domingo, 18 de setembro de 2011

Profissão de fé: pai benfiquista

Moro na Linha do Estoril e o meu filho tem cinco anos. Isso quer dizer que está rodeado de sportinguistas e portistas. O mito é verdadeiro: a maior parte dos betinhos é lagarta e a maior parte dos miúdos novos é do Porto. O miúdo está na fase de começar a gostar de bola e é supercompetitivo – sim, é verdade, o meu filho é que o melhor do mundo, ao contrário do que todos os outros pais pensam. O esforço para o manter a salvo tem sido dantesco.
Evitar que ele veja as notícias das sucessivas vitórias do Porto, por exemplo, é um exercício stressante, assim como explicar-lhe que todas as equipas ganham e perdem de vez em quando. Já lhe disse que o Porto é batoteiro, e até agora esta versão tem-se aguentado, mas não sei por quanto tempo é que conseguirei convencê-lo com este argumento. Os miúdos nem sequer sabem que os jogos têm árbitros, quanto mais que também podem ter prostitutas. Descobri nos últimos tempos que a batota, para os miúdos, é um expediente perfeitamente normal.

Nas últimas semanas, contudo, bisquei uma manilha de trunfo: a águia. O puto ficou maluco quando viu a águia a voar na televisão e eu lhe disse que era a sério e que voava dentro do estádio antes dos jogos. Entendamo-nos: o miúdo é mais ou menos benfiquista, ou seja, quer ser, como o pai, e anda à procura de boas razões para ser. Também gosta do Messi e da Argentina (perigosamente azul e branca…).
Resumindo: vou levá-lo à bola hoje.

Escrevo isto para que se perceba bem o que significa ser benfiquista. Ser benfiquista é acreditar, contra todas as convicções, que tudo vai acabar por correr bem.

O Benfica joga com a Académica, que ganhou na Luz três vezes em quatro anos – uma delas fui com a minha mulher, perdemos 3-0, e a partir daí nunca mais fui com ela à bola (mas não sou supersticioso).
A Académica está a fazer o melhor arranque de campeonato dos últimos anos e tem lá o Pedro Emanuel, que pode não valer nada como treinador, mas leva os amuletos, como o Choramingos e o Bicho.
O Benfica, por outro lado, vem de um jogo-super (em dimensão, não em qualidade) e vai jogar, imagino, muito pouco, porque é mesmo assim que as coisas se passam  com «os meus jegadores».
Imagino que o onze titular ande à volta de Artur, Maxi, Luisão, Garay, Capdevilla, Javi, Bruno César, Matic, Nolito, Saviola e Cardozo, e se calhar ainda bem, porque é capaz de ser a única forma da equipa jogar a correr e não a passo, mas por outro lado suspeito que as alterações se vão reflectir na produção da equipa.
Posso dar um palpite à campeão? O Rodrigo vai estrear-se na segunda e vai ser decisivo. Vai ser um dos jokers deste campeonato. E começa hoje.

Para a semana vamos ao Dragão, o que significa que, se a coisa for para correr mal esta época, provavelmente vai começar a correr mal já hoje.
São muitos sinais, demasiadas coincidências (mas não sou supersticioso, atenção).

Ou seja, este é um jogo de alto risco. E o que é que o Hugo vai fazer? Vai levar o seu filho de cinco anos, que está no limbo entre a salvação e a heresia, ao futebol, pela primeira vez. E porquê? Bom, primeiro porque (apesar de não ser supersticioso) tenho a certeza absoluta que a única coisa que pode salvar esta época é a presença do meu miúdo nas bancadas do Estádio da Luz neste jogo. E depois porque, estupidamente, um benfiquista nasceu para acreditar. E eu, contra todas as provas científicas, continuo a acreditar que o Benfica ganha hoje, empata para a semana e ganha o campeonato este ano.

Mas se a puta da águia se lembra de se engasgar outra vez amanhã…



O Porto vai encostar com o Feirense – tantas vezes vaticino um empatezito deles que alguma vou acertar, certo? Bom, não vai nada. Vai ganhar. Vai chegar ao jogo das Antas só com vitórias e perde os primeiros pontos com o Benfica. Faz mais sentido.

