sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Onde se ganha um clássico

O que é realmente importante num Porto-Benfica?

Desgraçadamente para os Freitas Lobo deste mundo, que pensam que uma boa táctica decide um jogo, a táctica é apenas um pormenor do jogo. Qualquer táctica é boa quando se impõe à outra, e o que impõe uma táctica à outra não é o posicionamento, mas o desempenho dos jogadores. O que decide um clássico são as coisas simples:



1 – Entrar melhor.

Quer na primeira quer na segunda parte. Por vezes acontece ser contra a corrente que a equipa que entra pior marca, mas não há outra forma de entrar em jogo, e o período crítico é o reinício. A maior parte dos clássicos decide-se na segunda parte, por cansaço, questões disciplinares, reajustamentos tácticos. Uma má entrada na segunda parte é, regra geral, fatal.

Uma equipa que entra melhor, normalmente, mesmo sofrendo o primeiro golo, encontra forma de reagir. Pode acontecer uma equipa que entra melhor – e domina o jogo – perder, mas são excepções que confirmam a regra.



2 – Pensar pequeno.

O que desequilibra um clássico, realmente, não são as grandes jogadas, são os pequenos duelos, que se multiplicam dezenas de vezes durante o jogo. A equipa que ganha o jogo é a equipa que ganha mais confrontos imediatos, mais bolas divididas, a que arranca primeiro e a que chega primeiro, a que mete o pé por cima. Algumas vezes, esses múltiplos confrontos individuais são tão equilibrados que o jogo se mantém igualmente equilibrado, mas assim que há uma equipa a ganhar o ascendente, a ganhar mais confrontos individuais, a dinâmica do jogo altera-se rapidamente e as pequenas vantagens tornam-se num caudal que pode resultar numa torrente. Depois de uma equipa ganhar ascendente e confiança, a outra encontra-se à sua mercê, e a questão passa a ser não quem ganha mas o que é preciso a equipa dominadora fazer para ganhar. Pois fá-lo-á.



3 – Jogar objectivamente.

A concentração no objectivo é fundamental, e a simplicidade de processos também. São jogos de desgaste intenso, porque a tensão torna tudo mais árduo e cansativo. A equipa que joga mais simples, com maior economia de esforço, e sem rodeios, está mais perto de ganhar. Todos os jogos de futebol, independentemente das equipas e do contexto, são, em oitenta por cento, batalhas físicas. A equipa com maior capacidade física tem grandes possibilidades de ganhar ou, pelo menos, de não perder. Uma das vantagens históricas do Porto é jogar um tipo de jogo de maior concentração nos pequenos espaços, na corrida curta, no chamado futebol apoiado. Ao fazer isso está quer a reduzir o esforço individual quer o risco de perder as pequenas batalhas, e a ganhar ascendente físico e anímico. Ao mesmo tempo, apela ao colectivo.

Primeira regra fundamental do futebol (e do basquetebol, e do andebol, etc): a bola corre sempre mais depressa do que o jogador. Um passe é a forma mais rápida de ligar dois pontos. E de passar por um defesa. E de poupar energia.

Segunda regra fundamental: o gesto mais importante do jogo é o remate. O objectivo do jogo é o golo. Fazer bem é mais importante que fazer muito. Um golo muda tudo. As equipas inglesas passaram mais de vinte anos a jogar sem meio-campo  e ganhar jogos com golos de ressalto, na pequena-área, ou com quatro ou cinco jogadores na grande área à espera de uma segunda bola. O seu lema? Qualquer coisa como «keep it simple, stupid». O que continua a distinguir uma boa equipa de uma equipa melhor é a facilidade em fazer golos (e e por isso que o Jesus insiste no Cardozo, mesmo sendo um avançado de segunda categoria).



4 – O espírito de matilha.

Até podem estar lá só a separar, ou a fazer de conta que se importam com o companheiro que foi empurrado, mas a equipa que tiver menos jogadores no molho quando houver a primeira confusão é a equipa que vai perder o jogo. Contem.

1 comentário:

  1. Comentando à posteriori, o que é sempre mais fácil, o resultado é o menos mau. O Benfica foi eficaz, porque marcou em duas das três ou quatro oportunidades que teve.
    A primeira parte do Benfica foi fraquinha. Entrou medroso e não arriscou nem um pouco. Mostrou medo e não gostei nem um bocadinho.
    Entrou bem na segunda parte, marcando e deitou essa vantagem psicológica fora, sofrendo aquele golo da treta 3 minutos depois. Felizmente foi capaz de virar essa nova desvantagem, e logo nos últimos 10 minutos. Isso é que foi uma previsão certeira, Hugo.

    Gostei do virar das desvantagens e não perder, face ao que acontece habitualmente, não foi mau de todo. Mas perdeu-se uma excelente oportunidade de ganhar lá! Esta equipa não tem a mentalidade assassina que teria de se esperar.
    Enfim!

    Abraço

    ResponderEliminar