sábado, 5 de novembro de 2011

Match-point

1 – Não é a primeira vez que o Porto tem uma fase de maus resultados nos últimos anos. Até já os teve piores. Mas a última vez que me lembro de ver uma equipa do Porto tão incapaz de reagir a um mau momento como agora foi ainda antes de Co Adriaanse, no ano dos três treinadores. E isto é dizer muito. O 0-0 em Olhão não teve absolutamente nada a ver com azar.

O ciclo do arranque do Porto – cinco jogos para fazer cinco vitórias claras – resultou num ciclo de afundamento, com três maus resultados (ainda se lembram dos 5-0 ao Nacional?). É prematuro dizer que o Porto está nivelado com o Benfica, porque ainda não está, e o capital de confiança construído ao longo de muitos anos não desaparece em meia-dúzia de semanas… mas está quase. Até agora o Porto estava a salvar a época por uma razão muito simples: estava a preservar, relativamente, os resultados no campeonato. Em Olhão pagou com pontos. É o que lhe falta para entrar numa crise real. O Porto esteve amorfo, não respondeu ao desafio do treinador e falhou perante uma equipa muitíssimo fraca.



2 – Talvez seja conveniente referir que um empate do Benfica em Braga não é necessariamente um mau resultado, mesmo nestas circunstâncias, e uma derrota não seria surpreendente.

Mais do que a qualidade técnica, física ou táctica, o principal problema do jogo do Benfica é a concentração – e se até o António Tadeia consegue ver isto é porque tenho mesmo razão.

O próprio estilo de jogo é adverso à concentração. É muito dado ao experimentalismo, à criatividade individual. Não faz apelo a uma movimentação colectiva que obrigue todos os jogadores a estarem alerta, na eminência de intervirem, quer a atacar quer a defender. É um estilo de jogo pouco colectivo, de pouco passe – e de passe inseguro, o que é pior.

Para ganhar ao Benfica uma equipa só precisa de manter a concentração e imprimir alguma qualidade aos processos simples. Quando os jogadores são bons, facilmente uma equipa equilibra o jogo ou ganha superioridade prática. O Braga é um bom exemplo disso. Não é uma equipa de rasgos nem de talento, é uma equipa de processos simples, que joga na filosofia do erro – errar o mínimo possível, mesmo que não se invente muito, e esperar pelo erro fundamental do adversário. É relativamente fácil provocar um erro ao Benfica – um erro de marcação, um mau passe, um mau corte, etc – porque os erros do Benfica, mais que dos adversários, resultam das suas próprias flutuações naturais de concentração.

Como equipa instável (e por ter qualidade individual e velocidade) o Benfica é perigoso para qualquer outra equipa. Pode ganhar ao Manchester, num dia bom – mas é mais fácil perder com o Braga num dia normal.



3 – O jogo do Benfica em Braga é um match-point, por uma razão muito simples: ou o Benfica mostra, em Braga, que está preparado para ser campeão, ou mostra que não está. As oportunidades não se escolhem: ou estamos preparados para elas ou não estamos. Este é um jogo providencial. Uma vitória em Braga, nestas circunstâncias, desde que fosse com uma exibição convincente (sem bambúrrios, à parte a sorte), alteraria o status quo do campeonato. Lançaria o Benfica para um patamar onde não está (eu diria) há décadas: numa situação de superioridade anímica numa luta directa com o Porto e por mérito próprio. Pode parecer incrível mas é verdade: há vinte anos que o Benfica não consegue superar o Porto, numa luta mano-a-mano, partindo de uma posição de inferioridade. A última vez que isso aconteceu foi no último campeonato de Eriksson. Sempre que o Benfica veio a triunfar, daí para a frente, o seu rival directo nunca foi o Porto (Sporting, outra vez Sporting e Braga) e os resultados resultaram (passe a redundância) mais de situações esporádicas do que de um trabalho calculado e executado com método.

7 comentários:

  1. Partilho na íntegra ponto de vista analítico.

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  2. A análise tem a excelência habitual.

    Com franqueza, estou com grande expectativa para Braga e espero ver o Benfica maduro que vi com o Manchester, com o Basileia na Suiça ou com o Twente na Luz. Como é esse Benfica que espero, acho que vamos ganhar.

    Concordo que é mesmo um match-point e a oportunidade para afirmar, definitivamente, a candidatura ao título. A não acontecer o aproveitamento desse match-point, será uma afirmação de fraqueza psicológica e desportiva, profundamente decepcionante.

