terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Já podem guardar o Lenzo

Acho que vale a pena não só pôr o Enzo no sítio, como titulava a mui orgulhosa Bola de hoje, como pôr a novela do Enzo no sítio.

Nesta altura o que é preciso é perspectiva, e o Jesus esteve muitíssimo bem ao dizer que o seu papel é recuperar o jogador.

Já chega de dramatizações e de choraminguices. Guardem lá o lenço.



A questão do Enzo Pérez é muito simples, e é esta:



Ponto 1 - O Enzo assinou pelo Benfica sem saber o que é o Benfica, e a culpa não é dele, pois todos os jogadores estrangeiros que assinam pelo Benfica não sabem realmente o que estão a fazer. Só percebem algum tempo depois de chegarem e não é graças à Direcção, que faz um mau trabalho nesse aspecto. Não basta o Rui Costa levar os rapazes a ver o museu. Era preciso mais. Gente preparada para isso. Acompanhamento próximo e qualificado. Um investimento de 5, 6 ou 7 milhões de euros em que a matéria adquirida é uma pessoa, e cujo sucesso depende de factores subjectivos e psicológicos, merece um tratamento altamente profissional e especializado. Uma pessoa não é um animal de carga, não é pôr a canga e mandar puxar. Se algum de nós assinasse por um Boca Juniors poderia realmente dizer que sabia o que estava a fazer?



Ponto 2 – O Enzo Pérez fez uma coisa excepcional, que foi bater com a porta, por puro vedetismo, porque pensa que é uma estrela. A tendência imediata é para punir essa pretensão dele. No fundo, todos queremos que toda a gente seja mais ou menos igual, e as pessoas e as situações excepcionais fazem-nos sempre confusão, a que respondemos, instintivamente, de forma conservadora, punindo, castigando.

O Enzo Pérez excedeu-se. Agiu de uma forma que não se coaduna com uma disciplina colectiva. É um facto. Mas eu gosto de jogadores diferentes. Eu gosto de excepções. Todos os grandes jogadores são, de uma forma ou de outra, excepcionais. Não se deve asfixiar a excepcionalidade. Deve-se alimentá-la. O Enzo Pérez pode nunca vir a ser um jogador excepcional, mas o simples facto de pensar que é é uma hipótese de grandeza que não deve ser estrangulada à nascença, antes explorada. Alguém pensa que o ego não é importante num profissional de futebol?



Ponto 3 – O Benfica fez o que tinha a fazer, até agora. Estabeleceu um limite. Deu-lhe uma palmada. Ele baixou as orelhas e cheirou a mão. Também fez o que tinha a fazer. Agora – ou depois da multa – é hora de lhe dar o doce.

Isso dos assobios, com todo o respeito, até pode acontecer, mas é treta.

Se as pessoas que trabalham no Benfica (incluindo o Enzo Pérez) fizerem bem o seu trabalho, daqui a um mês o Enzo Pérez está a jogar, daqui a dois é titular, daqui a três é a «arma secreta que estava lá dentro», torna-se no jogador decisivo da equipa, joga que se farta, e os que hoje dizem que «estes tipos não sabem o que é o Benfica» passam a dizer que «o Enzo aprendeu o que é o Benfica, ganhou humildade e passou a sentir a camisola».

Tretas.

Se isso acontecer não será porque o jogador sente camisola nenhuma mas exactamente pelas mesmas razões que o levaram a rejeitar o clube alguns meses antes: por orgulho. É assim mesmo que as coisas são.

Daqui a três meses o Enzo pode estar a ser glorificado pelo Terceiro Anel que actualmente o quer crucificar. Isso é o futebol. Há centenas de Enzos por esse mundo fora.

E é bom que todos os benfiquistas se consciencializem que, no futebol moderno, não há qualidade sem egos, e que é dos egos que nascem as estrelas. Um clube que não aprenda a lidar com as estrelas não tem futuro enquanto grande clube.

Sejam estrelas de pacotilha, como o Enzo Pérez, ou estrelas de primeira luminosidade, como o Cristiano Ronaldo.

5 comentários:

  1. Graças a Deus uma análise positiva para esta embrulhado do Enzo.Realmente um clube grande tem que ter na estrutura alguém que acompanhe estes projectos a vedetas e verdadeiras vedeta,dentro da adaptação ao clube e ao País.Como comum cidadão e adepto muitas vezes é difícil por-me no lugar do enorme ego que estes futebolistas(adorados muitas vezes como os deuses)possuem.E não há duvida que têm que ser acompanhados.E então o Enzo que era adorado pela torcida do Estudiantes.

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  2. Mas o homem tem de compreender que a humildade é dos valores que os benfiquistas mais exigem.E qualidade.E trabalho de equipa.Penso que o JJ o afinará.

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  3. Assim que o Enzo tiver um cheirinho de glória, assim que ele perceber o que o Benfica realmente tem para lhe dar - uma adoração, por parte dos adeptos, que é rara - ele começa a ir ao lugar. Mas olha que vaidoso nunca vai deixar de ser. É preciso é saber levá-lo, ver até onde dá, e na altura certa, nas condições certas, deixá-lo ir à vidinha dele e trazer um melhor do que ele em tudo. E com um bocado mais de cuidado, já agora, porque se não se aprende não vale a pena.

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  4. Desta vez não concordo, por mais que possa acontecer que Enzo não sabe o que é o Benfica deve saber o que são contratos e obrigações profissionais. Quando mudamos de entidade patronal também não sabemos ao certo onde vamos cair até começar a labuta, nem com quem vamos trabalhar ao nosso lado, mas isso não dá legitimidade para nos por-mos nas putas como ele fez. E agora vem a história do empresário, até podia ser culpa do Pai Natal ou da mãe dele, fez birra, fez merda, foi mau profissional, ponto final! Agora sofra as consequências sejam elas de que ordem forem, mas acima de tudo redima-se, trabalhe e reconquiste o treinador, colegas e acima de tudo os adeptos, todos terão a ganhar com isso e todos acreditam na sua qualidade futebolistica. Sou anti-assobios mas neste caso não posso criticar os adeptos que entenderem fazê-lo, eu não o farei concerteza, basta-me vê-lo entrar em campo e suar pela equipa, da minha parte ficará desculpado.
    Siga que hoje é dia de Benfica.

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  5. Eu não digo que não o assobiem, ou que não deva ser assobiado, o que eu digo é que é irrelevante. Faz parte do processo, como diz o Di Stéfano e o meu antigo patrão na fábrica de molduras «o cliente tem sempre razão». Mas é irrelevante porque os que ao assobiarem serão os mesmos que daqui a três meses o vão defender até ao limite do razoável se for atacado por portistas ou sportinguistas.
    Citando agora o imortal Gabriel Alves, «o futebol é isto mesmo».

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