quinta-feira, 5 de julho de 2012

A última tentação de Jesus

Primeira constatação: clara diferença de dificuldade da primeira para a segunda volta, quer para o Benfica quer para o Porto.

Na primeira volta, o Benfica recebe Porto, Braga, Nacional, Marítimo, Guimarães, enquanto o Porto recebe Sporting, Guimarães, Marítimo, Nacional e Académica.

Quer Benfica quer Porto irão perder pontos em jogos normais e em jogos anormais, como em todos os anos – a questão não é essa. A questão é que será, claramente, mais acessível quer a Benfica quer a Porto acumular pontos na primeira volta do que na segunda. O que torna ainda mais relevante aquele que é, como se vem percebendo ano após ano, um factor decisivo para o campeonato: a Liga dos Campeões.

Sabemos, à partida, que Benfica e Porto jogarão pelo menos seis jogos na LC. O último desses seis joga-se a 4/5 de Dezembro, 4 dias antes da 11.ª jornada do campeonato, em que há um Sporting-Benfica. Ou seja, há seis jogos de Champions entre 11 jogos de Liga.

Isto leva-me a crer que quem chegar ao fim da primeira volta à frente do campeonato será, muito provavelmente, o campeão, porque o segundo classificado terá sido aquele que perdeu mais pontos em jogos em que não os podia perder, de grau de dificuldade menor, além dos que são normais em qualquer campeonato.

Nesse sentido, acho que será também muito provável que cheguemos ao Benfica-Porto de 13 de Janeiro a defender que quem sair do campo, nesse jogo, à frente, será campeão nacional.

Parece-me que se está a partir demasiado cedo do princípio que o Porto-Benfica da penúltima jornada será o jogo decisivo. Se eu tivesse de escolher, já, aquele que me parece que será o mais importante na decisão do título, escolhia o Benfica-Porto. Não me admirará absolutamente nada que o Porto-Benfica venha a ser um daqueles clássicos de encher chouriços para «salvar a honra» (para qualquer um dos dois, é indiferente), já com o campeão matematicamente encontrado. E acho perigoso, para o Porto, saber que tem um jogo «para recuperar três pontos» a duas jornadas do fim. Já vi muitos campeonatos em que o Benfica chegava ao jogo com o Porto, em casa, a contar com esses três pontos havia semanas, confiante de que tinha vantagem por ter esse confronto directo, e em que, no fim do jogo, dava empate ou derrota, precisamente porque a equipa em vantagem pontual ganhava ascendente táctico e anímico em capo, saindo do jogo com a liderança reforçada. Contar com o ovo no cú da galinha, em futebol, é um expediente frequentemente traiçoeiro.



Repito, portanto: a Champions, este ano, será ainda mais decisiva do que é costume. E arrisco uma previsão, apenas aparentemente contrassensual: a equipa que fizer menos pontos na fase de grupos da Champions vai ganhar o campeonato. O ano passado foi assim, nos outros não sei (nem agora me apetece ir ver…), mas neste vai ser assim outra vez.

Veremos se, para Jesus, a tentação não será demasiado forte.

Senão vejamos:

- Descanso na Liga / LC1 / Académica-Benfica

- Paços-Benfica / LC2 / Benfica-Beira-Mar

- Descanso na Liga / LC3 / Gil-Benfica

- Benfica-Guimarães / LC4 / Rio Ave-Benfica

- Descanso na Liga / LC 5 / Benfica-Olhanense

- Descanso na Liga / LC 6 / Sporting-Benfica

Agora digam-me lá se não imaginam o Jesus, atrevido como é, a pensar assim: «Porra, isto dá para arriscar. Se eu apostar forte nos primeiros cinco jogos da Champions chego ao sexto já com o apuramento no bolso e posso fazer descansar a equipa para o Sporting. Caraças, em seis jogos tenho quatro sem nenhum jogo para o campeonato antes, e não há nenhum nesta lista que a minha equipa não consiga ganhar mesmo sem dois ou três titulares. Depois tenho o jogo em Braga e com o Porto, sem Champions à volta, para decidir o campeonato, e daí para a frente tudo pode acontecer, ainda por cima se ficar em primeiro no grupo. Man, se eu não arriscar agora nunca mais arrisco.» (chiclet, chiclet, chiclet…)

Vá, digam lá: imaginam ou não o Jesus (e 90 por cento da população benfiquista) a fazer estas contas de cabeça?

