quarta-feira, 18 de julho de 2012

O meu defesa-esquerdo

A propósito do tal Rojo:
 

- duvido que alguém em Portugal, para além dos profissionais do futebol, tenha visto jogar este Rojo. Ver, até pode ter visto, durante um jogo do Spartak. O que eu duvido é que tenha visto com mais atenção do que vai ver, daqui por 15 dias, qualquer outro jogador de qualquer outra equipa russa nas competições europeias. Ponto de argumentação: ninguém em Portugal sabe se este Rojo é ou não é um grande, um bom ou um medíocre jogador. A única coisa que se sabe é que o Benfica esteve disposto a dar 3,5 milhões de euros por ele e que não quis ir mais além, e a partir daí passou a ser conhecido, através dos jornais.

A ficha pessoal parece conferir com uma aposta credível: 24 anos, internacional argentino (mesmo que, actualmente, a Argentina tenha cerca de 5 mil internacionais), com experiência no estrangeiro, ainda que sem nunca ter jogado num grande clube europeu. À partida, deve justificar os 3 ou 4 milhões de euros, mas veremos se está aqui mais um Maldini ou mais um Evaldo.



- Só gosto de jogadores polivalentes no banco. Quando apontei, aqui há uns meses, os meus desejos para a constituição do plantel do Benfica esta época, lá estava, é verdade, um «defesa central polivalente», mas far-me-ão a justiça de reconhecer que esse jogador seria suplente, Faz sentido, de um ponto de vista quer de economia quer de gestão do plantel, ter um defesa que possa entrar na equipa para fazer mais de um lugar. Torna a equipa mais coesa na altura das lesões ou do desgaste ter um jogador de nível médio-alto a entrar regularmente – como era o Rúben Amorim, por exemplo – com ritmo de jogo e conhecimento dos automatismos. Mas não são estes jogadores polivalentes que decidem campeonatos (sim, sim, já sei, vai já haver quem diga que «uma equipa são todos», as tretas do costume, ao que eu respondo que sim, são todos, mas que não são todos igualmente importantes, como é óbvio – há jogadores úteis, jogadores importantes e jogadores decisivos. Sem os jogadores decisivos na altura crucial da época uma equipa não ganha.)

Não acredito, pessoalmente, que Rojo viesse para ser titular do Benfica, quanto muito seria a primeira opção defensiva a sair do banco, e, se assim for (vamos ver se não é no Sporting…), 4 milhões de euros é uma estupidez de dinheiro. Além disso, sem vender Jardel, seria mais uma contratação idiota. Por menos que eu goste do Jardel, comprar outro jogador para o seu lugar não seria mais que desvalorizar dois jogadores.

Espero que o defesa-esquerdo do Benfica seja um bom defesa-esquerdo, não um bom central adaptado a defesa-esquerdo. Isto porque não acredito nas tretas tácticas que o Jesus meteu na cabeça que são a chave do futebol moderno e que, quando começa a inventar, dão sempre merda. Acredito que o futebol moderno é composto por especialistas, por jogadores que se distinguem em aspectos específicos do jogo, e cuja inteligência táctica permite, ou não, jogar bem em equipa. Daqui a acreditar que a qualidade do jogador e da equipa se mede apenas pelo posicionamento táctico e pela corrida que faz dentro dos corredores fixos que o treinador desenha na sua cabeça, como se os jogadores fossem aquelas peças magnéticas nas placas metálicas, vai uma grande distância.