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  3. Uma vitória categórica,nem que seja por 1-0,lançará a equipa e a fé do benfiquista.Por isso espero que os jogadores e técnico façam tudo para que isso aconteça.Como é possível o Benfica ter regredido nos aspectos que focas?

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  4. Como é que se ganha um jogo como o de hoje? Com classe.
    Fazendo o que é preciso fazer no momento em que é necessário.

    1 - Uma entrada firme, dura, em que mais importante do que marcar golos ou não os sofrer é ganhar os duelos individuais a meio-campo e criar uma dinâmica de entreajuda que marque o resto do jogo. Nenhuma equipa ganha em Braga nos primeiros vinte minutos diante de um Braga supermotivado, nem o Benfica nem o Barcelona. Se o Benfica o tentar, vai perder.

    2 - Jogar pelo seguro até a final da primeira parte, devagar mas bem, evitando o erro mais que procurando a sorte.

    3 - Aguentar os primeiros dez minutos da segunda parte. Não é preciso atacar muito.

    4 - Soltar os cavalos entre os 55 e os 80 minutos. É a altura de aproveitar o desgaste do jogo europeu do Braga (com menos 24 horas de descanso) e de pôr em campo a ambição de se ser campeão, que deve ser, naturalmente, superior à do Braga em acabar em terceiro ou quarto. É a altura de impor as diferenças. Acredito sinceramente que as hipóteses do Benfica ganhar em Braga dependem da sua capacidade de marcar um ou mais golos neste período intermédio de 25 minutos da segunda parte, independentemente de qual for o resultado ao entrar nesse período.

    5 - Se chegar a esta altura em vantagem, jogar os últimos dez minutos com cinismo, levando ao limite o desinteresse pela baliza, o que tirará o Braga do sério. Em jogos destes, nos últimos dez minutos não há jogo – há lesões simuladas, bolas fora, fitas, cartões amarelos, pontapés de baliza, lançamentos, substituições e anti-jogo. Passar ao lado desta evidência é não saber aprender com o passado. Um Braga-Benfica acaba sempre aos 80 minutos, sobretudo se o Braga estiver à frente. Se o Benfica esperar até aos 80 minutos para esgotar as baterias não tem qualquer hipótese, e acaba o jogo com o sentimento de frustração de ter pernas e vontade para jogar mais meia-hora mas não ter tempo para jogar.

    Acresce que não acredito que o Braga não marque, pelo que o Benfica, para ganhar, terá de marcar dois golos. Se o Benfica for a jogar para o 1-0, não ganha de certeza absoluta.

    A minha vontade? 2-1 para o Benfica.
    O meu palpite, a frio? 2-2.
    Acho que a separação real entre Benfica e Porto (4 a 6 pontos de diferença) só vai acontecer lá para Fevereiro.

    Também quero chamar a atenção para o facto de o Sporting ter perdido um jogo e um jogador no mesmo jogo, assim como o de o Sporting ser um clube bipolar o Cajuda um espertalhão. E tirem daí as conclusões que quiserem…

    P.S. - Xirico, não considero que o Benfica tenha regredido nestes aspectos, acho é que ainda não evoluiu o suficiente. Para o Benfica, a bola ainda é muito barata. Ainda precisa de perder um bocado mais até lhe dar o valor que ela merece. Mas já vale mais que no ano passado, por exemplo.

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  5. E já que estamos numa da de treinador de bancada, a equipa que eu punha (porque. obviamente, vejo os treinos todos...):

    Artur; Maxi, Luisão, Garay e Emerson; Javi; Witsel, Aimar e Matic; Rodrigo e Saviola.
    Substituições: aos 55 minutos, Gaitán, Bruno César e Cardozo, por quem ele quiser.

    Ele que ponha o Braga a correr atrás da bola e vai ver como ganha lá. Ou então insista na «nota artística» e traz de lá a nota do costume que trouxe sempre.

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  6. João Gonçalves06/11/2011, 15:01:00

    Um onze interessante. Seguro a defender, para mais tarde entrarem fresquinhos, os jogadores que possam fazer a diferença. Não se arranja aí ninguém mais interessante para entrar em vez do Bruno César? É o tipo de jogador que me tira do sério... Nolito?

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  7. Sem dúvida um onze curioso, mas condizente com a estratégia alinhavada. O JJ devia ler este blog :).

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