Já agora, para ser justo, vale a pena fazer o mesmo exercício para o TOC (o Verão passa, mas a alcunha fica):

- Descanso na Liga / LC1 / Porto-Beira-Mar

- Rio Ave-Porto/ LC2 / Porto-Sporting

- Descanso na Liga / LC3 / Estoril-Porto

- Porto-Marítimo / LC4 / Porto-Académica

- Descanso na Liga / LC 5 / Braga-Porto

- Descanso na Liga / LC 6 / Porto-Moreirense

Está ou não está a pedir uma valente aposta na Champions, sobretudo em ano de «recuperação do prestígio europeu»?

(Aliás, se eu não soubesse que o futebol português é transparente como a água diria que tantas jornadas de descanso antes dos jogos do dinheiro na Europa foram feitas à medida dos clubes que jogam na Europa…)



Para acabar esta análise preliminar sobre o sorteio, algumas constatações:

- Não se vê nenhum daqueles ciclos potencialmente assassinos de três jogos, em momentos decisivos da época, em que uma equipa joga tudo (um Zenit fora-Académica fora-Zenit em casa-Guimarães fora-Porto, já no Inverno, por exemplo…). Ainda que seja preciso esperar pelo desfecho da fase de grupos da Champions para saber ao certo se ele aparecerá nos oitavos-de final, que podem ser jogados, à partida, em várias datas, conforme a posição no grupo;

- Receber o Braga, na primeira jornada, é altamente vantajoso para o Benfica. Ao contrário de outros anos, o clube que disputa o acesso à Champions começa essa competição já depois do início do campeonato, ou seja, não usufrui da vantagem de ritmo competitivo que permitiu, por exemplo, ao Benfica do ano passado, começar à frente e fazer um excelente início de campeonato. O Braga começa a jogar a Champions já no play-off imediatamente antes da fase de grupos. E o primeiro desses jogos do play-off é precisamente três dias depois de ir jogar à Luz.

Ou seja, o Benfica começa o campeonato em casa, num jogo que requer concentração imediata e que não admitirá dúvidas nem adormecimentos, cheio de energia, perante um Braga que, ciclicamente, vê metade da sua equipa alterada a poucas semanas do início da prova, e que terá o seu jogo mais importante do ano apenas três dias depois. Penso que o Benfica tem aqui uma grade oportunidade de matar dois borregos só com um penálti: o do Jesus não ganhar o primeiro jogo do campeonato e o de ganhar imediata vantagem no confronto directo sobre o Braga e ir a Braga a poder jogar sem handicaps, algo que nos últimos três anos não pôde acontecer porque o Braga-Benfica foi sempre na primeira volta



-o Sporting, que também anda na luta, tem uma primeira volta para não perder o campeonato (dificílima, com jogos fora com Guimarães, Marítimo, Porto e Nacional), e com a fase de grupos da Liga Europa sempre a jeito para fazer descansar a equipa, dado o previsível baixo valor dos adversários, e uma segunda volta para o tentar ganhar.

À partida, parece-me claro que o que o Sporting vai valer no campeonato ficará decidido no final do Porto-Sporting, da sexta jornada: ou o Sporting não perde nas Antas, sobrevive a um início complicadíssimo, e depois tem cinco jogos para confirmar uma candidatura; ou acaba esse jogo na mesma situação que terminou o jogo da Luz, no ano passado, com uma derrota acumulada a outros pontos provavelmente perdidos, e apenas virtualmente candidato.

