sábado, 12 de janeiro de 2013

A diferença mínima que é toda a diferença


Há duas razões para Vítor Pereira adoptar uma estratégia de ataque psicológico antes do jogo do próximo domingo.

A primeira é a consciência de que, neste momento, o único factor que pode fazer o Porto ganhar ou, até, não perder na Luz, e que ele pode minimamente controlar, é o medo, por parte dos jogadores do Benfica, de voltarem a perder sem saberem como é que perderam. As derrotas do Benfica na Luz, frente ao Porto, nos últimos anos, têm de deixar uma marca psicológica traumática nesta equipa do Benfica, que gera desconfiança. A equipa está psicologicamente forte, mas este é um jogo diferente – provavelmente o único jogo (defrontar o Porto na Luz) que pode pôr os jogadores a pensar em demasia nas suas próprias possibilidades de ganhar fazendo o seu jogo normal).

A segunda é a consciência de que o jogo é decisivo. Não é decisivo para o Porto, mas é decisivo para o Benfica. A conquista do título, para o Benfica, passa por ganhar este jogo. Sejamos claros: num campeonato em que as duas equipas da frente têm dois empates em treze jogos, os resultados nos confrontos directos valem o título – mesmo que seja indirectamente. Uma derrota do Benfica na Luz, sabendo que o Porto praticamente não perde pontos, e que têm de ir jogar a Braga e às Antas na segunda volta (às Antas na penúltima jornada), ainda por cima com o terceiro classificado a 10 (?) pontos de distância, faria toda a gente tomar como certo que a época se resumiria ao apuramento para a Champions, em ganhar a Taça de Portugal e em ir longe na Liga Europa, com a consequente despressurização e perda de pontos nos jogos do campeonato (que vão ser muito mais difíceis na segunda volta, como já devem ter reparado no calendário).

Dito isto, se fosse feito um inquérito às pessoas neutras (ou seja, não-doentes) deste país sobre o resultado, 90 por cento apostaria num empate.

Só há uma coisa que me faz comichão atrás da orelha neste cenário de equilíbrio. É uma lógica um bocado invertida, mas, no entanto, parece-me que não penso desta maneira por ser benfiquista.

É-me difícil ver esta equipa do Porto a conquistar um tricampeonato – algo que, apesar dos últimos 30 anos de máfia, aconteceu poucas vezes, e que, quando aconteceu, aconteceu em cenários diferentes, em que o equilíbrio entre os candidatos ao título não tinha nada a ver com o que existe hoje. Aliás, nunca vi o Porto a ser tricampeão este ano. Além da questão estatística, o resto: a qualidade de jogo da equipa (pior do que o ano passado, já com o Lucho, na minha opinião, o que atesta bem da qualidade do seu treinador), a boa carreira na Liga dos Campeões (que é sinónimo, em 95 por cento das vezes, a uma descompensação no campeonato, que ainda não se viu mas se vai ver), a acomodação evidente em alguns jogos da Liga. Já vi o Porto ser campeão muitas vezes, infelizmente, mas não me lembro de ver um Porto tão fraco, em termos de jogo, como o que seria este ano se viesse a ser campeão.

Ora, para não ser campeão, também não vejo outro resultado possível neste domingo que não seja a vitória do Benfica.

O Benfica não tem melhor equipa que o ano passado, nem está a jogar melhor. A primeira metade da época foi de grande nível em termos de confiança e forma física. Em termos de jogo, o Benfica que vai defrontar o Porto e o mesmo, vai ter exactamente os mesmos problemas perante outra equipa que vai ser exactamente igual ao que era há um ano. A única e eventualmente fundamental diferença para o ano passado é que, há um ano, a equipa do Benfica chegava ao jogo com o Porto de rastos quer física quer mentalmente, depois de duas semanas de maus resultados e de um regresso de férias de Natal desastroso, enquanto o Porto tinha os jogadores relativamente descansados devido à grande rotação durante a primeira metade da época. Mesmo com a clara diferença física, que foi evidente no 2-2, em que os jogadores do Benfica simplesmente não conseguiram recuperar a tempo, o Porto só ganhou na Luz com um golo em fora-de-jogo, a poucos minutos do fim, e (se não me engano) já a jogar contra 10.

Neste momento, e referindo que o Porto continua a ter uma vantagem funcional nos jogos com o Benfica, que decorre do seu tipo de jogo mais colectivo, feito para dar resultados nos jogos de grande pressão, em que o erro é mais caro, só vejo duas maneiras do Porto ganhar na Luz:

- Se a equipa do Benfica entrar derrotada, a pensar nos resultados dos últimos dois anos, e se acobardar – o que é um cenário bem possível, porque a esta equipa do Benfica falta carácter de campeão;

- Ou se tiver a sorte do jogo (um vermelho que o árbitro não consiga evitar mostrar, um golo numa altura crucial, qualquer coisa de anormal que afecte o desenrolar normal do jogo).

