sábado, 19 de novembro de 2011

O processo

Não me admirará que, nas próximas semanas – sobretudo se o Porto for eliminado na Liga dos Campeões – o braço armado da Direcção do Porto venha a assumir um comportamento, relativamente a Vítor Pereira, semelhante ao que teve com Co Adriaanse.

Não digo isto por saber o que pensa a claque sobre o Vítor Pereira – deve pensar muito bem, certamente… – mas porque sei como funciona Pinto da Costa.

Neste momento, para fazer o que sabe que devia fazer, Pinto da Costa precisa de um bom pretexto. A única forma de despedir Vítor Pereira sem dar parte de fraco, sem ser obrigado a reconhecer o erro e sem destruir o mito (falso) de que «o Porto não despede treinadores por causa de resultados», é se a claque (supostamente) tornar a vida do treinador tão difícil que, «para o próprio bem dele», Vítor Pereira ache melhor sair.

Como é que a coisa de processa? É assim: a claque, com o beneplácito papal, começa a atazanar, seriamente, a vida do treinador; as notícias dos problemas do treinador com a claque saem nos jornais e ganham, graças aos agentes da máquina oficiosa de propaganda, um dramatismo que, na verdade, não têm; Pinto da Costa transmite publicamente a sua total confiança no treinador, e dessa forma ganha mais algum tempo; se o Porto for eliminado da Champions, é o próprio treinador quem apresenta a demissão, dizendo que «se os jogadores são praticamente os mesmos, se os dirigentes são os mesmos, se a estrutura é a mesma» então o problema deve ser ele, e que, como portista de coração, sente que não pode ser um problema.

Pinto da Costa aceita a demissão (sem indemnizações, obviamente, mas com outras compensações obscuras, como é timbre da casa) e, nas férias do Natal, contrata outro treinador – provavelmente um português, provavelmente Pedro Emanuel, talvez Jorge Costa, alguém da alma portista, para tentar salvar a nova época que começa em Janeiro e tendo o campeonato, apenas, para apostar tudo. Depois, no Verão, com o tempo que não teve no defeso que passou, vai buscar um treinador mais a sério (Jardim? Ou um estrangeiro, para matar traumas?). Será que Villas-Boas ainda regressa à casa de partida durante o Verão? Não se surpeendam se isso já estiver a ser pensado. Seria uma boa explicação para o Dragão de Ouro, e o Abramovich já percebeu, por esta hora, que havia uma razão para um ser o treinador e o outro o adjunto.

É claro que é Pinto da Costa quem convence o Grande Timoneiro a demitir-se com promessas de ajudas futuras na carreira, «porque és um dos nossos, Vítor, e foste mais de 50 por cento do sucesso da época passada».

O maior problema do Porto é se ganha mesmo em Donetsk e se se apura para a fase seguinte da Champions.

Sim, é claro que uma vitória em Donetsk podia ser um momento de reviravolta na época. Mas a dinâmica que o Porto leva, neste momento, é de uma morbidez que se pode considerar irreversível. Ganha dois ou três jogos sem convencer e perde outro, miseravelmente. Não consegue arrancar, mesmo quando ganha (mesmo quando ganha por cinco!), e quando perde parece muito mais próximo da verdade, em termos exibicionais.

É preciso dizer que o despedimento de Vítor Pereira será mais do que justo. Em cinco meses o Grande Timoneiro conseguiu destruir completamente a defesa da equipa e banalizar o seu meio-campo, perdido entre os seus sonhos de perfeição da «pressão alta» e a mediocridade de um Moutinho a jogar metade do que jogava na época passada. Quanto ao ataque, não teve de fazer nada, a Direcção tratou disso ao não saber vender Falcão a horas e ao fazer de Hulk o primeiro jogador a estar acima da equipa em vinte anos graças ao seu suposto anti-benfiquismo.

É evidente que o Porto vai ganhar mais jogos do que os que vai perder até ao fim do ano. Até pode ser campeão – afinal, só tem perdido fora do campeonato. Não sabemos. Mas há uma coisa que sabemos: esta semana não vai chegar aparecer nos treinos, como é da praxe. O Papa vai ter de andar de avião e dar a cara em Donetsk. Porque, se não for, é mesmo porque está a ficar velho.

4 comentários:

  1. Chateia-me a derrota de hoje. Preferia que o Vitor fizesse estragos durante mais algum tempo.

    Crueldade à parte, custa-me ver um treinador tão promissor acabar assim uma carreira. Pobres dos que vão ter de engolir o tipo, como parte da package de compensação :).

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  2. Penso não exagerar ao dizer que os dois jogos mais importantes que o Benfica vai ter para o futuro do campeonato, até ao Natal, serão o Shaktar-Porto e o Benfica-Sporting.

    Entretanto, pelo que acabei de ler na Bola, o processo já está em andamento.

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  3. Acho que vou ter de torcer pelos gajos no jogo com o Shaktar :). Se perdem nem à "Euro Liga" vão, o que seria muito mau. Os gajos não podem ficar só com o campeonato (embora me pareça que este ano a Taça da cerveja pode passar a ter mais valor). Vou torcer por um empate :).

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  4. Vocês têm razão.O Porto ficar sem jogos Europeus e sem a Taça dá-lhes vantagem para o campeonato.De maneira que lá que terei que torcer pelo empate.

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