quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Uma equipa de pachachinhas


Quando ouvi o Carlos Carvalhal, na RTP, há quinze dias, dizer que, contra uma equipa de segundas figuras do Barcelona, «mal seria» se o o Benfica não fosse favorito, admito que pensei cá com os meus botões: «Deve ser, deve… Se não forem os russos a ganhar na Escócia bem fodidos estamos.»
Devo avisar que hoje, como já devem ter reparado, vou ser bastante ordinário. Porque me apetece.
Afinal, o Carvalhal tinha razão. Admito. A «ideia» de futebol do Barcelona – que é mais que uma ideia, é uma cultura –, quando não é interpretada por meia-dúzia de freaks da bola e quando não tem nada a ganhar, não é mais que uma vaga ideia, que poderia perfeitamente ter sido batida com uma única e simples qualidade por parte do Benfica: instinto assassino.
Azar.
É aquilo que este Benfica tem menos. Como eu já disse quinze milhões de vezes, esta equipa do Benfica não é agressiva. Falta-lhe a qualidade fundamental numa equipa de futebol. Chamem-lhe carácter, ambição, audácia, chamem-lhe o que quiserem, mas o que falta a esta equipa do Benfica é colhões. E enquanto lhe faltar colhões vai continuar a ser uma equipa de segunda, tenha os jogadores que tiver. Sem colhões, o máximo que pode acontecer a uma equipa é ir a uma ou outra final, de vez em quando, com muita sorte pelo meio, e inevitavelmente perdê-la. Nada que o Benfica não tenha feito, por exemplo, em 1989 e 1991, e que, historicamente, acabou por significar exactamente nada, como hoje facilmente se percebe.
Alguma classe, o Benfica até tem. Não é uma equipa totalmente sem classe. Faz as coisas mais ou menos certinhas. Mas não as consegue levar até ao fim porque lhe falta carácter.
Vi três momentos à campeão, hoje à noite, ao Benfica:
- quando entrou a defender em cima da baliza do Barcelona (algo só possível porque o Barcelona jogou sem nenhum dos seus quatro cérebros – Iniesta, Xavi, Busquets e Messi – que teriam facilmente transposto, em três passes, a primeira linha defensiva do Benfica);
- quando o Luisão virou o Messi ao contrário na primeira vez que o encontrou, de maneira a que ele entendesse que aquilo não era um jogo-treino nem um jogo para os recordes;
- e quando o Maxi Pereira deu duas ripadas seguidas no extremo do Barcelona a meio da segunda parte, quando se percebeu que o pessoal do meio-campo tinha entrado em modo zombie.
Tudo o resto – e o resto é o que fica, porque é o que define o resultado – foi, basicamente, uma cambada de pachachinhas encolhidas, todas molhadinhas por estarem a jogar com o Barcelona, algumas – André Gomes, Ola John, Nolito – com um bocadinho mais de classe que outras, alguma gente que vai poder ganhar alguma coisa quando tiver quatro ou cinco jogadores com colhões a jogar a seu lado, mas, no fundo, apenas uma cambada de pachachinhas, que foi fazer um jogo de futebol a Barcelona e não conquistar um apuramento na Liga dos Campeões a Barcelona, incapaz de cravar o punhal no momento em que o adversário estava à mercê, incapaz de ter a audácia suficiente para entrar na história, gente de fraca dimensão, que não tem, realmente, massa de campeã.

Como todos sabem, é-me um bocado igual ao litro se o Benfica passa ou não passa aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Continuo a achar que é um desperdício de recursos humanos quando se quer ser campeão nacional e nem sequer se tem a melhor equipa nacional. O que me chateou nesta noite foi voltar a perceber que o que tirou este apuramento ao Benfica foi a mesma fraqueza que lhe tirou o título no ano passado, e que tirará este ano, a menos que haja algum bambúrrio ou que o Porto chegue às meias-finais da Champions e cague no campeonato. A mesma fraqueza mental que levará a que, mesmo ganhando este campeonato, seja praticamente impossível ganhar o próximo, como levou a que fosse uma miragem a repetição do título em 2011. É a mesma debilidade.
É a mesma debilidade que acompanha o Benfica há cerca de 30 anos, e que a classe ocasional de alguns jogadores e treinadores e as contingências próprias do futebol têm disfarçado: ao Benfica, à sua equipa de futebol, falta carácter, espírito de conquista, agressividade, instinto assassino. Não falta, nunca faltou, jogadores: falta, e sempre faltou, competidores. Massa de campeão. Mais do que verniz de campeão, estofo.
Os benfiquistas podem continuar a falar de jogadores, de ilusões, durante mais 30 anos, mas só voltarão a ter uma equipa de futebol de topo europeu quando começarem a distinguir competidores de jogadores.

O que é que diferencia os grandes clubes europeus dos de segunda linha? Os grandes clubes europeus gastam algum dinheiro em talento, claro que sim, sem talento não há diferença, mas, quando querem, enfim, passar da qualidade às vitórias, ganhar, o que os clubes vitoriosos compram é carácter.
O carácter é mais raro que o talento.

