terça-feira, 30 de agosto de 2011

Jornada 3

O que parece:

O Benfica alcança um dos melhores resultados do campeonato, marca uma diferença decisiva em relação ao último campeonato, lança-se para uma época de nível acima da média, com os reforços a corresponderem, e consolida a sua candidatura ao título (menos forte) e ao apuramento directo para a Liga dos Campeões (muito forte).

O Sporting tem o seu jogo-trauma da época, o jogo em que tudo acontece ao contrário (como o do Guimarães no ano passado, a primeira derrota em casa, perdendo 2-3 depois de estar 2-0 aos 60 minutos). É o jogo que o campeão, no fim da época, não teve. Foi o jogo que o Benfica teve no ano passado com a Académica (1-2, nos descontos, com um golo quase do meio-campo). Uma equipa campeã não tem estes azares – e não é por ser azarada, é por ser campeã.

O que é:

Benfica (IRPR = 0.395) – Terceiro melhor desempenho sob pressão do Benfica esta época, apenas superado pelos dois jogos com o Twente – claramente a melhor equipa que o Benfica defrontou este ano e nos jogos de maior responsabilidade.

O jogo da Madeira tinha, de facto, tudo para acabar prematuramente com a época interna do Benfica. Era perigosíssimo, por vários factores: pelo campo, o mais difícil da Liga se se considerar a altitude, a viagem, o tamanho do relvado, sobretudo à noite, em que geralmente há muita humidade e, como hoje, nevoeiro, todas condições a que os jogadores da casa estão mais habituados; pela proximidade ao exigente jogo da Liga dos Campeões de quarta-feira, que provocou um efeito de descompressão evidente e de cansaço; pela equipa do Nacional, que é uma das seis melhores do campeonato, que é recorrentemente uma das melhores a jogar em casa, e que está em carburação plena porque fez o seu nono jogo da época.

A favor do Benfica (além, evidentemente, de ter melhores jogadores) duas coisas que não são de somenos: o facto de estar avisado e de trazer na bagagem humildade, ao contrário do ano passado; a concentração competitiva, este ano, está num ponto muito alto, assim como o ritmo competitivo, traduzido na estabilidade do onze e da táctica, sem dúvidas estratégicas. No decorrer do encontro, o Benfica teve o terceiro e mais importante factor a seu favor: a sorte do jogo. Marcou no primeiro remate à baliza, num intervalo entre interrupções, o que dificultou a reacção do Nacional. Jogou contra dez (justamente) na meia-hora final – e mesmo assim podia ter sofrido dois ou três golos, deu as oportunidades do costume mas, desta vez, ao contrário dos cinco jogos anteriores, teve a sorte de não sofrer nenhum golo. O desenrolar do jogo facilitou muito a tarefa do Benfica e contribuiu muito para a despressurização sobre a equipa. Se tivesse sido ao contrário, o Benfica não teria ganho na Madeira.

Sporting (IRPR = 0.000) – Zero pontos no campeonato equivale sempre a índice zero, mesmo quando a pressão é extrema – o que não era o caso deste jogo com o Marítimo, uma equipa muito acessível, a jogar em Alvalade e com o jogo a correr completamente a favor. O Índice potencial só foi de 0.600 (em 3.00 possíveis) porque a equipa vinha de dois maus resultados seguidos e estava sob a pressão de perder, em definitivo, o campeonato, caso não ganhasse. Mesmo assim, foi o terceiro jogo mais fácil dos cinco que o Sporting já jogou este ano.



O que fica por saber:

Benfica

Como eu tinha referido há uns dias, contudo, este jogo da Madeira iria decidir grande parte do futuro do Benfica este ano, e não forçosamente pela qualidade da exibição mas pela qualidade do resultado. Com um empate, apenas, depois do empate com o Gil Vicente na primeira jornada, o campeonato estaria encerrado para o Benfica. O resultado apareceu, como há dois anos, e a época abriu-se. O jogo-chave continua a ser o da sexta jornada, nas Antas, mas apenas se o Benfica chegar lá na proximidade do Porto e em condições de fazer do empate um bom resultado. Para isso, este jogo na Madeira seria o fundamental. É um resultado muito melhor do que o que parece, para já, às pessoas, por ainda estarmos no primeiro mês de competção, mas ganhará a sua importância à medida que se começar a fazer a retrospectiva da época. Entre outras coisas, coloca pressão sobre o Porto, antes de um jogo que se tornará difícil, com o Leiria, por ser tão fora da normalidade – o Porto não vai ter alguns jogadores titulares, terá o plantel numa situação de indefinição (e de alguma frustração para os que não saírem), tenderá a facilitar porque o Leiria tem duas derrotas em dois jogos, e estará, pela primeira vez em mais de um ano, atrás do Benfica. Pode parecer que o Porto é à prova de tudo, mas não, e este jogo com o Leiria tornou-se um dos mais perigosos da temporada.

Não se pode dizer que o Benfica não pode ser campeão sem conseguir controlar um jogo favorável, como este, em que tudo lhe corre bem, porque já o foi. No último título a equipa era tão pouco fiável como esta, esteve várias vezes no fio da navalha, salvando-se por sorte, e só foi campeã porque o Porto entregou o campeonato no primeiro terço e perdeu na Luz. Mas, com um controlo tão fraco do jogo, confirma-se que, para ser campeão, o Benfica depende muitíssimo dos erros do Porto – que, não se deve esquecer, ainda não perdeu pontos e é mais favorito, hoje, que no princípio do campeonato. Continuo a acreditar, contudo, que o Benfica será campeão este ano, e que o voltará a ser sem ser a melhor equipa.



Sporting

O resultado é tão mau como parece – mas apenas relativamente a uma eventual vitória no campeonato. Com apenas dois empates numa série de jogos em que deveria ter, dada a oposição, três vitórias, o Sporting perdeu qualquer hipótese de ser campeão. O Porto terá, no fim da época, no máximo, seis não-vitórias em trinta jogos (1d + 5e, 2 d+3e, etc). O Sporting já cedeu três maus resultados em três jornadas e ainda não jogou com Porto, Benfica, Braga, Guimarães e Nacional.

O fim prematuro da candidatura do Sporting ao título nacional, contudo, pode não ser tão desastroso como parece. A dita candidatura, de facto, era praticamente virtual, e a despressurização imediata, dada a qualidade que existe no plantel, poderá resultar numa melhoria do desempenho da equipa. O tal tempo que se diz que é preciso, Domingos passou a tê-lo – de uma forma feia, é certo, mas provavelmente na melhor altura. Com o grupo da UEFA tão fácil, com os seus adversários directos envolvidos em campanhas europeias também tão apelativas, com um calendário muito favorável (esta interrupção, por exemplo, é providencial) e com o óbvio apoio dos dirigentes, e até dos adeptos, que ainda não tiveram tempo para descer realmente à Terra, o Sporting não implodirá como no ano passado, e a sua candidatura ao segundo lugar (à frente do Benfica, o que é fundamental no Sporting, porque além da rivalidade tradicional é o competidor directo) continua muito viva. Um segundo lugar na Liga, uma presença nos quartos-de-final da Liga Europa (que é perfeitamente possível, dada a fraca qualidade do quadro de equipas deste ano), ou na final da Taça de Portugal e da Taça da Liga, mesmo sem as respectivas vitórias, significariam um excelente ano zero para o Sporting. E, no fundo, quem é que realmente acreditava que o Sporting terminaria esta época à frente do Porto?

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