O pior dia de benfiquismo da minha vida não tem nada a ver
com o Porto ou com o Sporting.
O pior dia de benfiquismo da minha vida foi o dia 25 de Maio
de 1988, quando o Benfica perdeu a final da Taça dos Campeões Europeus nos
penáltis, por 6-5, contra o PSV Eindhoven. Eu tinha 14 anos, acabados de fazer
cinco dias antes.
Quando o Veloso passou a bola ao Van Breukelen (o melhor
guarda-redes europeu da altura), no sexto penálti, o meu mundo acabou.
Tranquei-me na casa-de-banho a chorar, depois de, pela primeira vez,ter dito
uma asneira em frente ao meu pai, que, com o espanto, nem sequer teve coragem
de me ir chamar. Quando saí daquela casa-de-banho, tinha vontade de espancar
alguém. Precisei de vingança. E posso confessar que continuo a sentir essa
sede. O Benfica deve-me uma compensação. Já se aproximou algumas vezes dela –
poucas, como o 2-0 do César Brito, nas Antas, os 6-3 de Alvalade, ou o título
de 2010 – mas nunca abateu realmente a sua dívida.
Naquela altura, a quente, miúdo que eu era, pareceu-me,
primeiro, um sonho, e depois um pesadelo. Só depois, com o tempo, percebi que
aquilo não devia ter acontecido. Até chegarmos à final parecia mesmo sonho,
perfeito. Mas era irreal. O Benfica, mais do que não ter perdido, não devia ter
jogado aquela final. Não estava preparado. Não era o momento.
Desde logo, porque as duas melhores equipas europeias desse
ano eram o Porto e o Real Madrid. O Porto, então campeão europeu, foi eliminado
prematuramente pelo Real, que depois foi eliminado pelo PSV nas meias-finais,
enquanto o Benfica eliminava um Steaua muito mais acessível.
Mas, sobretudo, não era o momento do Benfica, que já estava
em decadência. Já nada tinha a ver com a grande equipa de Eriksson, a última verdadeira
grande equipa do clube até hoje, e o clube estava a cair para a mediocridade,
para a baixa exigência e para a vulgarização.
A final de dois anos depois, com o Milan, quase nem chateou,
porque a diferença era tão grande que não se esperava nada.
Nesse dia, do jogo com o PSV, percebi a minha bitola como
benfiquista. Se, hoje, alguns de vocês acham que eu sou um lunático, que espero
demais do meu clube, eu culpo esse dia. Porque foi aí que eu percebi que, para
mim, que sou o benfiquista mais doente que conheço, ir a uma final não é nenhum
objectivo. O objectivo é ganhar a final.
Nesse dia percebi a diferença entre jogar uma final e ganhar
uma final. Entendi a grande distância que vai do sucesso à merda, e,
paradoxalmente, como é curto o caminho entre ambos. Posso dizer que foi nesse
dia que eu deixei de ser enganado por promessas ocas, conversas de galarós,
vendedores de banhas da cobra e procissões de fé por parte dos adeptos.
Quando eu penso no Benfica, vejo um jogo ideal. Nesse jogo
ideal, o Benfica joga contra a melhor equipa da Europa (nem sequer é com um PSV),
do clube mais forte do Mundo, contra o tempo, o árbitro e as lesões, e ganha
porque é mais forte que o adversário e as adversidades.
Quando eu vos digo que para mim, a Champions é para jogar só
até aos oitavos-de-final, ou que a Liga Europa não vale o esforço, vocês ficam
chateados comigo porque pensam que eu não sou suficientemente benfiquista.
Pensam que eu não quero ganhar, que não sou ambicioso. Estão enganados.
Não há nada que eu queira mais, como benfiquista, do que
vingar aquela final de Estugarda. Ser campeão europeu. Mas quero sê-lo como
deve de ser. É o meu sonho como benfiquista. É ter uma grande equipa, jogar
contra uma grande equipa, superar tudo e todos, chegar ao fim com mais um golo
marcado e com o orgulho de não haver nada a dizer, de sentir que aquela glória,
mesmo que passageira, me dá paz. Talvez seja uma utopia, mas não me interessa.
Para mim, o Benfica é essa utopia. E ninguém ma pode tirar. Se ela sobreviveu a
25 anos de frustrações e vergonhas, não é agora que vai morrer.
Quando eu olho para esta equipa do Benfica vejo a de 1987.
Uma equipa aceitável, que não envergonha, mas incapaz de ganhar uma final europeia
a sério. E quando eu falo em final europeia falo da Taça do Benfica: a dos
Campeões.
Esta equipa não está preparada para ganhar. Vão ser precisos
anos, de bom trabalho, de lucidez, de dedicação e de sofrimento. Anos.
E fazer uma tripla, nesta altura até poderia ser tão contraproducente como foi o 6-3 em Alvalade: à conta de um bambúrrio, por se convencerem de que valem mais do que realmente valem, dar-se um retrocesso de dez anos.
O resultado na Turquia foi mau porque não marcámos. Tivemos
azar com o árbitro e sorte com os postes. Normal. Nestes momentos em que tudo
está em jogo, as equipas que jogam em casa são sempre beneficiadas pelos
árbitros. O Benfica também vai ser na segunda mão.
O Fenerbahce está muito motivado, e vem à Luz para fazer o
jogo das suas vidas. Provavelmente marcará. O resultado de 1-0 será perfeitamente
reversível se o Benfica jogar tão motivado na Luz como eles jogaram lá, mas o
Benfica terá de entrar mentalizado para marcar pelo menos três golos, o que
será difícil – entrar mentalizado para isso, e não marcar os golos, entenda-se.
Marcar golos, para esta equipa, é o mais fácil.