Curioso tem sido acompanhar a mais recente saga do Hulk-que-não-pode-jogar-mas insiste-em-jogar, que, acompanhada da tirada do «o-único-insubstituível-é-o-Hulk-e-os-outros-dez-até-os-escolho-eu» e dos constantes elogios do Vítor Pereira (desconfiem sempre dos treinadores novos que sentem a necessidade de elogiar publica e recorrentemente os jogadores mais influentes do plantel – estão a um pequeno passo de lhes comerem as papas na cabeça) me leva a pensar que não só o Porto corre o risco de ter um pequenino débil mental a mandar na equipa, treinador incluído, como de esse pequenino débil mental vir a ter problemas físicos por querer jogar em todos os jogos a feijões. Para já, não me parece nada bom sinal o Vaginildo ter passado uma noite em claro com dores num tornozelo. Bom sinal para o Porto, quer dizer…
As lesões são um factor muito importante no rendimento de uma equipa. E a época ainda mal começou. E vem aí o Inverno.


Pela lógica, o Sporting vai passar por cima do Rio Ave. Mas há uma coisa que sei: os três grandes ganharem os seus três jogos em duas jornadas consecutivas acontece para aí uma vez de dois em dois anos. O Rio Ave está à rasca. O Sporting vai ter problemas sérios. O Rio Ave já não vai ser apanhado de surpresa, como o Paços de Ferreira.


Porque é que tenho a sensação de que vamos falar muito desta semana durante o campeonato?


Whatever. Desde que a cabrona da águia não voe para fora do estádio…

5 comentários:

  1. Hoje é mesmo um jogo de risco, Hugo. A ver vamos como vai correr, mas gostava de ver algumas alterações em relação ao jogo do "Unáite". Uma delas é precisamente a do Rodrigo, que precisa de oportunidades e esta altura parece mais que boa, quer por ser em casa, quer por ser depois de um jogo em alta rotação. A estratégia suicida do ano passado não se pode repetir, isto é, chegarmos a Maio a jogar com pouco mais de 14 jogadores e os habitués a não poderem com um gato pelo rabo.

    Que seja um bom jogo. A águia já aterrou no palanque, na 4ª, por isso hoje não deve haver problema :).

    Abraço.

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  2. Se conseguirmos ver a águia, se ela levar o GPS, se ganharmos o jogo, se eu conseguir mostrar ao meu filho que ir à bola e ser do Benfica é a melhor coisa que existe (com gelados, batatas fritas e cachorros quentes à mistura, obviamente - são a versão parental da fruta para dormir...), então ganhamos um novo lampiãozinho.
    É verdade, são muitos ses. Mas SE eu não fosse do Benfica que triste sina seria a minha...

    Vivóóóó

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  3. O meu filho, que tem hoje 11, foi ao estádio, pela primeira vez, com 6 (jogo com o Austria Vienna para a qualificação para a Champions, vitória por 3-0). Já era benfiquista nessa altura, mas a ida ao estádio passou a ser obrigatória.

    Vivemos um bocadinho mais longe do que a linha, mas é difícil resistir depois de lá se ter ido. Ainda ontem ele me dizia que o estádio, na 4ª, estava magnífico (foi a primeira vez que ele o viu cheio) e que se ia lembrar sempre desse jogo e do aspecto do estádio. Gentilmente ele admitiu que talvez para mim a imagem que é mais lembrada seja o do velhinho estádio, cheio que nem um ovo, com 120,000, na meia final da Taças, com o Parma, mas para ele esta ficará na memória. Pode ser que haja mais destas, se o Benfica não descambar, novamente, nos anos vindouros. A fé diz que não!

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  4. João Gonçalves18/09/2011, 16:23:00

    Vou dizer uma heresia mas não faz mal: ainda não fui ao novo estádio da Luz. E vivo em Sintra, perto portanto. O meu filho, com 10 anos, já lá foi uma vez mas não tem muita vontade de ver futebol, nem ao vivo nem na tv. A mim custa-me gastar dinheiro e sair um jogo tipo esse dos 0-3 com a Académica.
    Para hoje só posso desejar boa sorte para a primeira visita do seu filho à Catedral. E que o GPS da águia não avarie. Vou ficar a torcer por isso em frente ao ecrã...
    Parabéns pelo Blog. Faz bem à alma (Benfiquista) ler os seus posts.

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  5. Caro João Gonçalves,

    Não há nada que faça tão bem à alma como uma ida à Catedral :). Uma boa hipótese são os jogos europeus, com adversários que agora nem são fortes, portanto a possibilidade de vitória é bem maior. Por outro lado, é sempre diferente de ver as equipazitas nacionais. Experimente, é preciso é dar o primeiro passo :).

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