terça-feira, 13 de setembro de 2011

Men, United!

Porto e Benfica têm, na Liga dos Campeões, jogos contraditórios. O Porto tem um encontro decisivo para o apuramento, com uma equipa mais fraca. O Benfica, apesar da grandeza do adversário, tem pouco a perder neste jogo e muito a ganhar. O jogo com os ingleses não é decisivo a não ser que o Benfica consiga, pelo menos, empatar.

Porto-Shaktar
Vítor Pereira teria conseguido passar muito melhor a sua mensagem em relação ao jogo com o Shaktar se, em vez de dizer que a equipa ucraniana é «de grande nível europeu» (o que é discutível),  tivesse dito o seguinte:
- O Shaktar eliminou o Braga da Liga dos Campeões no ano passado e está, nos últimos anos, um nível acima do Benfica, por exemplo, na Europa. Como tal, um jogo em casa com o Shaktar para a Liga dos Campeões é mais difícil do que um jogo com o Benfica ou com o Braga, com uma agravante: ao contrário do Benfica, o Shaktar é uma equipa rotinada a defender e a sair no contra-ataque, que não vai ter complexos nenhuns em vir jogar aqui com dez atrás da bola porque está construída para fazer isso na Europa.

Se tivesse dito isto, o treinador do Porto teria conseguido não só fazer entender perfeitamente o tipo de jogo que vai enfrentar hoje como abrir (utilizando argumentos racionais e verdadeiros) abrir uma nova frente de hostilidades com o Benfica  a pouco mais de uma semana de um dos jogos do título, período em que o Porto encontra sempre maneira de pôr as pessoas a falar de tudo (sobre o Benfica) menos no jogo, enquanto os seus jogadores são metidos numa estufa.
Tenho poucas dúvidas de que o Villas-Boas já teria usado o Benfica para falar do Shaktar (e, no fundo, falar do Benfica.)

Postas as coisas nestes termos, as hipóteses do Porto para este jogo são as mesmas que terá no jogo com o Benfica: 70 % de vitória; 25 % de empate; 5 % de derrota.

Atenção, no entanto, aos problemas na defesa do Porto. O ataque, em termos de qualidade, é o ponto forte do Shaktar, sobretudo o contra-ataque. Maicon e Otamendí pouco ou nada jogaram juntos e Álvaro Pereira só joga porque não há alternativa. É uma vulnerabilidade que pode baralhar a equipa. Acho difícil o Porto não sofrer golos.

Benfica – Manchester United

Ponto prévio, da maior importância: no próximo domingo o Manchester United recebe o Chelsea, num dos jogos mais importantes da sua época. Considerando a fraca qualidade do seu grupo na Liga dos Campeões, que lhe garante o apuramento, o jogo com o Benfica não é irrelevante mas não anda muito longe. Um empate é um bom resultado.

Apesar da ideia de uma certa invulnerabilidade das grandes equipas, não é muito normal os vencedores dos grupos acabarem a primeira fase só com vitórias, ganhando, normalmente, todos os jogos em casa. Geralmente acabam 5v-1e ou 4v-2e, sendo que os pontos perdidos acontecem, também geralmente, logo no princípio, quando é mais importante não perder e, até, poupar jogadores, ou no fim, depois de o apuramento estar alcançado, altura em que os treinadores decidem, sem dúvidas, poupar jogadores.
Teoricamente, dada a sua qualidade relativamente a Zurique e Otelul  e o momento em que o jogo acontece (para mais sendo na Luz), o Benfica está, amanhã, na melhor posição para roubar pontos ao United.

Antes de mais, sendo o United uma equipa de topo europeu e o Benfica um aspirante à primeira linha, o Benfica não é assim tão mais fraco que o United. Tem alguns pontos fortes que não vão permitir aos ingleses facilitar na defesa, e pode, perfeitamente, marcar um ou mais golos. Eu diria que, em termos relativos, o Benfica receber o United é o mesmo que o Guimarães receber o Benfica. Façam vocês o resto do filme na vossa cabeça...

Acredito que a abordagem de Ferguson para o jogo de amanhã será a seguinte: defender bem, sobretudo na primeira parte, não apostando muito numa toada atacante; atacar pela certa e com método, sem entregar demasiadas vezes a bola ao Benfica e afastando-a da sua área defensiva (atenção ao ponto fraco do United neste momento: o guarda-redes, que não dá confiança), o que levará a um ritmo relativamente lento mas cansativo para o Benfica, que não sabe defender; poupar um ou dois jogadores importantes para o campeonato (eventualmente Nani); arriscar apenas em caso de desvantagem, e não forçar muito a vitória se o desenrolar do jogo se encaminhar para um empate, até porque, em princípio, um empate na Luz assegura ao United o primeiro lugar no grupo.
Ferguson sabe que o Benfica é a principal ameaça no grupo, e por isso vai fazer um jogo cauteloso.

Dito isto, mesmo nestas condições, o «andamento», como refere Jesus, é de tal forma mais elevado que o United continua a ter, pelo menos, 50 por cento de hipóteses de ganhar na Luz.
Mas o Benfica vai jogar com outro chip. Não falo tanto em motivação, mas em concentração. Podemos esperar jogos superiores de Gaitán, Aimar, Cardozo e outros.

O Benfica tem um ano a mais de experiência europeia, um factor que, por si só, é o mais importante nestas competições. Conta mais saber como jogar na Europa do que ser uma boa equipa – digo que conta mais, não digo que o valor da equipa não interessa.

