domingo, 11 de setembro de 2011

Jornada 4

O QUE PARECE

Sporting
Um momento de viragem do campeonato para o Sporting, com todo o drama necessário para que se acredite realmente num destino diferente. Esta vitória vai ficar nos jornais como mais uma vitória no meio de muitas, mas que não se duvide de que é uma das maiores vitórias na história do Sporting – e não, não estou a exagerar.
Neste momento da vida do clube, num ponto de não-retorno em termos directivos e económicos, no dia em que o treinador, perante um teste decisivo para ele próprio, revoluciona completamente a equipa onde se esperava e até onde não se esperava (não pensei que tirasse o Izmailov para meter o Pereirinha, os outros todos confesso que sim, que calculei que houvesse varridela da grossa), dias depois da mais cara contratação de sempre, o Sporting vê-se a perder por dois zero, com dois erros gritantes no pior momento possível, e em vinte minutos dá a volta ao marcador.
No dia em que, daqui por dez anos, depois de dois ou três campeonatos ganhos, se perguntar onde é que tudo começou, a resposta que se deve dar é: «Na noite de 10 de Setembro de 2011, em Paços de Ferreira. Estávamos a perder 2-0, com uma equipa toda nova, e ganhámos 3-2. O profeta marcou um golo.»

Juro (pela alma do meu gato, que tinha quinze anos quando morreu) que aos dez minutos – não foi logo aos seis, nem aos sete – senti que o Sporting ia ganhar o jogo, até porque o golo do Paços aconteceu cedo demais. Só por milagre o Paços aguentaria uma equipa como esta do Sporting durante 85 minutos a carregar.
Com o golo, não se afundou no buraco, nem procurou um buraco para se enfiar mesmo quando estava a perder por 2-0 – porque é uma equipa sem traumas, sem passado. O Capel, o Elias, o Rinaudo, o Schaars, não conhecem o Paços de Ferreira de lado nenhum.
É verdade que, quando há o segundo golo, ainda julguei que, mais uma vez, o inacreditável azar do Sporting estava à prova de qualquer tentativa, mas a verdade é que tive razão: por portas e travessas, mas com indiscutível mérito, o Sporting ganhou. Com o 2-2 sentiu-se que o 3-2 não tardava.
E, claro que sim, não vai ganhar os jogos todos até ao fim do campeonato, mas ganhou uma equipa. Parece que chegou a hora do karma inverter. Atenção: nunca se deve menosprezar a capacidade do Sporting em inventar uma parede onde ela não existe para ir lá bater e ficar estendido no chão.

O Domingos fez o que devia, deixou-se de merdas e pôs os jogadores a sério a jogar. Fica-lhe a faltar um defesa-direito melhorzinho, mas o Pereira faz o lugar, desde que não tenha de mandar em nada e o ponham no seu lugar, que é o de quarto defesa e jogador esforçado. Com isso, o Sporting deixou de ter uma equipa de juniores.
O Evaldo só pode ser suplente do Insúa, que não joga marreco e sabe correr, e que pisa o meio-campo de ataque com a mesma facilidade com que pisa a sua zona defensiva.
O Rodriguez, mesmo com a fífia do segundo golo, é mais jogador que o Carriço a milhas.
O Onyewu dá uma presença física na defesa e nos cantos ofensivos que o Polga nunca deu. É um cepo? É. Mas é um cepo grande para caraças, e vai dar sempre o máximo, porque é americano. Vai dar fífias? Vai. Mas é o segundo melhor central do Sporting. Podiam ter melhor? Podiam. E vão. Mas não por agora.
O Rinaudo mete o André Santos num bolso, no Sporting e em qualquer equipa do mundo, e se está com saudades de casa que compre um postal.
O Elias é um jogador de futebol de altíssima qualidade, desde o toque de bola à capacidade táctica e física. Como o Ramires? Sim. Um bocadinho menos rápido, mas parece-me que mais inteligente a jogar.
O Bojinov fica por ver melhor, se desenvolve ou não. Tem força e convicção. Não sei é se joga muito à bola. Desde que marque golos, contudo, parece melhor que o Cardozo.
O Volkswagen marcou um golo de classe pura. Até a celebração do golo teve classe. Não tirou a camisola, não se atirou para o chão como um débil mental. Foi uma celebração profissional, de quem fez o que sabe que pode fazer, nada de extraordinário.
O Rubio é um caso sério, até como suplente.

