Um Benfica sem mentalidade e qualidade para ir discutir o jogo taco a taco com o Porto, mas mentalizado para ser campeão, com um objectivo de longo prazo lá no fundo da cabeça a lutar para vir ao de cima mesmo no meio das adversidades. Elas vão surgir, mas dificilmente alguma será tão forte como estar a perder duas vezes em casa do outro candidato ao título.
Um Porto impreparado mentalmente para jogar a cem por cento. É sempre complicado falar em ressaca quando se fala do Porto, porque existe, claramente, uma cultura de trabalho e de vitória, mas o nível de intensidade – independentemente de haver ou não haver o jogador «x» ou «y» - é, sem dúvidas, diferente, como se os jogadores estivessem em descompressão, um pouco (a um nível menor, muito mais profissional) como o que aconteceu ao Benfica o ano passado. Já se viu com o Feirense, com o Guimarães, com o Gil Vicente e noutros jogos.
O Porto joga mal? Não. Mas… o Porto joga menos? Pois…Da mesma forma, é complicado falar em fragilidade em relação a esta equipa, mas é inegável que o Porto já não parecia tão vulnerável desde precisamente o jogo da Luz, com o Benfica, em 2009. Há dois anos, portanto.
Os pormenores estiveram contra o Porto:- a ausência de James revelou-se importante. Varela não jogou positivamente nada. São os pormenores – uma expulsão estúpida já depois da hora…;
- Hulk praticamente não treinou durante a semana e acusou o mau momento físico, tal como Álvaro Pereira, um jogador que está e continuará a estar, durante algum tempo, a pagar a factura da Copa América, tal como Maxi Pereira;
- o Benfica só aguentou 90 minutos porque não teve jogo a meio da semana. A equipa estava nitidamente fresca em comparação com o que é normal, em que só dura 70 minutos por causa dos piques destrambelhadas em que insiste em investir:
- o árbitro fez uma das melhores, senão a melhor exibição num Porto-Benfica desde que tenho memória, e não beneficiou em nada o Porto (talvez tenham ficado a preferir que, para o ano, lá vá o corajoso benfiquista Proença outra vez…);
- Kléber está mal fisicamente, Walter é um rotundo (bem rotundo…) «zero», e o Porto viu-se sem mais avançados quando precisou de forçar o ataque.
Um campeão faz-se nos pormenores, e vê-se em alguns momentos particulares. Não fui eu que inventei. Os antigos já tinham detectado esta verdade insofismável. Chamaram-lhe «estrelinha de campeão».
Um Sporting na fase «cada cavadela uma minhoca» da sua bipolaridade quântica. Há um rapaz que começa a correr no meio-campo, a defesa abre por todos os lados, a bola carambola em meia dúzia de canelas e vai para a baliza. Na fase «não marcamos um golo nem a tiro e, se dispararmos, a bala faz ricochete na barra e vai matar o nosso guarda-redes do outro lado do campo» da bipolaridade, na mesma jogada a bola bate no poste e sai.
Nem o Sporting do Postiga era tão mau nem o Sporting do Volkswagen é tão bom. O Setúbal, uma equipa de velhos, gordos e maus, só não marcou dois ou três golos devido à corrente estar na fase de polaridade invertida. O Domingo encontrou o seu onze, o que não é de somenos, e tem de tudo, desde jogadores de futebol americano a craques proféticos. Em relação ao Sporting, apenas uma certeza: não tarda nada volta a descer a Terra. Vamos ver se é como o satélite que se despenhou em paradeiro incerto ou apenas com a suavidade de um elefante pousando sobre um nenúfar.
Mas que eu gostava de saber se o Domingos foi à bruxa, e onde, e com quem, isso gostava…
O que foi
Nota prévia: há um factor de subjectividade no cálculo do Índice de Relação Pressão-Resultado, que é o de ser calculado a partir de uma premissa teórica.
Teoricamente, o empate do Benfica no Porto é, neste momento, um bom resultado para o Benfica, porque está de acordo com o que seria o seu plano para ser campeão (empatar nas Antas e ganhar na Luz), dada a superioridade (novamente, teórica) do adversário. Não o seria se o Benfica precisasse de ganhar.Pela mesma lógica é um mau resultado para o Porto.
Benfica (IRPR = 0.825) – O melhor desempenho da época para o Benfica, num cenário que só seria mais difícil se o jogo fosse mais perto do fim da época e o Benfica tivesse de ganhar para ser campeão. Da mesma forma, as sucessivas situações de jogo estiveram contra o Benfica – não só as duas desvantagens como a altura em que os golos foram sofridos.
O Benfica teve a seu favor ter os jogadores praticamente todos disponíveis e frescos e pouco mais. Jogo de elevada pressão e resultado positivo.Porto (IRPR = 0.123) – Sem lesões relevantes, sem jogo a meio da semana, com os golos a aparecerem em boas alturas, com o jogo à mão de semear e praticamente esvaziado de pressão, o Porto teve um clássico relativamente fácil de ganhar. A valia do adversário é real, mas o contexto não corresponde a uma mera comparação de valor futebolístico. O factor psicológico num Porto-Benfica está vincadamente a favor do Porto, que, tradicionalmente já entra a ganhar. O empate era, à partida, um mau resultado para o Porto. E no fim ainda mais.
