terça-feira, 28 de agosto de 2012

O ano do lagarto


Porque é que o Sporting vai ser campeão?

 

1 – Porque a fruta está verde.

Até o Pinto da Costa percebe que ganhar sempre tem efeitos nocivos. A ilusão de um mercado concorrencial é muito mais útil para o negócio e para a perpetuação do monopólio de facto que existe do que a evidência desse monopólio. Dito por outras palavras, o Porto tem o monopólio do sistema, mas é-lhe mais útil, a longo prazo, manter a sugestão de que o que existe é um sistema de concorrência. A debilidade intelectual e a subserviência do corpo crítico que forma opinião na nossa comunicação social permitem a sustentação dessa estratégia. Na verdade, o argumento que prova, racionalmente, o domínio do sistema por parte do Porto é lógico, não tem nada de metafísico nem de voluntarista – resume-se a um silogismo básico: A – O sistema (arbitragens, financiamentos, legislação, disciplina, etc) é um factor decisivo na conquista de resultados desportivos, no futebol português, de acordo com todos os seus dirigentes (podem chamar-lhe a evidência Calabote, para tornar a coisa mais consensual…); B – o Porto ganhou 20 dos últimos 25 campeonatos e títulos em todas as épocas nos últimos 30 anos; C – o Porto controla o sistema.

Tudo o resto é ruído propositado, areia atirada para os olhinhos do maralhal, num processo tão básico que nos faz, realmente, pensar que as pessoas têm aquilo que merecem. Vivemos na Grunholândia, a terra em que os grunhos comem com talheres, escrevem em blogues na internet, misturam putas com frutas e não distinguem o crepúsculo do cabelo crespo do cú. Para os grunhos, é fácil explicar como é que um clube que tem os árbitros na mão ganha três campeonatos em 20 anos: é porque o padrinho diz. É claro que o Benfica corrompe os árbitros. Por isso é que todos os anos é campeão.

Assente este raciocínio lógico como ponto de partida, nem o Porto consegue ganhar sempre. O que acontece, normalmente, é uma de duas coisas:

- um tiro de bazuca na própria pata:

- uma redefinição inconsciente de prioridades, por norma baseada no excesso de confiança.

Na primeira categoria temos falhanços retumbantes, como foram os do regresso de Tomislav Ivic, o da escolha de Octávio Machado para treinador ou o ano do Gi-Vi-Zé (Del Neri, Fernandez, Couceiro). Nestes casos, é Pinto da Costa a tentar ser mais papista que ele próprio, a tentar elevar a «cultura» a religião e a falhar.

Na segunda categoria encontramos o caso do último título do Benfica, em que Pinto da Costa, evidentemente cheio de confiança na superioridade do seu esquema, pensou que poderia facilmente manter um técnico de segunda categoria (Jesualdo), vender dois jogadores de primeira (Lucho e Lisandro), apostar forte na Liga dos Campeões e, mesmo assim, ganhar o campeonato a um Sporting inofensivo e a um Luis Filipe Vieira em processo de auto-imolação. A prova de que a má época do Porto resultou muito das más escolhas do seu presidente e pouco ou nada do famigerado castigo do Hulk é que, de um ano para o outro, o Porto mudou tudo o que pôde, entre treinador e jogadores.

Como o sistema é forte, mesmo nestas épocas o clube geralmente arranja uma maneira de ganhar qualquer coisa e manter o pagode entretido, mas o que acontece, claramente, e invariavelmente, a meio destas temporadas, é uma reorientação de prioridades e uma redefinição de estratégias. O Porto começa a pensar na época seguinte e, aí sim, começam a acontecer coisas realmente invulgares no futebol português: o Boavista a ser campeão, o Braga a amarinhar e a apurar-se para a Liga dos Campeões, o Sporting a ser beneficiado pelas arbitragens (ou, pelo menos, não prejudicado) e a ganhar campeonatos, o Benfica a conseguir meter a cabeça de fora e vender bilhetes e camisolas, decisões disciplinares ambíguas, etc.

Na sua maior parte, são o que eu chamo de «acções preparatórias», ou «acções ‘estão a ver?’». O Porto abranda a pressão ou manipula o sistema de forma a poder argumentar que o sistema, afinal, é para todos, legitimando o regresso ao controle do mesmo, que invariavelmente, no ano seguinte, se segue, em força, de forma a que não subsistam dúvidas sobre quem manda. E o Porto, graças à «genialidade gestora» de Pinto da Costa, que «fez as opções certas na reconstrução da equipa», volta a ser campeão, de preferência com 15 pontos de avanço para poder ganhar algum nas competições europeias.

Este ano tem tudo para ser um desses anos «preparatórios».

Porque o Porto precisa desesperadamente de fazer dinheiro, e vai ter, simultaneamente, de vender dois dos seus melhores jogadores e apostar forte na Liga dos Campeões, após um ano desastroso. Essa opção vai começar a tornar-se clara não só esta semana, com o fecho do mercado, como a partir do momento em que comece a Champions.

