domingo, 8 de janeiro de 2012

Sentença

Não vale a pena esperar pelo fim do jogo. Já vi o suficiente. Até é melhor escrever já porque, no fim, se ganharmos, é fácil de colocar o resto em segundo plano.

A equipa do Benfica não tem classe.

E não tem classe porque é uma equipa à imagem do seu treinador, tão simples como isso.

Tal como o Jorge, a equipa do Benfica, que tem jogadores cheios de potencial para serem grandes jogadores, passa o tempo a olhar para o palmo que tem à frente, a reagir em vez de decidir, a contar com a sorte do jogo em vez de a determinar. Aprendeu a ganhar aos tropelões, sem plano, sem estratégia, porque se dá por satisfeito com isso.

Não sei se o Benfica vai ganhar este jogo, penso que vai ser campeão, mas isso não muda absolutamente nada. Para que este campeonato, a cair, não caia no vazio, o Benfica tem de encontrar quem permita aos potencialmente excelentes jogadores que tem crescer.


Já sei o que é que me vão dizer:

- jogámos sem os criativos;

- jogámos sem ritmo porque não jogávamos para o campeonato há muito tempo;

- és demasiado exigente;

- és demasiado crítico;

- não gostas do Jesus;

- não sabes do que estás a falar;

- não percebes nada desta merda;

- etc, etc, etc.


Eu respondo: é tudo treta. Estão a enganar-se a vocês próprios.

Ando há trinta anos a ver os benfiquistas a enganarem-se a eles próprios, e sei os resultados que isso dá. Eu já não me deixo enganar, lamento. Deixei durante muito tempo, quando era mais miúdo.

Por isso deixo-vos uma palavra, sincera, e cheia de benfiquismo (acreditem, não há aqui ninguém mais benfiquista do que eu): o que há não chega, e o que é preciso não temos. É preciso ir buscar, quer esteja dentro do clube ou fora dele.

Não é preciso revoluções – pelo contrário. Mas é preciso somar.

(escrito ao intervalo e postado no momento em que o Cardozo marca o segundo golo.)

13 comentários:

  1. Se a ideia 'e alcancar Barcelona e Real Madrid, dou-te razao. Mas nao 'e, por isso nao dou.

    O melhor a que o Benfica, neste contexto desportivo e social, pode aspirar nos proximos 20 anos 'e ser o melhor de Portugal. Provavelmente nao tao "melhor" como foi o Porto nos ultimos 20, mas pelo menos melhor ao ponto de ganhar pelo menos 50% dos campeonatos.

    Neste sentido, o Benfica tem, nos ultimos 10 anos, conseguido crescer e vencer muito mais do que nos 10 anos anteriores, e chegados estamos ao ponto em que parece ser possivel igualar o Porto em poder e estrutura a medio prazo (5 anos). Nao sei se vai acontecer, sei que parece que estamos a caminhar no sentido correcto.

    Percebo a tua ansia na perseguicao ao realismo e isencao (qualidades raras no benfiquista e adepto de futebol em geral), mas nao facas com que isso te ponha a remar para tras. Como diz o velho ditado romano, "o camelo, por querer ter chavelhos, perdeu as orelhas". Tu queres que o Benfica seja um camelo ambicioso...

    Luis

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  2. Se o Hugo me permite, acho que tem de ter mais calma :) como disse, escreveu este post depois da primeira parte, que de facto não foram 45 minutos muito bem conseguidos por parte do Maior de Portugal. Mas analisaremos:

    - Jogámos sem o nosso médio mais criativo e o nosso melhor flanqueador. Uma equipa como o Benfica tem de ir à Marinha ganhar seja com os titulares ou com os suplentes, mas obviamente não conseguirá ganhar da mesma forma. Basta imaginar o Porto a jogar sem o Moutinho e o Hulk, não é a mesma coisa.

    - JJ mais uma vez joga fora de portas no seu arriscado 4-4-2, em que nenhum dos alas tem rotinas de fechar defensivamente no meio e sem nenhum avançado que saiba realmente jogar entre os médios e os centrais da equipa adversária (tipo Saviola). Isto faz com que o nosso meio-campo defensivo fique muito desguarnecido.

    - Cajuda, que não é burro nenhum, povoou a zona do meio-campo e mandou os avançados virem atrás buscar jogo. Daí que muitas vezes estiveram 4/5 jogadores do Leiria no nosso meio-campo defensivo e o Javi e o Witsel andavam por lá perdidos sem saber o que fazer. Felizmente a nossa defesa não meteu água, senão não tinhamos chegado ao intervalo a ganhar 1-0. Falta acrescentar que se a classificação do União dependesse da qualidade técnica dos seus médios e avançados, o clube não estaria concerteza abaixo da linha de água.

