segunda-feira, 3 de setembro de 2012

«Há tipos com sorte»...


«No longo prazo, estaremos todos mortos», disse um economista. É verdade. Quer falemos num sentido literal quer o façamos num sentido figurativo. Tudo passa – nomeadamente as pessoas. Mas é igualmente verdadeiro que alguma coisa fica, sempre. No caso da bola, o que fica é os clubes.

No longo prazo, há quatro etapas consecutivas para se ter sucesso.

A primeira é dar muita importância ao que se faz, mesmo que seja um hóbi (geralmente é um hóbi), ao ponto de se querer trabalhar nele, por prazer.

A segunda é trabalhar sério – de preferência sempre.

A terceira é trabalhar bem – de preferência melhor que os outros.

A quarta é trabalhar muito – de preferência mais que os outros.

No fim disto, os que estão de fora, a ver, e não entendem bem a natureza do sucesso, dizem: «Há tipos com sorte.»

O jogo do Benfica frente ao Nacional é a negação do profissionalismo, desde a primeira etapa. Não seria frustrante se fosse um episódio, mas não é. É um estado permanente, com algumas pontuais e aparentes interrupções. Nos últimos 1000 jogos do Benfica há cerca de 950 como o de ontem. O que me leva a concluir que os restantes 50 não passaram de ilusões quase perfeitas, provavelmente resultantes da autossugestão e da negação.

É por isso que, dos últimos mil jogos, o Benfica tirou apenas dois ou três títulos esporádicos.

O resto – as fintas do Salvio, os golos do Cardozo, as mariquices do Aimar, as melgarices, os «ajustes tácticos» ao intervalo, a «liderança» – é conversa de quem usa crucifixos ao pescoço e de quem se põe de joelhos a rezar ao Caravaggio.

Qualquer cenário que envolva uma equipa casual, como a do Benfica, ganhar o campeonato a uma equipa como a do Porto, ou ganhar uma eliminatória da Champions a uma equipa como a do Manchester United, é, obviamente, um cenário esporádico, insustentável a longo prazo, e sustentável, no curto prazo, apenas por um investimento financeiro massivo e desproporcional em talento consumível.

 ...

A semana que passou consolidou a candidatura do Sporting ao título nacional.

Porto, Benfica e Braga apanharam grupos na Champions que os vão «obrigar» a jogar tudo nessa prova, tais as possibilidades reais de apuramento para os oitavos-de-final e de acumulação de capital.

Recebeu um grupo de adversários medíocres na Liga Europa, que não vai exigir mais que os suplentes para chegar ao apuramento, precisamente na fase mais difícil do calendário.

O jogo de Olhão demonstrou que o Porto tem um grupo de jogadores tão acima, individual e colectivamente, do restante campeonato que será virtualmente impossível não vir a sentir-se previamente vencedor em muitos outros jogos. Em Olhão correu bem. Em Barcelos correu mal. Vai haver mais Barcelos. É o Porto que vai perder este campeonato, claramente, e não os outros que o vão ganhar. Mas para o ano é o Porto que o ganha outra vez, mesmo sem o Hulk.

O jogo da Luz demonstrou que o Benfica é uma equipa em desaceleração.

O jogo de Paços de Ferreira mostrou porque é que o Braga vai acabar a primeira volta com dez pontos de atraso em relação ao primeiro.

O Sporting, o único dos três grandes com 5/6 novos titulares em relação à última época, e com os restantes, à excepção do guarda-redes, a fazerem a segunda época em Portugal, é também o único de entre eles que vai fazer um campeonato em crescendo, colectivamente, e a apanhar a fase decisiva da prova nas condições físicas, técnicas e anímicas mais próximas do ideal.

Também é o único, dos três, que tem um treinador que resiste a uma derrota em casa, com o Rio Ave, à 2.ª jornada, sem ser insultado pelos adeptos. A longo prazo, vai ser suficiente. É só dar tempo para os outros se irem matando.

3 comentários:

  1. Hugo,

    Apesar de não ser, nem de perto nem de longe, um admirador do JJ, numa coisa acho que lhe devemos fazer justiça: Trabalha muito, trabalha a sério(os jogadores e ex-jogadores repetidamente o afirmam)e é um apaixonado por aquilo que faz. Agora, se trabalha bem, é outra coisa - os resultados do Benfica não provam, de facto.

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  2. O que eu sei é que o resultado de ontem disfarça muitas lacunas.Ao fim de 3 anos a equipa continua a ter uma péssima circulação de bola,quase como se fosse feita a sorte.O que nos tem safado mais uma vez é a qualidade dos jogadores como seres individuais.Talvez seja exigente mas como adepto quero sempre um Benfica melhor e melhor,não fico satisfeito embora para alguns parece estar tudo bem.A JJ dou-lhe o mérito de instalar a intensidade competitiva na equipa mas isso é o minimo exigivel a qualquer uma.

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  3. como escrevi num post anterior o benfica vai ser campeão com melga a def. esq , extremos a trinco !!! até da para vender witsel &javi , ano eleições , venda dos jogos a tv , o lfv pode não ser um astro , mas não quer sair da cadeira...ganhar para calar a populaça e manter o poder.
    vasco

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