Ao meter os bons, o Sporting passou, automaticamente, a jogar mais depressa, mais largo, mais agressivo, com maior presença no campo inteiro. Encontrou o seu onze-base (com o Izmailov no lugar do Pereirinha, mas não obrigatoriamente com o João Pereira em vez do Pereirinha) e, a partir deste momento, passa a ser uma ameaça real, não para ganhar o campeonato, porque já não vai a tempo, mas para chatear que se farta.
E agora perguntam-me: esta equipa vale os 45 milhões de euros que o Sporting pagou durante o Verão para a ter? Vale.

Uma nota: novamente, tal como o Olhanense e o Marítimo, duas pernas de frango de Rui Patrício, que facilita no atraso de Rodríguez e que, no 2-0, leva um golo quase ao meio da baliza com um cabeceamento da entrada da grande-área.



Benfica
Juro (pela alma do meu gato, que, não sei se já disse, mas morreu com quinze anos) que estive mesmo para escrever, no final do meu palpite para o jogo Benfica-Vitória: «Não descarto a hipótese de o jogo se decidir numa decisão arbitral.» Só não pensava que fosse uma decisão arbitral (ou três) tão evidentemente correcta. Pensei que fosse num penalty duvidoso. Foram todos claros – apesar de, no primeiro, ter sido a inteligência do Saviola a arrancá-lo, desacelerando só o suficiente para o defesa o abalroar. O Saviola é o jogador mais inteligente do Benfica, mas de muito longe. Numa equipa de burros, o Saviola, mesmo a jogar aos solavancos, torna-se um jogador fundamental apenas por pensar um bocadinho.

A ideia de que a defesa do Guimarães devia jogar andebol é falaciosa: no andebol os jogadores de campo não podem estar defender na grande-área. Por outro lado, se a defesa do Vitória fosse proibida de entrar na grande-área teria menos quatro penalties por esta altura…

É inacreditável como só ao fim de um ano e tal de Benfica é que só hoje se viu que o Gaitán marca os melhores cantos de Portugal do lado direito. Repito, é inacreditável. E também é inacreditável a quantidade de cantos curtos invariavelmente inconsequentes que se marcam com seis jogadores dentro da área, quer do lado esquerdo quer do direito.

O Benfica, como sempre, perde clarividência com facilidade e deixa de saber interpretar o momento do jogo. Com 2-0 podia ter feito mais dois ou três, mas achou que não era preciso. O costume. O Cardozo, que tem cabeça de passarinho, é o pior. Depois sofreu e já não conseguiu voltar a entrar no ritmo do qual nunca deveria ter saído antes de, pelo menos, fazer o terceiro golo. Esta é uma história que já se repetiu quarenta vezes nos últimos dois anos e que se vai repetir mais vinte este ano.

A equipa segue um caminho de resultados muito positivos, mas a confiança que transmite é quase nula. Imaginamos este Benfica sem cérebro a ser pressionado nas Antas e lembramo-nos dos 5-0 do ano passado. Como uma equipa destas pode ser campeã é um insondável mistério.

Porto

Ganhou a jogar com quatro jogadores da segunda equipa (Maicon, Belluschi, Cebola, Defour), com facilidade total, domínio do jogo e da pressão de chegar ao intervalo a zero, e, ao contrário do que se diz, sem necessidade real de meter Moutinho e Hulk.
Sim, acabaram por ser decisivos, mas as três bolas na barra demonstravam já uma superioridade total, que acabaria por ser concretizada mais cedo ou mais tarde.

Quem vê a experiência desta equipa do Porto teria de ser louco para não a considerar, desde já, a futura campeã de Portugal.
Eu continuo a ser um desses loucos.

O resto já disse.



O QUE É

Sporting (IRPR = 0.490) – A favor do Sporting o facto de ter o plantel praticamente todo disponível para Domingos escolher quem queria pôr a jogar, o facto de o paços, apesar de combativo, ser uma equipa relativamente limitada, e a importante expulsão a mais de vinte minutos do final da partida.
Contra, sobretudo, o desenrolar da partida, com uma desvantagem de 0-2 num campo sempre difícil. Com 0.490 em 1.00 máximos, o Sporting teve o seu melhor desempenho da época debaixo de pressão.

Benfica (IRPR = 0.200) – O desenrolar do jogo tornou muito fácil o que a nova energia da equipa do Vitória e a proximidade do jogo com o Manchester dificultavam. Tanto que o Benfica jogou, afinal, o seu segundo jogo mais fácil da época, a seguir ao do Feirense. Tanto num como no outro os problemas resultaram, exclusivamente, da sua inépcia, porque a sorte do jogo esteve sempre do seu lado.

