanto ao banco, precisa de mais um jogador. Um Rúben Amorim qualquer. Chega.

Em termos de construção de plantel, está numa situação privilegiada.

(Acrescento que não conto com Enzo Pérez porque vi um jogo do Estudiantes há uns dias e, se vier, vai ser um a menos. Sim, bastou-me um jogo. Sou mesmo um génio… Espero enganar-me.)

Há dois jogadores de saída que abrirão não só lugar no plantel como espaço salarial (Saviola e Capdevilla), o que nos leva ao terceiro segmento.



3.º segmento

É o primeiro ano com novo contrato televisivo, ou sem ele. Não se acredita que o Benfica possa prescindir de receitas televisivas no meio da pior crise económica do século, mesmo que venha a não assinar com a Sport TV (num aparte, como é que o presidente do Benfica tem condições reais de assinar contrato com a Olivedesportos, ponta-de-lança financeira do sistema, neste momento? Vejo as coisas complicadíssimas nesse aspecto.). Ainda assim, é difícil ao Benfica não aumentar as suas actuais receitas anuais com direitos televisivos mesmo que venha a negociar jogo a jogo com os operadores nacionais durante um ano ou dois. Pode não ganhar tanto como com uma venda em pacote a longo prazo, mas ganha mais do que o que ganha actualmente de certeza.

Isso deverá significar a possibilidade de investir na equipa, ainda que não se possa saber muito bem quanto é que custa o dinheiro ao Benfica, neste momento. Podemos supor que custa muito caro, dada a falta de investimento em Janeiro, quando as condições para chegar ao título eram as mais propícias e quando, com mais um titular, muito possivelmente, se teria ganho o campeonato.

Esse refreamento em Janeiro dá toda a ideia de ter sido estratégico, para se esperar pelo Verão e reforçar a equipa com maiores garantias de sucesso e com mais dinheiro para gastar. Veremos, no Verão, se se confirma, ou se o investimento está mesmo impossível.

Por outro lado, na concorrência, houve uma aposta forte em Janeiro, quer na não-saída de jogadores quer na entrada de elementos sem-retorno financeiro garantido (Lucho e Manko), já depois de ter havido um investimento brutal no Verão de 2011.

Ao que tudo indica, o Porto empenhou-se (literalmente) para renovar o título este ano e «para o próximo, logo se vê». É um sinal, não diria de desespero, mas de ansiedade, de fuga para a frente. As fugas para a frente não acabam bem. O que nos leva ao quarto segmento.



4.º segmento

A concorrência estará mais fraca, pelo menos durante uma parte da temporada. O Porto tem duas épocas para pagar – a que acaba e a que aí vem – e recursos limitados para a pagar. Na melhor das hipóteses saem Hulk, Álvaro Pereira e Rolando. Na pior, juntam-se-lhe Moutinho, James ou Fernando, se Guarín não for comprado pelo Inter (o que ninguém pode dar como certo). Os outros, se saírem, não dão dinheiro a sério porque não têm mercado.

A capacidade de competir do Porto não vai diminuir, a ética de trabalho é forte, e provavelmente até veremos o Porto a jogar mais colectivamente do que este ano, mas a qualidade imediata, sim, decairá. O Porto vai ter de encontrar três titulares, pelo menos para manter um nível aproximado (o que não é garantido que chegue se o Benfica realmente subir) ou quatro para melhorar a equipa. Mesmo que já os tenha (Mangala, Sandro, Danilo, serão titulares) o nível, pelo menos durante os primeiros meses, não será o mesmo, e a compulsão para ir buscar mais jogadores será inevitável. Ainda que encontre boas opções (o que é crível, porque o Porto trabalha bem no mercado) o processo de adaptação à equipa é sempre mais moroso. Até o Hulk levou algumas semanas a entrar na equipa. Além disso, o Porto não compra jogadores experientes (Lucho e Manko foram uma clara excepção), por razões económicas e porque, se não vêm já formatados para o estilo de jogo da equipa, são mais difíceis de educar.

Não se está a contabilizar o novo treinador (ou o actual, o que seria pior) e a necessidade imperial de apostar forte na Liga dos Campeões para repor receitas.

Quer queira quer não, o Porto, que adiou o final de ciclo para este ano apesar de, pela lógica económica, ele dever ter acontecido no Verão passado, terá um ano de transição, seja qual for o treinador, apenas porque uma parte importante da espinha dorsal da equipa será nova. Será um ano de clara passagem de testemunho, em que jogadores como James, Moutinho ou Danilo serão chamados a assumir a liderança da equipa em termos de rendimento.

O Sporting estará numa fase, ainda, de concorrência apenas parcial. Em termos de resposta à pressão, o Sporting falhou claramente este ano, e seria preciso um milagre igualmente parcial para subir dois degraus num único ano perante duas equipas já rotinadas na competição pelo título. Se o Benfica esteve a um resultado do título, o Sporting esteve a uma volta inteira. Vai chatear, mas não vai ganhar. Ou, pelo menos, não seria racional contar com isso, e este é um exercício de racionalidade.



Racionalmente, perante este cenário, só haveria uma coisa a fazer pelo Benfica: manter a direcção firme, não mudar nada de substancial, meter uma abaixo e carregar no pedal.



Aliás, é tudo tão certinho que até dá para desconfiar.



Amanhã veremos a 2012/13 intuitiva.

12 comentários:

  1. O Estaline elaborou uns planos para desenvolver a agricultura no pais, uma reforma agraria. Eram os planos quadrianuaisis ou quinquenais?