    - Na 2ª parte tudo mudou porque a equipa do Leiria quebrou fisicamente (já o mesmo tinha acontecido com a do Guimarães). Foi muita pressão e correria na 1ª parte e consequentemente os jogadores do Leiria não iriam aguentar 90 minutos assim. E aí sim o Benfica conseguiu impor o seu jogo, marcando 3 e podendo marcar mais uns 2 ou 3.

    Concluindo. É verdade, este Benfica não tem classe. É uma equipa que tem tido alguma sorte mas que também faz por merecê-la. Agora penso que não devemos ficar muito chateados com a primeira parte de hoje, porque se ela correu menos bem também foi por mérito da equipa adversária que jogou de forma aguerrida. E temos de nos preparar porque, sendo campeões ou não, vamos ter muitas primeiras partes como esta.

    Cumprimentos

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  3. Não.
    Lamento. Mesmo.
    Eu sei que é chato.
    Quando as coisas estão todas porreiras aparece um esperto armado em iluminado a fazer chichi na sopa, e o pessoal fica em brasa porque nem consegue aproveitar.
    Mas, respeitando o compromisso que assumi comigo mesmo quando o blog começou a ter mais visitas, eu não vou ser conveniente e ir contra a minha consciência para agradar a ninguém.

    Eu sou (ou espero ser) o tipo que, nas derrotas, diz, «atenção, não percam a cabeça», e o que, no momento das vitórias, diz «atenção, não percam a cabeça». Nesse aspecto sou pouco «benfiquista». Deliro, mas não despisto.
    Os grilos falantes, como eu, são fodidos, e dá vontade de os esborrachar com o sapato, mas existem, e paciência.

    Há um erro histórico - e só um, atenção - no Benfica. Esse erro não é de agora, nem de há 30 anos.
    O erro histórico do Benfica é confundir resultado com sucesso.

    É por não conseguir perceber que o resultado não é um fim, mas um meio, que o Benfica não vai a lado nenhum.

    O Benfica vai ganhar bastantes campeonatos nos próximos anos. Fui o primeiro a dizê-lo, já, aqui. Não tenho dúvidas disso.
    E depois?
    O que é que o Benfica vai fazer que já não tenha feito?
    E a seguir a isso vem o quê?
    Vinte anos como estes últimos?
    Não quero. Não chega.
    Nunca vi o Benfica Glorioso, gostava de ver, mas mesmo assim não chega.
    Não me falem do Real Madrid.O Real Madrid está decadente há quarenta anos. Ganha uma Taça do Campeões co o Mourinho, ou com um Del Bosque qualquer, porque a própria dimensão do clube o impõe, e dois anos depois está na merda, como se nada tivess acontecido. Porquê? Porque o resultado não é tudo. O verdadeiro sucesso está para além disso.
    Veremos, quando passar o ciclo do Barcelona, se o sentimento que irá ficar será o de vazio ou o de preenchimento. Não é preciso esperar, eu digo já: será de preenchimento, porque há ali cultura, transcendência, mais do que apenas resultado.
    Tem de haver uma consequência, uma evolução, tem de fazer outro sentido.
    E quando eu digo «ousar tentar, ousar vencer», não o digo quando é fácil, quando se está a perder e tudo parece barato. Digo-o agora, e vou dizê-lo outra vez quando estiver a descer para o Marquês, aos berros de alegria como um puto de 15 anos,daqui a cinco meses.

    Convençam-se de uma coisa: a verdadeira glória do Benfica não foi ter ganho a Taça dos Campeões nem 30 campeonatos, foi ter conseguido fazer de uma pequena colectividade, igual a tantas outras, algo de maior do que alguém alguma vez sonhara. É por ter conseguido ser MAIOR do que a sua própria possibilidade que o Benfica, UM CLUBE DE BAIRRO (e digo-o com todo o orgulho, sempre!) se tornou grande, não pelo que fez depois de ser grande.
    O Benfica para mim é isso.
    Se é só para mim, pronto, paciência, sou eu que tenho um problema agradável, como diz o outro.

    Mas tenho uma vantagem: no «meu» Benfica os Jesuses e os Enzos são mesmo funcionários, porque não têm espaço para mais. E se um Jesus me aparece num jonal a dizer que pode ser campeão da Europa quando a equipa não joga a ponta de um chavelho à bola, só para encher o bandulho aos tansos, fica um ano sem abrir mais a boca, da mesma forma que um Enzo, que nunca fez nada por ninguém, que faça chantagem com o Benfica, fica dois anos a jogar na II Divisão nem que custe 10 milhões, que é para a merda que para aí anda pensar quinze vezes antes de vir enganar um clube feito por gente que valia mais num dedo que essa canalha mais a família dela toda junta.