O que apurou o Benfica até aqui – os golos fora – desta vez
não existem.
Neste momento, o Fenerbahce tem 75 por cento de hipóteses de
chegar à final.
Mesmo que passe, o Benfica perderá a final com o Chelsea,
pela mesma razão que o Sporting perdeu na Luz: porque, quando a diferença de
categoria entre jogadores é tão grande, a equipa inferior tenta marcar e a
equipa superior marca, mesmo que pareça que está a jogar menos. Não está a
jogar menos. Está é à espera do seu momento.
Se passarmos à final e ganharmos ao Chelsea, com sorte? Tudo
bem, seria muito giro, dava para ganhar maturidade, mas para mim significaria
pouco. Não vai ser isso que me mata a sede. Porque o mais provável, para o ano,
seria voltar a ficar pelos oitavos ou quartos-de-final da Champions, que é o que
esta equipa realmente vale. Ou duvidam?
A Liga Europa, a mim, dá-me igual. O jogo do ano é o do
Funchal.
Se me pusessem aqui à frente um papel para assinar em que eu
tivesse de trocar uma vitória na Madeira por uma vitória sobre o Chelsea na
final da Liga Europa, eu escolhia logo a vitória na Madeira.
Porque o Benfica, para voltar a ser realmente grande, tem é
de começar por ganhar ao Porto todos os anos, e não ao Chelsea uma vez na vida.
Compreendo o ponto de vista. Também prefiro ganhar o campeonato, a ganhar a Liga Europa.
ResponderEliminarO caminho do Benfica começa em casa. Foi isso que sucedeu ao Porto de Pinto da Costa. Dominou em casa, e ganhou maturidade para as lides Europeias.
É fundamental ganhar no Funchal.
Eu também nunca percebi essa coisa de dar grande valor de ir a uma final...
ResponderEliminarPara mim de valor é ganhar a final. Ir lá e perder é o pior que pode acontecer. Fica marcado na memoria para sempre. Nunca mais me vou esquecer do PSVe da final perdida contra a Grecia. Entaão os sportingistas depois daquela final perdida nunca mais recuperaram. Só o desgosto de perder uma final é muito maior do que ficar pelas meias.
Assino por baixo. A diferença é que só vivo o Benfica desde 93 e sozinho, sem incentivos. Muitos me perguntam como foi possível porque o GRANDE BENFICA que falas já muito pouco existia.
ResponderEliminarPerder com Chelsea porque? Melhor equipa que o Benfica?
ResponderEliminarConcordo com...quase nada neste post, mas vou apenas mencionar 2 razões, a 1ª por não ser verdade, a 2ª por uma questão sentimental:
ResponderEliminar1-"O que apurou o Benfica até aqui – os golos fora – desta vez não existem."
Bom acho que temos visto jogos diferentes da Liga Europa!!! Diz lá quais foram os jogos em que os golos fora, nos apuraram??!!
2-"25 anos de frustrações e vergonhas, não é agora que vai morrer."
Sou um pouco mais velhinho do que tu, assisti a grandes BENFICA
na europa, mas também à fase mais negra da nossa História (com 6º lugar, etc.), uma coisa te garanto, numa e noutra situação, sempre senti orgulho e honra em fazer parte deste enorme Clube, para mim uma Religião!! Não se ama mais um Pai ou uma Mãe, por serem ou não mais ricos ou poderosos!!
Os momentos dificeis, só nos fortaleceram, estivemos adormecidos, em diversos momentos, de uma forma induzida, outros por culpa própria!! Nunca tenhas medo de chegar a uma final,com receio de a perder!! Se tiveres que transmitir valores aos teus descendentes, diz-lhes " as vitórias na vida são importantes, devemos lutar sempre pelos nossos objectivos (no nosso caso vencer),mas o mais importante é tentar, nunca desistir, se tombarmos, foi porque sempre estivemos de pé...nunca rastejámos, nunca nos curvámos, vivemos de cabeça erguida!!
Quanto ao "melhor porto", recordo: oferta de viagens a árbitros e dirigentes federativos, viciação de resultados e escolha dos "melhores árbitros", quinhentinhos, fruta e...seringas!! Este foi o melhor porto.
"Mesmo que passe, o Benfica perderá a final com o Chelsea"
ResponderEliminarVai tomar banho pá.... d´água gelada!!!
Com Benfiquistas destes.......
Dizer que concordo e dizer pouco. Bem escrito, assertivo, lucido. Parabens! E que venha de la essa vitoria na Madeira!
ResponderEliminarBoas Hugo, já não te lia desde os tempos do Record...mas ainda bem que dei com o teu "tasco". Subscrevo grande parte do que disseste, tenho umas discordâncias aqui e ali. Por exemplo, o Chelsea tem melhores individualidades mas não sei, apesar de Campeão Europeu em título, se terá mais futebol que nós...mas não interessa, primeiro há que despachar os turcos.
ResponderEliminarMas concordo com 2 ideias-chave : o teu último parágrafo e que o jogo do ano é mesmo segunda-feira. Abraço, GB
Passa lá no meu "tasco".
Que tasco? O "Zero Hedge"?
EliminarEu também quero sangue. A 25 de Maio de 1988 tinha 37 anos estava em Magude em Moçambique aonde construía um regadio para citrinos de 2000 hectares.Vi o jogo na sala de visitas do estaleiro através de da South África Broadcast e jogava sueca ao mesmo tempo.Na altura dos pénaltis toda a gente parou de fazer o que estava a fazer e ficou a ver. Minha nossa que frustração.
ResponderEliminarhttp://www.ionline.pt/desporto/benfica-quem-sao-os-arbitros-da-lista-negra
ResponderEliminarafinal quem é que são os calimeros seus brugessos?
tenham vergonha seus palhaços