    Yannick com margem de progressao... EVIDENTE?!

    O Enzo Perez ambientado e em boa forma seria, sem dúvida, um dos 5 melhores jogadores do Benfica. E custou 5,5 milhões de euros. Coisa pouca portanto....

    Prefiro 4 bons jogadores e caros do que 8 emersons baratos. Mas isso sou eu....

    O Porto sem Hulk perde um (grande) jogador mas possivelmente ganhara (com outro treinador) uma melhor equipa. E com o dinheiro da venda e a habilidade no mercado que eles, indiscutivelmente, têm podem comprar outro jogador de semelhante talento. Como diz o meu cota, o que nao falta para aí é jogadores.
    E agora vão o ter o Lucho desde o inicio da temporada. O que faz a diferença (na minha opinião).

    O LOL para o ano vai à falência. Lacostes filhos de uma égua.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eram quinquenais, e nunca houve plano tão bem cumprido. A Sibéria ajudava.

      O Yannick não está no lote dos oito que vão melhorar. Mas pode vir a ser um a mais.
      Eu também desconfio dos jogadores baratos. De vez em quando há um bom, mas geralmente são barretes.
      Lembro-me sempre do Rui Costa: na altura vendemo-lo por 1 milhão de contos (outros tempos), quando ele nem queria sair, e nos anos seguintes gastámos duas ou três vezes isso à procura de um Rui Costa que, obviamente, nunca apareceu.

      Eliminar
  2. Esqueci-me...

    (ps: vais voltar a escrever todos os dias? Será por te sentires com remorsos após teres tirado a felicidade divina que é a conquista de um campeonato a 14 milhões de pessoas ; ) ?!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não vai dar nas próximas semanas.

      Ainda por cima, tenho uma confissão a fazer: a culpa da derrota em Alvalade foi minha.

      Eu estava a guardar os meus ganhos virtuais na Liga Bwin virtual para jogar a cartada decisiva: ia apostar os 120 milhões de kwanzas que me sobravam na vitória do Sporting para, através do reconhecido efeito de inversão, perder a aposta e entregar o campeonato de mão beijada ao Benfica.
      Era o plano perfeito.
      Mas esqueci-me.

      Vou dar-vos alguns segundos para me insultarem.

      (...)

      Pronto.

      Eliminar
  3. Percam 5 min a ler uma boa escrita de ficção, trama, mortes e mistério.

    http://laemcasamandoeu.blogspot.pt/2012/04/benfica-um-conto-noir.html

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. já li (e gostei muito), mas simplesmente pelo facto de uma portista (fanática) lá escrever (e ser mulher/amante/caralho que a foda de um grande benfiquista e belíssimo escritor) faz com que eu não volte lá. Não concebo a ideia de uma vida feliz ao de uma morcã (assim né?). Espero que isto não se volte contra mim no futuro, mas não me parece...

      PS- sem contar as fodas. fodas é altamente compreensível e sempre estamos a foder o adversário.

      Eliminar
    2. Não gostei. Como dizem, literatura de cordel. Não é nem original nem bem escrito. Enredo da treta, mas percebe-se a intenção subjacente. Há quem goste. Ainda bem, dá para todos.

      Eliminar
    3. Não gostaste porque és o benfiquista irracional (todos o somos quando se justifica, agora estou completamente alheado desta época e já só olho para os números), sempre contente com o clube, mesmo que tenhas o emerson com maior estatuto para o jesus do que o rodrigo, mas pronto...
      O post não está a concorrer para Melhor do Ano ou coisa assim parecida. É um desabafo do tipo (que podia ser qualquer um de nós, menos tu, claro) que está descontente com a equipa (técnica) e decidiu demonstrar esse descontentamento numa história tipo policial. Está original, é bem pensado e gostei.

      Eliminar
    4. Feher,
      na trama ficcional o treinador é um personagem mas ele critica mesmo é a direcção, Vieira e a forma como este sequestrou o Benfica.

      Eliminar
    5. Pronto é isso... Quando criticamos um, criticamos o outro.

      Eliminar
    6. De todo, leia novamente se quiser entender. Ele está a conseguir que seja o Jesus a levar com as culpas do insucesso. Reparemos no FCP, Pinto da Costa por exemplo, no inicio do Ano/Janeiro/Benfica a 8 ou 5 pontos contrata Paulinho Santos para dar balneário ao frakinho do VP, está em vias de ganhar o Campeonato neste momento..
      Este é o tipo de coisas que o LFV nunca nos vai conseguir dar, economicamente ele é bom mas precisamos de braço desportivo, o Rui Costa não é competente na minha opinião, demasiado benfiquista se me perguntarem a mim, já teve reacções de adepto várias vezes, e ele não é pago para ser adepto.
      Isto só para dar um exemplo.
      O que voce está querer achar, que o JESUS é o culpado unico, é precisamente a critica nesta obra de ficção. Benfica Sequestrado por LFV,

      Não temos melhor? não sei.
      Queremos manter nesta média? Eu não...
      Podemos arriscar...Talvez/SIM

      Eliminar
  4. Deparei por mim várias vezes durante esta época a tentar perceber afinal o que se passou com um tal de Manuel Fernandes, para mim era esse e mais um defesa Esquerdo, o resto dependeria de quem saísse...
    Mas alguém me sabe explicar quais a reais circunstâncias em que o gajo saiu na epoca do Fernando Santos?

    Ass Scorpion

    ResponderEliminar