segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

«É o Sporting… é o Sporting…»

Primeiro o jogo.


Confesso que não consegui ver como deve de ser, mas julgo que não erro se disser que o Sporting entrou a pensar no título e o Braga entrou a pensar no jogo. Isso pode não parecer tão importante como os onzes titulares, e as substituições, e as incidências do jogo, mas é. Porque, quando a bola começa a rolar, e sobretudo quando já rolou um bom bocado, as estratégias perdem-se e o que sobra são as ideias simples, as que estão lá no fundo da cabeça.

No fundo da cabeça, os jogadores do Sporting pensavam que estavam a jogar contra Braga, Benfica e Porto. No fundo da cabeça, os jogadores do Braga sabiam que estavam a jogar só contra o Sporting, e fizeram o que tinham a fazer neste jogo – defender bem, não sofrer golos, controlar o jogo, manter o ritmo e esperar pela oportunidade. O Sporting só pensou em ganhar. Fez mal. Se saísse de Braga com um empate ficava com a Champions (o seu único objectivo real) muito perto. A certa altura do jogo o Sporting, uma equipa veloz, ambiciosa, mas imatura, deveria ter pensado no resultado, controlado a bola e ter dado a entender ao Braga que quem tinha mais a ganhar neste dia, especificamente, era mesmo o Braga – porque era.

O Braga, a equipa mais matreira e experiente de Portugal a seguir à do Porto, matou o gatinho sem escrúpulos, com dois golpes secos. Começou a enganar o Sporting na forma como abordou o jogo e concretizou o ardil com a habitual estratégia de contra-ataque que só pode surpreender quem não a conhece dos últimos dois anos.



De um ponto de vista mais técnico, não há equipa no mundo que tenha a mínima hipótese de ser campeã com uma defesa composta por João Pereira, Onyewu, Alberto Rodríguez e Evaldo.

Zero.

A fífia colectiva do primeiro golo já é má, mas a forma como o Lima arranca dois metros atrás do João Pereira e aparece à frente do guarda-redes para marcar o segundo devia fazer corar de vergonha todos os que, há umas semanas, colaboraram na invenção de histórias sobre o interesse do Milan no João Pereira.
 

O Sporting chega ao jogo decisivo do seu campeonato com uma manta de retalhos a fazer de equipa.

Na defesa, o quarto central do início da época (Onyewu), o primeiro central, mas que já não jogava há semanas, e que tem um joelho estragado (Rodríguez), o lateral-esquerdo do ano passado (e isto chega para o definir) e o João Pereira, um exemplo de qualidade e estabilidade.

No meio-campo, um defesa-esquerdo a médio-esquerdo, um extremo-esquerdo a médio-direito, um pivô ofensivo (Matías) que joga aos bochechos e dois médios de cariz atacante a tentarem fechar o meio. O Choramingos diz que foi por causa das doenças, das dores musculares, também é um facto que há lesões importantes (sendo a de Rinaudo a mais importante de todas), mas há sobretudo opções, quer do técnico quer da administração.

E isso vê-se bem no ataque, onde um jogador com uma tipologia que o Sporting já não tinha desde Jardel chegou na terça-feira e tirou o lugar a dois (Bojinov e Rubio, desculpem lá contar com este, mas continuo a dizer que é o melhor) que andam lá desde a pré-época.



Do outro lado, todas as peças no sítio, os elementos nucleares a jogar (já sem o Vandinho, note-se, mas com os Alans todos lá dentro), em casa, um Braga em evidente crescendo de forma, como eu já vinha avisando (olha eu a fazer da Jasus outra vez…), frente a uma equipa tenrinha.

O jogo de Braga era um desastre à espera de acontecer. Nem sequer era grande palpite. Neste caso era mais lógica.



Agora, resumido o jogo, e considerando que já ninguém duvida que em Braga se ouviu o requiem por um candidato, vou dar graxa ao cágado. (Porque também mereço, caraças!)

Antes deste jogo escrevi aqui que este era um jogo importante, para o Sporting, na perspectiva do terceiro lugar, não do título. Acho que neste momento não há dúvidas disso. Mas já no início da época, quando estava toda a gente a ter orgasmos colectivos com «a grande vitória no mercado» por parte dos Freitas e companhias, escrevi que não me surpreenderia nada que o Braga acabasse o campeonato à frente do Sporting (que entretanto ainda não tinha Elias nem Insúa – já agora, nem o Rivas nem o Xandão, que daqui a dois ou três jogos, pelo andar da carruagem, está a jogar a titular).

Há umas semanas, quando o Sporting estava a dois ou três pontos dos primeiros e parecia que já tinha os jogos ganhos quando entrava no autocarro, escrevi que acabava a primeira volta a sete pontos do primeiro lugar. Tenho de me justificar. Errei por muito, porque não são 7, são 11 (e 9, não nos esqueçamos), mas só errei por quatro porque pensei que a primeira volta acabasse logo a seguir ao Ano Novo, e afinal ainda havia mais um jogo. Foi o suficiente para passar de 8 para 11.

Da mesma forma, escrevi que o Sporting estava totalmente afastado da luta pelo título logo após a terceira jornada. Como se prova agora, a candidatura aia já estava morta, só restava esfolá-la. E não o disse só por causa do Sporting. Disse-o por causa da concorrência. Mesmo com uma série quase inédita de vitórias, o Sporting nunca voltou a ter hipóteses, porque Benfica e Porto não lhas dariam hipóteses.