Porque os próprios jogadores vão menosprezar o campeonato e apostar na Champions. Querem sair enquanto é tempo, ganharam dois campeonatos seguidos (o segundo sem fazerem muito por isso, entregado pelo Benfica), a coisa tornou-se fácil, confiam que o terceiro virá da mesma maneira, sem ser preciso trabalhar muito.

Porque o treinador é uma merda, não tem mãozinhas para aquilo, e já devia ter ido, mas o Pinto da Costa foi enganado pela conquista do campeonato e viu-se forçado a aceitá-lo por mais um ano, mesmo não o querendo (afinal, ele não despede treinadores…)

Porque (por estas razões e outras) no Porto o terceiro campeonato é sempre o mais difícil.

Mas, sobretudo, porque o Sporting está disposto a tudo, e vai vender-se ao sistema.

É fácil ignorar a delicadeza do momento do Sporting no meio da confusão, mas a verdade é que o Sporting está, provavelmente, no ponto mais delicado da sua existência.

O fim da «era Roquette», da suposta «gestão moderna», foi um lançar de toalha. Com o regresso de Duque e Freitas, às costas de um Godinho que não risca nada a não ser cheques pessoais para comprar jogadores (alguém tem dúvidas?), a aposta forte no mercado, o Sporting juntou-se à matilha, deixou de querer se diferente e está completamente a descoberto.

A primeira época correu incrivelmente mal. Era suposto ficarem em segundo, para jogarem a Champions e se financiarem, e acabaram em quarto. O Benfica lixou-os, basicamente, naquele jogo do 1-0, na Luz. Nesse mesmo jogo, Vieira, aparentemente, descaíu-se. «É para isto que queres controlar as arbitragens?», perguntou a Duque. Mas alguém duvida da matéria em cima da mesa nos almoços entre o Vieira e o Duque? Não era croquetes, com certeza.

Esse jogo, além da derrota temporária do «projecto» do Sporting e da jaula para os grunhos, deixou-nos o fim da putativa aliança entre Benfica e Sporting contra o Porto. Os Idiotas Cristóvãos ganharam, e os dois clubes de Lisboa vão ficar separados – a guerrilha no mercado de Verão comprova-o claramente, e é um prelúdio para outras guerras bem mais acirradas que por aí vêm.

Tudo isto faz com que o Sporting esteja no ponto para ser cooptado por Pinto da Costa, cuja estratégia magna nos 30 anos de presidência foi sempre manter-se aliado a um dos clubes de Lisboa e, sobretudo, mantê-los de costas voltadas, manipulação para a qual tanto os Damásios como os Roquettes sempre se mostraram amplamente disponíveis, porque, com mais ou menos dinheiro, eram líderes fracos e estúpidos.

Mais ou menos por altura do Benfica-Porto, a agulha vai começar a virar. O Sporting ainda vai andar na luta, vai ter superado, com dificuldades iniciais naturais, uma primeira volta muito difícil, sem ter de se preocupar muito com a Liga Europa (basta ganhar os dois jogos em casa para se ser apurado, afinal, e é bom para dar moral aos suplentes), e o Porto, apurado para os oitavos-de-final da Champions, vai começar a perder o comboio a nível interno.

Lá para Março as coisas vão estar mais claras, e por essa altura o Sporting já não vai ter razões de queixa da arbitragem. É bem possível, até, que comecemos a ver Duque e Pinto da Costa juntos em ocasiões informais, em reuniões antes das assembleias gerais da Liga, e o Vieira a barafustar contra o sistema e a nova aliança tácita.

No fim, o Sporting terá ganho o campeonato de que desesperadamente precisa para não morrer, o Porto acaba em segundo, ao sprint, garantindo a Champions para o ano seguinte, e o Benfica, se não se põe a pau, ainda acaba em quarto, para que fique bem marcada a vitória do sistema sobre os insurrectos – sobretudo se os insurrectos insistirem em não vender os seus 15 jogos em casa ao polvo. Não ao Paul mas ao de São Martinho de Penafiel.

E tudo estará bem.

 

É claro que o sistema, por si só, não chega, mas como a prosa já vai longa os outros dois factores a favor do Sporting ficam para depois, com a gentileza dos fregueses.

13 comentários:

  1. Deus te livre que o Benfica fique em quarto... (já que jesus parece que não se importa muito...)

    os outros dois factores são óbvios:
    - serão favorecidos pela arbitragem, porque nunca o foram-e acho que o porto vai ficar desde cedo afastado do titulo- portanto é a lógica do "oh...coitadinhos, já não são campeões há tanto tempo..."; A onda verde que se criará irá sustentar essa mesma lógica, pois estes verão uma fresta num panorama de cerradas nuvens negras (é o último suspiro) e vão empurrar a equipa e arbitragens

    -provavelmente a equipa vai começar a jogar o que realmente sabe (tem jogadores para muito mais do que têm feito) e após a prematura eliminação da taça de portugal, conquistarão o campeonato à cagao e, com jeitinho, a taça da cerveja...

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  2. Só vejo uma falha na tua teoria. O Sporting. Tenho a ligeira sensação, que nem ao empurrão lá vão. Mas acho que tu também, e por isso, em outros posts, falas do Sporting campeão, mas metes pelo meio os 20% de probabilidades. Eu até acho que estás a ser meigo.