    Amanhã voltamos ao registo normal.
    Hoje não.
    Hoje, no dia em que o Benfica passa para a frente do campeonato que vai ganhar, é isto que eu deixo escrito.

    E viva nós, já agora...

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  4. aquele post no blog bola na area sobre o goal average no record ... priceless

    vasco (benfiquista de leça)

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  5. Estou de acordo com tudo o que disse. 100% de acordo. Eu sonho com um Benfica assim. Eu sonho com o regresso da "mística". Com um clube ainda mais diferente de todos os outros. Nunca abdicarei deste meu sonho, mas estou mentalmente preparado para uma longa espera.

    Agora fora de sonhos, temos um campeonato para ganhar e isso é que é importante agora. A "mística" só voltará a aparecer com as vitórias porque nós não temos uma La Masia. Temos é de ganhar todos os jogos que faltam e ponto final. Confundir resultado com sucesso não é só um erro histórico do Benfica, é um erro de qualquer pessoa que não perceba de futebol. E como ensinar o que é o "sucesso" demora o seu tempo, por agora temos de nos contentar com "resultados".

    Hoje a primeira parte foi péssima, mas não podemos esquecer que do outro lado esteve uma equipa que fez por criar dificuldades. Não estou nada eufórico com estes 2 pontos de vantagem. Ainda falta muito jogo difícil pela frente. Mas se por cada primeira parte "merdíocre" tivermos depois uma segunda parte como a de hoje, seremos campeões de certeza. Só vai ser preciso fé e muita, MUITA paciência.

    Não deixe de ser um "esperto armado em iluminado a fazer chichi na sopa" porque essa é uma das razões pelas quais eu frequento este blog, e de certeza que não serei o único a pensar assim.

    Cumprimentos

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  6. Compreendo a ideia do autor do blog mas neste momento temos que consolidar o clube e reconstruir um historial de vitórias,criar o habito de ganhar titulos que foi desaparecendo.Isso leva o seu tempo!Claro que gostava de ver uma melhor circulação de bola mas isso não faz parte de JJ.Não é o melhor tecnico mas neste momento é o que serve por devolver uma certa garra e vontade de jogar e ir buscar a vitória.Com ou sem titulo esta deverá ser a ultima época para que então depois se passa a etapa evolutiva seguinte porque o SLB tem que evoluir sempre.

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  7. Anónimo, falaste bem.

    O problema é quando as vitórias prejudicam o processo evolutivo em vez de o reforçar.

    Por exemplo, hoje a Bola titulou «Classe de Líder». É um título falso com Judas. Não é verdade. O Benfica não teve classe, teve a corrente do jogo a seu favor contra um adversário muito fraco. Mas os benfiquistas querem muito acreditar que é verdade. O que é que acontece, nestes casos, geralmente? Toma-se o falso por verdadeiro e facilita-se, não se exige mais, não se procura evoluir, corrigir, melhorar, como quando se perde.

    E é assim, caros concidadãos, que a maior vitória na história do Benfica - o 6-3 em Alvalade - se transforma em mais de dez anos de miséria, sem ver o padeiro.

    Temos de estar dispostos a aprender, companheiros, senão não há ninguém que nos ensine.

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  8. Concordo com o Hugo,assim como concordo com vários comentários aqui postados.O que é certo é que indo em 1ºlugar passaremos a ser o alvo a abater quer pela CS arrendada e respectivos patrões quer pelos clubes mais pequenos que darão o cu e três tostões para nos tentar travar(e isto é literalmente assim,pois poderão cair sempre mais alguns euros de incentivo).Percebo perfeitamente o Hugo ao exigir mais consistência à estrutura.O JJ tem-nos dado o que faltou durante muitos anos mas penso que estará perto de atingir o seu principio de Peter.Convém pois começar a trabalhar já em relação ao futuro,e já a curto prazo,pois para o ano com a introdução das equipas B o seu treinador terá que estar em total consonância com o treinador principal.Quanto ao Enzo era encostá-lo este ano e pô-lo a jogar na equipa B para o próximo ano.Algo tem que ser feito de muito drástico em relação a este jogador.

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  9. João Gonçalves09/01/2012, 14:15:00

    Calma... Há que começar por algum lado. No caso do Benfica é recomeçar após demasiados anos no fundo do poço. A classe não aparece por geração espontânea. Como diz o Daniel Martins "A "mística" só voltará a aparecer com as vitórias..." Para já é preciso vencer, com ou sem classe, e isso tem tendência a acontecer cada vez mais.

