sexta-feira, 5 de abril de 2013

Vai pondo bifes, Jesus


Nesta altura, nem eu, que sou fundamentalista e que preferia que o Benfica tivesse sido eliminado da Liga Europa ainda antes de começar a jogá-la, já acho que faça sentido prescindir da Liga Europa.

Não é que não atrapalhe, nem é que não possa provocar a perda do campeonato, mas agora já não vale a pena. Vai haver pelo menos mais um jogo, o cansaço vai pesar, e a eventual meia-final vai ser disputadíssima, porque agora as equipas já estão a jogar motivadas e acreditam que podem ganhar a Taça (até aos oitavos-de-final era mentira, parecia jogos de solteiros e casados), mas a maior parte do mal, a haver, já está feita.
O Benfica está a atingir um patamar que de eficácia regular que já não tinha desde 1983, e, como tal, já não há alternativa: a solução, quando se chega a patamares destes, já não é gerir mas, simplesmente, cumprir. Neste ponto, o que a equipa do Benfica precisa de aprender, para crescer, é a ganhar em esforço psíquico. Mesmo que perca o campeonato (o que é muito possível, note-se) tem de o conseguir ganhar desta maneira, senão nunca deixará de ser apenas um projecto de equipa à mercê. E, agora, ou é capaz ou não é capaz.

Fazer mais do que o que o Jesus fez nesta quinta-feira, nem eu (que contra o Leverkussen até o Urreta e o Miguel Vítor teria metido…) lhe peço. Tudo o que é carne comestível ele está a meter no assador. Nos quartos-de-final, contra uma boa equipa inglesa, jogou com o André Almeida, o André Gomes, o Rodrigo e o Ola John. Quem havia para rodar sem entregar o jogo de bandeja, jogou. Bravo. A César o que é de César. O Jesus está a cumprir e, na minha classificação, continua a transformar pontos negativos em pontos positivos.
(Neste aspecto, registo para a passagem de certidão de óbito definitiva a Aimar e Carlos Martins. Se não jogaram hoje, o comboio já passou  e a época deles, a partir de agora, é mais bolos e treinos.)

Quanto à eliminatória, penso que o Benfica conseguiu o apuramento naquelas duas bolas aos postes dos ingleses. Qualquer resultado de uma eliminatória europeia a duas mãos em que esta equipa do Benfica só sofra um golo em casa é um bom resultado – até uma derrota por 0-1.

Há equipas ofensivas e equipas defensivas. Para uma equipa ofensiva, como é a do Benfica, que tem muita facilidade em marcar golos, jogar a segunda mão fora de casa é uma vantagem, por uma razão muito simples: porque o adversário já não tem a oportunidade de recuperar uma desvantagem conseguida pelos golos fora. O Benfica sabe que se marcar dois golos em Newcastle tem a eliminatória ganha, e o Newcastle já não pode fazer nada em relação a isso. Da mesma forma, durante o jogo, isso coloca pressão sobre a equipa da casa, que sabe que se sofrer um segundo golo tem de marcar dois.

Para uma equipa defensiva, saber que tem de marcar golos fora ma segunda mão é um problema. Para uma equipa como o Benfica, saber que cada golo fora, que vale por dois, já não pode ser rebatido na mesma moeda pela outra equipa, é uma vantagem.

O Benfica vai marcar em Newcastle, porque marca sempre, e muito mais em contra-ataque, e muto mais naquela relvinha rápida e bem tratada dos ingleses, e ainda mais com aqueles defesas porreiros que têm de pedir licença aos rins para mexer a perna. E, se marcar 2, os outros têm de marcar 5.

Logo para começar, o Newcastle tem de ganhar ao Benfica, o que já é pouco provável. O mais certo é haver um empate, o Benfica meter dois golitos até aos 60 minutos e, depois disso, toda a gente arrumaras fichas a pensar no campeonato, que é o que importa.

