Porto-Shaktar
Vítor Pereira teria conseguido passar muito melhor a sua mensagem em relação ao jogo com o Shaktar se, em vez de dizer que a equipa ucraniana é «de grande nível europeu» (o que é discutível), tivesse dito o seguinte:- O Shaktar eliminou o Braga da Liga dos Campeões no ano passado e está, nos últimos anos, um nível acima do Benfica, por exemplo, na Europa. Como tal, um jogo em casa com o Shaktar para a Liga dos Campeões é mais difícil do que um jogo com o Benfica ou com o Braga, com uma agravante: ao contrário do Benfica, o Shaktar é uma equipa rotinada a defender e a sair no contra-ataque, que não vai ter complexos nenhuns em vir jogar aqui com dez atrás da bola porque está construída para fazer isso na Europa.
Se tivesse dito isto, o treinador do Porto teria conseguido não só fazer entender perfeitamente o tipo de jogo que vai enfrentar hoje como abrir (utilizando argumentos racionais e verdadeiros) abrir uma nova frente de hostilidades com o Benfica a pouco mais de uma semana de um dos jogos do título, período em que o Porto encontra sempre maneira de pôr as pessoas a falar de tudo (sobre o Benfica) menos no jogo, enquanto os seus jogadores são metidos numa estufa.
Tenho poucas dúvidas de que o Villas-Boas já teria usado o Benfica para falar do Shaktar (e, no fundo, falar do Benfica.)Postas as coisas nestes termos, as hipóteses do Porto para este jogo são as mesmas que terá no jogo com o Benfica: 70 % de vitória; 25 % de empate; 5 % de derrota.
Atenção, no entanto, aos problemas na defesa do Porto. O ataque, em termos de qualidade, é o ponto forte do Shaktar, sobretudo o contra-ataque. Maicon e Otamendí pouco ou nada jogaram juntos e Álvaro Pereira só joga porque não há alternativa. É uma vulnerabilidade que pode baralhar a equipa. Acho difícil o Porto não sofrer golos.
Benfica – Manchester United
Ponto prévio, da maior importância: no próximo domingo o Manchester United recebe o Chelsea, num dos jogos mais importantes da sua época. Considerando a fraca qualidade do seu grupo na Liga dos Campeões, que lhe garante o apuramento, o jogo com o Benfica não é irrelevante mas não anda muito longe. Um empate é um bom resultado.
Apesar da ideia de uma certa invulnerabilidade das grandes equipas, não é muito normal os vencedores dos grupos acabarem a primeira fase só com vitórias, ganhando, normalmente, todos os jogos em casa. Geralmente acabam 5v-1e ou 4v-2e, sendo que os pontos perdidos acontecem, também geralmente, logo no princípio, quando é mais importante não perder e, até, poupar jogadores, ou no fim, depois de o apuramento estar alcançado, altura em que os treinadores decidem, sem dúvidas, poupar jogadores.
Teoricamente, dada a sua qualidade relativamente a Zurique e Otelul e o momento em que o jogo acontece (para mais sendo na Luz), o Benfica está, amanhã, na melhor posição para roubar pontos ao United.Antes de mais, sendo o United uma equipa de topo europeu e o Benfica um aspirante à primeira linha, o Benfica não é assim tão mais fraco que o United. Tem alguns pontos fortes que não vão permitir aos ingleses facilitar na defesa, e pode, perfeitamente, marcar um ou mais golos. Eu diria que, em termos relativos, o Benfica receber o United é o mesmo que o Guimarães receber o Benfica. Façam vocês o resto do filme na vossa cabeça...
Acredito que a abordagem de Ferguson para o jogo de amanhã será a seguinte: defender bem, sobretudo na primeira parte, não apostando muito numa toada atacante; atacar pela certa e com método, sem entregar demasiadas vezes a bola ao Benfica e afastando-a da sua área defensiva (atenção ao ponto fraco do United neste momento: o guarda-redes, que não dá confiança), o que levará a um ritmo relativamente lento mas cansativo para o Benfica, que não sabe defender; poupar um ou dois jogadores importantes para o campeonato (eventualmente Nani); arriscar apenas em caso de desvantagem, e não forçar muito a vitória se o desenrolar do jogo se encaminhar para um empate, até porque, em princípio, um empate na Luz assegura ao United o primeiro lugar no grupo.
Ferguson sabe que o Benfica é a principal ameaça no grupo, e por isso vai fazer um jogo cauteloso.Dito isto, mesmo nestas condições, o «andamento», como refere Jesus, é de tal forma mais elevado que o United continua a ter, pelo menos, 50 por cento de hipóteses de ganhar na Luz.
Mas o Benfica vai jogar com outro chip. Não falo tanto em motivação, mas em concentração. Podemos esperar jogos superiores de Gaitán, Aimar, Cardozo e outros.O Benfica tem um ano a mais de experiência europeia, um factor que, por si só, é o mais importante nestas competições. Conta mais saber como jogar na Europa do que ser uma boa equipa – digo que conta mais, não digo que o valor da equipa não interessa.