- Não foi por causa do Emerson que o Benfica não foi campeão em 2012. O Benfica teria sido campeão, mesmo com Emerson, se tivesse funcionado melhor como equipa, e já houve equipas campeãs em Portugal com defesas-esquerdos muitos piores do que o Emerson. Isto para dizer duas coisas:

- Uma equipa em que o defesa-esquerdo não seja o jogador menos importante é uma equipa desconjuntada. Isto é verdade nos iniciados do Atlético, em que o defesa-esquerdo é o tipo que tapa o buraco, e é verdade no Real Madrid. Isto não significa que o defesa-esquerdo tenha de ser um mau jogador, pelo contrário – o que significa é que se, há um tipo que não tem de ser um grande jogador e que não pode ser uma das primeiras opções ofensivas de uma equipa, esse jogador é o defesa-esquerdo. Sim, um Roberto Carlos, um Coentrão, podem ser uma mais-valia, mas se uma equipa é montada a pensar-se nas soluções que o defesa-esquerdo vai trazer para os problemas que aparecem num jogo, essa equipa está lixada com F grande (como se viu na segunda época de Jesus, aliás, em que Coentrão foi o melhor jogador do Benfica e acabámos a época a ver esse mesmo Benfica a tentar resolver jogos dificílimos com o seu defesa-esquerdo a fazer raides de 60 metros por entre os defesas e, evidentemente, a chegar ao fim extenuado, frustrado, e a equipa a perder);

- A grande jogada de um Benfica campeão seria aproveitar como deve de ser o potencial de uma equipa pela qual pagou largas dezenas de milhões de euros e que, como conjunto, continua a render apenas 65 por cento daquilo que vale. Não quero ser o «mija-na-sopa» (por enquanto…) mas admito que continuo muito pessimista quanto à capacidade do Jesus mudar o que em três anos ainda não conseguiu mudar: dar ao Benfica um jogo colectivo que potencie a qualidade super de alguns dos seus jogadores, e não continuar naquele estilo de jogo aos repelões, sem fio, sem chama, que vai dando vitórias em jogos mas que dificilmente dar vitórias em campeonatos.



- Dito isto tudo (nomeadamente que não foi por causa de não ter um bom defesa-esquerdo que o Benfica não foi campeão na última época), o caso do defesa-esquerdo é um caso de pura incompetência, em que o Benfica é típico. A falta de consistência da estrutura do clube vê-se, ainda, nestas coisas. Tão depressa desencantam um Witsel como metem uma argolada numa coisa que deve ser rotineira, como a porcaria de um defesa-esquerdo. Quando digo incompetência não estou a lavrar um atestado de irreparabilidade. São ocasionalmente  incompetentes, e pelo que se tem visto têm vindo a aprender – não muito depressa, é certo, sem demonstrar grande inteligência, mas, ainda assim, estão a melhorar.

A incompetência na história do defesa-esquerdo é fácil de contar. Começa com Fábio Coentrão. No fim da primeira época de Jesus, Fábio só não saiu porque havia outros com prioridade, mas era evidente, logo desde Janeiro (como Gaitán, este ano) que seria o próximo a sair no Verão. O Benfica, obviamente, sabia-o. Teve, portanto, e pelo menos, oito meses para encontrar um substituto. Condições privilegiadas. A contratação de Emerson, como é evidente, destinava-se a fortalecer o banco. Emerson não veio para ser titular. Não tinha preço, nem currículo, nem qualidade para isso. Veio porque era barato e estava à mão.

Entretanto, o Benfica falhou na contratação do seu verdadeiro alvo, que provavelmente nunca iremos saber quem era. À última hora, contratou Capdevilla, contra a vontade de Jesus, que se sentiu, decerto, defraudado, por lhe terem prometido um defesa-esquerdo a sério e acabar com duas metades. O erro estava feito, e a época veio pô-lo a nu, como geralmente acontece quando se mete água no Verão. Que nem Emerson nem Capdevilla eram jogadores para o Benfica ficou claro logo em Setembro. O Benfica teve, portanto, outros 10 meses para encontrar o sucessor de Coentrão. Tem mais 40 dias. Se o resultado for um novo Emerson, o fracasso é evidente. Qualquer coisa que não seja o futuro melhor lateral-esquerdo do futebol português, aliás, é um falhanço, dados estes antecedentes.

Não é por causa disto que a época vai abaixo ou não, mas que é um teste à estrutura do Benfica (por incrível que pareça) lá isso é.