Até o 1-1 eu já assinava por baixo.

Façam este exercício: imaginem que eram o treinador do Newcastle e vinham empatar 1-1 à Luz. O que é que diziam aos jogadores antes do segundo jogo?

Que jogassem com calma, porque o 0-0 bastava? «Mas, mister, os homens marcam golos a toda a gente. E se sofremos um golo e depois não conseguimos marcar? E se eles marcam o segundo no contra-ataque? De 0 passamos a ter de marcar 3!»

Que jogassem ao ataque? «Mas, mister, começamos a atacar, abrimos a defesa, eles marcam e perdemos a vantagem. E se eles marcam o segundo?»

Não há nada pior, para uma equipa, na Europa, do que entrar em campo sem saber o resultado que tem de fazer, enquanto, do outro lado, a outra equipa tem um objectivo definido e sabeo que precisa de fazer. A não ser que se trate de uma equipa muito experiente internacionalmente, entre as indecisões e a convicção a convicção ganha quase sempre.

Contra equipas malucas e imprevisíveis como a do Benfica, que tanto podem levar três golos em 10 minutos como enfiar quatro batatas na baliza de qualquer equipa, numa eliminatória como esta a outra equipa só passa a ter vantagem por jogar em casa o segundo jogo se, no primeiro, marcar pelos menos dois fora de casa. Caso contrário, é sempre uma eliminatória a ser decidida na segunda mão, onde a vantagem do golo fora já só existe a favor dos outros.

O Newcastle devia ter apostado tudo em marcar mais um golo na Luz, mesmo que sofresse mais um ou dois. Para poder jogar à vontade em casa e atacar livremente, sem ficar presa pelo golo que o Benfica vai conseguir marcar.

E para o Benfica, a ideia terá de ser a mesma: se for para lá a pensar em marcar dois golos, desde que defenda relativamente bem, tem a eliminatória no bolso. E até pode sofrer quatro – o que não vai acontecer.

Mas vão ter de correr, atenção.
 
P.S. - O Cardozo está a elevar a técnica do penálti a arte. Hoje, subiu mais um degrau. No primeiro fez o que aprendeu a fazer na perfeição  durante os últimos meses: a esperar pelo primeiro passo do guarda-redes antes de rematar. Se o guarda-redesse mexe primeiro, morreu. Na repetição, pensei assim: «O guarda-redes, que é um bom guarda-redes, já o topou. No primeiro atrasou a queda tanto quanto pôde, agora, no segundo, não se vai mexer até ele baixar a cabeça para rematar. Sempre quero ver se o Cardozo tem estofo para lhe dar a volta. Ainda lhe vai acertar com a bola no peito a meio da baliza.»
Dito e feito. O guarda-redes parecia colado ao chão, e percebeu para que lado o Cardozo ia rematar. E o que é que fez o Cardozo, num golo que podia valer uma eliminatória? Percebendo que o guarda-redes ia atrasado, porque não se lançou suficientemente cedo, meteu-lhe a bola em jeito, com a força suficiente, para o seu (o do Cardozo) lado esquerdo, que é o mais difícil quando se é canhoto.
O Cardozo até pode falhar um penálti, e é mais provável que falhe a medida que a pressão vá subindo. Até o Maradona os falhou, e foi o melhor marcador que já vi. Mas só falha se falhar o remate tecnicamente, porque, na cabeça, tem tudo pré-definido quando parte para a bola. Tem um plano A e um plano B. Um plano C, não sei, veremos. Mas desde o Maradona que eu não via ninguém a marcar penáltis com esta certeza.
Eu sei que é sacrilégio pôr Cardozo e Maradona na mesma frase, mas pronto, um penálti é aquela situação extraordinária que há no futebol...

4 comentários:

  1. A verdade é que a consistência da equipa em qualquer prova impressiona e a forma como JJ mudou a gestão também impressiona. Falta ganhar títulos, mas a viagem está a ser entusiasmante.

