sexta-feira, 8 de março de 2013

Foi à Benfica


O Luisão ficou chateado com o pessoal no fim do jogo com o Bordéus, e até lhe fica bem – acho de uma falta de personalidade enorme, por exemplo, ver as figuras do Rui Patrício, com cara de choro, a chamar os colegas para o centro do relvado para agradecer (ou pedir desculpa?) aos adeptos enquanto estes lhes chamam de chulos para cima.

Fica-lhe bem, desde que, depois, tenha a humildade de perceber porque é que foi assobiado.

É que, com a treta de que «futebol é resultado», que vai fazendo escola, os profissionais de futebol convencem-se mesmo disso, e perdem a perspectiva certa.

A reacção dos adeptos durante o jogo é o melhor barómetro da qualidade de uma equipa. Quer no entusiasmo que gera, quer na frustração, é nessas reacções que mais nos aproximamos da verdade. Naquele momento, é todo o instinto e a compreensão subconsciente do futebol, pelo adepto, que vem cá para fora. Em relação ao jogo em si, as pessoas começam a complicar quando começam a pensar, porque aí já começam a tentar encontrar justificações e álibis para defender as suas paixões. Depois do jogo acabar, com um resultado positivo, o adepto tenta desculpar os jogadores, não por causa dos jogadores mas porque, ao fazê-lo, está a tentar justificar-se a si próprio. Afinal, se aquela equipa não joga nada, que boa razão haveria para ele lhe pertencer? Não, isso não pode ser. Ele não seria assim tão irracional. A única explicação é de que, afinal, ele é que não estava a ver bem. O adepto prefere remeter a sua irracionalidade (que ele sabe que existe) para as reacções que tem durante o jogo, porque o jogo acaba, e com ele, supostamente, acabaria a irracionalidade. A alternativa seria aceitar que se é irracional nos intervalos entre os jogos...

Só que a irracionalidade, realmente, começa quando o jogo acaba. Antes disso só há naturalidade, e o que é natural, e genuíno, só muito raramente não é verdadeiro. Irracional, irracional, é negar as evidências.

Apesar das 1500 vitórias do Jesus, dos 3000 golos, do melhor Benfica da última geração, que aparecem todos os dias nos jornais para que alguém os compre, as pessoas que vão ao futebol, que já vêem futebol há muito tempo e que sabem muito mais de futebol do que aquilo que julgam, sabem ver quando uma equipa está a jogar aquém daquilo que pode, sabem ver quando um jogador está cansado ou é preguiçoso, sabem ver quando um jogador está cansado porque andou muito tempo a dar mais do que podia ou quando está cansado porque é preguiçoso e não trabalhou o que devia para se cansar menos.

Ao contrário do que se pensa e do que se diz, as pessoas não são estúpidas. Podem não saber dizer o que pensam, podem não ter argumentos para defender um ponto de vista, podem não se saber explicar ou explicar porque pensam como pensam, mas percebem muito rapidamente as coisas essenciais. Ser básico não é ser estúpido. Nós percebemo-nos todos muito bem uns aos outros, mesmo sendo quase todos bastante básicos.

As pessoas percebem perfeitamente que o nível de exigência desta equipa do Benfica, e sobre ela, é baixo. Porque se tomam as opções mais fáceis. Porque se desresponsabiliza quando se devia responsabilizar e só se responsabiliza na hora de sacudir a água do capote.

Não é tudo evidente, valha-nos isso. São as pequenas coisas, os gestos habituais. Os jogadores, os treinadores e os dirigentes, que são pessoal muito esperto, muito vivaço, sobretudo adaptam-se. Percebem qual é o ponto mínimo de esforço que têm de atingir para serem desculpados em caso da coisa correr mal e trabalham para atingir esse ponto. Se a coisa corre bem, óptimo. Se corre mal, paciência, «porque nós trabalhamos todos os dias para atingir o sucesso.» É apenas humano. Por mais que se goste do trabalho que se tem, ninguém gosta de ter de trabalhar para viver. Eles fazem o que toda a gente faz. Não é crime.