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  10. O JJ, para alem de alguns titulos e boas prestacoes europeias, trouxe tambem consigo algo que o Benfica nunca tinha conseguido e que o Porto ja vem fazendo ha 10 anos: vender jogadores por rios de dinheiro.

    Acho ironico que o autor do blog esta a ser mais irrealista que os benfiquistas que perdem a cabeca com as vitorias ao argumentar que o JJ 'e bom para um Benfica mais-ou-menos, mas o que o Benfica tem que ser 'e um gigante.

    Luis

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  11. Hugo,

    Já lá diz o ditado, em casa onde não há pão... A cultura de vitória constroi-se com vitórias, embora não se construa apenas com vitórias. O futebol joga-se contra outros e os outros, na primeira parte, jogaram com tudo e o Cajuda montou bem a equipa para para o Benfica. Houve momentos em que os tipos pareciam mais e cheguei a convencer-me que o Leiria estava a dominar na posse de bola. Na segunda parte, a diferença foi de físico ... e de classe, embora suspeite que os nossos conceitos de classe são diferentes, pelo menos no que diz respeito a este jogo.

    O Benfica que temos é o resultado de Heynckes, Sounesses, Camachos, Tonis, e Quiques. È uma equipa que ganhou muito pouco em muitos anos, a cultura de vitória e a segurança que daí resulta não se cria facilmente, num tal cenário. Depois, a equipa funciona pouco como tal, depende demasiado daquilo que os seus melhores jogadores são capazes de "inventar", faltando uma noção de colectivo. Como equipa, dotada de uma identidade própria, independente os jogadores que a compõem, que acredite em si, não evoluiu muito desde o jogo do título.

    O que escreves sobre o Real é curioso, porque quem lá está é Mourinho e dificilmente encontres quem dê mais sentido de equipa a uma equipa. O Barça é uma coisa à parte, não creio que facilmente reproduzível.

    De qualquer modo, o caminho faz-se caminhando e eu não sou tão céptico como tu, embora te perceba.
    Vou terminar citando o Ricardo, do blog "Ontem vi-te no estádio da Luz", que descreve duma forma bem curiosa este Benfica:

    "Que Benfica é este? Que planeta de talento aos tropeções. Às vezes, parecem onze dementes em círculos tontos; outras, bailarinos nas cordas de uma guitarra. É uma equipa que precisa de estar bêbada de jogo para cantar. E depois... que maravilha!"

    Abraço.

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  12. Já se falou um pouco aqui acerca do Benfica que queremos para o futuro. Acho que é consensual que queremos o mesmo Benfica, o Benfica Glorioso!

    Mas qual é o Benfica que temos actualmente ?? Não é o Benfica de eleição seguramente, mas este Benfica de JJ certamente ficará na história, marcará um período como o Benfica de Erickson ou o de Toni (92/93 e 93/94), este último, muito provavelmente o conjunto mais forte a que assisti (talvez ex-aequo com o de 09/10) in loco.

    Tudo bem, este Benfica pode e tem potencial para ser "outra" equipa, para evidenciar outra classe, mas o caminho faz-se caminhando e não me parece que estejamos a caminhar para o lado como eu depreendo de algumas das tuas palavras. Sim, não basta ganhar, há que consolidar e "facturar" com essas vitórias. Quando digo facturar refiro-me a canalizar essas vitórias numa identidade, na Mística quiçá. Eu acho que a classe aparece umbilicalmente ligada às equipas com mística, mas para se atingir esse patamar são necessárias vitórias, muitas, e títulos, imensos! E por vezes não se vence de forma maravilhosa ou empolgante, mas a evolução faz-se por estádios, e partindo dessa visão, acho que continuamos a desenvolver-nos positivamente.

    O sucesso, o nirvana não é um estado fácil ou simples de se alcançar, ele não aparece se engolirmos etapas ou não crescermos com propriedade e critério. E não podemos dar passos maiores que a perna, primeiro a hegemonia portuguesa (sem classe, com classe, com muitos ou poucos golos, com ou sem derrotas) e aí sim, teremos uma base para exigir outros voos com consistência.

    Daquela caricatura europeia de Quique já subimos bastantes degraus no Orfeão europeu dos eleitos, o saldo é claramente positivo, mas importante é não estagnar nesta busca pela Classe e por aquele Benfica Glorioso.

    Concluindo, e porque a prosa já vai longa, nem tudo está bem neste Benfica, mas parece-me que há claramente mais virtudes que defeitos na actualidade do nosso Clube. É importante pensar em Clube e não em equipa de futebol senior.

    Abraço, GB.

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  13. Viva a democracia.

    Novo dia vida nova: já postei outra talega.

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