    Há múltiplos sinais de grande maturidade na equipa, de confiança nela própria, sem se perturbar, sem ansiedades, bem representados pela forma soberba como Cardozo tem lidado com os penalties. Há jogadores que agora têm maior importância (Matic, Enzo, Lima), mas a equipa tem mais redundancias... A ver vamos. No domingo, jogo essencial para a vitória no campeonato, de tudo o mais importante.

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  2. O aumento de confiança, de maturidade (observável), o défice de ansiedade, etc. tudo isso tem a ver com a série de vitórias. São estas que dão tudo, a confiança, a segurança, a resistência anímica que aumenta a física, etc. Mais do que as escolhas do treinador. Mas há mais.

    Se têm estado com atenção à forma como o Porto tem gerido todas épocas nos últimos 20 anos irão verificar que é isso que eles têm procurado e conseguido. Aumentar a confiança da equipa com raões exógenas e endógenas. Mas este ano não. Porquê? Porque, por um lado, o Benfica reforçou-se substancialmente. Reparem que Melga, Enzo, Matic, Lima, Ola, Salvio, mais de metade da equipa, todos titulares não estavam o ano passado no plantel. E têm feito a diferença.

    Num sistema de vasos comunicantes como é o futebol em Portugal, à medida que a auto-confiança aumenta de um lado, diminui do outro. O Porto não tem mostrado a autoridade, a auto-confiança que mostraram noutros anos. Começaram a olhar para o concorrente do lado, como tem feito o Sporting ao longo dos últimos anos, e perderam a embalagem! E quanto mais foram olhando para o Benfica, que não tirou os olhos da bola e que continuou a jogar, a ganhar e a encantar, mais a sua força anímica se foi deteriorando.

    Perderam uma parte do apoio externo (árbitros) que tinham e a que estavam habituados e que lhes transmitia uma grande confiança. Mas que mesmo assim os ajudou.

    Por outro lado, deram alguns tiros nos pés nos últimos 2 anos que beneficiaram directamente o Benfica. Anteriormente acontecia exactamente ao contrário. Tudo isso conjugado tem feito que o Benfica tem subido e o Porto... tem descido.

    Mas o mais interessante do ponto de vista do Benfica é que este sistema de vasos comunicantes vai continuar, com o Benfica a subir e eles a descerem.
    E quanto mais eles se consciencializarem desse facto mais inseguros e nervosos irão ficar. Já se começam a ouvir vozes discordantes - cada vez mais e mais ruidosas - porque já começaram a abrir os olhos, a perceber o que se passa, o que se tem passado e a reparar que afinal o rei vai nu!

    Isso irá intensificar a espiral recessiva que os irá mandar mais abaixo e que já ando a prever há 3 anos. Tarda mas chega.


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    1. "Perderam uma parte do apoio externo (arbitros)"
      Basicamente, voces tem a cassete dos arbitros na ponta da lingua, porque perdem muitas vezes. Dizes que o Porto ganha por ai, mas agora que estamos atras, pasme-se, perdemos uma parte do apoio externo! A posteriori encaixa tudo, incrivel! Se nos proximos seis anos cada um ganhar 3 campeonatos, alternando ABABAB, nos anos que der A "campeonato viciado, Porto controla os arbitros e o sistema", quando der B "grande benfas, e o Porto ja nao tem o poder no sistema que tinha dantes". E é isto a merda a que vocês se resumem

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  3. Esqueci-me de dizer que tudo isto tem extravasado para o exterior, o Benfica tem vindo a crescer na Europa e vai continuar a crescer. O crescimento anímico da equipa extravasa as fronteiras. Passo a passo voltamos à grandeza dos anos 60.

    PS. Vamos começar a observar um crescimento anímico do Sporting, embora partindo de uma base muito baixa e com muitos condicionantes. Mau para o Porto.





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