É possível, e não seria nada de extraordinário.

Não acredito que aconteça. Objectivamente, sem superstições nem receios, não vejo este Porto a ganhar na Luz a este Benfica, com Matic, Lima e sem Emerson, e com força nas pernas e na cabeça para recuperar desvantagens, como tem acontecido este ano. Este é um factor muito sintomático do amadurecimento da equipa do Benfica. Só uma equipa a partir de um certo nível de maturidade e qualidade colectiva é que consegue virar jogos, sem entrar em pânico. Ainda não vi esta equipa do Benfica entrar em pânico este ano. Não joga muito (joga depressa, o que é diferente), mas não entra em pânico. Nesse sentido, a ser o Benfica o campeão, o jogo de Alvalade terá sido decisivo, não só pelo resultado como pelo desenrolar do jogo. É o tipo de jogo em que há pouco a ganhar e tudo a perder. O Benfica não perdeu. Veremos se, para o Porto, será assim tão fácil.

O resultado natural, neste domingo, seria o empate a um golo, ou a dois. Parece-me, no entanto, que vai acontecer o contrário do que aconteceu o ano passado: o golinho fora do plano, nos últimos minutos, vai cair para o lado do Benfica. Vai ser coerente com o cenário de grande equilíbrio entre as duas equipas de que se vai falar daqui a uns anos, relativamente a este período, e que começou na última época. As diferenças serão minímas e os dois clubes terão histórias muito semelhantes para contar, parecendo tiradas a papel químico.

 De qualquer forma, não vou ver o jogo a não ser daqui a uma semana. Vai ser uma experiência. Depois de saber  resultado e tudo o que se disse, vou ver o jogo pela primeira vez, sem nervos, sem pressão, e fazer uma leitura distanciada. Amanhã, nem sequer leio jornais. Tenho três exames nos próximos seis dias, o primeiro dos quais às 8.15 de segunda-feira. A última coisa de que preciso é de um Benfica-Porto a dar-me cabo da noite. Às vezes (e esta é a primeira vez) é preciso saber pôr a doença no sítio.

7 comentários:

  1. Eu não conseguiria colocar esse distanciamento da equipa, nem mesmo com exame na segunda feira logo pela manha.

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  2. "Pôr a doença no sítio "... pareces a minha mãe a falar...

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  3. quanto maior a ameaça maior respeito e mêdo tem ao opositor , é simples caralho , alguem que explique isto aos jogadores do benfica caso eles nao saibam .
    deixem se de conices e joguem sem medos e receios , vamos ganhar ao porto nem que seja com um golo marcado com os colhoes ja nos descontos , era isto que deviam dizer aos jogadores do benfica , mas a mim parece me que na estrutura do benfica existe gente que trasmite mêdo e falat de confiança e isso nao é bom ,isso mina o espirito da equipa , o benfica mostra muito mêdo do porto , mas eles com as " ameaças " tambem mostram um mêdo disfarçado .

    jose luis cruz

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  4. Hugo:a tua análise bateu certo com a realidade.Dois golos do Porko inimagináveis e uma forte reacção do Benfica.Foi pena o Tacuara ter falhado indecentemente aquele golo.Teria sido a cereja em cima do bolo.Mas,apesar de não ter ficado nada agradado com os brindes,gostei da reacção.O Moutinho,Lucho,Fernado e Mangala fartaram-se de dar pau durante o jogo todo e só o Moutinho viu amarelo aos 80 minutos.Inacreditável.O Maxi ficou farto de ver o Moutinho dar pau e ia-lhe fodendo uma canela.Foi pena não o ter mandado para as urgências que era o que ele merecia.Sorte com os exames.Um abraço.

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    1. Estive a rever o jogo e o Porto não fez um remate à baliza.O Moutinho fez 8 faltas ,5 delas para amarelo,o Fernando devia ter sido expulso(o André Gomes já foi expulso este ano,por este árbitro por uma falta exactamente igual)e o Lucho idem aspas.É preciso muito topete para o fdp do TOC vir falar de expulsos.É uma táctica já vista que veremos o que é que trás em termos futuros.

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  5. Tudo certo neste post, até o resultado. Jogar no Euromilhões não será mal pensado...
    Duas horas de futebol são incompatíveis com exames? São, e eu percebo porquê. Nunca são só duas horas.
    Aguardo pelo comentário pós-pós-jogo. Eu próprio evitei comentar o jogo em si em blogs ou no Facebook, assistindo mais ou menos tranquilo a toda a histeria das 24 horas seguintes ao clássico. Dois dias depois já vejo as coisas de modo diferente.
    Uma nota apenas para a politica de comunicação do fcp: são muitos anos a "virar frangos"...

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  6. Hugo já ando aqui há vários dias a checar o teu blog para ver a tua análise em relação ao jogo contra os porcos! Espero que os teus exames estejam a correr bem! Um abraço!

    Luis

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