10 comentários:

  1. Só agora é que vi os prémios da Liga para a época passada, mas aproveito para fazer o seguinte cpmentário:

    Nada a dizer em relação a Hulk e James, prémios justíssimos. Mas se o Vitor Pereira ganha o de Treinador do Ano, apetece perguntar quais são os critérios.
    Se é pelo comportamento global da equipa perante o seu potencial, as expectativas criadas em seu redor ou no cômputo geral da temporada (campeonato, Europa e outras competições), é incompreensível.
    Se for apenas pelos resultados numa competição (a principal, é verdade), então aqui está uma boa oportunidade para a Liga estabelecer uma regra «a priori»: a de que quem ganhar o cameponato leva o prémio, independentemente de tudo o resto. Porque foi exactamente isso que aconteceu.
    Jorge Jesus, Leonardo Jardim e Pedro Martins, pelo menos, fizeram uma época claramente melhor que a de Vítor Pereira, e digo mais: duvido muito que, colocado no lugar dos outros 15 treinadores da I Liga, Vítor Pereira conseguisse fazer melhor que pelo menos 12 de entre eles. Assim como duvido muito que esses 12, pelo menos, não conseguissem fazer igual ou melhor do que o que ele fez com a equipa do Porto.
    E acho que 90 por cento da população futebolística portuguesa tem a mesma opinião, portistas incluídos.
    Mais que patético: ridículo

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  2. E outra questão, que não tem nada a ver com esta:

    O Benfica ia emprestar Oblak e Roderick, provavelmente os seus dois melhores jogadores jovens, a um clube que despediu um dos melhores treinadores portugueses (Carlos Brito), depois de uma época em que alcançou todos os objectivos, para dar o lugar a um afilhado do Pinto da Costa, ao melhor estilo da máfia siciliana?

    Mas isto é o quê?
    Este pessoal anda maluco ou quê?
    Então agora mandamos as nossas criancinhas levar doces ao covil dos pedófilos?
    Inacreditável.
    Incompreensível.

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  3. Os descansos são irreais, porque antes dessas jornadas onde metes descansos, há eliminatórias da taça de portugal.

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    1. Eliminatórias com o Gondomar, com o Fanhões...

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  4. Meu caro, bem que gostava que todas essas previsões se pudessem concretizar...a nosso favor. Mas com as experiências dos últimos anos, em que mesmo com os plantéis mais capacitados para ombrear directamente com os lá de cima, só conseguimos ser campeões na última jornada, há 3 anos, e no último ano, com 5 pontos de avanço foi o que se viu....Infelizmente estou bastante pessimista. Não me sentia assim desde a 2ª época do Fernando Santos (bom....2ª época que o Fernando Santos iniciou). Depois do que se passou na época passada, 5 pontos de avanço, equipa razoavelmente sólida e compacta, este ano, só se tivermos uns 7 ou 8, e mesmo assim.....Os responsáveis do Benfica não aprendem com os erros, simplesmete porque isso não interessa nada. O que interessa é lavar dinheiro com as transferências de jogadores.

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    1. A questão não é se o Benfica vai fazer um campeonato melhor ou pior que o anterior... A minha preocupação é a certeza de que o Porto não vai fazer um campeonato tão mau como o do ano passado (sem contar com os últimos cincos jogos que ganharam todos ou assim...)!

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    2. Atenção: há dois anos fomos campeões na última jornada mas o adversário não era o Porto.
      Isto é importante porque, nas últimas três vezes que o Benfica ganhou o campeonato, o Porto ficou afastado da luta do título praticamente a meio da prova - mesmo quando veio a acabar em segundo.

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  5. Comentem isto:

    "Ano após ano, poucos ligam ao facto de o FCPorto jogar recorrentemente com o mesmo adversário que os seus rivais na luta por titulos haviam jogado... na jornada anterior.
    Curiosamente, NUNCA acontece o contrário... mas em cerca de 2/3 do campeonato, o FCPorto acaba por enfrentar sempre uma equipa que na jornada anterior defrontara um rival na luta pelo título". Isto é, Braga, Benfica ou Sporting.

    É impossível, TOTALMENTE IMPOSSÍVEL, que um calendário assim, com tantas coincidências, se dê apenas fruto da aleatoriedade do sorteio. As probabilidades de isso acontecer daria um número perfeitamente obsceno.

    Gostava de saber quem é o programador que fez o programa e como e quais são a totalidade das condicionantes e restrições colocadas ao sorteio e introduzidas previamente no programa. Comentem, se faz favor.

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    1. É a versão Windows das bolas quentes/bolas frias...

      Mas está bem visto. É pertinente.

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  6. Finalmente o cheiro a campeonato.Como sempre começo optimista.Há quem me chame parvo mas dou sempre o beneficio da dúvida.'Bora lá.

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