quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Há unicórnios à chuva


Quem é familiar da minha lógica sabe que não estou a ser irónico quando digo que o resultado ideal para o Benfica, hoje, teria sido uma derrota com o Spartak de Moscovo. E até sabem logo porque é que digo isto.

Em termos de resultados a época estava a correr muito bem para o Benfica.

No campeonato ainda não tem nenhum ponto de atraso para o Porto. Uma das condições para ser campeão é chegar ao jogo com o Porto, em casa, pelo menos em igualdade pontual. Teve dois resultados que considero (ao contrário das exibições, como é evidente) muito bons: os 3-0 em Barcelos e na Luz, ao Vitória, condicionados pelas eliminatórias das Champions e quando o Porto teve jogos fáceis, para somar. O próximo, com o Rio Ave, é realmente importante, pois provavelmente daria a liderança do campeonato em caso de vitória. Teve dois resultados relativamente maus, mas aceitáveis num cenário de vitória no campeonato.

Na Europa, sim, as coisas estavam a correr verdadeiramente bem.

Primeiro, desde logo, porque, como disse o Jesus, calhou no grupo do Barcelona, o que inviabilizou imediatamente a possibilidade de primeiro lugar, que lhe daria a possibilidade forte de voltar a acontecer o que aconteceu no ano passado, em que teve de jogar duas eliminatórias da Champions na segunda metade da época.

A única coisa pior do que isso seria aquilo que provavelmente vai acontecer, que é acabar em terceiro, que só dá trabalho – a menos que aconteça como aconteceu ao Porto, apanhando um Manchester City para arrumar o assunto logo em Janeiro. Caso contrário, o Benfica arrisca-se a apanhar com os devaneios europeus do JJ e do Orelhas e de passar três meses a jogar às quartas-feiras para depois cair nas meias-finais da Taça do Courato – ou Liga Europa, como também é chamada pela UEFA e pelo jornal O Jogo.

Não. Importaria acabar em segundo para jogar com o Real Madrid ou, se possível, ficar mesmo em quarto.

Qualquer benfiquista que partilhe das ilusões do animal híbrido Jesurelhas – de que é possível competir em mais do que uma competição a sério com este plantel, sem inevitavelmente as perder todas – precisa de ir à rua tirar o unicórnio da chuva.

Pela mesma lógica, muito bom é o primeiro lugar do Porto. Espero que sim. Espero que fiquem em primeiro, e que joguem com o Spartak de Moscovo ou com o Shaktar Donetsk nos oitavos-de-final, que passem outra vez e que possam encontrar, depois, um Dortmund qualquer.

O presumível apuramento do Braga para a Liga Europa é um bónus.

A eliminação do Sporting um brinde.

Se ficar fora da Europa em Janeiro, e se ganhar ao Porto em casa – obrigatório – o Benfica, mesmo sem jogar nada, pode ser campeão, por uma mera razão de recursos humanos. Nem o Jesus conseguiria lixar isto. Bom, quer dizer…

A questão do pessoal é a outra parte que está a correr muito bem ao Benfica. A sorte está a fazer o trabalho do Jesus pelo Jesus. Também aqui, o homem não está a ter hipótese para lixar isto. Perdeu o Javi e o Witsel na véspera do fecho do mercado, o Luisão perdeu 10 jogos por castigo, semana sim, semana não perde o Aimar, o Martins, o Matic, o Gaitán, o Sálvio, o Melgarejo…

O resultado disto é que a gestão do plantel está a ser a ideal. Basta tirar ao Jesus a gestão dos jogadores para as coisas começarem a correr bem. Os supostos problemas com o plantel vão resultar, simplesmente, nisto: em Janeiro, à entrada para a parte decisiva da época (quando a perdeu há um ano), o Benfica vai ter as soluções de que, na última época, o Jesus prescindiu (Amorim, Martins, Nélson Oliveira, Saviola) e que este ano foi forçado a inventar (Luisinho, Jardel, André Gomes, André Almeida, Ola John, Enzo Pérez no meio, mais Luisão fresco, mais Gaitán fresco, mais Nolito fresco, mais o reforço no meio-campo que vai chegar em Janeiro). É, potencialmente, a melhor situação em que o Benfica chega a Janeiro desde que o Jesus tomou conta da equipa, e, por si só, será mais do que suficiente para garantir pelo menos o segundo lugar do campeonato.

 

Em relação à Champions propriamente dita, surpreende-me que o Celtic tenha ganho, mas não que o Barcelona não tenha ganho. Achei peregrina, desde o início, a lógica do Jesus de que o Barcelona não entrava nas contas, só porque ganhou na Luz por 2-0. Em vinte anos de Champions só deve ter havido duas ou três equipas a ganhar os jogos todos, e não tem a ver com a qualidade das equipas. Tem a ver com a motivação, com a gestão do plantel, com a necessidade de fazer o resultado, com o simples azar. A derrota do Barcelona hoje, por exemplo, foi-lhe perfeitamente indiferente. De qualquer maneira, com mais uma vitória (frente ao Benfica, por exemplo), faz 12 pontos e é primeiro. Para o Celtic, pelo contrário, era um dos jogos do ano. O Celtic é o caso típico daquela equipa medíocre que aparece todos os anos, a quem as coisas correm bem, e que são apuradas apesar de serem uma das equipas mais fracas da competição (como o APOEL no ano passado). Aquele jogo em Moscovo seria suficiente para perceber isso, e o jogo de ontem confirmou-o.