Mas é o grau de exigência que determina o grau do sucesso.

Em termos de resultados, o Benfica, hoje em dia, é um clube vulgar. Ao todo, ganhou três ou quatro títulos em dez anos, e só um ou dois de verdadeira importância. É um clube vulgar, em resultados, porque se exige pouco. Exige-se que se ganhe jogos em vez de se exigir que se ganhe campeonatos. Exige-se que se corra muito em vez de se exigir que se seja inteligente, que é muito mais importante. Exige-se que se comece bem a época em vez de se exigir que se acabe bem a época – e é por isso que cada época do Benfica tem duas épocas diferentes, a de antes do Ano Novo e a de depois do Ano Novo.

Nada disto é dramático porque tudo isto é um processo. Há dez anos era muito pior. Hoje já se exige mais. E a única forma de impedir que o clube seja colonizado por jogadores, treinadores ou dirigentes medíocres é exigir que eles vão além do que pensam que têm para dar. Para forçar os medícores a sair e fazer a selecção natural dos bons, entenda-se.

Um jogador medíocre é o que, no fim do jogo que ganha, se chateia com o público que o assobia, vai para casa e, no treino seguinte, continua convencido de que tem razão. O bom profissional é o que vai para casa, percebe que tem mais qualquer coisa para dar e, no treino seguinte, vai à procura dessa margem.

Acho bem que o Luisão e a equipa façam birra. Birra significa personalidade. É como com as crianças, e somos todos crianças a olhar para uma bola. Mas a resposta que interessa é a que se dá a seguir, e não é nos jornais, porque nos jornais só há conversa.

Que os adeptos assobiem a equipa quando ela perde e joga mal é inevitável. Que assobiem quando ela ganha e joga mal é muito saudável. É um sinal de evolução.

E qualquer jogador, treinador ou dirigente que ache que um clube vencedor se faz a meio-gás, a gerir apenas expectativas baixas, que não goste que lhe exijam mais do que ele se exige a si próprio, não tem carácter para estar num clube de ADN como o do Benfica.

Como eu já disse no último post, no Benfica, e ao contrário do que a maior parte das pessoas foi instruída para pensar, não se valoriza quem ganha, valoriza-se quem se entrega completamente enquanto tenta ganhar. Os resultados são, e foram sempre, apenas uma consequência natural.

Para mim, o final do jogo com o Bordéus foi o primeiro momento realmente à Benfica nesta temporada.

10 comentários:

  1. Isto mesmo ... Estou 100% de acordo

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  2. Deve ser mais engraçado lutar pelo 10 lugar??? E nao ganhar 3 jogos seguidos!! Até os corruptos quando ganham títulos tem jogos maus!! Importante é apoiar e perceber que com o ritmo actual dar 100% em todas as competições sempre com os melhores é trilhar o caminho para a exaustão e fracasso!! Forca Benfica!! Realmente importante é ter todos a 200% no campeonato!! E na final taça , onde já nao íamos há uns tempos, resto é ver se dá , até o Sporting chegou Ano passado meia final da UEFA e o que ganhou com isso?? Alguma venda milionária ?? Prestigio??? Dinheiro?? Bola!!! Forca Benfica e diminui lá estou contra os assobios, contra os petardos e a puxar rumo ao 33!! Forca Benfica !!

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    1. contra os assobios, contra os petardos... adeptos, por favor, não se manifestem!!!

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  3. Escreves muito mas nao dizes nada de jeito.. a do Benfica e vulgar em resultados, quando uma equipa tem duas derrotas em quarenta jogos officiais e uma delas e com talvez a melhor equipa da historia do futebol e duma carrada de estupidez que envergonha o clube!