E aqui recorro a outro post, para identificar o momento do início do fim do Sporting. Escrevi, na altura, que o Sporting tem dois problemas históricos: o Benfica e o sucesso.

No dia em que jogou com o Benfica o Sporting estava a um ponto da liderança e no melhor momento da época. Arrisco-me a dizer que fazia figura de favorito, apesar de isso parecer agora algo exagerado.

O Sporting perdeu o jogo. Nos dois meses seguintes ganhou apenas dois jogos em sete, e vamos ver se não perdeu a época nos jogos com o Nacional e com o Braga. Ou seja, quem termina o sonho sportinguista e traz o Sporting à realidade, de facto, é o Benfica. Claro.

Estava tentado a dizer que a segunda mão da meia-final com o Nacional da Madeira é o jogo em que o Sporting vai começar a salvar o ano, mas tenho medo. Porque a bipolaridade do Sporting está para além de qualquer lógica. Há 95 por cento de hipóteses do Sporting ganhar a Taça de Portugal, e se o conseguir, com um terceiro lugar no campeonato, salva a época. Mas 5 por cento, no Sporting, significam 50 por cento.

Isto é o Sporting: «Onde 5 por cento podem ser 50 por cento.»

Ora, puxando destes galões, quero dar o meu palpite sobre o que vai ser o resto da época do Sporting, neste momento em que tudo parece terrível:

– com mais um ou dois soluços antes disso, o Sporting vai começar a resolver os seus problemas com a meia-final da Taça de Portugal, vencendo o Nacional na Madeira,  e com a eliminatória da Liga Europa. Por essa altura já voltou a encontrar o seu grande aliado desta época, o calendário do campeonato, que lhe vai dar tréguas até Abril e permitir-lhe recuperar quer qualquer atraso que entretanto tenha acumulado para o Braga quer a confiança das vitórias consecutivas. Não me parece que o Sporting chegue a 8 de Abril, à recepção do Benfica, com muito mais do que os actuais 11 pontos de atraso em relação ao líder. Não vai haver uma implosão, como nas duas últimas épocas.

– o Sporting vai chegar ao fim da época com um balanço positivo. Vai ganhar a Taça de Portugal à Académica; vai aproveitar o facto de receber o Braga em casa na última jornada para, à pele, acabar em terceiro e apurar-se para a pré-eliminatória da Champions; e vai desempenhar um papel fundamental na atribuição do título, nos dois jogos que lhe restam com Benfica e Porto – isto depois de ser eliminado da Liga Europa precisamente pelo Porto, digo eu.

- Carlos Duque não vai permitir que esta crise de Dezembro/Janeiro destrua o valioso plantel que tem. Vai blindar o balneário, proteger o treinador e esperar pela maré alta, até ao momento em que as vitórias regressem, daqui a mais ou menos um mês. Entretanto, ai aproveitar para escorraçar alguns dos abutres que vão aparecer, e para consolidar o seu poder interno, colocando o Godinho Lopes perante a inevitabilidade de o apoiar, mesmo contra alguns eventuais dissabores com a Juve Leo que Godinho tão ufanosamente vai tentando roubar a Bruno Carvalho. Vai ganhar dinheiro com um ou dois jogadores no Verão, contratar mais três ou quatro titulares entre a defesa e ataque, e surgir no início da próxima época como candidato real ao título. Como estava previsto, afinal.


Afinal, o que é que o Sporting perdeu hoje, realmente? Um jogo. O campeonato já estava perdido, e a Champions está tudo menos perdida. O orgulho dói, mas isso passa assim que se recomeça a ganhar.

9 comentários:

  1. Fui agora ao Record, depois de escrever e postar este último texto, e o que é que vejo? O Duque, a dar a cara na altura certa para dizer tudo o que tem de ser dito na perspectiva do Sporting.

    Um aviso sincero aos benfiquistas e um reconhecimento ao eventual sportinguista incógnito que por aí ande: este tipo é um campeão. Para os benfiquistas é o gajo mais perigoso que podia estar à frente do futebol do Sporting. Para os sportinguistas invejosos e interessados em subir ao poleiro também.

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  2. Como o Sporting está crescido! Ainda no outro dia comia Cerelac, e agora já vai sozinho para o quarto. :)

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    1. Não resisto a um bom comentário sobre os lacostes.Ehehe!

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  3. É profundamente irónico que este Sporting acabe com os mesmos pontos do ano passado... e no entanto a impressão que deixa é outra. Concordo que Domingos tem muita responsabilidade neste resultado. De facto, é paradoxal que Rubio, que tão boas indicações tinha dado no início, tenha ficado de fora este tempo todo, em detrimento de uma nódoa sempre confirmada (Bojinov) ou de um gajo que chegou esta semana. E outras coisas podiam ser ditas.
    De qualquer modo, partilho a opinião de que este Sporting será um melhor ponto de partida para o próximo campeonato, mesmo que acabe, agora, como o "excelente" Sporting da época passada. Ironias.

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  4. Epá, só para dizer que as tuas dissertações futebolísticas metem o Freitas Lobo no bolso.

    Boa continuação.

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  5. paçiençia . há domingos assim!!!!

    vasco

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