domingo, 25 de setembro de 2011

Jornada 6 - IRPR

O que pareceu

Um Benfica sem mentalidade e qualidade para ir discutir o jogo taco a taco com o Porto, mas mentalizado para ser campeão, com um objectivo de longo prazo lá no fundo da cabeça a lutar para vir ao de cima mesmo no meio das adversidades. Elas vão surgir, mas dificilmente alguma será tão forte como estar a perder duas vezes em casa do outro candidato ao título.

Um Porto impreparado mentalmente para jogar a cem por cento. É sempre complicado falar em ressaca quando se fala do Porto, porque existe, claramente, uma cultura de trabalho e de vitória, mas o nível de intensidade – independentemente de haver ou não haver o jogador «x» ou «y» - é, sem dúvidas, diferente, como se os jogadores estivessem em descompressão, um pouco (a um nível menor, muito mais profissional) como o que aconteceu ao Benfica o ano passado. Já se viu com o Feirense, com o Guimarães, com o Gil Vicente e noutros jogos.
O Porto joga mal? Não. Mas… o Porto joga menos? Pois…

Da mesma forma, é complicado falar em fragilidade em relação a esta equipa, mas é inegável que o Porto já não parecia tão vulnerável desde precisamente o jogo da Luz, com o Benfica, em 2009. Há dois anos, portanto.
Os pormenores estiveram contra o Porto:

- a ausência de James revelou-se importante. Varela não jogou positivamente nada. São os pormenores – uma expulsão estúpida já depois da hora…;

- Hulk praticamente não treinou durante a semana e acusou o mau momento físico, tal como Álvaro Pereira, um jogador que está e continuará a estar, durante algum tempo, a pagar a factura da Copa América, tal como Maxi Pereira;

- o Benfica só aguentou 90 minutos porque não teve jogo a meio da semana. A equipa estava nitidamente fresca em comparação com o que é normal, em que só dura 70 minutos por causa dos piques destrambelhadas em que insiste em investir:

- o árbitro fez uma das melhores, senão a melhor exibição num Porto-Benfica desde que tenho memória, e não beneficiou em nada o Porto (talvez tenham ficado a preferir que, para o ano, lá vá o corajoso benfiquista Proença outra vez…);

- Kléber está mal fisicamente, Walter é um rotundo (bem rotundo…) «zero», e o Porto viu-se sem mais avançados quando precisou de forçar o ataque.

Um campeão faz-se nos pormenores, e vê-se em alguns momentos particulares. Não fui eu que inventei. Os antigos já tinham detectado esta verdade insofismável. Chamaram-lhe «estrelinha de campeão».
 

Um Sporting na fase «cada cavadela uma minhoca» da sua bipolaridade quântica. Há um rapaz que começa a correr no meio-campo, a defesa abre por todos os lados, a bola carambola em meia dúzia de canelas e vai para a baliza. Na fase «não marcamos um golo nem a tiro e, se dispararmos, a bala faz ricochete na barra e vai matar o nosso guarda-redes do outro lado do campo» da bipolaridade, na mesma jogada a bola bate no poste e sai.
Nem o Sporting do Postiga era tão mau nem o Sporting do Volkswagen é tão bom. O Setúbal, uma equipa de velhos, gordos e maus, só não marcou dois ou três golos devido à corrente estar na fase de polaridade invertida.
O Domingo encontrou o seu onze, o que não é de somenos, e tem de tudo, desde jogadores de futebol americano a craques proféticos. Em relação ao Sporting, apenas uma certeza: não tarda nada volta a descer a Terra. Vamos ver se é como o satélite que se despenhou em paradeiro incerto ou apenas com a suavidade de um elefante pousando sobre um nenúfar.
Mas que eu gostava de saber se o Domingos foi à bruxa, e onde, e com quem, isso gostava…


O que foi

Nota prévia: há um factor de subjectividade no cálculo do Índice de Relação Pressão-Resultado, que é o de ser calculado a partir de uma premissa teórica.
Teoricamente, o empate do Benfica no Porto é, neste momento, um bom resultado para o Benfica, porque está de acordo com o que seria o seu plano para ser campeão (empatar nas Antas e ganhar na Luz), dada a superioridade (novamente, teórica) do adversário. Não o seria se o Benfica precisasse de ganhar.
Pela mesma lógica é um mau resultado para o Porto.

Benfica (IRPR = 0.825) – O melhor desempenho da época para o Benfica, num cenário que só seria mais difícil se o jogo fosse mais perto do fim da época e o Benfica tivesse de ganhar para ser campeão. Da mesma forma, as sucessivas situações de jogo estiveram contra o Benfica – não só as duas desvantagens como a altura em que os golos foram sofridos.
O Benfica teve a seu favor ter os jogadores praticamente todos disponíveis e frescos e pouco mais. Jogo de elevada pressão e resultado positivo.

Porto (IRPR = 0.123) – Sem lesões relevantes, sem jogo a meio da semana, com os golos a aparecerem em boas alturas, com o jogo à mão de semear e praticamente esvaziado de pressão, o Porto teve um clássico relativamente fácil de ganhar. A valia do adversário é real, mas o contexto não corresponde a uma mera comparação de valor futebolístico. O factor psicológico num Porto-Benfica está vincadamente a favor do Porto, que, tradicionalmente já entra a ganhar. O empate era, à partida, um mau resultado para o Porto. E no fim ainda mais.