Não queria acabar sem falar do Cardozo. O Benfica não foi eliminado por causa do Cardozo, nem o Cardozo é hoje pior ou melhor jogador que era há duas semanas. Foi mais importante, na eliminação do Benfica, o árbitro paneleiro do Celtic-Spartak (vi o jogo aos bochechos mas nesses bocados não vi nenhuma decisão do tipo que não mostrasse uma vontade enorme de fazer um favor ao fair-play e ao politicamente correcto e que não favorecesse o Celtic, culminando naquele penálti absurdo), a derrota em Moscovo (por falta de agressividade) ou o jogo em que o Celtic toca duas vezes na bola e ganha ao Barcelona por 2-1.
Mas, na última jogada do desafio, com o apuramento nos pés, isolado em frente ao guarda-redes, em corrida, o Cardozo – jogador de 28 anos, com toda a experiência possível e num momento de plenitude profissional, a jogar um dos desafios mais importantes da sua carreira – porque a bola lhe vai para o pé direito e porque tem de se virar para a baliza em corrida, o Cardozo, atentem bem… tropeça na bola. O Cardozo tropeça na bola.
E isso, meus caros amigos benfiquistas, mesmo que se consiga marcar 500 golos ao Santa Clara, ao Penafiel, ao Setúbal, ao Nacional da Madeira, isso define um jogador.
Não quero dizer aos meus caros amigos que metam o Cardozo no cú. Não quero. Mas só porque já o disse há muito tempo, aqui neste blog, e numa altura em que, salvo erro, ele até era o melhor marcador do campeonato.
Enquanto o seu jogador-chave for um Cardozo (este ou outro), as hipóteses do Benfica ter uma boa equipa europeia durante uma década, por exemplo, são exactamente iguais a zero. Seja lá qual for a «ideia de jogo» que o treinador do Benfica, por mais inteligente que se considere, tenha.

Quanto ao resto, é saber o que se quer, para se escolher o que se tem.

Sirva ao menos para isso mais esta derrota.

9 comentários:

  1. Para mim, pior que o tropeção do Cardozo foi o último remate do Maxi. Um gajo que no último minuto apanha uma bolinha daquelas mesmo ao jeito do pé preferido, chuta com a força toda que tem e a espeta fora do estádio tem de ser muito anjinho. Quem diria que um empate em Camp Nou me provocaria tanta azia...

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    1. Parecia que estvam todos a fazer cerimonia para ver quem chutava, incrivel. Espero que isto não vos faça ser campeoes por nos eventualmente irmos longe na Champignons...

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  2. Boa noite,

    Não sei quem é o autor, mas gostei imenso do texto.

    Então esta frase diz tudo: "O carácter é mais raro que o talento."

    PS: Só uma correcção à idade do Cardozo, ele já tem 29 anos e não 28.

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  3. Excelente post!!

    Deveria ser transmitido aos jogadores muitas dessas ideias.

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  4. Grande parvoice de post

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  5. Vai la descansar o cerebro que bem precisas,o Cardozo nao marca so ao santa clara,marca a todas e qualquer equipa do Mundo,quanto ao resto eu recordo um episodio em 91 onde o Benficca foi as Antas decidir o campeonato em condiçoes mais que adversas,aquela equipa teve estofo,porque tinha um lider com estofo,nao é como hoje que ana sempre ai a chorar que sao uns coitadinhos

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  6. Não sei o que é pior, é ver esta equipa com metade dos jogadores que não sabem o emblema que transportam ao peito e a jogar para si mesmos. Ou ler a análise do Jesus que fizemos o que poucas fizeram em Nou Camp, ou então se o facto de ele ainda ter ambições na Liga Europa. Estamos lixados meus amigos, alguém que ajude o Benfica a cometer suicidio porque este Treinador já deu tudo o que tinha a dar, já conhecemos as suas limitações já vimos tudo.
    Outra coisa, se o receio é que ele vá para o Porto e ganhe tudo, estou me nas tintas, tenho a certeza que ele no Porto vai ter sucesso, qualquer um tempo, enquanto o Pintinho tiver saúde os pagamentos vão rolar da mesma forma como sempre. E vão todos beijar a mão ao Papa.
    Jesus vai-te com os porcos que já não te posso ver, como diria o Marco do BB1, " Já não te estou a ver bem....."

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  7. Sim, é isso mesmo, autenticamente uma equipa de conas de sabão. E em grande parte por causa da cultura de jogo do treinador, em que dar um chutão para a frente é feio, é mau.....fisicamente somos uma anedota. Ontem, houve jogadas em que parecia que os nossos jogadores estavam presos ao chão. É ridiculo! É triste!

    E mais triste ainda é que esta merda de ideia de fazer deste gajo um manager a longo prazo para o Benfica, de braço dado com uma direcção de merda, que levou a Barcelona um grupo de amiguinhos chulos, à pala do Benfica, vai-em fazer afastar do clube.

    Farto desta merda!

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  8. só não sei como há pessoas que elogiam este benfiquinha... e depois vejo destas tiradas geniais por parte do jesus: "fizemos em camp nou o que mais nenhuma equipa fez" pudera, cabrao, equipa de segunda. mas alguem aqui conhecia o planas??! foda-se, ganhem segunda mazé senão fico... epah nem sei

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