O Benfica vai jogar empolgado, o público transmitirá a electricidade típica de uma noite europeia (não é um mito, a grande Luz europeia existe mesmo, quem já lá esteve neste tipo de jogo sabe). Não é uma questão de meter medo ao adversário, é uma questão de criar um ambiente tão eléctrico que se torna invulgar, estranho, diferente, e retira alguma lucidez a todos os jogadores. É como um daqueles dias de trovoada em que o céu está carregado de energia. É um dia com 24 horas, na mesma, tem manhã, tarde e noite, claro que sim, mas a nossa cabeça não funciona da mesma maneira, e às vezes até nos tornamos mais irritadiços. É essa electricidade que, por vezes, faz curto-circuito no sistema dos jogadores, sobretudo dos mais novos. Eu assisti ao jogo em que o Benfica venceu o Manchester e em que o Leo se enfiou nos calções do Ronaldo e lhe deu cabo da tola. Eu vi o Ronaldo a fazer o «passarão» para a bancada quando saiu – eu estava nessa bancada. Eu sei do que estou a falar.

Pegando nisto (no jogo de 2005, não no «passarão» do Ronaldo…), o histórico entre Benfica e United não vai passar em claro. O jogo de 2005 não foi apenas uma vitória do Benfica sobre o Man. United. O jogo era uma final. O Benfica ganhou, passou, e eliminou o United na fase de grupos pela primeira vez desde que começara a Liga dos Campeões. O Ferguson sabe que a Luz não é o Reebok Stadium, e sabe que o Benfica acredita. Vai resguardar-se. Tal como o Jesus, aliás. Curiosamente, não me parece que o primeiro golo vá ser muito determinante. Nenhuma das equipas vai jogar para a goleada. Vai ser um jogo muito táctico, o que é curioso, porque nem o «mestre » nem o Ferguson são grande coisa no que respeita a tácticas. Aquilo é mais chiclete, madeixas, pontapé na chincha e muitas peneiras.

Acredito que Saviola, mais experiente, possa jogar no lugar de Bruno César, a descair pela esquerda. Sei que se o Gaitán jogar a maior parte do tempo à esquerda o Benfica perde, porque metade da capacidade defensiva desse flanco desaparece.

Atenção à defesa do United, claramente debilitada. Se há um sector qu convém não estar debilitado quando se enfrenta o Benfica é a defesa.

Sim, Rooney é um dos cinco melhores jogadores do mundo na actualidade, e atingiu uma classe que lhe garante, à partida, quase, um golo por jogo, seja em que jogo for, além de um controlo absoluto sobre toda a dinâmica de ataque da sua equipa. Sim, o United está numa de massacrar. 8-2 ao Arsenal é de meter respeito, 5-0 ao Bolton, fora, também.
Mas cada jogo é um jogo, e continuo a achar que o Benfica tem 50 por cento de hipóteses de não perder. O que, na minha opinião, considerando o factor superação, vai chegar.



Um detalhe, para acabar: o Porto, candidato às meias-finais da Champions, tem hoje um jogo decisivo. O Record mete o Porto na esquina da primeira página e faz capa de uma não-notícia, dizendo que, amanhã, o Luisão vai jogar ao pé do Rooney. Paradigmático.

3 comentários:

  1. Espero que a previsão se concretize. A Luz vai estar cheia hoje o que, infelizmente, é mais raro do que o que deveria acontecer, mas que pode contribuir para a dita superação.
    Esperemos que o catedrático não tente tirar qualquer coelho da cartola, porque estes não darão abébias.
    Que seja um dia de orgulho benfiquista.

    Abraço

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  2. João Gonçalves14/09/2011, 12:00:00

    Felizmente que, mesmo nos tempos que correm, ainda é possível encher um estádio como o da Luz. E com os preços que se praticam cada vez será mais difícil. Eu há muito que pus isso de parte.
    Estou curioso para ver o que o "Mestre da Táctica" vai fazer. Especialmente na maneira como a equipa vai defender. Custa-me a perceber como é que com um bom guarda redes, 3 bons defesas (para mim o ponto fraco será o Emerson e, se calhar, ainda se vai sentir a falta do Capedevilla) e um bom tampão como o Javi Garcia, esta equipa se mostra tão permeável a defender. Claro que uma equipa tem de actuar como um bloco, em que todos atacam e todos defendem, mas parece difícil pôr o Benfica a jogar assim. Aimar defende mas Gaitán, Nolito e Cardoso nem por isso. Contra o Manchester só mesmo uma equipa de "Homens Unidos" (Men United, como o titulo deste post) terá alguma hipotese de vitória.

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  3. 2 ou 3 vezes por ano, ainda tento ir à Luz. Não é barato, mas a alma precisa de alimento, também :). Normalmente vou em jogos de competições europeias, logo com o Manchester tinha de ser.

    Acho que o problema principal da defesa é, precisamente, a questão das compensações. Na esmagadora maioria das vezes em que sofremos golos, este ano, os defesas laterais não estavam lá e os médios não compensaram. Essa é uma das minhas maiores embirrações com Gaitán. Não basta ser inconsequente, na maior parte das vezes, no ataque, mas não defende peva. A falta de solidariedade com a equipa é gritante e, não fosse ele um dos "minimos" do treinador, que lhe deve dizer que génios como ele não têm de defender, e há muito que tinha perdido o lugar. Até Di Maria passou a defender no primeiro ano de JJ, mas esse ano está tão distante...

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