    Abraço

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  3. Com esta equipa do Sporting, com este treinador adorado pela claque, com esta direção, sequestrada pela claque, o Sporting não vai a lado nenhum, caro Hugo. Seria precisa uma roubalheira acima do que vemos sempre e nem os árbitros conseguem esconder o equívoco que é este Sporting.
    Podes argumentar como quiseres, acho que a tua previsão não se concretizará.

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  4. Na época anterior com o VP TOC escreveu que era impensável fugir o Campeonato ao Benfica, eu também concordava, a vergonha foi imensa e o principal culpado ainda continua a dirigir a Equipa, não o deles, o Nosso. Portanto mais vale fazer ao contrário.

    Futebol e superstição sempre andaram de mãos dada.

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  5. LOL
    Nostradamus no seu melhor. a tua logica é de um adepto grunho que sabe juntar umas letras mas sempre com a teoria da conspiração a justificar os fracassos do teu clube sempre com a mesma desculpa dos ladrões dos arbitros que estão sempre a roubar.
    o sistema é o sistema!!

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    1. Se não gosta, não coma... Deve haver palha ao seu gosto noutros blogs... O autor do blog que me desculpa por esta intervenção pois o ESPAÇO é seu mas seria util se viessem argumentar com ideias e não desta forma.Por mim continua a ser um ponto de passagem obrigatório pela blogsfera e quem aqui vem regularmente pede sempre mais,portanto espero que continua ao longo da época.
      Quanto ao SCP creio ser ainda cedo para dizermos algo mas a verdade é que o clube parece estar numa espécie de pré-crepusculo da sua história.Tem equipa para MUITO mais do que demonstrou mas o futebol é sempre uma incógnita,uma bola ao poste num jogo decisivo,um penalty,uma expulsão ou ausência no momento errado e no jogo errado podem ditar uma época (lembrei-me agora da ausência do Witsel em Guimarães...:(().
      PS:(Espero que tenha um tempinho para um post sobre a Champions e o que possa acontecer!)

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    2. Quem disse que não gostava? Ao contrário do que julga gosto de vários blogs "adversários" e respeito as várias opinões mas não sou obrigado a concordar. Não entendo de palha deixo isso consigo pois pareceme expert da matéria.
      Argumentei mas não entendestes talvez porque estejas habituado a papar tudo que te poem na mesa desde que seja a favor do teu clube e a denegrir o resto dos clubes.
      Passe bem.

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    3. "não entendestes" ?!!!

      Recomendo-lhe leitura caro adversário...

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    4. Lol Se fosse assim cego como diz não estaria a comentar neste blog.Aceitaria o meu técnico,as opções tomadas pelo clube e outras coisas em vez de estarmos aqui a fazer um exercício de lógica e previsão (e que não passa mesmo disso).Mas isso acontece noutro quadrante onde o que conta é as vitórias que alimentam o povo independentemente dos meios usados.No dia em que não conseguir sustentar a multidão azul as coisas mudarão.Mas por enquanto contentam-se em aceitar o que o papa taças lhes coloca á mesa pois o repasto(trofeus) é excelente mesmo que tenha sido conseguido de forma duvidosa.Se ele algum dia matar alguém ainda virão em peso bater no morto os tais grunhos que fala,mas de certeza que de cor azul.Quanto a argumento continuo a não ver nenhum e de certeza que não entendeu mesmo o post.Mas claro que ganhar 20 vezes em 25 e vendo por vezes como acontece é tudo normal... (E já que os adeptos daquele clube garentem que o seu presidente é um santo ao lado do nosso ; eu recomendava ao LFV colocar os árbitros em tribunal:Se somos nós o sistema dominante é estranho só termos 3 campeonatos em 25.Ah!!Cambada de arbitros incompetentes!!)
      Champions:Vital não perder na Escócia,muito mais do que pensar em receber o Barça.

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    5. E tem de haver um sistema? Se não acreditam no futebol pq perder tempo?

      Então não podem haver melhores, se não houver sistema cada equipa tem de ganhar 1 titulo de 16 em 16, ou cada grande ganha 3 em 10 e o que sobra fica para os pequenos.

      Assim tiras automaticamente o merito a vitorias futuras. Se nos proximos dez anos ganhares 7/8 campeonatos, pelo teu prisma e pq es o sistema. E uma condicao sine qua non.

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  6. e se for o benfica a ser levado a campeão, eleições,e vender os jogos ao oliveirinha ....lfv precisa de um momento de extase colectivo para dar a notiçia...
    com o titulo ng liga se vende ao jaquin ou ao tone...

    vasco

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  7. Pois,já que este ano roubaram o Roxo e o Viola,assim já posso dizer aos lacostes para irem meter a Viola no saco.Se este ano for deles,a fruta está podre e cheia de bicho.Mas não me importava nada de ver o balão deles encher,só para depois o ver a esvaziar.

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  8. Depois do fecho das transferências nem consigo imaginar o que passou pela cabeça da nossa direcção.

    Este ano ficamos em 3º ou 4º, já fomos.

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