O Benfica vai jogar empolgado, o público transmitirá a electricidade típica de uma noite europeia (não é um mito, a grande Luz europeia existe mesmo, quem já lá esteve neste tipo de jogo sabe). Não é uma questão de meter medo ao adversário, é uma questão de criar um ambiente tão eléctrico que se torna invulgar, estranho, diferente, e retira alguma lucidez a todos os jogadores. É como um daqueles dias de trovoada em que o céu está carregado de energia. É um dia com 24 horas, na mesma, tem manhã, tarde e noite, claro que sim, mas a nossa cabeça não funciona da mesma maneira, e às vezes até nos tornamos mais irritadiços. É essa electricidade que, por vezes, faz curto-circuito no sistema dos jogadores, sobretudo dos mais novos. Eu assisti ao jogo em que o Benfica venceu o Manchester e em que o Leo se enfiou nos calções do Ronaldo e lhe deu cabo da tola. Eu vi o Ronaldo a fazer o «passarão» para a bancada quando saiu – eu estava nessa bancada. Eu sei do que estou a falar.
Pegando nisto (no jogo de 2005, não no «passarão» do Ronaldo…), o histórico entre Benfica e United não vai passar em claro. O jogo de 2005 não foi apenas uma vitória do Benfica sobre o Man. United. O jogo era uma final. O Benfica ganhou, passou, e eliminou o United na fase de grupos pela primeira vez desde que começara a Liga dos Campeões. O Ferguson sabe que a Luz não é o Reebok Stadium, e sabe que o Benfica acredita. Vai resguardar-se. Tal como o Jesus, aliás. Curiosamente, não me parece que o primeiro golo vá ser muito determinante. Nenhuma das equipas vai jogar para a goleada. Vai ser um jogo muito táctico, o que é curioso, porque nem o «mestre » nem o Ferguson são grande coisa no que respeita a tácticas. Aquilo é mais chiclete, madeixas, pontapé na chincha e muitas peneiras.
Acredito que Saviola, mais experiente, possa jogar no lugar de Bruno César, a descair pela esquerda. Sei que se o Gaitán jogar a maior parte do tempo à esquerda o Benfica perde, porque metade da capacidade defensiva desse flanco desaparece.
Atenção à defesa do United, claramente debilitada. Se há um sector qu convém não estar debilitado quando se enfrenta o Benfica é a defesa.
Sim, Rooney é um dos cinco melhores jogadores do mundo na actualidade, e atingiu uma classe que lhe garante, à partida, quase, um golo por jogo, seja em que jogo for, além de um controlo absoluto sobre toda a dinâmica de ataque da sua equipa. Sim, o United está numa de massacrar. 8-2 ao Arsenal é de meter respeito, 5-0 ao Bolton, fora, também.
Mas cada jogo é um jogo, e continuo a achar que o Benfica tem 50 por cento de hipóteses de não perder. O que, na minha opinião, considerando o factor superação, vai chegar.
Um detalhe, para acabar: o Porto, candidato às meias-finais da Champions, tem hoje um jogo decisivo. O Record mete o Porto na esquina da primeira página e faz capa de uma não-notícia, dizendo que, amanhã, o Luisão vai jogar ao pé do Rooney. Paradigmático.
Espero que a previsão se concretize. A Luz vai estar cheia hoje o que, infelizmente, é mais raro do que o que deveria acontecer, mas que pode contribuir para a dita superação.
ResponderEliminarEsperemos que o catedrático não tente tirar qualquer coelho da cartola, porque estes não darão abébias.
Que seja um dia de orgulho benfiquista.
Abraço
Felizmente que, mesmo nos tempos que correm, ainda é possível encher um estádio como o da Luz. E com os preços que se praticam cada vez será mais difícil. Eu há muito que pus isso de parte.
ResponderEliminarEstou curioso para ver o que o "Mestre da Táctica" vai fazer. Especialmente na maneira como a equipa vai defender. Custa-me a perceber como é que com um bom guarda redes, 3 bons defesas (para mim o ponto fraco será o Emerson e, se calhar, ainda se vai sentir a falta do Capedevilla) e um bom tampão como o Javi Garcia, esta equipa se mostra tão permeável a defender. Claro que uma equipa tem de actuar como um bloco, em que todos atacam e todos defendem, mas parece difícil pôr o Benfica a jogar assim. Aimar defende mas Gaitán, Nolito e Cardoso nem por isso. Contra o Manchester só mesmo uma equipa de "Homens Unidos" (Men United, como o titulo deste post) terá alguma hipotese de vitória.
2 ou 3 vezes por ano, ainda tento ir à Luz. Não é barato, mas a alma precisa de alimento, também :). Normalmente vou em jogos de competições europeias, logo com o Manchester tinha de ser.
ResponderEliminarAcho que o problema principal da defesa é, precisamente, a questão das compensações. Na esmagadora maioria das vezes em que sofremos golos, este ano, os defesas laterais não estavam lá e os médios não compensaram. Essa é uma das minhas maiores embirrações com Gaitán. Não basta ser inconsequente, na maior parte das vezes, no ataque, mas não defende peva. A falta de solidariedade com a equipa é gritante e, não fosse ele um dos "minimos" do treinador, que lhe deve dizer que génios como ele não têm de defender, e há muito que tinha perdido o lugar. Até Di Maria passou a defender no primeiro ano de JJ, mas esse ano está tão distante...