8 comentários:

  1. Sorry, não concordo. O Benfica não dava era mais do que2,5M€ pelo Rojo. E ainda bem que não deu, como o futuro irá mostrar.

    "Acredito que o futebol moderno é composto por especialistas". Não concordo, é exactamente o contrário. O Ronaldo e o Messi são especialistas?
    Cada vez mais os bons jogadores jogam em qualquer sítio. E assim é que deve ser.

    O Benfica está a começar a descobrir as suas escolas e os jogadores mais jovens vindos da estranja, cuja qualidade tem vindo a depurar-se de ano para ano.

    Acredito que com o Melgarejo (vai ser muito grande, maior que o Coentrão) e o Luisinho não precisamos de defesa esquerdo e já temos o futuro substituto para o Maxi na B. Fiquei convencido disso desde que o vi na Estónia.

    Já há defesa esquerdo apesar dos carneiros continuarem a bater na mesma tecla, não tem nada a ver com competência ou incompetência, tem a ver apenas com gestão de recursos humanos. Que está ser muito bem feita na minha opinião. Já há defesa esquerdo, sim senhor, não um, mas dois.

    Lembro-me muito bem do primeiro ano em que o Maxi foi adaptado de médio para defesa direito, os carneiros andaram todo ano a queixarem-se que o Maxi não era defesa direito e que por isso o Benfica não tinha defesa direito pois o Maxi era apenas "um médio adaptado". Porra que é preciso ser-se muito estúpido! Tive eu que dar um berro! Que cambada!

    Tenham lá calma que gosto cada vez mais disto.

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    1. Que crente... E eu até agradeço que pensem assim!

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    2. Não acredito que tu acredites naquilo que dizes... Melgarejo superior a Fábio Coentrão... lol

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    3. Neste momento não é. Mas irá ser. Melgarejo irá ser o nosso defesa esquerdo, por mais erros que cometa na pré época. É para isso que servem as pré épocas, para cometer erros.

      Por outro lado, ninguém nasce ensinado, a não ser alguns iluminados que andam por aí (não estou a falar de ti).

      Repito: revejam o que se disse do Maxi quando foi adaptado de médio a defesa direito e o tempo que os imbecis gastaram a repetir a mesma coisa. Já repararam que os carneiros repetem todos as mesmas coisas, os mesmos defeitos, as mesmas críticas? Porquê?
      Because they don´t know better!

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    4. Uma coisa é passar de médio pra lateral. Outra é de avançado para lateral. É diferente. Desde que vi Melgarejo jogar vi que ele tinha faro para o golo. Como poderá ele aplicar essa sua (rara) qualidade a lateral-esquerdo? As qualidades do Coentrão (rapidez, técnica, qualidade de cruzamento, entrosamento ofensivo...) foram potenciadas com essa mudança. Ele reúne (raras) características técnicas e psicológicas que tornaram a mudança de posição um sucesso. Não sei se isso vai acontecer com Melgarejo. Acho prematuro afirmar que ele vai dar um bom lateral-esquerdo quanto mais superior a Coentrão...

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    5. Eu cá não sei se o Melgarejo se fará um bom lateral, embora me pareça que não, mas no futebol há muitíssimos exemplos de adaptações com sucesso para as laterais da defesa para além do Coentrão. Assim que me esteja a lembrar:
      No Glorioso: Miguel - Era uma espécie de avançado
      Nos corruptos: Bosingwa - Era médio centro
      No Setúbal: Paulo Ferreira - Era extremo-direito

      São só os últimos defesas direitos da selecção... O João Pereira não é DD, é apenas um rufia :)

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  2. Conclusão:o Benfica está teso,falharam as vendas e a estrutura(desde a saída do Fábio que é necessário um def.esq.)e estão a querer-nos convencer que o Melgarejo,que é um craque no ataque,irá dar um bom def.esq.Mas estão a gozar com a minha cara?Esse Lemus não tem vergonha?LFV/JJ vão para o caralho.

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  3. Agora já começam a acreditar no Melgarejo? E já descobriram o Cancelo?

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