Sporting (IRPR = 0.080) – Ambiente interno tranquilíssimo (o caso Izmailov já nem sequer é caso, e se não fosse a sportinguite do Record e a tendência para o drama do Choramingos, tinha passado praticamente ao lado da semana futebolística). Vitórias a cair do céu e confiança fácil. Um adversário a cair de maduro que só não levou 6 ou 7 no Dragão por mera felicidade (e mesmo assim levou 3). Um golo aos 2 minutos, dois golos aos sete, três aos trinta, com mais dois ou três falhados em frente ao guarda-redes, e a jogar em casa.
Resultado: um jogo-treino em competição a valer três pontos. Porquê o IRPR tão baixo? Porque o IRPR mede a resposta, em termos de resultado, à PRESSÃO. A pergunta, neste caso, é: qual pressão? Sim, não é pressão zero – mas é pressão 0.080 em 1.00.O que fica por saber
Começando pelo Sporting, fica por saber, para já, como é que a equipa vai reagir ao aumento de pressão resultante da aproximação pontual à liderança.
A revolução (nos resultados…) do Sporting começou numa conjugação de três factores:
- um jogo completamente atípico em Paços de Ferreira, 0-2 a vinte minutos do fim, 3-2 dez minutos depois, sem que nada o fizesse antever. Um golpe de sorte que se assemelha a golpe de destino, uma injecção de confiança brutal;
- a mudança praticamente integral de toda a equipa, nesse mesmo jogo, passando de ter dois reforços para nove reforços;
- o reconhecimento prático, por via dos pontos perdidos antes do jogo em Paços de Ferreira, de que o Sporting não tinha, de facto, qualquer hipótese de lutar pelo título com Benfica e Porto.
O que fica por saber, basicamente, até ao fim da primeira volta, e a começar já no próximo jogo do campeonato, em Guimarães, é exactamente quanto de cada um destes factores é que determinou a subida de rendimento do Sporting.
A aproximação pontual, como já referi, é, na minha opinião, errónea – o Sporting ainda não teve um jogo realmente difícil (vai ter em Guimarães) e já aproveitou um Porto-Benfica em que ganhou quatro pontos – mas existe, e ao Sporting apresenta-se um cenário bem real: na eventualidade de ganhar em Guimarães e do Porto perder em Coimbra o Sporting ficaria com o mesmo número de pontos do Porto à sétima jornada.
Considerando este aumento de pressão, o jogo europeu a meio da semana e a dificuldade de um Guimarães em recuperação anímica, que sacou um bom resultado com o Braga (ainda não sei como será na Madeira), a próxima jornada será um teste bem mais real para um Sporting bem mais normal. A não ser que haja outro bambúrrio e o jogo fique decidido aos cinco minutos. O que, na corrente actual, também é possível.O Porto está, não se duvide, num dos momentos mais delicados da época. O Porto, geralmente, tem destas fases. São relativamente curtas e o que fica delas é o que acaba por decidir, em grande parte, o sucesso da sua temporada. Todas as equipas têm quebras.
A do Porto parece, contudo, prematura. Mas está cá, e chega num momento em que tem de ir jogar à Rússia uma parte importante do apuramento na Champions e com uma Académica de Coimbra a fazer um arranque muito bom, fora de casa, quatro dias depois dessa difícil viagem.A paragem do campeonato vai fazer muito bem ao Porto. Vão recuperar os jogadores e, como bons profissionais que são, vão corrigir agulhas. Resta saber o lastro que estes próximos dois jogos lhe vão deixar.
Há dois anos, por exemplo, o lastro de oito pontos de atraso para o Benfica – que, com um Benfica «normal» seria perfeitamente recuperável, revelou-se fatal.
Para o Benfica, duas dúvidas:
- que concentração e que grau de energia física disponível num jogo aparentemente acessível mas, na realidade, muito traiçoeiro, com o Otelul, na Roménia, para a Liga dos Campeões? Suficiente para ganhar? Suficiente para empatar? Ou nem isso?
Uma questão pertinente sobretudo a partir do momento em que, empatando nas Antas, a possibilidade de ganhar o campeonato se tornou muito mais real. As prioridades, neste momento, estão estabelecidas, e não sei sequer se o Jesus não vai (ou mesmo se não devia) aproveitar o jogo na Roménia para poupar alguns jogadores, jogando para o empate e adiando a questão do apuramento para os dois jogos com Basileia.- que capacidade para, com o Paços de Ferreira, em casa, fazer o mais fácil depois de fazer o mais difícil? A consistência não é, definitivamente, um ponto forte (é mais um ponto fraco) desta equipa do Benfica. Há dois anos, a sorte acabou por levar a equipa ao colo até ao título. Duvido que este ano a sorte chegue. Mas também acho que esta equipa do Benfica é muito mais madura que a de há dois anos – e por isso é que continuo a achar que será campeã.
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