Sempre tomei como líquido que o Barcelona empataria, pelo menos, um jogo fora. Não percebo como é que um homem tão atento a todas as estatísticas não percebeu isso. Ou, se calhar, até percebo, mas pronto, ele também não é parvo e já sabe o que os tolos papam… E como sabe o que os tolos comem vai dizer que perdeu o apuramento porque o Celtic fez o resultado o Barça. Tretas. O Benfica perdeu o apuramento em Moscovo. Empatando, seria segundo no grupo

 

Neste momento, o que eu, como maquiavélico que sou, desejaria que o Benfica perdesse os próximos dois jogos ou que, fazendo um ponto, o Spartak fizesse três. O terceiro lugar é o pior lugar do grupo.

Há apenas uma hipótese, ténue, de apuramento, que implica ganhar por vários golos ao Celtic (o que é o mais fácil, apesar de tudo, porque o Celtic não joga mesmo nada, desde que a sorte os abandone), e depois esperar que os russos marquem primeiro, na última jornada, na Escócia, uma vez que o problema dos russos é psicológico. Quando marcam primeiro, é quase impossível ganhar-lhes. Quando sofrem um golo antes de marcar vão-se imediatamente abaixo.

É possível que o Spartak ganhe na Escócia, assim como é possível ao Benfica ir empatar a Camp Nou se o Barcelona estiver apurado.

Sim, é possível o Benfica não acabar em terceiro lugar do grupo. As possibilidades são de aproximadamente… 2 por cento.

9 comentários:

  1. Se não fosses burro, eras uma azémola.

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  2. Hugo,

    Não te esqueças da questão financeira.

    O não apuramento para a 2ª fase da LC poderá implicar que o SLB em Janeiro, em vez de comprar o tal reforço de meio campo, tenha que vender alguém tipo Gaitan ou Cardozo. E aí, eventualmente, nem europa, nem campeonato.

    O ideal era o apuramento em 2º lugar e depois levar com um tubarão tipo Real Madrid ou Bayern e empochar a receita do apuramento, mais a receita desses 2 jogos que são de casa cheia quer cá, quer lá.

    Um abraço,
    Rui

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    1. Viva, Rui.

      O segundo lugar tem essa vantagem clara de dar mais 5 ou 6 milhões (prémio+tv+bilheteira), e por isso, além da questão da provável sobrecarga de jogos, é muito melhor que o terceiro lugar, evidentemente. O cenário que colocas é sempre o ideal, como já era o ano passado. Mas no ano passado aquela eliminatória com p Zenit foi suficiente para roubar o campeonato ao Benfica.
      E junto mais uma acha relativamente a esta questão 2.º/3º/4.º:

      Será que não vale a pena perder 5 ou 6 milhões de euros e ter mais 5 ou 10 por cento de hipóteses de lutar pelo título? Em princípio dir-se-ia «não». Mas não é o que pagamos por um Enzo Pérez qualquer, que nos dá precisamente isso? Parece ilógico mas se calhar não é.
      O orçamento do Benfica é de 60 milhões (penso eu) para ser campeão, basicamente.
      Eu, se pudesse pagar para ter menos seis ou sete jogos na fase decisiva do campeonato, no Inverno, com este plantel, provavelmente pagava.

      E, afinal, o Porto parece que deu uma dezenas de milhão de prejuízo mas, como foi campeão, dizem os jornais que o Padrinho é um génio da gestão desportiva...

      Um grande abraço.
      E desculpem lá por eu estar a aparecer muito menos, mas é a vida.

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    2. Não entendo como as pessoas podem dizer que o Benfica tem de vender alguém em Janeiro, se não passar aos oitavos, quando fez vendas brutas de mais de 70M€ em Agosto. Será que o orçamento do Benfica é de 200M€?
      Não lêem os jornais ou não sabem fazer contas? O Benfica não precisa de vender ninguém em Janeiro!



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    3. Caro Sr. Manuel ou será Pedro Guerra?,

      Se deixar de ler com os pés e passar a ler com os olhinhos e, aproveitar, e fizer um upgrade para homo sapiens sapiens, poderá reparar que escrevi "poderá implicar".

      Por outro lado, e pelo que disse DSO à imprensa russa, conforme link em baixo, existe alguma permência financeira na passagem aos oitavos. É certo que não falou em venda de jogadores, mas que outra receita poderemos ter para suprir uma eventual ausência da LC?

      http://www.ojogo.pt/Futebol/1a_liga/Benfica/interior.aspx?content_id=2871120

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    4. Caro anónimo "homo sapiens sapiens", enganou-se, não é Pedro Guerra, é Rui Costa.

      O "poderá implicar", poderia implicar uma expressão condicional se não utilizasse uma locução que exprime um desejo reprimido de adivinhar o futuro ao utilizar o forma do futuro simples do verbo poder.

      Assim, ao mencionar a mera possibilidade, probabilidade ou mesmo a mera hipótese do Cardoso ser vendido em Janeiro, como se não houvessem outros jogadores do Benfica com mercado, o que só aconteceria num caso muito extremo de desespero financeiro em termos de "cash-flow" por parte do Benfica, mostra que afinal o anónimo não é tanto o "homo sapiens sapiens" que pretende ser mas mais o "pan troglodytes troglodytes" que realmente é.

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    5. Desculpe lá, mas você é burro que nem uma porta!!

      O poderá implicar quer dizer isso mesmo. Poderá acontecer, não quer dizer que assim seja.

      Desejos reprimidos tem você desde criança, e quanto a isso consulte um psiquiatra para o ajudar. É que tanta defesa do poder instituido deverá ter para si custos brutais. Obrigam-no a fazer coisa que não gosta, mas isso não é culpa minha.

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  3. Pensei que tinha desaparecido ou ido em alguma peregrinação... Concordo com o anterior anónimo (aliás Rui), passar e calhar logo um tubarão para embolsar o cacau.Agora pede-se é concentração máxima para Vila do Conde que promete ser um dos jogos mais dificeis fora.E claro que JJ não lixa o destino que tem andado a nosso favor...

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