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    1. números são números. se tu fores veres as estatísticas, Portugal não tem assim tantos pobres quanto isso...Mentira. Tem mais do que as estatísticas indicam e o número não pára de aumentar.

      do que me interessam as duas ou três derrotas se, no final, não conseguir, pelo menos, a dobradinha?!

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    2. Ganhar dois campeonatos em dez anos não é pouco para um clube grande?

      E essa de perder com a melhor equipa da história do futebol...
      Em termos de resultados, o Benfica foi mal eliminado da Liga dos Campeões, e está a fazer um dos melhores campeonatos da sua história. Mas se não o ganhar, até pode acabar invicto, que não vale nada.
      É a realidade. Para quê andar com rodriguinhos? O Jesus ganha bem e é crescidinho, não precisa de advogados «pro bono».

      Se é para falar de resultados, coloco uma questão: um treinador que ganha um campeonato em quatro épocas é um treinador à altura do Benfica? Não.
      Já um treinador que ganha dois campeonatos em quatro épocas é outra conversa...

      Ainda assim, nunca ninguém me viu aqui contestar o Jesus por causa dos resultados. Não é a maneira como eu vejo futebol.

      Digo mais: na segunda época, do Roberto, quando andava tudo a querer despedir o homem, eu apoiei que ele ficasse.
      Para mim, nunca foi uma questão de resultados. Nem é agora.
      Se eu fosse presidente do Benfica, a decisão sobre o treinador das próximas épocas já estava tomada há muito tempo.

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  4. Acho que posso concordar com 50% do post.

    Eu acho que se deve assobiar, mas só no final do jogo, como dizes no ultimo parágrafo. Mas nunca, repito, nunca durante o jogo. Durante o jogo nao ajuda nada a equipa. Apenas atrapalha. Eu sou daqueles que defende que tem de ser o 12º jogador a puxar pelos outros 11 e nao o contrario. Que se mostre o descontentamento no final do jogo.

    Nao percebo a necessidade das pessoas, em vir para as caixas de comentários enxovalhar que perde tempo a escrever sobre o Benfica. Eu por nao me rever em tudo que por aqui se diz, nao me vejo dono e senhor de toda a verdade. Eu gosto de ler opiniões diferentes.

    Abraço

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  5. nem com o SCP em 10º lugar deixas de te preocupar em falar em nós no primeiro paragrafo do texto.

    voçês não existem sem o SCP, e gajos como o Rui Gomes da Selva ou o obeso do Gobern são o maior exemplo disso.

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    1. Os sportinguistas não deviam falar nos representantes de outros clubes em programas de TV quando são representados por cromos (estou a ser simpático) como o Dias Ferreira, o ROC e o Eduardo Mãos de Tesoura.

      Para além de cromos e boçais - palitos e coisas que tais - não conseguem esconder a doença que lhes afecta o discernimento quando estão a ver o Benfica a ficar cada vez mais longe. Eu sei que é desesperante, mas ainda não viram nada!

      BTW, o Bruno de Carvalho acaba de dizer que o passivo do Sporting, clube + SAD, afinal é de 430M€. E continuam a falar do passivo do Benfica?



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  6. O mais bizarro desta época do Sporting nem sequer é a comédia dos resultados: é esta última réstea de esperança a que se agarram agora, tentando convencer-se de que os benfiquistas estão sempre a pensar neles quando, na verdade, Benfica e Porto já não querem saber do Sporting para nada.

    (Devo dizer que acho isto revoltante. Eu, como bom lampião, continuo a sentir-me muito disponível para gozar com o Sporting sempre que posso - já que não me posso preocupar com ele.)

    Quando ouvi o tipo de cabelos brancos do Sporting a dizer isto na televisão, fiquei quase em estado catatónico.
    Nem eu, que estou convencido de que o Sporting existe em função do que o Benfica não é capaz de fazer, achei que o estado de alienação fosse tão grande.

    Estou desejoso que o Sporting do Couceiro chegue. A comédia tem de continuar.

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