quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Luís Martins

O grande benefício de lançar jogadores nacionais jovens na primeira equipa, trate-se do Benfica, do Manchester United, do Bayern de Munique ou do Barcelona, não tem a ver com o valor do jogador em si. Não é o que o jogador dá à equipa em termos futebolísticos, imediatamente, que vale mais. O maior valor é cultural.

O que Luís Martins proporcionou, hoje, ao Benfica, só por estar em campo, foi a consciência de um processo. Imediatamente ligado a esse conceito está outro, que é o mais importante: trabalho.

Um dos grandes dramas do Benfica durante os anos dos contentores de estrangeiros foi o de ter incorporado, dos adeptos aos dirigentes, a ideia de que uma equipa de futebol (e o próprio jogador de futebol) não obedece a um processo construtivo.
«Este jogador não sabe centrar.» Solução? «Temos de comprar um jogador que saiba centrar.» É possível ensinar o jogador a centrar? É. Mas ensina-se? Não. Porquê? Porque isso dá trabalho e leva tempo. «Compre-se outro.»
O jogador que se compra já sabe centrar. «Mas não sabe correr.» Mais um problema para resolver. «O que fazer?» «Obviamente, fazer uma Operação Coração e comprar um jogador que saiba correr.» «Mas este jogador não sabe respirar…»

Este, caros correligionários, é o pecado original da fase negra da história do Benfica. Este é o problema cultural que amputou o espírito de um clube visceralmente operário, solidário e lutador até o tornar num clube burguês, a viver da imagem e não do trabalho, sem capacidade nem vontade de encontrar soluções que não as que estivessem fora da sua capacidade produtiva.

Se isto vos parece conversa de comunista, um aviso: não sou comunista (não que houvesse algum problema em sê-lo) mas o Benfica é. E se não sabiam passam a saber. O Benfica novo rico que hoje pensamos conhecer por causa dos últimos trinta anos da sua história é, na verdade, um clube de massas, do povo, dos descamisados (apesar do fascínio que exerce sobre os burgueses, sobretudo a partir do momento em que ganha – um bocado como o que leva os putos de classe média e iPod a andarem com camisas do Che Guevara). E poucas coisas dão mais prazer ao benfiquista genuíno do que assistir a um processo construtivo – seja o de um clube, o de um estádio o de uma equipa ou o de um jogador.

O Luís Martins não será, provavelmente, um dos cinquenta melhores jogadores na história do Benfica. Nem sequer um dos seus cinquenta melhores portugueses. Mas isso não impediu que, hoje, em vários momentos do jogo, eu desse por mim a pensar mais na sorte do Luís Martins que no resultado do jogo.
Pelos aplausos que ele recebia, sucessivamente, dos que lá estavam, penso que esse sentimento foi partilhado por muita gente.
Por algum motivo que está inscrito na minha genética benfiquista aquele jogador – que representa, mais do que um jogador, um processo e uma cultura – era mais importante que um jogo contra uns suíços quaisquer que não me dizem absolutamente nada.

O mais refrescante deste jogo, para mim, foram os erros do Luís Martins. Lembram-nos que o futebol dá trabalho, que ninguém nasce ensinado, e que não há nada melhor do que edificar, fazer obra em vez de a comprar feita.

A primeira imagem que me veio à cabeça foi a de um miúdo chamado Paulo Sousa, com 19 anos, a entrar numa equipa do Benfica com Thern, Valdo e outros. O carinho que os benfiquistas lhe deram foi como que um renascimento da mística. E foi por isso que nunca deixei de o considerar um traidor e que, ainda hoje, não lhe consigo perdoar.

A prova de que o resultado, em si, não me interessa muito é que estou a escrever o post aos 52 minutos de jogo. Não sei se o Luís Martins vai marcar um auto-golo ou não (até porque os suíços atacam sempre pelo mesmo lado, e tantas vezes o cântaro vai à fonte…) nem sei se o Benfica vai ganhar. Não me parece vá, mas eu confio sempre pouco neste tipos…

7 comentários:

  1. Talvez a estreia do Luis Martins, a par de uma afirmação adicional da valia do Rodrigo sejam os aspectos positivos do jogo de hoje. No resto, foi uma exibição algo decepcionante, tristonha, até, face a uma equipa do Basileia que justificou o empate (e percebe-se porque empatou em Manchester).
    Agora volta a ter de se fazer contas para o apuramento...

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  2. Por acaso dei comigo a torcer para que tudo corresse bem com o Luís.E enquanto ele esteve em campo não houve golos.Para mim é uma pequena vitória.De há 3 jogos que ando a evitar que a úlcera dê cabo de mim.

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  3. Olha que esta época vai mesmo ser de úlceras até ao último jogo. Aposta no ioga.

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  4. Hugo,

    Parece que começou a quebra física prevista?! Não quero pensar que isto foi poupança para Braga, que aliás tem de jogar amanhã...

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  5. Não me pareceu. Pareceu-me mais que quer os jogadores quer o Jesus, ao poupar Cardozo, Saviola, Aimar, Gaitán e Javi Garcia (acho que a lesão foi «esticada» de propósito) estavam já a jogar com o Braga. O que pode ser um bom sinal. O jogo de Braga é muito mais importante para a época do Benfica que o do Basileia.

    A frio, já na fase pós-kompensan, este resultado com o Basileia é o tipo de cartucho de pólvora seca que cai optimamente no decorrer de uma época: não só o resultado não provoca grandes danos como, pragamaticamente, apesar de saber a amargo, é útil, e mantém os números dentro de uma certa normalidade e os jogadores mais alerta, sem caganças.
    No final da época, este é um daqueles empates que passam em branco. O Benfica vai apurar-se sem grandes problemas. O Basileia não ganha ao Manchester - eles querem ser primeiros do grupo e pelo menos empatam na Suiça.

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  6. Abri novamente o computador pois fiquei a pensar no comentário do Rui e assim tive oportunidade de ler a resposta do Hugo.O que eu também penso é que com o Cardoso e o Saviola a equipe fica com uma dinâmica ofensiva totalmente diferente.Não é a qualidade de Rodrigo que está em causa mas o referência mais fixa do Cardozo no ataque.Pareceu-me que o bloco defensivo do Benfica tem tendência a baixar mais quando o Rodrigo joga.E ao poupar todos esses jogadores da 1ªequipa me parece um acto bem pensado dada o mês louco que se aproxima e que vamos ter os jogadores mais influentes mais descansados.Não descuramos os oitavos de final da CL mas a Liga é a nossa grande aposta.

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  7. Concordo, Braga será um jogo muito importante. Já não faltam muitos dias para ver como é que a coisa corre. De qualquer modo, estes 3 últimos jogos, com um empenho que não se pode considerar excessivo, não fazem bem à fé benfiquista.

    Abraço.

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