Sporting (IRPR = 0.080) – Ambiente interno tranquilíssimo (o caso Izmailov já nem sequer é caso, e se não fosse a sportinguite do Record e a tendência para o drama do Choramingos, tinha passado praticamente ao lado da semana futebolística). Vitórias a cair do céu e confiança fácil. Um adversário a cair de maduro que só não levou 6 ou 7 no Dragão por mera felicidade (e mesmo assim levou 3). Um golo aos 2 minutos, dois golos aos sete, três aos trinta, com mais dois ou três falhados em frente ao guarda-redes, e a jogar em casa.
Resultado: um jogo-treino em competição a valer três pontos. Porquê o IRPR tão baixo? Porque o IRPR mede a resposta, em termos de resultado, à PRESSÃO. A pergunta, neste caso, é: qual pressão? Sim, não é pressão zero – mas é pressão 0.080 em 1.00.

O que fica por saber

Começando pelo Sporting, fica por saber, para já, como é que a equipa vai reagir ao aumento de pressão resultante da aproximação pontual à liderança.
A revolução (nos resultados…) do Sporting começou numa conjugação de três factores:

- um jogo completamente atípico em Paços de Ferreira, 0-2 a vinte minutos do fim, 3-2 dez minutos depois, sem que nada o fizesse antever. Um golpe de sorte que se assemelha a golpe de destino, uma injecção de confiança brutal;

- a mudança praticamente integral de toda a equipa, nesse mesmo jogo, passando de ter dois reforços para nove reforços;

- o reconhecimento prático, por via dos pontos perdidos antes do jogo em Paços de Ferreira, de que o Sporting não tinha, de facto, qualquer hipótese de lutar pelo título com Benfica e Porto.

O que fica por saber, basicamente, até ao fim da primeira volta, e a começar já no próximo jogo do campeonato, em Guimarães, é exactamente quanto de cada um destes factores é que determinou a subida de rendimento do Sporting.

A aproximação pontual, como já referi, é, na minha opinião, errónea – o Sporting ainda não teve um jogo realmente difícil (vai ter em Guimarães) e já aproveitou um Porto-Benfica em que ganhou quatro pontos – mas existe, e ao Sporting apresenta-se um cenário bem real: na eventualidade de ganhar em Guimarães e do Porto perder em Coimbra o Sporting ficaria com o mesmo número de pontos do Porto à sétima jornada.
Considerando este aumento de pressão, o jogo europeu a meio da semana e a dificuldade de um Guimarães em recuperação anímica, que sacou um bom resultado com o Braga (ainda não sei como será na Madeira), a próxima jornada será um teste bem mais real para um Sporting bem mais normal. A não ser que haja outro bambúrrio e o jogo fique decidido aos cinco minutos. O que, na corrente actual, também é possível.


O Porto está, não se duvide, num dos momentos mais delicados da época. O Porto, geralmente, tem destas fases. São relativamente curtas e o que fica delas é o que acaba por decidir, em grande parte, o sucesso da sua temporada. Todas as equipas têm quebras.
A do Porto parece, contudo, prematura. Mas está cá, e chega num momento em que tem de ir jogar à Rússia uma parte importante do apuramento na Champions e com uma Académica de Coimbra a fazer um arranque muito bom, fora de casa, quatro dias depois dessa difícil viagem.
A paragem do campeonato vai fazer muito bem ao Porto. Vão recuperar os jogadores e, como bons profissionais que são, vão corrigir agulhas. Resta saber o lastro que estes próximos dois jogos lhe vão deixar.
Há dois anos, por exemplo, o lastro de oito pontos de atraso para o Benfica – que, com um Benfica «normal» seria perfeitamente recuperável, revelou-se fatal.
 

Para o Benfica, duas dúvidas:

- que concentração e que grau de energia física disponível num jogo aparentemente acessível mas, na realidade, muito traiçoeiro, com o Otelul, na Roménia, para a Liga dos Campeões? Suficiente para ganhar? Suficiente para empatar? Ou nem isso?
Uma questão pertinente sobretudo a partir do momento em que, empatando nas Antas, a possibilidade de ganhar o campeonato se tornou muito mais real. As prioridades, neste momento, estão estabelecidas, e não sei sequer se o Jesus não vai (ou mesmo se não devia) aproveitar o jogo na Roménia para poupar alguns jogadores, jogando para o empate e adiando a questão do apuramento para os dois jogos com Basileia.

- que capacidade para, com o Paços de Ferreira, em casa, fazer o mais fácil depois de fazer o mais difícil? A consistência não é, definitivamente, um ponto forte  (é mais um ponto fraco) desta equipa do Benfica. Há dois anos, a sorte acabou por levar a equipa ao colo até ao título. Duvido que este ano a sorte chegue. Mas também acho que esta equipa do Benfica é muito mais madura que a de há dois anos – e por isso é que continuo a achar que será campeã.

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