Porto (IRPR = 0.125) – Outro jogo muito fácil para o Porto, o que se reflecte no seu IRPR. A única pressão que o Porto sofreu resultou da manutenção do 0-0 até ao intervalo e da proximidade do jogo com o Shaktar Donetsk, que levou o treinador a abdicar de quase meia equipa titular.


O QUE FICA POR SABER

Sporting
Ganhou apenas um jogo ou ganhou uma equipa? Acredito mais na segunda.
Até onde pode chegar? Acredito que até ao segundo lugar, e não mais. Mas mesmo esse é difícil.
Tem seis jornadas até começar o outro campeonato, mais a sério, com as boas equipas. Chegará para consolidar a equipa? Acredito que sim. E reafirmo que o calendário é o maior aliado do Sporting este ano.

Benfica
A quebra que se segue ao bom momento, fruto de um início de época antecipado, chega já, ou apenas daqui por umas semanas? Que chegará, chegará. E a sorte, chegará para tanto?

Porto
Há alguma possibilidade real do Porto ficar mais fraco no campeonato com a Liga dos Campeões? Se não for assim, não se vê como. Mas vai, digo eu.


Como eu disse, o campeonato real, aquele que vai ficar para o resto da época, começou ontem.

3 comentários:

  1. Caro Hugo,

    Análise muito interessante, como é hábito. Na minha perspectiva de benfiquista, e de tipo de imagens simples, registo a diferença entre a facilidade impressionante com o que o Porto despacha estas equipas menores, e a enorme dificuldade com que o Benfica enfrenta cada um destes jogos. O jogo de ontem do Benfica deixou-me de tal modo decepcionado que creio que foi a machadada final na esperança de poder ver o Benfica campeão.
    Quem deixa o único jogador capaz de pensar o jogo de fora, quem joga com um tipo que está lá para fazer dois ou três lances que, na opinião dele e do treinador devem definir o tipo como um génio da bola, que não defende, não luta e quase não corre - e refiro-me a Gaitan, claro, não pode ser treinador de uma equipa de topo, porque coloca o próprio ego à frente de qualquer interesse da equipa. Confesso que começa a ser doloroso ver o Benfica jogar na TV.

    Na 4ª, para mal dos meus pecados, vou gastar um montante superior a um Red Pass dos baratos para, com a família, ver o jogo com o Manchester na Luz. A perspectiva de ver o Benfica levar um baile dos antigos agigantou-se depois deste jogo.
    É absolutamente inacreditável, e um libelo gigantesco contra o mestre da táctica que, à 3ª época, a equipa não saiba gerir o jogo e a posse de bola. Se há definição de falta de categoria de uma equipa, enquanto equipa, é esta!

    Abraço

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  2. Pois é, Rui, em relação ao Gaitán, ao Jesus, às diferença de classe entre Benfica e Porto, eu praticamente podia pegar nas tuas palavras, fazer copy-paste e assinar por baixo.

    Na quarta-feira, felizmente, não tenho dinheiro para fazer o que tu vais fazer, senão fazia e era um disparate. Mas também te digo que, na minha opinião, vamos ter empate. Amanhã ou depois, mais perto do jogo, ponho um post a dizer porquê.

    Ainda não estou disposto a negar o meu gut feeling de que o Benfica vai ser campeão. Não rejeitemos à partida uma ciência que não compreendemos. Nas três últimas vezes em que foi campeão o Benfica também não soube como aconteceu, e isso não impediu nada.

    Não pense mais no jogo. Faz como eu. Vê a Shakira.

    Abraço

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  3. Não é fácil esquecer o jogo, Hugo, até porque não o jogo em si, mas o que ele representa em termos de comprovar que este treinador é incapaz de reflectir sobre o que acontece e aprender com os erros.
    Não penso que o treinador do Porto seja muito melhor, mas o Porto tem uma cultura de jogo que está ausente do Benfica há muitos anos, tem fundamentos deixados por Villas Boas, que podem ser aproveitados por Vitor Pereira, se não for burro de todo. No Benfica, o que há?

    O jogo de ontem deixou-me mesmo frustrado. Acho que vou ler qualquer coisa para me desligar, porque o percurso das paragens futebolísticas online só agrava a frustração.

    Fico à espera do post sobre o jogo com o Manchester.

    Abraço

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